Rony suspirou audivelmente enquanto virava mais uma página do livro a sua frente sem realmente ler o que estava escrito. Essa atitude fez com que Hermione olhasse torto por cima de seu próprio livro.

Rony repetiu o processo.

— Qual é o problema, Ronald? — Inquiriu a menina fechando o livro com força.

O Weasley se endireitou enquanto encarava seu olhar irado.

— Não entendo porque temos que ficar horas e horas trancados na biblioteca atrás desse tal Nicolau Flamel, ele nem deve ser famoso!

— Pode não ser famoso, mas é importante o suficiente para que tenha negócios secretos com Dumbledore — Retorquiu — E em algum desses livros deve ter alguma menção sobre isso.

— E nós vamos ler todos os livros até que encontremos alguma coisa? E se não tiver nada?

— Vai ter — Insistiu a menina — Eu já ouvi falar esse nome, Nicholau Flamel, simplesmente não consigo me lembrar onde. Tenho certeza que foi em algum livro.

— Então cadê ele?

— Vocês estão chamando atenção — Intrometeu-se Harry enquanto sentia o olhar de Madame Pince queimar sobre ele — Daqui a pouco seremos expulsos.

— Graças a Deus — Murmurou Rony se encolhendo.

Hermione bufou.

— Se vocês não estão curiosos para saber a verdade tudo bem, eu irei descobrir — Dizendo isso se levantou deixando os meninos perplexos para trás.

— Harry?

— O que foi?

— É impressão minha ou Hermione acabou de levar um livro sem permissão?

— Impressão, deve ter sido impressão — Mas Harry também podia jurar que viu Hermione esconder alguma coisa sob sua capa.

Hermione não gostava, sequer confiava, em Alvo Dumbledore desde a primeira vez que o vira. Aquilo certamente a surpreendeu, não era o tipo de pessoa que nutria antipatias com professores, mas havia algo na forma como os olhos extremamente azuis de Dumbledore brilhavam cada vez que ele dizia alguma coisa que a fez desconfiar que ele nunca dizia a verdade. Ele manipulava os outros, com suas palavras e gestos e Hermione nunca gostou de ser manipulada, tinha inteligência demais para ser comandada por outra pessoa.

Era por isso que ele se mantinha bem atenta desde que Hagrid soltara que o objeto escondido dentro de Hogwarts era algo relacionado a Nicholau Flamel. Devia ser muito importante, disso ninguém tinha dúvidas, mas quão importante seria? Era algo que poderia ser usado em proveito próprio? Por que Dumbledore estava relacionado?

—  O que você está fazendo? — Pansy perguntou para ela.

Hermione nem se deu ao trabalho de esconder o livro que examinava, Pansy não se interessava muito por isso e já sabia que ela contrabandeava alguns livros da biblioteca.

—  Estou procurando algo que li há algum tempo, não consigo me lembrar onde.

Pansy suspirou.

— Você e aqueles outros dois vivem na biblioteca agora, não sei o que fez para deixá-los tão loucos por aprendizado, mas estou sentindo sua falta.

Hermione observou Parkinson, a garota estava sendo sincera, as duas se adoravam, mesmo que cada uma agora mantivessem outras amizades, entretanto, ser o primeiro contato uma da outra em Hogwarts fortalecia a amizade.

—  Eu também, mas são tantos deveres de casa, tanta coisa nova para aprender, não nasci nesse mundo Pansy, ainda não conheço todas as regras, não quero ficar no escuro. Não que quero que eles achem que eu não mereço estar aqui…

—  Ninguém acha isso Mione, foi difícil aceitar no início, nós viemos de uma longa linhagem de preconceituosos desde Salazar, mas você é incrível, conseguiu mais pontos para a Sonserina do que todos os outros, certamente vamos ganhar a Taça das Casas esse ano e todos te adoram um pouquinho por isso.

Hermione sorriu, os dentes se projetando para frente.

— Agora diga, sei que tem alguma coisa para me contar.

Pansy soltou um gritinho.

— Blásio Zabini disse para Theodore que me disse que sou muito bonita.

—  Zabini não disse isso.

—  Disse sim! Tudo bem que depois Draco Malfoy zombou dele que tentou se retratar de forma que não ficasse parecendo uma “mulherzinha fofoqueira”, mas ele disse!

— Você se interessa por ele?

— Bem, não, mas Zabini vem de uma ótima família e embora falte muito tempo para que tenhamos idade de nos casarmos, ele é um bom partido —  Ali estava novamente, o status de sangue zombando de Hermione como se fosse o crime mais hediondo que ela poderia cometer ao ter nascido uma trouxa, não que Pansy tivesse agido com maldade ao fazer aquele comentário. Parkinson era uma boa amiga, somente um pouco sem noção algumas vezes e não percebia como seus comentários poderiam chatear outras pessoas. —  Emília Bulstrode acaba de entrar no Salão Comunal, preciso conversar com ela, até depois Mione!

Nem mesmo dando tempo de Hermione lhe responder a garota já se afastava rapidamente em direção ao outro lado do salão.

Mesmo meio chateada pelo comentário de Pansy e a saída abrupta da amiga Hermione não pôde deixar de soltar um suspiro de alívio ao ser deixada sozinha novamente. Eram poucos os momentos que ela tinha assim, sozinha com um livro por agora, dividindo seu tempo entres os estudos, Harry e Rony, e sua amizade com Pansy.

Mas agora tudo o que ela precisava era de tempo e concentração pois estava ficando louca enquanto tentava descobrir quem era Nicholau Flameu e o que de tão importante poderia estar escondido sob o cão de três cabeças, que pedra era aquela que Hagrid mencionara? E porque motivo ela era tão desejada que o próprio banco bruxo fora invadido por pessoas que estavam à sua procura?

Lendo o livro com toda a atenção possível em busca de respostas Hermione nem viu o tempo passar e nem ao menos percebeu quando a maioria dos alunos se recolheram para os dormitórios e seu próprio sono chegasse sem pedir licença.

Agora o mundo só era aquele momento difuso em que tudo fica embaçado e a certeza de que o que está vivendo é real vai embora para longe.

Foi naquele momento que Hermione encontrou o nome de Nicholau Flameu novamente e descobriu qual era sua grande invenção, aquela que qualquer bruxo que se prezasse e mantivesse um pouquinho de ambição iria querer, mas já era tarde demais para sua mente reconhecer os fatos e o sono a levou embora.

Hermione só se lembraria de sua descoberta no dia seguinte, mas não seria a única que teria algo para contar, pois enquanto ela estava ali pesquisando arduamente seu amigo Harry passeava pelos corredores do castelo e descobria algo que deveria permanecer escondido.