Um Horizonte Maior escrita por André Tornado


Capítulo 29
Um grupo unido


Notas iniciais do capítulo

“Era um aparelho relativamente pequeno, de frente achatada, com vidros escuros na carlinga e armas laser apontadas para cada lado. O carro voador dos Rebeldes estava fortemente blindado e fora concebido para combate a rasar a superfície do planeta.”
In O Império Contra-Ataca, GLUT, Donald F., Publicações Europa-América



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— Bem-vindos… à Esquadra Rogue!

O anúncio de Luke gerou pouco ou nenhum entusiasmo. Os rostos dos sete pilotos voltavam-se para ele em expressões rígidas e controladas. Não estavam alinhados formalmente em sentido, como num batalhão, mas escutavam-no com a atenção e a polidez que eles, enquanto soldados, deviam ao seu comandante. Formavam uma meia-lua que rodeava a rocha lisa onde Luke estava de pé a fazer o seu discurso inaugural, que começara por uma saudação, seguida de uma apresentação do novo nome do grupo. Ele dera ênfase a essa primeira frase, os outros mantiveram a sua postura serena, equipados nos seus fatos de voo laranja, com os capacetes debaixo do braço. Nos olhos havia expetativa e curiosidade, porque aquela era a sua primeira reunião. Luke teria preferido que se tivessem manifestado com um sorriso de orgulho após aquela revelação, de que eles pertenciam, a partir daquele dia, à Esquadra Rogue, um brilho qualquer que apagasse a sombra que se lhes colava à cara, que aligeirasse um pouco a pose, que diluísse o peso que assentava nos ombros de cada um. Afinal, Luke acabara de lhes anunciar como se iria chamar a esquadra que ele iria comandar.

A Esquadra Rogue. 

Tinha passado a noite toda a inventar nomes que fossem os mais adequados, sem soarem pomposos, superficiais ou aborrecidos. Quando estava quase a adormecer, cansado pela sua falta de imaginação e desencorajado pela sua inabilidade, lembrou-se de que era um rebelde. Transviado do caminho. Solitário. A operar fora do sistema.

Ninguém se descontraiu. Luke pensou em sorrir mas tinha os cantos da boca presos. Também ele estava subtilmente nervoso. Liderava uma segunda missão sensível e daquela vez sem o apoio de Han. Encontrava-se totalmente entregue a si próprio. Ele sabia do que era capaz, confiava nas suas capacidades e estava sempre ansioso por demonstrar que podiam contar com ele, em qualquer tipo de incumbência, mais simples ou mais complicada, mais arriscada ou mais ligeira. No entanto, ver-se naquela posição sem ter obtido a reação que esperava daqueles que interpelava, alguma empatia ou algum desanuviamento, lançava sinais de alerta que lhe diziam que deveria ir com cuidado para conduzir o seu discurso que faria a introdução ao longo período que iriam passar juntos e em completa dependência uns dos outros.

Não se devia acanhar, não lidava com estranhos. Forçou-se a prosseguir com a alegria que via faltar nos companheiros. Esta existia, ele sabia-o. Conhecia-lhes momentos menos formais, tantas vezes que se tinham cruzado nas cantinas da Home One, mas ali estavam todos sob camadas de rígida obediência militar. Queria motivá-los, estimulá-los. Queria que se sentissem confortáveis para extrair o melhor deles. Queria ser um orientador, não um chefe. Próximo, confiável, leal.

Olhou-os um por um.

O primeiro era Wedge Antilles, quem ele definira como o seu asa e o seu principal conselheiro. Tinha mais experiência do que ele, era um piloto dotado, produto da Academia do Império, com uma bagagem invejável em termos técnicos, ainda que em termos de pilotagem Luke se considerasse mais habilidoso e mais inventivo. Antilles era um excelente elemento, sensato e com uma aptidão inata para a resistência e o sacrifício, suportando calado qualquer pena.

Ao lado de Wedge estava Dak Ralter, o rapaz idealista que era filho de presos políticos e que desejava provar o seu valor, exibir-se na maior montra possível, agir segundo os instintos apurados de sobrevivente. Poderia tornar-se arrojado e imprudente, perigar os objetivos maiores do grupo. Mas o outro que estava ao pé do jovem Ralter e que se convertera numa espécie de seu tutor, acompanhando-o em permanência, que o ensinava e o orientava, aplacaria qualquer ação mais arriscada.

Esse outro chamava-se Derek Klivian. Era, como Antilles, um desertor do exército imperial. Tinha sido Klivian que recrutara Biggs Darklighter, o amigo de infância de Luke, para a Aliança, quando este era um cadete na Academia, e fora o próprio Luke que o indicara para que os acompanhasse naquela missão. Klivian ficara muito agradecido e sensibilizado, pois estava a fazer serviço de escolta a naves de transporte de víveres e sentia-se, segundo Luke ouvira, ligeiramente frustrado.

A seguir a Klivian vinha Wes Janson. Oriundo de Taanab tinha o posto de tenente e era um soldado muito bem treinado, cheio de recursos e com a imaginação suficiente para ajudá-los a saírem de um qualquer sarilho mais complicado. Era reservado, desconfiado, mas honesto e pragmático.

Junto a Janson estava Jon Mobad, um tarisiano que gostava de contar piadas e de rir em altas gargalhadas. Se a tensão fosse demasiada, podiam contar com ele para se rirem diante do perigo. Era um excelente mecânico, que mantinha uma colaboração estreita com a sua unidade R2, maior ainda do que aquela que existia entre Luke e Artoo.

Depois estava Raf Dameron, irmão de Kes Dameron. Os dois tinham sido recentemente recrutados pela Aliança e tinham vindo no grupo do general Rieekan, embora não fossem de Alderaan, mas sim de um planeta das colónias que eles não quiseram mencionar. Era um segredo inútil, que ninguém tentou descobrir. As feições de Raf eram agradáveis e, tanto ele, como o irmão Kes, estavam estranhamento conscientes da sua beleza máscula e do efeito que provocavam nas mulheres.

Por fim, Bail Xandher, com modos de mercenário, mas leal até ao tutano. Músculos desenvolvidos, gestos lentos e estudados, olhar rapace, sempre à procura de uma sombra furtiva que fosse uma ameaça dissimulada e disparar a sua pistola laser DH-17 modificada, que se assemelhava a um canhão em miniatura.

Sete homens a quem Luke se dirigia e procurava fazê-lo da melhor forma possível.

— Muito bem.

Pigarreou, passou o peso de uma perna para a outra. Também ele estava equipado com o seu fato de voo e tinha o capacete debaixo do braço, que pousou na rocha lisa. Também ele se sentia apreensivo, acanhado, o estômago contraído e a cabeça azoada. A responsabilidade era grande, desejava que tudo corresse bem sob a sua supervisão, mas existiam os habituais imponderáveis, as más decisões, as terríveis precipitações. Esfregou as mãos, bateu uma na outra.

— Vamos lá a animar!

Mobad franziu uma sobrancelha. Ralter mostrou-se surpreendido e olhou de relance para Klivian. Luke continuou:

— Estamos reunidos nesta lua desértica do sistema de Isotta para dar início a uma missão ultrassecreta e delicada que nos foi incumbida pelo general Carlist Rieekan, como é do vosso conhecimento. Devemos assegurar a cobertura aérea para que a Aliança consiga fazer um assalto cirúrgico aos depósitos de minério de Remir, explorados atualmente pelo Império, e para isso iremos utilizar os caças X-Wing que foram colocados à nossa disposição. Temos algum trabalho preparatório programado de manutenção, que iremos realizar com a ajuda dos nossos respetivos astromec. As unidades R2 estão preparadas?

— Sim, comandante – respondeu Wedge Antilles.

A voz de Antilles fez os outros seis estremecerem levemente. Todos relaxaram os ombros, começaram como que a respirar naturalmente. Estavam à espera de uma desculpa para agirem de uma forma menos contraída e a réplica de Wedge servira para agitá-los, um aviso sonoro de que a realidade naquela lua desértica de ar rarefeito, mas respirável, não era distinta do quotidiano partilhado nas cantinas da Home One.

— Ótimo! – Luke esfregava as mãos. – Isso quer dizer que as unidades R2 já têm a informação das modificações que iremos fazer nos compressores dos caças. Estive a trabalhar nessa solução com o meu astromec e ele irá orientar os vossos. Combinado?

Janson levantou um braço. Uma primeira pergunta. Luke sentia o gelo do início a derreter e era uma sensação libertadora. Afinal, tinha ali um grupo. Nunca tinha duvidado, mas havia aquela ínfima possibilidade de boicote, de resistência e de inveja. Deu indicação para Janson falar.

— Foste tu que deste o nome a esta Esquadra, comandante Skywalker?

Esperava uma dúvida relacionada com os compressores, mas Luke não se intimidou. O tratamento mais familiar não lhe foi estranho, ele tinha-o requisitado aos demais e ninguém se opusera a que continuassem a tratar-se pela segunda pessoa do singular.

— Esquadra Rogue? Sim, fui eu. Enquanto vosso comandante decidi que tivéssemos um nome… De qualquer maneira teríamos de ter um código que nos permitisse comunicar via rádio rapidamente durante os ataques que iremos fazer. Não queria que fôssemos… a Esquadra Vermelha, ou a Azul… Isso, deixo para o Alto Comando decidir, quando estivermos outra vez perante uma grande batalha contra o Império. Nós seremos a Esquadra Rogue durante esta missão. – Voltou-se para os outros. – Alguma objeção?

Ninguém se manifestou contra. Abanaram a cabeça ou simplesmente ficaram calados.

— Queria dizer, comandante… que gostei do nome – explicou Janson, torcendo a boca num sorriso.

— Eh… Obrigado, Janson.

Dameron levantou a mão.

— Quais são as modificações previstas nos compressores?

Luke explicou:

— É uma solução provisória, que aumentará a potência dos motores sem alterar a alimentação do hiperpropulsor, mas que não se pode estender demasiado porque podemos queimar as turbinas. O Artoo sabe o que há a fazer e deixará as precauções a ter aos vossos R2.

— Isso poderá acontecer durante as incursões que iremos fazer em Remir? – quis saber Klivian, de braço no ar. – Destruirmos as turbinas e ficar sem potência para abandonar o local? Despenharmo-nos, talvez, e sermos capturados?

— Não, Klivian. Se seguirmos as indicações de Artoo, isso nunca vai acontecer. Os cálculos que estivemos a fazer compreendem todas as vezes que teremos de intervir, durante o ataque a Remir, com um número máximo de raides, com os motores esticados no limite. As situações estão todas previstas e ninguém se vai despenhar ou ser capturado.

— Mas… poderão existir imprevistos – atirou Xandher, semicerrando os olhos.

— Poderão sempre existir imprevistos – concordou Luke. – Com os compressores, contudo, não acredito que vamos ter problemas. Trata-se de uma área mecânica que pode perfeitamente ser ajustada e controlada. E foi isso que aconteceu. Os cálculos foram feitos por cima, os compressores não irão falhar.

— Eu confio no meu R2! – riu-se Mobad, piscando o olho ao cético Xandher. – Acho melhor passares a confiar também!

— É uma lata velha!

— São todos umas latas velhas, mas não temos outras – referiu Dameron entrando na brincadeira.

Os astromec reuniam-se num recanto protegido por um penedo que amparava a brisa quente que soprava sem descanso na superfície árida da lua. Artoo misturava-se entre os androides, não se destacando como acontecia com Luke Skywalker, que liderava o grupo. Estavam em modo desligado para poupar energia, só se ativando para trabalhar nos X-Wing ou para integrarem as missões dos pilotos da Esquadra. Seriam alimentados pelos geradores que se dispunham no acampamento.

— Não os ofendam, vão precisar muito deles, daqui para a frente – disse Antilles com um sorriso.

— Um androide não se ofende – desdenhou Xandher.

— Queres experimentar? – provocou Mobad. – Uma vez o meu R2 resolveu não me prestar mais assistência porque eu contrariei uma indicação sua. Estávamos em pleno voo! Não é fácil pilotar um X-Wing sem o apoio do teu R2.

— Se o meu R2 fizer uma dessas, rebento-lhe com a carcaça miserável!

O acampamento tinha sido montado numa ravina larga que ficava para a esquerda daquela plataforma rochosa onde eles estavam naquele colóquio. Ficava protegida dos ventos constantes e de cima era difícil de detetar, por causa das pontas aguçadas dos penedos que formavam sombras sobre o local. Não que isso fosse um problema imediato, pois não esperavam ser identificados e seguidos até àquela lua desabitada, mas sentiam-se mais seguros num local disfarçado do que em campo aberto. Era também uma medida elementar de proteção. Os caças estavam pousados num planalto situado à direita, ao qual se acedia através de pedras sobrepostas que formavam uma escadaria natural. Camuflavam-se com redes cor de terra, se vistos do ar tornavam-se invisíveis. Essas fibras entrançadas eram facilmente amovíveis. Aqueles pilotos experimentados não tinham com eles outro pessoal auxiliar, para além das unidades R2, pelo que tinham de se desenvencilhar nas áreas mais práticas daquela missão, como cobrir e descobrir as suas naves e tratar de coisas elementares, como a cozinha e as latrinas. Ninguém tinha levantado questões nesse âmbito, pois todos tinham conhecimento das condições em que se encontravam ali.

Ralter voltou a colocar a mão no ar.

— E os Airspeeder T-47 que recentemente foram entregues à Aliança?

— Não serviam para este tipo de missão – respondeu Luke a Ralter, contente por ele ter mencionado o assunto. – Para acompanharmos os assaltos rebeldes a Remir precisamos de caças rápidos, manobráveis, que tenham o mesmo comportamento no espaço e em planetas rochosos, com as suas atmosferas mais ou menos densas. Os Airspeeder são, essencialmente, naves para voos rápidos sobre o solo. Quando saem para o espaço, diminuem a sua velocidade e acabam por ser presas fáceis. Estão equipados, obviamente, com hiperpropulsores e podem viajar à velocidade da luz, mas são lentos no vácuo e até à fuga muita coisa pode acontecer.

— Para que precisa a Aliança de naves como essas, que apenas servem para batalhas terrestres? Que eu saiba os principais combates contra o Império vão desenrolar-se no espaço, onde o campo de intervenção militar é maior, o que permite o alargamento das táticas utilizadas pelos almirantes – observou Janson.

— A Aliança opera principalmente no campo da guerrilha – explicou Antilles, que tomou a palavra, após ter pedido permissão, com um aceno, a Luke. – A atual frota rebelde não está em condições de aceitar um confronto contra o Império dessa magnitude, a acontecer no espaço. As nossas naves não possuem poder de fogo e envergadura suficiente para uma guerra aberta, nem sequer as temos em quantidade suficiente para estabelecer uma defesa ou sequer uma ofensiva. Por enquanto, devemos prosseguir com estas missões rápidas, que permitirá à Aliança alargar os seus meios, para que no futuro possa enfrentar o Império numa batalha decisiva, em igualdade de circunstâncias.

— Querem dizer que sem uma base estável, um quartel-general num qualquer planeta ou lua, como existiu em Yavin Quatro, os Airspeeder T-47 não nos vão servir de muito – observou Dameron. – Esses caças serão pouco utilizados, se as opções estratégicas do Alto Comando continuarem a ser missões como esta, com caças velozes e versáteis.

— Então, por que foram investir em naves com essas características? – perguntou Klivian. – Percebo que serão excelentes para defender uma posição estratégica no terreno, uma base, foi para isso que foram adquiridas. Mas até lá… ficam no estaleiro? Não se devia ter investido… em melhoramentos nos X-Wing para não andarmos com remendos?

Luke crispou a testa. Xandher adiantou-se à resposta que ele iria dar àquela observação ácida, que não deixava de ser realista:

— Um dia vamos voltar a ter uma base estável – disse este com um sorriso. – Não vamos continuar para sempre na órbita de D’Qar! E quando esse dia chegar vamos adorar os nossos magníficos Airspeeder T-47.

— Iremos pilotá-los, sem dúvida – concordou Luke elevando a voz, obrigando-os a fixarem nele toda a sua atenção, como no início. – É como o Xandher disse e sei que vocês acreditam nisso, com todo o vosso coração. Um dia teremos novamente uma casa em que poderemos descansar sem receio de sermos incomodados pelo Império. A Aliança está a trabalhar para encontrar essa casa e, entretanto, nós estaremos ocupados a fazer o que é necessário para que a Aliança, como o Antilles mencionou, aumente os meios à sua disposição. Para que tenhamos uma frota impressionante, em número e em qualidade, que nos permita desafiar o poderio do Império no espaço e em qualquer campo de luta, infligir-lhes uma pesada derrota e fazê-los vergar à nossa causa de liberdade. Certo, rapazes?

Não era mais velho do que a maioria deles, era com certeza o mais jovem em idade, se não considerasse Dak Ralter, mas naquele instante sentiu-se num patamar superior, conferido pelo seu posto de comandante, pela sua vontade inquebrável, uma veterania fabricada pelo seu entusiasmo e vontade de vencer.

Satisfeito, verificou que todos responderam com um urro entusiástico, erguendo o punho direito. Tinha-os, definitivamente, do seu lado, uma equipa coesa de homens motivados.

— Excelente início para a Esquadra Rogue! – exclamou orgulhoso. Apanhou o seu capacete. – Nós somos pilotos, meus amigos e sei o que estão a pensar. O nosso lugar não é preso ao chão, mas lá em cima. Por isso tenho uma proposta para vos fazer. Que tal esticarmos as nossas asas e irmos voar um pouco?

— Apoiado! – exclamou Ralter.

— E os compressores? – perguntou Dameron.

— A intervenção está programada para amanhã – esclareceu Luke. – Só daqui a trinta horas-padrão iremos receber as nossas ordens e conhecer o primeiro alvo a atacar. Temos tempo para voar, descansar e tratar dos compressores.

— Devemos seguir a sugestão do comandante – disse Antilles voltando-se para os outros, apoiando um pé na rocha lisa. – Precisamos de nos descontrair antes de entrarmos em ação. E também é necessário verificar o voo dos caças, para podermos identificar pequenos problemas que as unidades R2 deverão resolver antes do primeiro raide.

— Teremos bastante tempo para nos aborrecermos com um tédio horrível e interminável! – gracejou Mobad. – Enquanto esperamos pelas ordens, entre um ataque e o seguinte.

— Eu arranjo sempre com que me entreter, à falta de uma cantina para tomar uns copos – atirou Xandher. – Conheces o labirinto dos womp?

— Não.

Xandher rasgou um sorriso malandro.

— Eu depois ensino-te.

As unidades R2 autoligaram-se e seguiram os seus respetivos pilotos, aos silvos que significavam uma saudação, rolando obedientes atrás de cada um. As proteções, que serviam de disfarce, foram retiradas com um simples puxão e os X-Wing brilharam ao sol daquele sistema, que alumiava com uma luz amarela, realçando os tons terrosos do sítio.

Passado pouco tempo, todas as naves sobrevoavam a superfície inóspita da lua que se recortava em montanhas agrestes, penhascos e formações rochosas de diversos formatos, alguns túneis naturais e grossos pilares pétreos, como lava outrora líquida que tinha solidificado num gigantesco salpico.

Os X-Wing gingavam elegantes pela paisagem, rasando o chão, desviando-se de pedregulhos e de escarpas, contornando penedos e evitando abismos. Era um mundo pequeno mas com um relevo muito acidentado e abrupto, com covas e grutas inexploradas, todavia desprovidas de qualquer forma de vida, o que os aliviava grandemente, pois não tinham de se preocupar com perigos vindos de criaturas esquisitas.

O ruído dos seus motores zunia como uma canção que se sobrepunha ao murmurejar brando do vento cálido, que nenhum dos pilotos escutava, quer fosse o troar da máquina ou o sopro da natureza, pois gracejavam entre eles, riam-se, desafiavam-se. Ora aceleravam, ora abrandavam, ora faziam piruetas arriscadas, numa tentativa de incitamento à rebeldia e à transgressão do companheiro que voava ao lado. Estavam todos condenados à partida, atiravam irónicos, porque eram revoltosos convictos, apegados às eternas revoluções. A Esquadra Rogue, acrescentavam vaidosos de tal designação. Um nome que fora muito bem escolhido, pensava Luke.

Era um voo de avaliação e de treino, para verificações diversas que as unidades R2 monitorizavam desde a concavidade traseira, perto dos motores, onde se ajustavam, mas que evoluiu para uma competição de velocidade e de perícia, utilizando os obstáculos naturais como postes de sinalização para aumentar uma suposta pontuação, inventada de pronto pelo jogador exímio do grupo, Bail Xandher.

— Eu sei que não é muito prudente, Artoo – respondeu Luke, sorrindo, ao aviso do seu astromec. – Mas não vou escutar-te. Também quero… brincar um pouco e voar no limite… Oh, nunca esperavas isso de mim? O que queres dizer com isso? Nunca fui cuidadoso, amigo! Sempre desejei ir para lá do horizonte, fugir do deserto, chegar às estrelas. E agora, tanto tempo depois de estar longe dos céus, quero aproveitar ao máximo!

As acrobacias eram arriscadas, com um grau de complexidade que foi aumentando conforme o desafio se ia complicando entre os pilotos. Se Antilles mergulhava sobre um desfiladeiro apertado, Janson fazia passar o seu X-Wing num buraco formado por duas rochas tombadas. Se Dameron contornava as lanças de pedra apontadas ao céu esverdeado, Xandher girava o seu caça numa espiral apertada até ao chão, erguendo a dianteira numa manobra dramática e os motores rugiam quando escapava ao quase despenhamento. Se Ralter fazia o seu X-Wing dançar entre formações rochosas dramáticas, Skywalker ultrapassava-o e executava uma dança ainda mais elegante, acrescentando piruetas e meias voltas.

As naves passavam em estreitas fendas e evitavam, numa guinada súbita, um rochedo saliente mais afiado. Saltavam faíscas quando as asas traseiras do caça, fechadas para imprimir maior velocidade ao voo, roçavam na rocha castanha, provocando exclamações de assombro, de cautela e de desdém. Exercitavam-se, brincavam, impunham-se firmes no desafio sem hesitações, deixavam-se ultrapassar para depois serem eles os campeões, revezando-se no topo das loucas acrobacias aéreas.

Luke ria-se, agarrando com firmeza os comandos do caça que pilotava manualmente, com um gozo evidente. Artoo protestava sonoramente pelas opções ousadas que ele tomava. Pelo intercomunicador, ele escutava as gargalhadas e as piadas dos seus camaradas, os apitos indignados das outras unidades R2. Os caças zumbiam na atmosfera da lua como insetos gigantes. Era uma sinfonia maravilhosa!

Não seria possível aquele recreio desregrado se fosse num lugar diferente daquela lua do sistema de Isotta, desértica e abandonada, tão semelhante à lua vermelha de Silexa que fora recentemente destruída num cataclismo que, aparentemente, seria classificado de natural, não fossem as provas que foram chegando entretanto que descartavam desde logo esse cenário. A boa disposição de Luke oscilou com essa lembrança intrusa, o seu sorriso apagou-se. A Força alfinetava-o mansamente, obrigando-o à lembrança. 

Aquela missão de assalto às minas de Remir, sabia ele, fora motivada por uma notícia preocupante que havia chegado ao Alto Comando da Aliança. O sistema de Silexa tinha sido destruído quando o seu sol se transformara, repentinamente, numa supernova e nada fazia prever aquele acontecimento cósmico. Os cientistas rebeldes foram convocados a uma reunião com o general Willard que exigira saber o que tinha acontecido em Silexa e as conclusões deixaram-no apreensivo. A explosão do sol fora causada pelo uso de mísseis de protões, arma experimental que estava a ser testada pelo Império, com um poder de devastação bastante superior aos torpedos que tinham sido usados contra a Estrela da Morte. Os relatórios dos espiões indicaram ainda que em Silexa tinha acontecido um importante exercício militar usando a impressionante Esquadra da Morte que, acrescentaram, era liderada pelo próprio Darth Vader. O navio bandeira dessa frota era um gigantesco imperial star destroyer, da classe Dreadnought. Por tudo isso, tornara-se de crucial importância para a Aliança o reforço dos escudos defletores e foi indicado que era nas minas de Remir, onde trabalhavam os escravos de Silexa, que o Império se abastecia de minério especial que usava nas suas naves e que as tornavam quase impenetráveis. O assalto a Remir foi destacado como alvo prioritário.

Ninguém sabia disso, só Luke Skywalker. Antilles já tinha ouvido falar do sistema de Remir, conhecia as minas, mas desconhecia os pormenores relacionados com os mísseis de protões, a destruição de Silexa e a necessidade premente do produto extraído dessas minas.

Puxou a manete e o X-Wing subiu como uma raio laser imparável até cruzar a atmosfera lunar e ver as estrelas tremeluzentes. Regressou num mergulho picado, com os motores a rugir com o esforço.

Sorriu. Nada de lembranças ou preocupações naquele dia em que se divertia a voar com os seus amigos.

— Vamos lá, rapazes! Podem fazer melhor do que isso!

— Estás a esticar-te, Skywalker! – exclamou Dameron. – O que foi isso que acabaste de fazer?

— Queres que o Antilles te substitua no comando? – brincou Mobad. – Escapaste por um triz a um despenhamento.

— Queria deixar-vos preocupados.

— Não ficámos, descansa – resmungou Janson.

— Mais respeito, Wes – alertou Ralter. – O que o comandante acabou de fazer com o seu caça… foi extraordinário!

— Claro que podemos fazer melhor, Skywalker! – respondeu Antilles.

Os X-Wing continuaram a voar, em evoluções e revoluções, e nesse saudável despique deram duas voltas completas à lua.

***

Naquela noite acenderam uma enorme fogueira no centro do acampamento, um largo formado pelas tendas flexíveis que tinham erguido e que lhes serviria de abrigo durante aqueles dias que passariam na lua. O perímetro não ficaria comprometido com a luminosidade emitida pela fogueira, pois existiam dispositivos montados no limite do acampamento que emitiriam os competentes avisos se surgisse algum imprevisto, a proximidade de uma sonda inimiga ou mesmo a captação de um sinal proveniente do espaço que investigasse o local.

As chamas daquele fogo esperto animavam os seus rostos descontraídos, os sorrisos francos, a sua juventude. Comiam as rações de combate sem grande deleite, pois não havia nenhum sabor específico para comentar. Xandher, experimentalista, tentava cozinhar as suas barras energéticas na fogueira, chegando-as ao lume numa antena que recuperara da sua caixa de peças sobressalentes, com as barras empaladas ao longo do espeto improvisado. Ralter observava-o curioso e disposto a fazer o mesmo, se o cheiro o convencesse de que as barras estavam, de facto, assadas e mais deliciosas. Klivian brincava com um aparelho que captava ondas rádio, à escuta de comunicações tresmalhadas, na companhia de Dameron que espreitava os seus esforços de afinação enquanto comia um bolo sintético que acabara de preparar. Skywalker comia distraído, junto a Antilles que parecia fatigado e Janson que parecia esfomeado. Mobad comentou para lançar um tópico de conversa:

— O Dak vai casar-se em breve.

Ralter ficou corado. Um coro de assobios elevou-se em redor da fogueira.

— Como sabes disso? – perguntou Dameron a mastigar o bolo.

— Toda a gente sabe que esse rapaz aí está noivo. Como é que tu não sabes disso?

Dameron deu uma cotovelada em Klivian que quase deixou cair o aparelho.

— Tu sabias disso?

— Sim, sabia. Tem mais cuidado!

— Ele vai casar-se com a Nyra – acrescentou Janson, para demonstrar que estava por dentro do assunto.

— Quem é a Nyra? – admirou-se Dameron.

— Trabalha com o Willard. Já tens a permissão do general, Dak?

Skywalker parou de comer. Antilles percebeu o seu desconforto.

— Ah, não querem parar? Não vos interessa o que irei fazer depois de completar esta missão… – pediu Ralter.

— Uh! Já? Vais casar-te ? – indagou Xandher admirado, rodando a antena para crestar o outro lado das barras.

Ralter riu-se, nervoso. Mobad passou o braço pelos ombros dele e defendeu-o:

— Não disfarces. Estás completamente apaixonado… Sim, ele pode casar-se já. Para quê esperar quando gostamos tanto da moça, ela gosta de nós e não existem dúvidas?

— E se o general não der autorização?

— Claro que vai dar autorização. Dentro da Aliança, alguma vez um casamento foi impedido por falta de uma autorização do superior hierárquico? Não tenho conhecimento – disse Antilles.

— Se o Willard não te autorizar o casamento, podes contar com o Antilles para convencê-lo – observou Janson. – O Willard nunca nega um pedido ao Antilles.

Dameron olhava de uma forma penetrante para Ralter. Este suspirou, assentou as mãos nos joelhos.

— Sim, vou casar com a Nyra – admitiu. – E estou a pensar convidar alguém especial para minha testemunha. Podemos levar até três pessoas para testemunhar a nossa união, fiquei a saber, desde que não sejam androides. Não sei por que razão não podem ser androides, mas aceito as regras que me foram explicadas. – Voltou-se para o lado. – Comandante Skywalker…

Luke sentiu-se zonzo.

— Dak?

— Gostaria que fosses a minha testemunha… Luke.

Xandher exclamou eufórico:

— Uh, um convite formal! Isso é bajular o teu chefe, rapaz. – A barra que estava na ponta da antena incendiou-se. Ele agitou a vara, irritado, as cinzas sujaram-lhe as botas. – Ah, porcaria… Queimei a comida!

Mobad largou uma risada, Dameron enfiou dois dedos na boca para soltar um assobio estridente. Antilles sorriu, Klivian e Janson tinham as sobrancelhas arqueadas, devido ao seu espanto. E Luke só conseguia lembrar-se da ansiedade da Nyra, naquela noite, a sua boca quente, os seus gemidos, a súplica ofegante para que a levasse para a sua cama, que a amasse. Sentiu o sangue fugir-lhe das faces, devia estar pálido e parecer agoniado. Limpou a boca com as costas da mão. Respondeu:

— Obrigado pelo convite, Dak. Aceito, claro… Serei a tua testemunha no teu casamento com a Nyra.

Uma felicidade estúpida e completa espraiou-se pelo rosto vermelho de Dak Ralter. Luke forçou um sorriso. Enfiou uma barra energética inteira na boca para se esquivar a qualquer explicação, mastigando com dificuldade por causa das bochechas cheias daquele granulado seco e insípido, mas ninguém lhe ligava. Estavam todos a felicitar o Dak, a dar-lhe palmadinhas nas costas, pancadinhas na cabeça e socos leves nos braços, exigindo uma festa só para os rapazes antes da cerimónia, para que ele aparecesse nesse dia especial, diante do oficial que faria o registo do ato, com umas olheiras assustadoras por causa da ressaca. Mais gargalhadas.

Luke mastigava. Viu movimento e olhou por cima do ombro. Não havia nada, com certeza, senão os alarmes teriam disparado muito antes de ele ver qualquer coisa. Estreitou o olhar, um calafrio desceu-lhe pela coluna vertebral.

Na distância escura, por breves instantes, julgou ver a figura azul e fantasmagórica de um Ben Kenobi sereno, trajado com a sua capa castanha de cavaleiro Jedi.


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Notas finais do capítulo

Este capítulo vai inteiramente dedicado à Valdie Black pois hoje é um dia especial!
Sim, é mesmo para ti, moça!!

Luke Skywalker assumiu a sua posição de comandante e temos aqui reunido um grupo respeitável de pilotos. Foi apresentada a Esquadra Rogue - aquela que irá participar na batalha de Hoth!
Temos entre os pilotos "caras conhecidas", ou seja, personagens cânone de Star Wars, como Wedge Antilles, Dak Ralter, Wes Janson e Derek Klivian. Os outros são criação minha... Temos Raf Dameron, irmão de Kes Dameron que será pai de um tal de Poe Dameron...
Das cenas mais impressionantes de Star Wars para mim são os chamados dogfights, combates aéreos com caças, pelo que nesta fase da fanfic deixo a minha homenagem aos heróis do ar de todas as eras - desde a I GM, aqui na nossa Terra, até às batalhas espaciais na galáxia muito distante.

E temos um casamento marcado... O que acharam do Dak e da Nyra?

Próximo capítulo:
Lugares desconhecidos.