Um Horizonte Maior escrita por André Tornado


Capítulo 28
Exercícios de preparação


Notas iniciais do capítulo

“Travavam-se milhares de pequenas batalhas individuais, espécie de feroz corpo-a-corpo mecânico, no meio de constantes disparos de armas laser pesadas.”
In O Regresso de Jedi, KAHN, James, Publicações Europa-América



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O almirante Kendal Ozzel tinha preparado um exercício militar junto ao sistema de Silexa, situado na Orla Exterior, no setor de Thuris. Uma disposição grandiosa dos meios navais à disposição do Império Galáctico, convocados e despachados para exibirem todo o seu potencial, como se de uma autêntica batalha se tratasse contra um inimigo com idêntico poder de fogo. Um exagero megalómano que se mostrava necessário, para apagar os pequenos focos de sedição que estavam a eclodir em vários sistemas da galáxia, especialmente junto das colónias, locais mais populosos e suscetíveis que urgia dominar e silenciar, a bem da paz estabelecida pela ditadura.  

O sistema de Silexa era composto por um planeta gigante gasoso azul que orbitava em redor de um sol magnífico, uma das estrelas mais espetaculares daquelas regiões longínquas. Por sua vez, esse globo de gás possuía na sua órbita três outros planetas, um único dos quais contava com uma escassa população que estava a ser utilizada, na sua totalidade e sem olhar a género, idade ou debilidade física, como escrava nas minas de Remir, onde se extraía o precioso minério que reforçava os escudos defletores dos star destroyers imperiais. Esse planeta, o terceiro desse sistema e que ficava rapidamente despovoado devido à avidez dos contratadores que negociavam com o Império, possuía uma pequena lua de cor vermelha, terreno estéril e esburacado por antigos exploradores que daí tinham extraído, alguns milénios atrás, preciosos rubis que eram vendidos como raridades nos mundos do Núcleo, em especial em Coruscant.

Haveria sempre uma qualquer ligação que unia o centro da galáxia, a capital imperial fixada em Coruscant, aos planetas inóspitos e pouco amistosos dos confins do espaço sideral. Se não fossem pelas pedras preciosas, seria pelas especiarias, pelas casas reais que forneciam belas princesas para deleite de cortesãos de diversas eras, as armas especiais de uma determinada raça, o metal único que tornava uma liga metálica invencível, os cristais kyber com uma ligação invulgar à Força.

Era interessante verificar essas ligações mínimas, quase desprezíveis, que poucos conseguiam identificar com propriedade. Muito provavelmente não estava na mente do almirante Kendal Ozzel a relação subtil entre a lua vermelha do terceiro planeta do sistema de Silexa com a vida opulenta de Coruscant, quando escolhera aquele lugar para o espetacular exercício militar que envolveria a frota principal do Império, porque o homem, com a sua arrogância e desprezo, não possuía essa sensibilidade. Mas ele tinha o conhecimento dessas particularidades e comprazia-se por verificar que tudo recuperava o equilíbrio após uma momentânea perturbação.

Ele, Darth Vader, sabia.

O exercício militar implicava a Esquadra da Morte, a armada pessoal do lorde Sith liderada pela Executor, o destruidor estelar da classe Dreadnought, e seria da ponte desse imponente vaso, através da vista proporcionada pela enorme janela panorâmica, que Vader pretendia assistir às surpresas que o almirante tinha preparado. As palavras eram do próprio Ozzel, surpresas, reveladas com alguma relutância, para provavelmente aumentar a sensação de curiosidade, numa reunião tática breve que precedia o exercício.

Vader aceitara a montagem dessa batalha simulada como peça da rotina que deveria fazer parte de qualquer frota que se desejava superior e imbatível. Nunca se mostrara emotivo com nada do que lhe era apresentado e, naquele caso, manteve a sua postura impassível enquanto escutava o almirante Ozzel descrever de forma sucinta as próximas movimentações da Esquadra da Morte, num monólogo tão enfadonho quanto a própria personalidade apagada que o verbalizava.

Se Vader era pouco expansivo, Ozzel era um dissimulado, que se enfurecia com ninharias e desdenhava as coisas verdadeiramente importantes, num exagero que o levava a negligenciar problemas que se avolumavam nas suas costas, que alguns capitães mais atentos acabavam por corrigir. Não era um oficial particularmente dotado, em inteligência militar ou qualquer outro tipo de inteligência, mas isso Vader já sabia quando fez dele o substituto do almirante Harish Muitel. Em última análise, tinha sido uma decisão sua, embora derivada de uma indicação do Imperador, naquele dia distante e turvo em que estivera em Coruscant, entre as suas luzes inebriantes.

Iria aturá-lo até ao limite da sua paciência, sabia-o, e estava convicto de que o Imperador também o sabia. Quando fizera a sugestão de Ozzel para o almirantado estaria ciente das suas debilidades, estaria ainda mais ciente de que a personalidade do homem iria chocar com a do lorde negro, mas gostava de provocar esses pequenos atritos para se deleitar, nos bastidores, com as demonstrações de poder, os desequilíbrios e as decisões radicais. O que significava, muito rapidamente, de que o primeiro passo em falso de Ozzel o condenaria à morte.

O almirante tinha os seus defeitos, superiores infelizmente às suas qualidades. Por isso, Vader não estava com grandes expetativas para aquele exercício monumental e nem despendia dois segundos-padrão a imaginar essas supostas surpresas. Iria, no entanto, admirar e avaliar o poderio imenso da frota imperial, fixar as manobras mais ousadas que os capitães de cada star destroyer pudessem eventualmente realizar, seguindo as ordens restritas da estratégia definida pelo almirante mas usando de alguma imaginação. Fixaria os seus nomes, iria incluí-los na sua coleção particular de pessoas que ele um dia chamaria para o seu lado, honrando-os com essa escolha. Se falhassem, o destino estava traçado. Se fossem bem-sucedidos, seriam agraciados com toda a sua generosidade – que não abundava, como era característica de qualquer líder absoluto.

Contemplou o firmamento negro.

O reino de Sheev Palpatine também era o seu.

O Império Galáctico era o seu império, construído sobre os alicerces que, com as suas mãos robóticas, tinha cravado no solo daquela galáxia, aglomerado de centenas de sistemas, mundos gasosos, mundos terrestres, luas e asteroides, permeados pela Força.

Da ponte da Executor via a escolta dos star cruisers na cunha da formação, os star destroyers ladeavam a imensa nave, adotando as posições previamente comunicadas na ordem que tinha sido distribuída pelos capitães. Os caças TIE estavam a postos nos hangares para serem despachados para o espaço para formarem a defesa aérea do comboio de naves. Para além da Esquadra da Morte, contariam com a presença de duas esquadras, sendo uma delas a frota que estacionava em Coruscant.

Pessoalmente teria preferido uma parada a um exercício militar. Uma procissão lenta e avassaladora de gigantescos navios de guerra vogando pelo espaço, num sistema situado nas colónias, impressionante o bastante para calar os céticos e deixar boquiabertos os néscios. No início da era imperial, logo após a queda da Antiga República, realizaram-se essas paradas. O Senado Galáctico, que ainda existia nesses tempos, era forçado a assistir, denunciando os senadores que se mantinham na oposição, agarrados às suas estúpidas convicções, revelando os senadores que apoiavam incondicionalmente o regime.

No entanto, devido à necessidade de implantar a visão política do Imperador, o tempo era mais ocupado a resolver conflitos, do que a descontrair em festas e as paradas foram, progressivamente, abandonadas, para dar lugar a exercícios militares que mantinham a armada do Império Galáctico num estado de prontidão constante.

As suas melhores memórias eram da demonstração exaustiva da grandeza militar do Império, num cortejo que desfilava diante de todos a inevitabilidade e a irrevogabilidade do sistema. O orgulho crescia dentro dele, preenchia-o, tornava-o determinado e fanático. A última parada tinha acontecido em Alderaan e fora sublime, tanto que se tornara inesquecível. Nesse sistema germinava a sedição, em alas obscuras do palácio local estava a ser erguida essa organização abjeta que se deu a conhecer como a Aliança para a Restauração da República… Nesse dia o terror e o asco eram evidentes na expressão rígida do monarca de Alderaan, Bail Organa. O senador fora desmascarado como um dos traidores. Mas era um dos intocáveis, lamentavelmente… A parada servira para intimidá-lo, mas não para demovê-lo. Acabara por pagar por todos os seus erros juntamente com Alderaan, quando a Estrela da Morte, na única demonstração da sua extraordinária potência, explodira com o planeta. Um tiro verde, com a filha do senador traidor, a princesa Leia Organa, a assistir à mortandade.

O almirante postou-se ao lado dele.

— Está tudo pronto, senhor – anunciou Ozzel.

— Dê o sinal, almirante – disse Darth Vader.

Ozzel girou a cabeça para o seu lado direito e fez um aceno ao seu primeiro-oficial. Este, um homem ruivo e magro, voltou-se para a consola. A ponte encheu-se da azáfama própria de uma batalha. Avisos luminosos, ordens e confirmações de ordens, o pessoal concentrado no seu posto, reportes imediatos para análise do respetivo superior, monitores e painéis transparentes que se iluminavam com linhas coloridas e fluorescentes, representando a posição de cada nave.

Ozzel informou:

— O ataque irá acontecer ao planeta Dois e à lua vermelha do planeta Três, representando estes o alvo a alcançar e a conquistar. O alvo principal será o planeta Dois e a lua vermelha será uma base secundária que presta apoio ao planeta. As manobras que serão desenvolvidas terão como premissa a existência de uma frota inimiga que se encontra posicionada a proteger o alvo principal, o planeta Dois, deixando desprotegida, numa primeira movimentação, a base secundária, que será abordada por via aérea. Iremos testar a coordenação da frota, com a Esquadra da Morte a orientar o ataque. A Executor é um vaso formidável, mas a sua enormidade pode causar problemas de ação e reação num cenário real de guerra. É o que iremos testar hoje com sucesso, tenho a certeza. O apoio de uma escolta coesa é fundamental para a fortuna da Executor.

Usava da sobranceria típica que se dispensava a um ignorante que se desejava impressionar com o conhecimento técnico, específico, hermético e exclusivo de uma elite privilegiada.

Vader ignorou-o. Não relevou a atitude imprudente, seria importante conhecer os defeitos profundos e ingénuos do almirante, mas relevou as palavras, considerou-as como simples ruído oco. Iria contemplar o exercício sem se importar com as indicações descartáveis de Ozzel, que nada acrescentavam ou mudavam o seu juízo do acontecimento.

No fim de contas, o Império era seu e todas as naves guerreiras com o Império. Participara em suficientes batalhas para conhecer as táticas na sua globalidade. Ainda jovem, noutra vida, combatera na famosa Guerra das Clones que precipitara o fim do regime republicano. Não havia segredos na estratégia militar que ele desconhecesse. A condescendência de Ozzel era lamentável e a sua avaliação da Executor demonstrava a sua mesquinhez.

Que ele prosseguisse, todavia. Seria demasiado cedo para contrariar as indicações de Palpatine e destituí-lo do cargo. Ou não seria? Provavelmente, nunca existira um prazo mínimo para cumprir as ordens de Palpatine, que ele gostava de observar, por respeito e obediência.

A frota de Coruscant, composta por dez star destroyers foi mandada avançar em direção do planeta Dois. Duas naves quedaram-se na retaguarda, enquanto seis fechavam os flancos, voltando as proas para o exterior de modo a criar uma defesa em espinha. As duas restantes alinharam-se uma atrás da outra, desnivelando o voo e começaram a disparar uma barragem ininterrupta de fogo. O planeta Dois estava a ser, supostamente, protegido por uma linha cerrada de naves inimigas, simbolizadas por hologramas simulados no painel maior onde se podia assistir ao exercício em toda a sua amplitude.

— A manobra de Lança Amaldiçoada, senhor.

— Hum… Demasiado conservador.

O almirante colocou as mãos atrás das costas, elevou-se em bicos de pés para depois desse balanço, estabilizar o corpo.

— É uma manobra eficaz contra uma linha fechada – defendeu-se Ozzel perplexo com a crítica.

— Bastante eficaz – disse Vader. – Porém, uma linha com essas características nunca será utilizada pelos inimigos do Império, uma vez que já foi provado que aumenta as baixas na frota adversária para manter uma posição estática que, de qualquer modo, será conquistada.

O almirante admitiu contrariado:

— Poderei concordar, senhor. Mas neste exercício vamos experimentar vários tipos de manobras. As… antiquadas e as mais modernas.

— Quero que passemos imediatamente para as mais modernas, almirante. Não nos adianta estar a gastar recursos com ideias… A tua definição foi perfeita. Com ideias antiquadas! Não creio que o clã dos Mon Calamari, que segundo os nossos espiões estão presentemente a colaborar com a Aliança, fornecendo-lhes dotados oficiais para liderar as ridículas frotas rebeldes, estejam a considerar usar contra o Império Galáctico táticas obsoletas, que deram resultado num passado esquecido em que o poder de fogo era bastante inferior àquele que se encontra à nossa disposição atualmente.

— Muito bem, senhor.

Ozzel deu ordem para que a segunda frota avançasse.

Esses dois conjuntos de naves prestavam uma escolta maciça à Esquadra da Morte que se movimentava atrás, reservando-se para o assalto final se este existisse. Os estragos deveriam acontecer, na sua maioria, nas duas frotas da dianteira que se atiravam ao inimigo, provocando o maior número de baixas. Abriam as brechas que iriam permitir aos star destroyers da Esquadra da Morte avançar sem preocupação de danos maiores, praticamente quase sem disparar qualquer tiro laser, protegendo a Executor que surgiria somente como um monstro dissuasor, pela sua envergadura esmagadora. A prudência irritou Vader. A Executor não era apenas um adereço de uma frota, era a sua nave principal, a arma derradeira. Um predador faminto que deveria farejar o sangue e prová-lo a seguir, para não perder a sua voracidade. Deixá-la inativa, a assistir a uma batalha, qualquer confronto, era criminoso. Ozzel apresentava, convencido da sua genialidade militar, mais uma movimentação conservadora e retrógrada.

A segunda frota dispôs-se no flanco direito da Esquadra da Morte, as naves separavam-se e criavam espaços largos entre si que permitiriam a penetração inimiga no centro do grupo. Quatro star destroyers formaram uma meia-lua e começaram a disparar, no que se assemelhava a uma suposta frente que travaria qualquer nave inimiga e protegeria as naves posicionadas atrás deste muro de metal e raios laser. Mas a retaguarda estava totalmente desprotegida e os espaços continuavam demasiado grandes. Se os adversários lançassem os seus caças rápidos, o ataque aéreo varreria essa frota e o flanco direito da Esquadra da Morte ficaria vulnerável.

— As tuas surpresas não me estão a agradar, almirante.

— Peço-te que aguardes, senhor – solicitou Ozzel. – Seremos ousados, como verás.

Nisto, os dois star destroyers da escolta da Executor surgiram, preenchendo os lugares vazios do flanco direito. Os caças TIE apareceram em dois enxames famintos e dirigiram-se para onde se encontravam, supostamente, as naves contrárias, como indicava o painel.

— Hum…

— Uma manobra em pinça que vai esmagar as naves inimigas que penetraram no nosso perímetro. Vão cair na nossa armadilha inesperada.

Vader não comentou. Achou arriscado, em vez de ousado. Se os capitães da nave inimiga fossem realmente afoitos, o que ele exigia dos capitães ao serviço do Império, então conseguiriam contornar aquela suposta armadilha com um pouco de imaginação, se não se importassem com algumas perdas, que seriam enormes no início, mas que depois compensariam por alcançarem o prémio maior daquele concurso. A Executor.

Reparou num star destroyer a descer para uma posição que não estava prevista. Ozzel mandou corrigir a movimentação, com um aviso ríspido ao capitão. Vader reparou que se tratava da Accuser.

As naves da ponta em cunha da Esquadra da Morte separaram-se da formação inicial e divergiram para lados opostos, estibordo e bombordo. Disparavam a esmo e Vader percebeu que se dirigiam para o planeta Dois. Aliás, a concentração de naves próximas ao planeta era exagerada, dado que a frota inimiga continuava com a maioria das suas naves operacionais e a manobrar com grande liberdade. Depois do exercício, Vader iria indagar para descobrir qual a equipa que tinha programado as movimentações inimigas, que demonstravam um curioso talento para antecipar as disposições gizadas pelo almirante.

Distraiu-se com as naves inimigas e impressionou-se com a sua resiliência e tenacidade, embora não passassem de objetos inventados pelos computadores do sistema informático da Executor. Exibiam coragem e algum senso provocatório que o agradou. Igual ao arrojo do star destroyer que se apelidava de Accuser. Nem todos partilhavam do cinzentismo e do obscurantismo de Ozzel, que se agarrava a métodos conservadores que causariam embaraço se aplicados num cenário real de guerra. Exigia-se do Império Galáctico um permanente estatuto de superioridade, em qualquer campo, no militar acima de todos os outros, para que a intimidação nunca deixasse de existir e mantivesse o regime. Se essa superioridade fosse beliscada, as bestas aproveitavam para começar a mordiscar a carcaça que desejavam derrubar.

Passou a considerar aquele exercício uma inutilidade. No fim daquela patética exibição iria convocar o almirante aos seus aposentos e revelar-lhe que o exercício militar tinha sido um absoluto fracasso. Nem chegados ao fim estavam e já eram uma desilusão amarga. Fora para aquilo que a frota de Coruscant fora convocada… Se o iria estrangular, logo veria no momento.

Havia outro que ele desejava estrangular, pensou, distraindo-se do que contemplava através da janela panorâmica da ponte da Executor, distraindo-se do painel onde os hologramas das naves navegavam numa batalha simulada. Mas o infeliz andava fugido, acobertado pelos seus cúmplices que conseguiam escondê-lo em mundos desconhecidos da zona não cartografada da galáxia. Esconder-se em lugares inóspitos como esses era de um perigo tremendo, mas Jeiz Becka estava acostumado ao jogo e sabia que se arriscasse aparecer num qualquer outro sistema, ainda que sob o controlo de um criminoso da mesma laia, iria imediatamente ser alvo de um caçador de recompensas que o aprisionaria para receber o prémio que o Império tinha anunciado pela sua cabeça.

O que se propusera realizar em Ostyu fora um rotundo falhanço e, pior do que isso, constituíra uma vergonha que tinha manchado Jeiz Becka e também Vader, que o tinha recrutado pessoalmente. Graças a esse desaire, o lorde negro compreendera que a caça ao piloto rebelde deveria ser liderada por ele próprio e usando a Esquadra da Morte nessa perseguição. Não devia nunca mais expor-se a situações daquele calibre, com terceiros na equação.

No dia em que olhasse nos olhos de Becka antes de este sucumbir, com os pulmões murchos e vazados de ar, encerraria em definitivo essa mancha no seu currículo. A morte de Becka lavaria o seu orgulho ferido. Só ainda não se tinha decidido se torturaria dolorosamente aquele patético bandido antes de lhe aplicar a morte. Ou se autorizaria o caçador de recompensas que o capturasse a fazê-lo, em seu nome… Estava tentado para essa última hipótese. Manteria as suas mãos longe da sujidade daquele homúnculo que deveria estar a sofrer pela morte do irmão, que Vader mandara recentemente chacinar. Mas nem essa perda o fizera rastejar para fora do seu esconderijo.

O almirante apontava toda a potência destruidora dos star destroyers ao planeta Dois e à lua vermelha. A camada atmosférica desses dois corpos celestes incendiava-se, criando um horrível inferno de chamas vermelhas e alaranjadas que queimavam o solo. Tinham alcançado o objetivo do exercício militar. A vitória pertencia à frota imperial, as naves alinhavam-se para proteger o núcleo da armada, os caças TIE regressavam aos hangares e a Executor, como uma dama nobre de uma corte decadente, servira de enfeite.

A seguir, Ozzel despachou a ordem para disparar os mísseis de protões, uma arma experimental de destruição maciça que tinha sido recentemente produzida e que fora ainda pouco testada. Seria o star destroyer chamado Shadow que enviaria os potentes mísseis. O alvo era o sol ofuscante daquele sistema. O resultado era previsível ao atingir-se a estrela com aquelas bombas.

— Então… Vais destruir a totalidade do sistema de Silexa e não apenas o planeta Dois.

— Sim, lorde Vader

O capacete negro de durasteel movimentou-se ligeiramente quando Vader olhou para cima, num gesto pensativo. Cruzou os braços.

— E os escravos?

— De acordo com as nossas informações a população atual ronda os três mil e duzentos indivíduos. Números perfeitamente descartáveis, quando as remessas que costumamos obter, em cada transporte, são de dois mil escravos. Os custos das duas viagens que eventualmente teríamos de realizar não compensam a extração do produto. Tenho autorização de Coruscant para fazê-lo. O sistema de Silexa deixou de ser vital para o Império, senhor.

— Muito bem, almirante.

O sol foi atingido por cinco mísseis de protões, os únicos que a Shadow carregava nos seus porões. A munição especial esgotada. Nos primeiros instantes, nada aconteceu. Depois o brilho do sol aumentou e o núcleo da estrela colapsou numa mancha negra que se assemelhou a uma nódoa provocada por um líquido que aí se tivesse derramado. Em breve aquela magnífica estrela iria converter-se numa supernova, inchar e engolir os três planetas que orbitavam em seu redor, obliterando o sistema de Silexa que seria apagado das bases de dados oficiais. Mas antes do cataclismo final, que significava a morte para os que ficassem, os cientistas teriam feito todas as medições e tirado todos os apontamentos que iriam usar para classificar aquele protótipo, compilando o relatório necessário para que a arma pudesse entrar em fase de produção. Mas antes da explosão mortal, a frota imperial, incluindo a Esquadra da Morte, já teria abandonado o local, viajando à velocidade da luz.

— Como se chama o capitão da Accuser?

— Firmus Piett, senhor.

— Hum… Muito bem, almirante. Mais alguma surpresa?

A ironia da pergunta incomodou Ozzel. Uma chispa perpassou pelo seu olhar duro, um leve rubor cobriu-lhe o rosto redondo.

— O exercício está oficialmente terminado, senhor.

Darth Vader girou sobre os calcanhares e abandonou a ponte.


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Notas finais do capítulo

O almirante Kendal Ozzel acabará por ser estrangulado por Darth Vader, depois de ter feito um último e decisivo erro quando a frota chega a Hoth com minutos-padrão de antecedência por ter desligado a velocidade luz demasiado cedo e assim estragar o efeito surpresa do ataque à base da Aliança. Mas isso será mais tarde...
Aqui, Vader aceita as indicações do Imperador e suporta o "homenzinho"!
Um capítulo puramente militar, com manobras navais para mostrar o imenso poderio do Império Galáctico.
Sabemos que Vader está muito descontente com Becka, que o procura para lhe aplicar uma sentença definitiva, que mandou matar o irmão deste.
O sistema que serviu de cenário às manobras militares, Silexa, e o fim do seu sol pertence à história oficial de Star Wars. Utilizei-a aqui de uma forma ligeiramente diferente.

Para a semana teremos uma comemoração!

Próximo capítulo:
Um grupo unido.