Um Horizonte Maior escrita por André Tornado


Capítulo 18
Uma nova e inesperada viagem


Notas iniciais do capítulo

“Como podia ele permitir-se temer prováveis perigos para si próprio quando os seus amigos estavam naquele momento em risco iminente de morte? Já não restavam dúvidas na sua mente quanto àquilo que tinha de saber.”
In O Império Contra-Ataca, GLUT, Donald F., Publicações Europa-América



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Franziu uma sobrancelha. As rugas de estranheza que criou na testa encalharam com o rebordo do capacete. A luz não parava de piscar mesmo depois de ele ter dado uma palmada na consola, o que significava que não era um mau contacto no painel de instrumentos.

Era bastante provável que fosse um simples mau contacto por causa das condições particulares das naves da Aliança. Na generalidade, os veículos estavam operacionais e correspondiam ao que se esperava deles. Voavam, os canhões laser disparavam, permitiam uma comunicação clara com a frota. Mas se a análise se focasse em pormenores existiam problemas mecânicos e eletrónicos que tinham sido resolvidos com recurso a expedientes pouco ortodoxos e outras soluções rápidas. Luke tinha passado algum do seu tempo, naqueles pequenos intervalos arrancados à organização da sua secção no plano de evacuação da Base Um, em reparações e afinações do seu X-Wing, ajudando os mecânicos que operavam noutras naves, trocando experiências e impressões com Wedge, com Han e Chewie que preparavam a Millenium Falcon. Em princípio estava tudo operacional e não havia razões para desconfiar daquela luz intermitente.

Um silvo surgiu nos altifalantes atrás dele e ele respondeu ao astromec:

— Sim, Artoo, estamos a receber uma mensagem de auxílio… Não, não é uma avaria do alarme, é um sinal verdadeiro. Não consegues verificar a autenticidade? Não?! – Ficou preocupado, coçou a face esquerda com um dedo. – Artoo, não me parece que possamos ignorar o sinal…

O androide apitava agitado, em protestos insistentes.

— Calma… Não é uma armadilha. Estava tudo normal nos vetores que verificaste quando saímos de Yavin. Pode mesmo ser algum dos nossos com problemas!

Luke teria de decidir se iria verificar o sinal. Voava à velocidade da luz e estava a poucas horas do ponto de encontro com a restante frota da Aliança, o local onde se iriam esconder situado na Orla Exterior. Ele e os restantes pilotos das naves individuais, como era o caso dos caças, incluindo a Millenium Falcon, seriam acolhidos num espaçoporto inserido numa nave de grande porte, que tinha sido recentemente disponibilizada à Aliança por um grupo de lutadores rebeldes que a tinham conseguido roubar aos estaleiros imperiais de Kuat. Não fora totalmente modificada pelo que se assemelhava sinistramente a um star cruiser ao serviço do Império. Pelo menos era um dos boatos que circulavam entre o pessoal da Aliança. O segundo boato, ainda mais incrível, era que existia uma flotilha disponibilizada pelos Mon Calamari e que esse clã iria declarar oficialmente o seu apoio à Rebelião. Haveria essa nave de grande porte e corvetas de apoio, oficiais especialmente dotados para a guerra e novos recrutamentos altamente qualificados. O que fosse, não importava. Quando estacionassem no hangar da nave, qualquer uma, seria o seu porto seguro. 

Apertou os lábios, respirou fundo.

O dedo enluvado carregou num botão e o X-Wing entrou em velocidade subluz.

— Eu sei, Artoo… Posso ter sido imprudente, mas acho que não conseguias verificar a autenticidade do sinal por causa do hiperpropulsor…

Um apito longo do androide deixou Luke zangado.

— Eu sei que fiz isso! Não me culpes… Se não o tivesse feito não teríamos conseguido terminar com o problema nas células de combustível. Pois, também sei isso! – Luke suspirou aborrecido e revirou os olhos, pensando em como seria possível que aquele astromec fosse tão contundente nas suas observações. – Ficámos com os escudos defletores afetados, mas não te disse que não iríamos encontrar ninguém quando saíssemos de Yavin? Os escudos defletores não foram necessários e quando precisarmos dos escudos defletores, eles vão estar operacionais. Bom, mas isso agora não interessa! Queres verificar o sinal?

O computador de bordo fazia cálculos enquanto determinava a localização do pequeno X-Wing na galáxia. Luke analisou os resultados no pequeno monitor da esquerda, fez estalar a língua.

— Bom, estamos ainda longe do ponto de encontro, acabámos de entrar nos Territórios Médios… Faltam algumas horas de viagem. Estás a verificar as células de combustível?... Hum, muito bem Artoo. Vou verificar onde poderemos reabastecer se a nossa volta for demasiado fora de rota… Não, não estou preocupado e tu também não deves estar.

Pôs-se a analisar as possibilidades de sistemas sensíveis à causa dos rebeldes, eventuais mundos amistosos mas ainda não diretamente envolvidos na guerra civil, os lugares a evitar que exibiam o estandarte inequívoco do Império, especialmente os postos avançados militares e outras bases cheias de tropas de assalto. Teclou o computador de bordo que lhe indicou, no exíguo monitor da esquerda, uma listagem sumária de sistemas planetários e nenhum lhe pareceu apelativo. Ou havia poucas informações, ou nem sequer constavam como totalmente amigáveis. O que havia ali em abundância eram planetas e luas dedicados ao tráfico de especiarias e de armas, com a condescendência do Império que devia lucrar com esse contrabando, pelo menos era o que a Aliança tinha conseguido apurar para introduzir nas suas bases de dados.

Artoo silvou agitado pelo intercomunicador.

— O sinal de alarme… é da Millenium Falcon? – admirou-se Luke. Deixou a listagem dos sistemas em espera e pediu ao astromec: – Coloca-me em contacto com o Han, por favor.

Aguardou apenas alguns segundos-padrão e a voz jovial do corelliano surgiu no intercomunicador.

— Miúdo, como estás?

Luke suspirou, fechando brevemente os olhos. Podia a nave estar a desintegrar-se, a perder a pressão na cabina, a soltar faíscas e fumo, com um incêndio catastrófico a roer-lhe os motores, a ranger e a crepitar enquanto perdia componentes e sustentação, podia estar no centro da maior tragédia e desgraça que a voz de Han Solo teria sempre aquele tom vitorioso e descontraído, nos limites de uma alegria indizível. Bendita confiança!

— Eu é que devo perguntar como estás, Han… O que se passa? Estou a receber um pedido de ajuda vindo da Millenium Falcon.

— Sim, claro. Fui eu! Esperava que me atendesses. Podia ser outro, mas preferia que fosses tu. Estou mesmo com problemas na Falcon, miúdo.

— Os problemas de sempre?

Escutou-se um rugido. O copiloto Chewbacca confirmava que sim, que eram os problemas de sempre.

— Sim, miúdo – foi a vez de Han concordar após um ligeiro silêncio, que teria significado uma olhadela desagradável ao wookie. Não lhe era fácil admitir que precisava de uma mão extra, sempre tinham sido ele e Chewbacca, sempre tinha bastado ele e Chewbacca. Continuou com os detalhes: – O hiperpropulsor não está ainda totalmente operacional, os remendos que temos andado a fazer não foram suficientes para fazer esta enorme viagem… Também não prestei muita atenção ao hiperpropulsor, confesso, havia outras áreas que precisavam da minha atenção. Pensei que estava tudo bem depois de termos reparado o transmissor de energia. Não está… Estou a consumir demasiado combustível – acrescentou contrariado.

O que significava que não seriam bem os problemas de sempre, agora havia mais uma variável na equação, as células de combustível estavam a ser afetadas pela avaria do cargueiro que clamava por uma paragem demorada no estaleiro, daquelas que implicavam que não voaria nos próximos meses. Estaria a ser exagerado? Pelo que conhecia daquele cargueiro, talvez não… Uma paragem demorada era algo impensável, Luke sabia-o. Sem a Millenium Falcon, Han ficava vulnerável, desprovido da sua alma metálica.

— O que queres fazer? – perguntou, regressando à listagem pouco inspiradora de sistemas planetários daquela zona da galáxia. Fez um esgar de frustração. Poucas possibilidades, muito poucas.

— Tenho de pousar num sítio qualquer – respondeu-lhe Han. – Preciso de células de combustível e de algumas peças para voltar a remendar o hiperpropulsor. Depois de alcançarmos a frota logo me debruço a sério sobre o que se passa com a Falcon, incluindo a hidráulica. Acho que tem que ver com a hidráulica…

Luke franziu outra vez a testa, o capacete oscilou. Hidráulica? Nunca tinha ouvido essa análise e desconfiava que Han estava a atirar hipóteses para o ar, a ver se acertava no núcleo da avaria para que a solução fosse rápida e pouco trabalhosa. Meneou a cabeça, mas não quis criticar o amigo pela sua displicência.

— Sim, quando alcançarmos a frota deves arranjar um androide para falar com o computador da Falcon para fazeres uma análise mais completa dos seus problemas.

— Sabes o que penso sobre androides… – resmungou Han.

— Sei, mas acho que não deves tentar descobrir sozinho com o Chewie o que se passa. Um bom androide consegue lidar com detalhes que nos passam despercebidos. Acho que o Threepio podia ajudar-te nisso. E se não for a hidráulica?

— Se não for a hidráulica, será outra coisa qualquer!

Han irritara-se. Luke cerrou os dentes. Continuava a ser um homem impossível.

Mudou de assunto.

— Que sítio propões? – perguntou-lhe, carregando no botão que fazia descer a listagem no pequeno monitor. – Estou a olhar para os sistemas dos Territórios Médios, onde nos encontramos, e não vejo nada de promissor.

— Eu também estive a olhar para os dados da Aliança. Tens razão, nada de promissor… Mas na Falcon tenho outras informações, recolhidas noutros tempos… Sabes? Nos meus tempos de negociante.

Era uma forma elegante de dizer contrabandista. Luke aceitou-a com um meio sorriso. Han acrescentou com alguma vaidade:

— E ainda continuam bastante atuais e muito úteis.

Luke desistiu da sua listagem.

— E o que tens aí na Falcon?

— Ord Mantell.

Susteve a respiração. Teve um mau pressentimento, súbito e inesperado. O nome não lhe era totalmente desconhecido… Hesitou por alguns momentos, quis perguntar-lhe se não havia uma segunda hipótese, outro sistema que servisse de alternativa. Mas não disse nada. A Falcon poderia não estar em condições de fazer essa escolha, recordou-se que queimava combustível em demasia. Abanou a cabeça, ajustou-se na carlinga. Não iria abandonar o amigo, não valia a pena pôr-se com pormenores insignificantes.

— Repete, por favor.

— Ord Mantell. À velocidade subluz estaremos lá em duas horas-padrão.

— Ainda fica longe.

— É o melhor que temos.

Voltou a olhar para a listagem. Esse sistema não constava lá. Regressou ao princípio, poderia ter passado por cima dessa designação com a pressa de a encontrar.

— O que sabes sobre Ord Mantell? Quero dizer, sabes se teremos problemas… com o Império? – indagou, entretanto. O sistema continuava a não aparecer na segunda verificação.

— Não, não te preocupes – sossegou-o Han mas ele nunca tinha abandonado o tom descontraído e era difícil saber se existia algum pingo de apreensão no contrabandista, que gostava de camuflar os seus receios sob a sua célebre capa de confiança inabalável. E através da impessoalidade do intercomunicador era ainda mais difícil ler os humores do outro. – O Império mantém-se longe desse lugar, por uma questão de reputação.

— Reputação? – Luke, desiludido, voltou a abandonar a listagem.

— Sim, reputação. Por muito canalhas que sejam, os imperiais desejam manter-se longe do mundo do crime, que consegue ainda ter métodos mais brutais do que a ditadura que governa a galáxia.

— Mundo… do crime?

Aquilo ia de mal a pior.

— Ei, vais estar comigo.

Luke passou uma mão pelo rosto enquadrado pelo capacete de piloto, enfiando os dedos por debaixo da viseira laranja. Tentou não imaginar demasiado para não aumentar a sensação de perigo, de inevitabilidade, aquele mau pressentimento que se misturava com outras leituras que fazia daquilo que o rodeava. A Força, mencionada pelo seu mentor, Ben Kenobi. Cada vez mais presente, uma carícia constante e eletrizante na sua pele,

— Não tenho medo de um punhado de bandidos. Sei defender-me – resmungou.

— E sabes defender-te muito bem, miúdo! – exclamou Han com uma risada e Luke deixou escapar um sorriso. Ao fundo ouviam-se os regougos de Chewbacca, que variavam entre apoiar o seu companheiro e repudiar as suas opções, que chocavam com o seu instinto de autopreservação. Escutou a respiração mais pesada do contrabandista, sinal de que acalmava o riso, que se tornava mais sério. – Calma, vai correr tudo bem… Não nos vamos demorar por lá, nem é preciso que fiquemos no lugar mais do que o tempo para conseguir as peças para a Falcon. Saímos sem nos despedirmos e sem deixar marcas da nossa passagem. Não vamos a Ord Mantell fazer amigos.

Após uma curta pausa, Han revelou para tornar a escolha do seu novo destino mais justificável:

— Conheço lá alguém que me poderá ajudar.

— Quem?

— Isso é importante para ti, miúdo?

Na parte traseira da nave, silencioso e analítico, Artoo devia estar a apreciar aquela conversa com alguma satisfação, guardando aqueles dados sobre a incoerência dos humanos, a propensão para complicar o que era fácil, carregando consigo as consequências dos seus atos que se transmitiam, sempre e em última análise, à galáxia, definindo os acontecimentos.

Luke suspirou.

— Não, realmente não é…

Han revelou casualmente:

— É um criminoso, um traficante sem escrúpulos, alguém pouco recomendável. Mas como te disse, não vamos lá para fazer amigos. Não te preocupes. Tenho tudo sob controlo.

— Já o contactaste?

— Vou fazê-lo a seguir… Ainda temos duas horas-padrão.

— Ele precisa saber que estamos a chegar. Para não termos mesmo de ficar mais tempo do que o necessário… Como se chama?

— O meu contacto?

— Sim…

— Qualquer coisa Zinthar.

— Qualquer coisa… Zinthar?

— Ei, acalma-te miúdo. Começas a deixar-me nervoso… Não tenho alternativa – insistiu o corelliano mal-humorado. – Se persistisse na rota, sairia da velocidade da luz numa área longínqua e sem possibilidade de te contactar para me ajudares. Ou contactar alguém… Seria mais complicado! Só estou eu e o Chewie na Falcon.

— Se não te reunisses à frota, viria à tua procura.

— Eu sei disso, miúdo. Fiz bem em enviar-te o pedido de socorro, evitei que fizesses uma viagem em vão. Assim, vais já comigo… E o Chewie agradece ter alguém ao lado a proteger-me as costas.

O wookie rosnou alto. Luke respirou fundo.

— Não vai ser seguro, com esse Zinthar? Temos de te proteger as costas?

— Nunca vai ser seguro enquanto estiveres comigo, miúdo – confessou Han. – Lembra-te que tenho o Jabba atrás de mim para lhe pagar uma dívida, por causa de um carregamento que nunca cheguei a terminar…

— Ainda não pagaste ao Jabba?

— Não! Como querias que o fizesse? Nunca cheguei a receber o que o velhote me prometeu pela viagem clandestina até Alderaan…

— O Ben? Estás a falar da passagem que o Ben te comprou, em Mos Eisley?

— E devolvi a recompensa pelo salvamento da princesa. Estou mais pobre do que estava quando te encontrei em Tatooine! Quero dizer, ainda tenho uns créditos escondidos num depósito que fiz há uns tempos, mas a organização que gere essas quantias é clandestina, os seus chefes são fiéis ao Jabba e muito provavelmente já lhe entregaram as minhas poupanças.

Luke não soube o que responder. Não sabia de nada daquilo. Significava então que, para além de lhe estar a dever a vida, por causa do seu auxílio durante o ataque à Estrela da Morte, também lhe devia dinheiro? Na verdade nunca mais se lembrara do preço que Ben Kenobi tinha combinado com Han Solo, quando se encontraram na cantina de Mos Eisley. Tinha acontecido o pagamento inicial de dois mil créditos, mas nunca tinham sido desembolsados os prometidos quinze mil. Agora estavam todos na Aliança e viviam do que a Rebelião conseguia angariar para sustentar a causa, os créditos com que o fazia nem passavam pelo seu pensamento.

— Com o Zinthar não vai haver problemas. – prosseguiu Han. – É só um conhecido, não é especialmente ambicioso… É confiável, até certo ponto. Em relação ao resto, não garanto nada. Podemos encontrar alguém ligado ao grupo do Jabba. Por isso, devemos estar atentos assim que chegarmos a Ord Mantell. Compreendido?

— Não temos alternativa… – Luke encolheu os ombros.

— Comunico contigo daqui a uma hora-padrão, para verificação e acerto da nossa posição.

— Certo!

— Vamos combinar a aproximação a Ord Mantell nessa altura.

— Combinado.

Desligaram as comunicações e o silêncio do firmamento que ele percorria, a bordo do seu X-Wing, pareceu-lhe imenso. Não conseguia ver a Millenium Falcon, mas tinha-a nos radares. Voava atrás do caça, cautelosamente, a gerir o combustível e o vetor. Luke tentou acalmar-se, mas o incómodo que o assaltara desde que vira o sinal de alarme persistia.

Finalmente, o pequeno astromec fez soar um dos seus silvos.

— Artoo, receio que não podemos fazer de maneira diferente. Ouviste o Han, estão sem alternativas. É perigoso? Eu sei, mas vou estar preparado… Não tenho medo de um sítio cheio de bandidos, vivi toda a minha vida em Tatooine. Claro que te vou proteger… De nada, Artoo!

Luke riu-se com a espécie de ironia dos apitos do astromec. Pediu-lhe que redefinisse a rota para Ord Mantell. Como não tinha a localização do planeta no sistema, instruiu o androide para que a solicitasse à Millenium Falcon. O processo durou alguns minutos e em breve estavam a dirigir-se para lá.

— Ainda bem que não temos o Threepio connosco. Acho que ele não aprovaria este desvio… E pior, haveria de levar o tempo todo a censurar-nos pela quebra na segurança! Vamos ter cuidado, claro que vamos… Não quero que saibam que estamos com a Aliança, não podem saber que estávamos a acompanhar a frota que abandonou Yavin Quatro. Há espiões imperiais em todo o lado.

Luke agarrou-se aos comandos do caça. Estava em piloto automático, mas tinha de colocar as mãos em algum sítio. Provavelmente iria pedir a Artoo que o deixasse voar manualmente mais adiante, quando estivessem próximo do destino. Ele adorava pilotar. Continuou a conversar com Artoo, porque o androide estava muito falador.

— Reconheço que continua a ser uma péssima ideia, mas o Han e o Chewie precisam de nós… Não os vou abandonar. Talvez, Artoo… Talvez outras naves da frota tenham recebido o mesmo sinal de alarme. Podes verificar?... Não, acho que não, vai ser rápido, como o Han prometeu. Claro… Se conseguimos reparar a nave quando estávamos a regressar da missão em Dantooine, também vamos consegui-lo agora. E temos lá alguém conhecido, o Zinthar… Eu sei que ouviste tudo o que estivemos a conversar.

De repente, lembrou-se, ao mencionar Dantooine.

— Espera aí! Ord Mantell! Acho que o Han falou desse planeta quando… quando estivemos no antro de Becka naquele planeta não cartografado. Falou, sem dúvida! Ord Mantell… Sim! Ele disse que o Becka tem aí um entreposto comercial!

O mau pressentimento estava explicado. A descoberta não o deixou mais sossegado, pelo contrário, espicaçou-o, agitou-o. Humedeceu os lábios, ajeitou-se no exíguo assento do caça. Apertou os comandos, os nós dos dedos ficaram brancos, engoliu em seco, prendeu o ar no peito.

O Han sabia da ligação de Becka ao planeta, mas não o quisera mencionar para não o deixar alarmado. Mas ele tinha descoberto e estava mesmo alarmado e nervoso com o que os poderia esperar logo que pousassem as suas naves. Não seria apenas o receio de encontrarem gente leal ao Jabba, havia também a forte probabilidade de tropeçarem em gente leal ao Becka. E havia diferendos com qualquer um desses grupos.

Para o contrabandista de Corellia, no entanto, o problema era apenas único – inimigos que tinham de evitar. A quem esses inimigos deviam a sua lealdade era irrelevante. Luke compreendeu que Han se movia num ambiente onde a lei era simplesmente a sobrevivência do mais forte. Disparar primeiro, fugir depois, escapar e conseguir viver para contar a próxima aventura. Era, de certo modo, muito simples.


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Notas finais do capítulo

A Falcon e os seus problemas...
Han pediu ajuda a Luke e os dois, acompanhados de Chewbacca e de Artoo, vão se desviar do comboio de naves rebeldes.
Ord Mantell - quem captou a referência?
Não será um lugar agradável.

Neste capítulo tentei um exercício arriscado - manter uma única cena. Estivemos sempre no cockpit apertado de um caça X-Wing, com o holofote apontado a Luke Skywalker. Espero que tenham gostado.

Próximo capítulo:
Perseguição implacável.