Um Horizonte Maior escrita por André Tornado


Capítulo 17
Evacuação


Notas iniciais do capítulo

“- Patrulha de lançamento, apressem as saídas…
Enquanto o general dava esta ordem, voltava-se Leia para um ajudante:
— Comece a evacuar o restante pessoal de terra…”
In O Império Contra-Ataca, GLUT, Donald F., Publicações Europa-América



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O vento soprava forte. As rajadas assobiavam através da pedra vetusta do Templo de Massassi num sonoro protesto, indicando que se zangava por os seus mais recentes habitantes estarem a ir embora. Ou seria apenas a imaginação pródiga dos homens, não existiam deuses rancorosos naquelas paragens. Algum dia aquela despedida iria ocorrer, algum dia se levantariam aqueles ventos. Enquanto a Aliança para restaurar a República não obtivesse os apoios políticos e militares de que precisava, as fugas e os segredos fariam parte daquele grupo de idealistas, de guerreiros e de perseverantes que continuavam a aproveitar todas as hipóteses que se lhe apresentavam, a subir degrau a degrau a escadaria ingrata da construção de uma galáxia livre e democrática, onde cada mundo prosperaria em harmonia com os demais, debatendo as suas diferenças em vez de lutarem com o vizinho para as afirmarem.

A poesia destas considerações, todavia, estava longe da mente de Luke Skywalker naquele dia em que se ocupava com a liderança da secção rebelde que lhe coubera organizar no processo de evacuação de Yavin Quatro. Não pensava em política, nem se via nesse mundo da diplomacia e do encantamento num futuro mais próximo ou mesmo mais distante. Ele gostava de ação e queria continuar a ser visto como alguém ativo e incansável, destacando-se dentro da Aliança por esses motivos.

Nos últimos tempos, descontando o assalto à Estrela da Morte e o ataque a Dantooine, tinham-no incumbido de tarefas de bastidores, organizativas, burocráticas, que exigiam cogitação e ponderação. Não sabia que podia fazer aquele tipo de tarefas até ter completado o plano do ataque a Dantooine e, na presente altura, a evacuação da secção Y2.11 de Yavin Quatro. Gostara da experiência, explorara capacidades que ele julgava não possuir, mas o que fazia o coração de Luke bater com verdadeira alegria era estar na linha da frente de um combate espacial, sentir a adrenalina do voo a bordo de um caça, olhar o perigo nos olhos e escapar-se no limite do impossível. Assim, foi com uma expetativa crescente e um alívio retemperador que se dirigiu para o seu X-Wing.

A evacuação estava praticamente concluída. O pessoal, os androides, a maquinaria, documentos sensíveis, bens pessoais e outros abastecimentos já haviam saído de Yavin em transportadores GR-75, naves de porte médio munidos de quatro canhões laser gémeos que seriam usados na defesa dos passageiros. Não possuíam grande potência, nem precisão, mas eram excelentes dissuasores em caso de ataque enquanto se calculava o salto para o hiperespaço.

Nem todas as secções tinham um transportador, mas a de Luke sim, porque de algum modo confiaram nele e uma grande parte do pessoal não militar foi afetado à secção Y2.11. Os meios da Aliança eram perigosamente escassos naqueles dias em que ainda se debatia a saída da clandestinidade, a exposição total aos apoios dos sistemas mais ousados e à ira desenfreada do Império. Nas reuniões preparatórias para colocar o plano de evacuação em prática, Luke escutara as preocupações do general Dodonna sobre a frota rebelde, os números de naves, incluindo caças, que eram manifestamente poucos para suportar um ataque direto e de que não tinha quaisquer dúvidas de que o Império iria atacar, em força, logo que os descobrissem. Por isso a prioridade era, mais uma vez, esconderem-se. Quando saíssem de Yavin, descobriu Luke com alguma indignação, ficariam a flutuar no espaço sideral, atrás de uma cintura de asteroides, na Orla Exterior. As negociações para concluir um acordo que permitisse à Aliança um novo pouso e uma nova base, num planeta rochoso, suficientemente longe da influência do Império ainda decorriam.

Luke mordera o lábio inferior, apertara as mãos uma na outra, apreensivo. Talvez esse acordo nunca chegasse a ser firmado, talvez os rebeldes tivessem de se refugiar num qualquer mundo indesejável e desértico e preparou-se mentalmente para o pior. Era necessário fugirem de Yavin pois o Império já sabia onde eles se escondiam, naquele momento em que estava preparado para aceitar publicamente a destruição da Estrela da Morte, após a destruição da base em Dantooine, outro golpe cobarde que os desagradara e irritara. O tempo que tinham ganhado não fora suficiente para lhes garantir abrigo. Era frustrante, mas Luke não se deixou abater com essas desilusões. Empenhou-se mais, definiu linhas de abastecimento para a frota rebelde, táticas de proteção aos transportadores.

Curiosamente, nunca mais tinha visto a Nyra e tinha a firme impressão de que a mulher evitava-o. Chegara a ouvir uns boatos de que ela tinha sido vista a conversar com Dak Ralter, numa pose bastante íntima, mas ele não quis dar ouvidos a esses disparates. Tinha coisas mais importantes com que se preocupar e, acima de tudo, não queria dar a impressão de que se incomodava com o que a Nyra pudesse andar a fazer. Vira, todavia, a Lenna Shmura. Ela fazia parte do pessoal que seria evacuado no transportador da secção Y2.11. Achou estranho terem separado as irmãs, mas depois raciocinou que fosse de propósito. Se alguma coisa acontecesse, havia a certeza de que pelo menos uma das irmãs ficaria viva. A realidade crua dos tempos perigosos em que viviam atingira-o. Quando era ele que estava em perigo, não se importava tanto. Mas ver aqueles que o rodeavam na mesma situação deixava-o magoado e inquieto.

— Lenna – chamou ele. A mulher olhou-o de uma maneira que lhe fez lembrar aquela tristeza que a Jenna tinha no semblante quando se despediram em Dantooine e ele hesitou. Percebeu que escolhia as palavras e que nenhuma lhe parecia ser suficientemente sincera. Pestanejou para dissipar a inexperiência que se leria na sua hesitação e disse: – Lenna, sinto muito por aquilo que aconteceu à tua irmã. Queria que soubesses que o que ela fez… significou muito para mim. Nunca a esquecerei. Estarei por perto sempre que precisares… de um amigo.

Foi quase um choque verificar que a mulher encolheu os ombros e que lhe respondeu, antes de virar costas:

— A vida continua, Skywalker.

Nem sequer lhe agradecera a oferta de amizade. A réplica seca fora despropositada, artificial e, no mínimo, estranha. Ele sentira todas as vibrações que ela escondia numa alma vazia, uma mistura amarga de dor, de perda, de ressentimento e de desilusão. Não foi uma sensação agradável ter percebido que causava todas aquelas emoções negativas em alguém. Engoliu em seco, respirou fundo e resolveu seguir o conselho da infeliz Lenna. Continuar com a vida. E ele continuou a organizar a sua secção, ocupando-se de uma listagem particularmente aborrecida de maquinaria que seguiria nos porões do transportador.

De volta ao tempo presente, Luke dirigia-se para o seu X-Wing. Ele, Wedge e mais uma dezena de pilotos seriam os últimos a deixar os hangares da agora oficialmente abandonada Base Um da Aliança. Ainda se escutava na distância da atmosfera da lua o rugido peculiar dos motores da Millenium Falcon, pilotada por Han Solo e por Chewbacca, que levantara voo pouco tempo antes e que os caças deveriam seguir, de acordo com o que tinha sido estipulado pelo Alto Comando. O cargueiro corelliano seria a ponta da formação das naves que protegeriam o comboio rebelde. Só deveriam ativar a velocidade da luz com destino ao ponto de encontro depois de se assegurarem que os transportadores e os restantes cargueiros, que tinham sido fretados a uma organização comercial falida do sistema de Suayt, também seguiam o mesmo vetor e que não havia movimentações suspeitas de vasos inimigos. As comunicações imperiais tinham aumentado naqueles últimos dias e suspeitava-se de que se preparava uma ofensiva contra Yavin Quatro, embora o general Dodonna nunca tivesse confessado que tinha a certeza absoluta de um ataque iminente. De qualquer modo, a Aliança adiantava-se ao Império e fugia daquele lugar.

Luke colocou a mão direita no primeiro degrau da escadaria metálica que o levaria ao assento do caça. Debaixo do braço esquerdo carregava o seu capacete e, de repente, este tornou-se anormalmente volumoso. Ele ficou mais sensível, mais atento. Semicerrou os olhos e reteve o fôlego. Sentia a pressa dos pilotos em seu redor, o bater dos seus corações, os fragmentos de pensamentos que pairavam por ali como fiapos, a preocupação com a família distante, com os amigos que estavam nos transportadores, com o camarada, com a mulher que amavam. Forçou-se a quebrar aquela ligação que o estava a afligir. Ajeitou o capacete no braço, levantou a cabeça e verificou que Artoo estava no seu lugar a movimentar a cúpula de um lado para o outro, apitando e silvando enquanto ligava os vários sistemas de navegação da nave.

Tinha outra aflição, infelizmente. Espreitou por cima do ombro e reparou em Wedge a despedir-se de Wes Janson com um sorriso largo e uma palmada nas costas, Wedge que subia a escadaria do seu caça, Wedge a sentar-se na carlinga apertada de braços levantados a segurar o capacete no alto que enfiou na cabeça.

Ele era um alvo. Luke mordeu os lábios. Tinha sabido disso na última reunião do Alto Comando, que ocorrera na véspera. Devia ser uma informação sensível porque só foi revelada quando todos os outros chefes de secção já tinham saído da sala e só lá estavam o general Willard, que presidia a esses encontros deixando o general Dodonna livre para outro tipo de decisões mais abrangentes, o Del Goren das comunicações, uma secretária que se ocupava dos pormenores administrativos, Leia e ele.

— Comandante Skywalker, precisamos de verificar um último aspeto.

— Sim, general?

Leia também estava de saída mas voltou para dentro, deixando que as portas da sala se fechassem atrás de si ao encaminhar-se para junto da mesa comprida. Willard não se importou, pois devia ter achado que a princesa podia escutar o que estaria perto de revelar.

Luke julgou que o general lhe iria dizer que ele tinha cometido algum erro na organização da sua secção e enrijeceu o corpo, aguardando pela observação e preparando-se para se defender. Na realidade, entrou ligeiramente em pânico pois não conseguia perceber onde teria falhado e, portanto, os argumentos que preparava eram todos abstratos, uma sucessão de frases típicas que se podiam usar numa situação semelhante.

Willard apoiou as mãos na mesa e disse-lhe:

— As nossas fontes secretas informaram-nos de que Darth Vader está empenhado numa caça pessoal. Ele procura pelo piloto que destruiu a Estrela da Morte.

Os olhos dos outros voltaram-se para ele e sentiu-os como queimaduras. A secretária, Goren, Leia, o olhar da princesa era particularmente incomodativo. Teria preferido que tivesse feito alguma asneira com os seus preparativos. Já tinha meia resposta pronta para refutar as eventuais acusações de desleixo, embora ele tivesse a certeza de que estava a cumprir os preceitos à risca – tinha Threepio ao seu lado a avisá-lo constantemente do que era mais correto fazer em todas as ocasiões, não deixando escapar nenhum detalhe por mais mínimo que fosse. Para ouvir aquilo, que Vader procurava por ele, estava impreparado e fora apanhado de surpresa. Aliás, tinha sido inesperado para todos, percebeu pela cara contraída do general que se debruçava sobre a mesa como se esta fosse o apoio imprescindível para que se escorasse em algo sólido. Aquela informação devia estar a remoer-lhe o cérebro.

Aclarou a garganta e perguntou, perplexo com tal revelação:

— Procura por mim?...

— Afirmativo, comandante Skywalker – esclareceu Willard. – Vader procura por ti. As nossas fontes não souberam adiantar mais, mas a classificação de “caça pessoal” deixaram-me preocupado. Existe alguma relação anterior ao ataque à Estrela da Morte com Vader que queiras partilhar connosco?

— Não, general. Não conheço Darth Vader… pessoalmente. Vi-o pela primeira vez quando estive na Estrela da Morte durante o resgate da princesa, antes de trazer os planos dessa estação espacial para cá.

— Talvez seja apenas uma questão de vingança…

— Talvez, general. Não consigo perceber o que terei de tão importante… para Darth Vader.

A princesa mirava-o, atarantada.

— Não creio que seja apenas por vingança – disse ela. – Vader não procura apenas o piloto rebelde que destruiu a estação espacial do Império. Procura por alguém que julga conhecer e que quer capturar. Porquê, Luke?

Entreolharam-se. Talvez por causa da Força… Talvez por causa de… Havia tantas razões, lembrou-se de súbito. A sua ligação com Darth Vader era estreita e vinha do passado. Ele estremeceu.

— Não sei… Talvez por causa do… Ben?

— Do general Obi-Wan Kenobi? – corrigiu Leia. Para a princesa o nome do antigo mestre Jedi era aquele, mais solene e apropriado a um velho guardião da República, não aquele nome simplório do eremita de Tatooine de quem as crianças tinham medo. Meneou a cabeça, ainda incrédula, uma ténue irritação a sublinhar-lhe as palavras. – Faria mais sentido que ligasse o general a mim, pois fui eu que o chamei no meu pedido de socorro, quando escondi os planos da estação espacial em Artoo. Kenobi e o meu pai, Bail Organa, eram amigos, combateram juntos durante a Guerra dos Clones.

— Tu eras prisioneira de Vader, Leia – apontou Luke. – Já estiveste nas mãos dele. Ele sabe quem tu és e saberia de certeza que o Ben se ligava a ti, pelas razões que apontaste. No entanto, eu…

— Diz-me, Luke! Porque achas que Darth Vader anda muito interessado em ti?

Luke baixou a cabeça. Uma torrente de pensamentos rápidos e desligados invadiram-no. A noção da Força, como uma capa incorpórea e energética, empurrou-o, deixando-o subitamente gelado.

— Por causa do meu pai, Anakin Skywalker. Vader assassinou-o… Quando estava na trincheira, a voar com o meu X-Wing, em direção à porta de exaustão que era suposto atingir para rebentar com a Estrela da Morte, usei a Força e Vader deve ter-se apercebido de que o estava a fazer. Ele sabe… De certeza que sabe que o Ben Kenobi estava comigo, quando se enfrentaram no duelo de sabres de luz. Sabe também que o Ben deve ter-me ensinado alguma coisa sobre a Força… O Ben foi o mestre do meu pai, foi por breves momentos o meu mestre. Vader deve desconfiar de que sou filho… do meu pai.

O rosto de Leia exprimia um certo horror, o receio de que alguma coisa lhe pudesse acontecer, recordando os métodos cruéis e refinados de persuasão de Darth Vader quando estivera cativa do lorde negro. Mas depois tudo se diluiu em compaixão, no brilho emocionado dos seus olhos castanhos.

— Não sabia que Darth Vader tinha assassinado o teu pai.

Luke acenou afirmativamente. Era-lhe doloroso rever essa verdade, pois ligava-se a tudo o que se dissipara com o desaparecimento de Ben Kenobi. O que mais lhe custava foi ter perdido as possíveis respostas que agora nunca obteria da boca do mestre Jedi. E havia demasiadas perguntas a encherem-lhe a mente com zunidos e impaciências que ele não era capaz de decifrar sem um auxílio mais sábio, que conhecesse não apenas os mistérios da Força mas também os mistérios do seu passado, antes do seu nascimento ou talvez poucos anos depois de ter vindo ao mundo, que interligavam Anakin Skywalker, Obi-Wan Kenobi e Darth Vader.

A mão de Leia pousou no seu ombro.

— Sinto muito.

Ele tentou sorrir.

— Já aconteceu há muito tempo.

E a vida continua, como lhe tinha dito a Lenna Shmura. Um potente adágio.

Houve algum alívio na postura do general Willard que abandonou o apoio da mesa, se endireitou e cruzou os braços. A secretária e o Goren arrastaram subtilmente as botas no chão, constrangidos por terem tomado conhecimento daquela informação.

— Muito bem, julgo que a situação ficou esclarecida, comandante Skywalker.

— Sim, general.

— Ao contrário do que pudesses julgar à partida, parece que Vader tem um motivo válido para te perseguir, para além do motivo óbvio de seres o piloto que ele procura com tanto afinco.

— Parece que sim, general.

— Deverás estar atento a possíveis acontecimentos fora do vulgar. A Aliança cuida dos seus, connosco estarás e ficarás protegido, mas uma parte da segurança pessoal deriva das precauções adotadas por cada um. Tem sempre presente, comandante Skywalker, que és um homem procurado pelo mais fervoroso e implacável agente do Imperador, Darth Vader. Não te deves distrair. Se te vires confrontado com uma situação estranha não hesites em reportá-la para que se tomem medidas adicionais. De momento, não creio que sejam necessárias e o plano de evacuação deverá prosseguir como habitualmente.

— Compreendido, general.

No entanto, e este era um aparte que Luke acrescentava quando agarrava com a mão direita o primeiro degrau metálico das escadas do seu X-Wing, ele era um alvo primordial. Onde ele estivesse, o Império haveria de chegar. Ele constituía-se como um farol a chamar por problemas que viriam de todas as direções, convergindo para a luz que alertava para a sua presença naquele local preciso e inequívoco. Não gostava de saber que era um perigo para os seus camaradas, apesar de ter tido a confirmação de que os rebeldes iriam protegê-lo e não duvidava que o fariam. Sentia-se desconfortável por ser alguém procurado, não desejava prejudicar a Aliança com questões pessoais que não queria que existissem e que de bom grado descartaria. Por que razão Vader insistiria em percorrer a senda daquele passado? Forçou-se a engolir a saliva que tinha na boca.

— Ei…

Voltou-se.

— Ei, Dak.

Luke sorriu para o mais recente piloto da Aliança e todas as outras preocupações se esfumaram no ruidoso hangar. Os caças começavam a elevar-se oscilantes, fazendo troar os seus potentes motores ao acelerarem em direção aos céus.

Ralter tinha-se mostrado uma excelente aquisição rebelde. Fê-lo recordar como ele era no dia em que tinha acabado de chegar à Base Um e lhe apresentaram Wedge Antilles para que lhe desse umas rápidas e curtas lições de voo para prepará-lo para o ataque iminente à Estrela da Morte. As imprudências! Confiar num piloto desconhecido, entregar-lhe um caça e pedir-lhe que fosse atacar a temida estação espacial!

No caso de Ralter, fora ele, Luke, que fizera as vezes de instrutor. Dera-lhe algumas lições sobre pilotagem no dia em que se contabilizaram os caças restantes ao serviço da Aliança ali estacionados e notou-se que havia mais máquinas do que homens. Recomendou-o ao general Willard e a recomendação fora aceite. Os argumentos eram ténues, mas estavam tão necessitados de novos recrutas que não se podiam negar à chegada de pilotos mesmo que inexperientes. Os resultados da avaliação preliminar das lições tinham sido bons. O rapaz gostava de pilotar, aprendia rapidamente, fazia as perguntas certas e aceitava as correções que lhe eram apontadas com humildade. Em poucas horas-padrão tinha conseguido manejar os controlos de um X-Wing com uma perícia acima da média. Naquele dia, era um dos pilotos que fariam a escolta dos transportadores, na Esquadra Vermelha que Luke integrava e que estava a ser liderada por Antilles.

— Muito obrigado pela confiança, Luke.

Não tinha a certeza se Dak sabia da avaliação que lhe fizera, mas não iriam debater os pontos fracos naquele momento em que o tempo se esgotara e que estavam prestes a partir. Haveria tempo depois para melhorar esses aspetos.

— Eh… de nada. Vais sair-te bem.

— Acho que sim.

— Tem cuidado com a turbulência. O vento hoje está mais forte do que o habitual… O teu astromec fará os ajustes necessários para que a saída da atmosfera se processe sem problemas.

Dak piscou-lhe o olho.

— Tive um bom professor. Não o vou desiludir com alguma manobra estúpida aos comandos do meu X-Wing. Iria exigir uma punição severa pelo desleixo!

Luke assentiu.

— Boa sorte, Luke.

— Para ti também. Que a Força esteja contigo.

Subiu finalmente as escadas, encaixou-as no suporte, sentou-se, enfiou o capacete, bateu-lhe no topo como se assim ficasse melhor ajustado à cabeça. A cúpula transparente começou a descer para se fechar. Os apitos de Artoo vieram através dos altifalantes colocados junto ao assento.

Já não pensava em mais nada a não ser ir para o espaço, para o vácuo, livrar-se do peso da gravidade e de outros lastros que lhe ocupavam o cérebro, que lhe oprimiam o corpo. Ajeitou-se melhor no lugar, apertou os cintos, ligou o fato de voo ao painel de instrumentos.

— Estou preparado, Artoo… Sim, sim, estamos um pouco atrasados mas vamos compensar quando chegarmos lá em cima. Põe-me em contacto com a esquadra e com a Falcon!... Não, não me esqueci que teremos de fazer um primeiro varrimento aos vetores disponíveis para detetar possíveis interferências… Trata disso!

Os motores ligaram-se, a fuselagem tremeu. E ele sossegou, esboçando um sorriso que tinha felicidade misturada com confiança e um laivo de nostalgia por estar a voltar costas ao local onde fora a sua primeira casa depois de Tatooine. Mas haveria de voltar, sim, tinha feito essa promessa. Comprovou com um toque rápido de que tinha consigo o seu sabre de luz.

— Não é preciso que te importes com os escudos defletores – respondeu a Artoo que comunicava com ele num tom preocupado. – Eu sei, companheiro, vamos precisar dos escudos em caso de confronto com naves inimigas mas estou confiante de que a nossa evacuação vai acontecer sem problemas. Não, não vamos encontrar ninguém a barrar-nos o caminho… é o que eu acho. Não sejas tão pessimista! – Riu-se. – Pensava que isso era tarefa do Threepio. Não te ofendas, estou a brincar contigo… Claro que não sabes o que é isso, claro, eu sei… Verifica os vetores!

Seguiu na esteira dos outros caças X-Wing. O verde da quarta lua de Yavin era luxuriante e hipnotizante, para ele especialmente que sempre tinha vivido rodeado de areia. Esperava que o próximo quartel-general da Rebelião fosse num lugar igualmente agradável para os sentidos. Fechou os olhos. Reteve nas narinas o odor da floresta.

Recebeu as indicações de Antilles, respondeu como definido no protocolo. Seguia-o com confiança e segurança, sem segundos pensamentos. Tinham-lhe proposto que fosse ele o líder, era lógico devido ao seu atual posto, que prontamente negara apresentando uma alternativa:

— Deverá ser o Antilles, tem mais experiência como piloto e merece liderar-nos.

— Comandante Skywalker, queremos que no futuro lidere uma esquadra da Aliança – devolvera o general Willard contrariado.

— Nesse futuro formarei uma nova esquadra, general. A Esquadra Vermelha de X-Wing pertence ao Wedge.

 Em pouco tempo, todas as naves tinham deixado a lua que lhes servira de base e de abrigo. Todas – transportadores, cargueiros, caças. O vento continuava a soprar forte e violento, mas agora zangava-se com ninguém e com nenhures. A calmaria voltou a envolver o Templo de Massassi que estava agora sereno como um túmulo recheado de segredos e de mistérios silenciosos.


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Notas finais do capítulo

A Aliança abandonou Yavin 4 e os rebeldes devem espalhar-se pela galáxia para escapar do Império.
Luke Skywalker ficou a saber que Darth Vader está empenhado, pessoalmente, em encontrá-lo - mais uma preocupação para o jovem piloto rebelde. Os rebeldes protegem os seus, mas será suficiente?
E já se desenha uma nova esquadra para Luke liderar enquanto comandante - alguém sabe que esquadra será essa?

Próximo capítulo:
Uma nova e inesperada viagem.