Anais de Tëmallön; Os Livros Sagrados escrita por P B Souza


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

O último capítulo da parte 01!
Parte 2 começará em breve, também com 10 capítulos :)
Boa leitura!



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Tudo aconteceu mais rápido que o desejado. Alek mal conseguiu entender no começo.

Primeiro os gritos nas celas escuras, diferente dos outros gritos, estes eram gritos de clamor, um amor profundo pela liberdade. Então, enquanto a explosão silenciava, os escombros começavam seu show. Nos pés de Alek uma rachadura surgiu enquanto o próprio teto soltava farelos. E as luzes se apagaram definitivamente.

Alarmes soaram distantes, e então guardas surgiram. Alek soube que eram guardas, pois vinham em passo conjunto, passaram pelo corredor aonde estavam e tudo que os três prisioneiros viram foram sombras. Os guardas do Pilar avançavam na completa escuridão, seus passos fazendo grande cacofonia junto dos gritos de liberdade vindo do outro lado. E então, sem motivo algum, Orfeu surgiu ao lado de Alek.

— O que...

— Sai do caminho. — Orfeu disse se abaixando e ficando de cócoras frente as barras de metal que os encarceravam. Alek olhou para o chão, segurava-se em uma das barras, como se por medo de cair, caso tudo desmoronasse. Sequer sabia aonde Kaedra estava.

Foi quando as luzes piscaram uma vez. Um flash único, uma cena de terror. Os guardas vestiam grandes armaduras de couro e tecido para amortecer impactos, por fora havia placas de metal fundido afixadas ao couro, capacetes com crinas brancas e pretas em fios trançados, tinham espadas nas mãos, ao menos os que iam na frente. Os de trás estavam devidamente armados. E um deles, o que estava mais atrás, sequer apontava sua arma.

As luzes tornaram a se apagar. Só então Alek lembrou que não olhou para trás, não olhou por Kaedra. Ouviu então o som do combate. Lutavam a todo esforço mais a frente, os guardas e os prisioneiros monstruosos que Alek desentendia o motivo de existirem, lutavam e exterminavam-se em berros e pancadas, e nesse fulgor que Orfeu destrancou a porta da cela aonde estavam os três.

Assim Kaedra surgiu.

— Você vem? — Ela disse ao seu lado, segurava-o pelos ombros.

Alek olhou para as trevas, e naquele instante as luzes piscaram uma vez mais.

— Os guardas não vão aguentar muito tempo. — Orfeu disse escancarando a porta.

Os que estavam de prontidão com os arcabuzes em mãos se viraram contra Orfeu. Alek previu o que aconteceria quando uma dúzia de armas de fogo miraram contra não apenas Orfeu, mas os três.

Fechou as mãos e apontou-as para os guardas. Isso é errado. Foi tudo que pode pensar quando uma explosão surgiu de seus punhos. Ele mesmo sentiu o efeito, todos sentiram.

As paredes tremeram e seus ouvidos ensurdeceram, alguns guardas deixaram suas armas cair, outros recuaram tampando os ouvidos, cambaleando. Orfeu, que estava à frente de Alek, foi tão afetado quanto os guardas, e Kaedra, por estar atrás, nem tanto. Alek, porém, cambaleou e caiu sobre um joelho, expelindo sangue pela boca, vomitou.

Todos estavam zonzos, Orfeu mesmo assim agiu. Foi um combate tolo e cego, pancadas fracas e alvos incertos, os guardas também não fizeram muito. A maioria preferiu tornar a mirar nas trevas do corredor, pois o combate lá acabará, e os guardas não pareciam ter vencido.

— Vem. — Kaedra apoiou Alek em seu ombro, levantando-o. Nas trevas do corredor a marcha dos prisioneiros enlouquecidos se tornava próxima, e seus gritos agora se tornavam cruéis.

Orfeu derrubava um guarda e tomava seu arcabuz quando os outros decidiram que três prisioneiros podiam fugir. Os guardas remanescentes ergueram seus arcabuzes e dispararam em uníssono, ou quase.

Kaedra e Alek iam na frente, Orfeu logo atrás, mirava na escuridão, protegendo a retaguarda.

— Ele tá bem?

— A gente tem que sair daqui.

Então as paredes racharam, uma explosão abaixo deles fez o chão tremer. As luzes se ascenderam uma vez mais, com faíscas agora, fogo surgia na fiação, e as chamas iluminaram não prisioneiros, mas sim criaturas que Alek sequer chamaria de humanas, haviam, sem dúvida, sido homens, mas agora eram monstros. Ao menos dez deles ainda estavam de pé, em um corredor tomado por corpos.

Orfeu parou e ergueu o arcabuz enquanto Kaedra e Alek iam ao elevador.

Ele disparou uma vez, e com a baioneta foi ao combate, pois recarregar requereria tempo e munição, ambas coisas que não tinham. Naquele instante, porém, o teto se rompeu, tal como as paredes haviam se rachado, e blocos maciços de rocha caíram.

— ORFEU! — Kaedra berrou quando perdeu visão do homem, e Alek sentiu seu coração palpitar.

Apertaram o botão do elevador o mais depressa possível, puxaram a alavanca o chamando, mas a demora era inevitável. Então Alek notou, ele não subia, estava descendo.

— É uma boa ideia? O lugar todo está desmoronando.

Kaedra que tinha uma expressão de pânico, pareceu não se importar, tornou a puxar a alavanca e olhar para o corredor coberto por rochas.

— Explode as pedras. — Ela disse então.

— Eu não... não é assim... — Kaedra então avançou contra Alek, encurralando-o na parede enquanto o elevador chegava.

— O que fez antes, mas mais forte. Ele vai morrer!

— Aquilo é som, só som! Não vai quebrar pedras. — Alek garantiu.

Então o elevador surgiu, mas na sua plataforma ainda descendendo, eles viram dezenas de pés. Claro, reforços.

Alek então olhou para os escombros. Mesmo que eu conseguisse, aqueles monstros... Se ele estiver morto, só condenaria nós dois a morte também.

Enquanto olhava os escombros, Kaedra se prostrou de joelhos ao ver a figura no elevador.

— General Aticus, piedade! — Ela disse assim que o elevador parou, as portas ainda sequer haviam sido abertas.

Alek ao ouvir o nome se virou, seu pavor pelos monstros e por ser soterrado foi momentaneamente substituído pelo pavor daquele nome. Se colocou de joelhos também, seria tolice não fazê-lo. Não conhecia o homem em pessoa, mas Aticus era conhecido por todos!

Era um homem, estranhamente, comum. Usava a mesma armadura que todos os outros, exceto pelas suas placas banhadas em ouro e não de metal polido como do resto. Foi o que fez Alek reconhecê-lo. Não era alto demais, ou forte demais, ou seu rosto marcante e único, um homem comum à vista. Mas os olhos enganam. Alek pensou, e talvez este fosse justamente o trunfo e Aticus em todas suas bem-sucedidas empreitadas por toda Tëmallön.

— Leve os dois para o Pilar. O resto, abram caminho como possível. Já! — Sua voz era grossa como a de um juiz, áspera como a de um cantor rouco.

Foram então postos no elevador enquanto as paredes do Pilar rachavam mais e mais. O elevador rangeu e o vapor subiu pelas ranhuras do chão, as cordas de aço e as engrenagens começaram a chiar um choro melancólico enquanto os três, o guarda, Kaedra e Allek, subiam solitários para o topo.

— Isso vai cair. O Pilar vai cair. — Alek vociferou seus medos quando toda a estrutura pareceu pender um pouco para a esquerda.

Ele olhou para as paredes externas, eram de rocha solida, vigas de concreto fortificada, enlaces de colunas metálicas, uma fortificação sem precedentes, quilômetros e quilômetros de armação metálica, rocha, concreto e terra.

— Isso nunca vai acontecer. Uma explosão dessas não consegue nem quebrar duas colunas, quem dirá derrubar o pilar! — Rebateu o guarda. — Cadê o outro? Eram três.

Ninguém respondeu. E àquilo o guarda sorriu, fora resposta o bastante. A risada, porém, despertou fúria em Kaedra, que avançou contra o homem.

Alek avançou então contra ela, mas tarde demais. O guarda desferiu um soco contra a bochecha de Kaedra antes que ela chegasse no homem, ou que Alek chegasse nela.

Kaedra caiu, recuando, o lábio rachado e a bochecha vermelha, o sangue escorrendo no queixo. Alek a segurou então, o guarda ele sequer olhou, se não faria uma besteira, tal como ela, e ambos morreriam ali. Não vale a pena morrer aqui. Pensou quando olhou para Kaedra, e então ela desvirou o olhar para a parede vazada do elevador, eles podiam ver grande parte do lado leste de Tëmallön. A cidade, ali, ia até o mar do outro lado. Mas não era isso que importava.

Pela primeira vez, há tanto tempo que sequer sabia quanto, Alek e Kaedra viam algo descomunalmente belo, simples e perfeito. O sol nascia no horizonte, uma chama iluminando o mundo por tanto mergulhado em trevas, dissipando as nuvens e espalhando o laranja e o vermelho contra o azul escuro da noite, que sumia aos poucos.

Naquele curto momento Alek esteve em paz, mas fora um curto momento e apenas.


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Notas finais do capítulo

Missão cumprida. 10 capítulos entregues, muitas duvidas no ar. E a fic indo com força toda!
Já tenho bastante coisa planejada, vocês nem fazem ideia do que vem por ai! :)
Vejo todos na parte 2!!! :D



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