Anais de Tëmallön; Os Livros Sagrados escrita por P B Souza


Capítulo 11
Parte 02; Novos Horizontes


Notas iniciais do capítulo

Começando aqui uma nova época para a história.
Bastante coisa já aconteceu, mas agora sim é que as coisas vão começar a pegar!
A história vai começar a desenrolar melhor, vai ter mais e mais personagens surgindo, a trama vai ir para outros lugares, e o PLOT REAL começa aqui! Nada de introduções, agora tá na hora da aventura realmente tomar forma! :)
Espero que gostem desse "recomeço" pra fic. E Boa Leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/743130/chapter/11

O ar gelado da madrugada saiu pela sua boca em uma pequenina nuvem de vapor que rapidamente se dissipou enquanto o elevador terminava sua subida. Sentia-se cansado agora, fazia três minutos que estavam subindo e teve tempo para relaxar os músculos, sentir o corpo e ler os sinais que o este mostrava. Meu coração ainda esta acelerado, a corrente sanguínea rápida demais e os músculos estão doloridos por causa da magia. Minha audição ainda está baixa e a cabeça doendo além das dores no corpo; o molar e a sutura. Além disso o stress me atrapalha, o medo, eu preciso me concentrar, focar no que importa. O que Alek queria descobrir era justamente isso; o que importava? Fugir, sobreviver, se render... Não sabia.

— Os dois para frente, mãos para trás. — O guarda que acompanhava os dois disse. Alek olhou para Kaedra, que lambia a ferida no lábio enquanto se virava para frente do elevador, dando as costas para o nascer do sol. Alek fez o mesmo.

Abaixou a visão, olhou seus pés e o calçado que fora colocado neles, o elevador chegava então no topo do Pilar. Alek levantou a cabeça vendo os pés dos guardas que esperavam a chegada daquela caixa de metal ali. Quando o elevador parou, as portas foram abertas e eles estavam sendo recepcionados por mais de vinte guardas.

Dos guardas, a maioria passou por eles e entrou no elevador enquanto eles saiam sendo empurrados pelas costas pelo guarda que os escoltara. Então fora do elevador ficaram quatro guardas e os dois. Ninguém disse nada quando começaram a andar.

E o caminho que fizeram... Alek nunca vira nada igual.

A rua que seguiram era feita em paralelepípedos avermelhados polidos, rejuntados com asfalto no nível dos paralelepípedos (via-se que a rua era antiga, mais antiga que a cidade erguida ali), as construções eram de quatro andares para mais, chegando até doze ali naqueles quarteirões, mas além no que Alek julgava ser a parte da realeza (agora já acreditava que o Pilar era tão dividido quanto o Anel ou qualquer um dos outros reinos, com partes ricas e pobres. A diferença, porém, era que a parte mais pobre do Pilar parecia ser mais rica que a parte mais rica de qualquer reino de Tëmallön), existiam prédios ainda maiores e, claro, o castelo do Rei dos Reis. Ali também deve ser a Arena Flutuante.

As luzes nos postes eram diferentes das do Anel; azuladas e frias, jogando claridade no dobro da distância que lâmpadas comuns e cinco vezes mais que archotes ou postes com óleo de baleia. Alek se pegou olhando aquele poste, um dos tantos. Lá de baixo vemos a luz azul subindo no céu, impossível de alcançar. E aqui... Tão próxima e tão estranha. Sentir aquela luz contra seu rosto, seu corpo, era estranho. A própria luz era estranha, não parecia luz, não parecia surgir dali, não ardia os olhos ou cansava a vista, era claridade, não luz, era como olhar para algo iluminado e não para a fonte da iluminação. É a Chama, vem da chama!

Eles cruzaram esquinas, e os prédios estavam todos com portas fechadas, portas de madeira, de bronze, de vidro... prédios com fachadas brancas ou amarronzadas, com mesas para cafés na frente ou apenas com grandes portões para carga e descarga, haviam também carruagens com motores e veículos para transporte de carga, também movidos a motor. Ali não existiam, ao que parecia, cavalos. As carruagens ainda seguiam boa parte do modelo antigo, madeira reforçada com barras de ferro mantendo a estrutura coesa. Mas os veículos eram em ferro e bronze, trabalhados em formas quadrangulares com enfeites e entalhes, como uma joia enorme, trabalhada por vários artesões para ser incrível. Alek nunca havia visto um veículo daqueles, então apreciava-os torcendo o pescoço para continuar a observar enquanto os guardas os forçavam a andar.

Embora, porém, os vissem ali, parados, não havia nenhum único em movimento pelas ruas, ao menos não ainda, pois era cedo demais.

Chegaram então em uma parte mais interna do Pilar, quatro quarteirões além do elevador. Ali pararam na frente de um prédio com átrio aberto aonde havia um pilar de granito com o símbolo da guarda talhado na rocha. Três homens conversavam debaixo da abobada.

— Chegaram. — O que usava um casaco de veludo roxo disse ao notar a presença dos guardas, de Alek e Kaedra. — Muito bem, capitão, pode ficar com a prisioneira.

Alek olhou para Kaedra, que nada disse sequer lhe retribuiu o olhar, tinha a cabeça baixa e uma expressão vazia. Ela sofre por Orfeu. Alek notou.

— E quanto a Alek; podem leva-lo direto ao Jardim de Efreanon.

— Para onde levará ela? — Alek intrometeu-se quando os guardas começaram a se mover. Então todos pararam e olharam para ele. Todos, exceto Kaedra.

— Perdão? — O homem no casaco roxo com um broxe de caveira, dourado com dois diamantes no lugar dos olhos, lançou um frívolo olhar para Alek. Era como se os diamantes estivessem nos seus próprios olhos.

— O que forem fazer com ela terá que fazer comigo...

— Passou pelas mãos de Alagorv, não? — O homem de roxo perguntou com uma voz sucinta. — Senhor Alek, o que já passou sem saber não desejo a ninguém, nem a ti, nem a ela!

Com isso ele se virou e entrou na construção, deixando os dois ali, junto aos guardas. Alek no mesmo instante se virou para combater um dos guardas, para impedir que aquilo prosseguisse, que a punição tomasse rumo. Queria agir, estava exausto fisicamente, mas mais exausto ainda de constantemente não fazer nada. Sentiu a raiva de sua incapacidade e teria deixado os impulsos tomarem conta novamente, sem considerar que fora exatamente assim que viera parar ali, naquela situação.

— Alek. — Kaedra então disse, esticando a mão, os guardas pegaram nos cabos de suas espadas, outros pegaram os arcabuzes. — Não vale a pena. Vai, e sobrevive!

Ela parecia ter desistido, mas alguma coisa dizia que Kaedra tinha planos, planos melhores que os dele, afinal, Alek sequer planejava, apenas agia e depois via as consequências e se arrependia.

Decidiu daquela vez ouvir Kaedra, sua cabeça o fez lembrar de Orfeu. Eles se conheciam, e Orfeu tinha tudo planejado, ele deve ter tido um plano B, algo que Kaedra deve saber. Tentando, com esse pensamento, acalmar suas ideias de revolta, Alek seguiu um dos guardas, ou foi guiado, já que ia à frente o tempo todo.

O Pilar mesmo não tornou a explodir, ou se o fez não puderam ouvir dali. Dali, o chão não tremia ou rachava, dali de cima sequer dava para imaginar que lá em baixo uma pequena guerra urgia.

O guarda conduziu Alek por mais oito quarteirões que iam se sofisticando até uma avenida aberta com calçadas margeadas em um metal brilhante que Alek duvidava ser ouro de verdade. Não esbanjariam assim, ninguém pode ser tão rico. Tinham visão para um jardim em declive até a borda do pilar, haviam caminhado rumo ao Sul, e uma gama bem menos variada de habitantes surgia, poucos e sempre separados, uns lendo periódicos do dia, outros apenas andando com suas pastas e bengalas, iam de lá para cá sem sequer importar-se com Alek sendo escoltado ao jardim, que parecia ser aberto ao público, mas ainda se encontrava fechado pelo horário. O caminho se tornou arborizado assim que, mesmo o Jardim estando fechado, eles entraram pelo acesso principal tendo a licença de um dos guardas de pernoite (estes não se pareciam mais com os mesmos guardas que lutavam pelo Pilar). Era um arco de granito e prata talhado no formato de cipós prateados entrelaçados em um tronco branco, guarnecido por guardas com capas verdes e coletes prateados com uma aranha desenhada em alto relevo no peitoral, a cada cinco metros em todo seu perímetro, que também era cercado com grades de barras de ferro ou muito provavelmente bronze dado a coloração, e no topo de cada barra havia uma lança arredondada enfeitada com arabescos na base.

— Pode ficar a vontade. Mestre Gÿrvanza logo virá.

— Quem?

— O homem de roxo...

— E a mulher que estava comigo, Kaedra...

Mas não adiantou de nada perguntar. O guarda que lhe escoltara até ali lhe deu as costas e se retirou, os outros guardas sequer olharam para trás, como um sinal; não adiantaria nada questioná-los, até porque o que estes saberiam? Apenas estavam de guarda.

O que mais importunava Alek naquele instante era o nome Gÿrvanza. O homem em roxo.

Incapaz de sair dali, e preferindo crer que Alagorv havia sido pior para ele que o destino seria para Kaedra, tentou se acalmar. Caminhou pelo Jardim cheio de piscinas artificiais até a borda do Pilar, e ali era uma verdadeira borda, como um mirante à beira do abismo, ele podia ver na sua frente o Sul, o canal de Moogul e os navios chegando ao porto coberto que estava abaixo deles, abaixo do Pilar no nível do mar. Podia ver a cidade se esticando dali até perder de vista pelo canal que seguia de onde estava até mais de duzentos quilômetros até chegar no próprio Mar Prata. Dali de cima, observando no Pilar, a esquerda Alek via casas e quarteirões, pelos quais viera até ali. Olhando para a direita via as torres, a construção principal, via a beleza indizível de um reino do qual fazia parte, mas nunca imaginara ser assim. É lindo!

As torres do palácio se erguiam assimétricas, seu centro com uma cúpula inteira feita em vidro, como uma grande estufa, paredes altas e lisas, com portas de bronze, não se via encanamento ou fiação, apenas os bocais com os vidros de grau aonde a luz azulada surgia. A luz da Chama. Alek pensava com um sorriso no rosto. Tudo aquilo que o homem erguera fazia a magia parecer pequena.

Estava tão próximo do palácio que por um segundo reviveu seus sonhos e expectativas. Vou falar com o Rei dos Reis.

Enquanto aguardava começou a perceber algo, porém. Dali de cima enquanto olhava o Anel e todos os outros reinos subjugados e espremidos em cidades-estados superlotadas, abarrotadas de fábricas produzindo em larga escala, consumindo recursos que se esgotavam a cada dia, consumindo vidas todos os dias, Alek conseguia começar a entender.

Dali de cima, olhando para baixo só era possível ver a beleza rústica de uma cidade em transformação. Dali não se ouvia os gritos dos famintos e doentes, o clamor dos injustiçados e dos descontentes nem o louvor e agradecimento daqueles que estão (provavelmente por engano) contentes. Dali de cima Alek conseguia entender porque o Rei dos Reis nada fazia. Daqui Tëmallön parece um bom lugar, daqui parece lindo. Suspirando ao enxergar a cidade no amanhecer, Alek após absorver aquela energia tão boa que sentia ali, por mais de vinte minutos em sua espera, recuou indo até um banco de praça. Sentado seus olhos começaram a fechar de cansaço enquanto o sol começava a esquentar a terra, pombas voaram aos seus pés atrás de grãos, e então, quando menos esperou, adormeceu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Anais de Tëmallön; Os Livros Sagrados" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.