Para se ter ódio de alguém, é necessário conhece-lo. Quando se quer vingar de alguém, é preciso saber cada pequeno feito, seus temores e o que lhe faz feliz. Claire sempre foi vingativa, e fez o possível e o impossível para realizar cada desejo seu, que quase sempre consistia no mal para cada um de seus inimigos, ou seja, para a maior parte de seus conhecidos. Quando soube que teria que ir para Hogwarts, e deixar sua vida de lado, gastou cada segundo de sua viagem revirando os feitos de seu irmão e prometendo vingança para o menino que sobreviveu, que mais uma vez conseguiu estragar a sua vida.

Por isso o sobrenome de Cassiane soou incrivelmente familiar. Ela se lembrou de quando estava no trem conversando com um garotinho irritante que aparentemente era muito fã de seu irmão, e ele mencionou Tom Riddle, ninguém menos que o Lord das Trevas.

— Posso deduzir a sua paternidade. — disse Claire, olhando nos olhos verdes de Cassiane, um pouco mais claro que o seu próprio — Mas a questão é porque você me diria esse fato tão importante, dado quem eu sou.

— É por quem você é que eu lhe falei isso. — Cassiane disse, brincando com a colher, então olhou para Claire — Você passou a viagem do trem com um caderno na mão. E se minhas fontes estão corretas, tentando descobrir tudo o que é possível sobre o seu irmão. Ou é porque você queria muito conhecer ele, ou você queria vingança, e acho que é a última opção.  Então, você que quer se vingar de Harry Potter obviamente não iria querer ficar do lado da luz, que te deixou de lado, te mandou para um orfanato, e que se não fosse pelos seus pais adotivos, você taria até hoje naquele lugar.

— Como você sabe de tudo isso? — Claire perguntou, arqueando uma sobrancelha. A essa altura uma professora de rosa estava dando um discurso, mas a conversa entre as duas garotas estava tão boa, que não queriam parar. — Ah, é. Você é a Lady das Trevas. Obviamente tem informantes capacitados. Mas o que lhe faz pensar que eu me aliaria ao seu lado? Se não fosse pelo seu pai para inicio de conversa, nada disso teria acontecido.

— Meus informantes capacitados, como você mesma falou, pesquisaram muito sobre você. Eu sei que você ama atenção, e em Beauxbatons era a aluna mais popular só por ser irmã do menino que sobreviveu. Mas você sabe que graças a Dumbledore que te trouxe até aqui, você só será conhecida como a irmã do menino desacreditado pelo Profeta e pelo Ministério. Você ama atenção, ama poder, e posso te garantir que do meu lado, você vai ter. Só precisa se unir a mim. Quando meu pai assumir o Mundo da Magia, posso lhe garantir fama. Não por ser irmã do Harry Potter, mas por ser a Claire Potter. Não é isso que você quer?

Claire olhou para Cassiane. Ficar ao lado dessa menina? Claire teve vontade de rir, mas segurou. Nunca. Ela nasceu para ser única, para liderar. Nem que para isso tenha que tirar Cassiane e até mesmo Voldemort do caminho. Claire queria atenção exclusiva. E aproveitaria dos seus poderes de manipulação para isso. Ela sempre soube o que fazer e como agir, e essa era uma oportunidade que não poderia perder. Poderia se vingar de Dumbledore e de Harry e ao mesmo tempo conseguir realizar todos os seus desejos mais ambiciosos. Não tinha mais nada a perder, e mesmo se tivesse, não iria. Claire Potter nunca perdia. Sempre ganha manipulando cada pessoa que aparecesse.

— Obviamente você é uma garota inteligente, né Cassiane? — Claire perguntou, analisando a menina — Conseguiu observar tudo direito. Ou alguém fez isso por você?

— Você vai aceitar, Claire? — perguntou a outra, sentindo seu rosto corar.

— Sabe, pessoas fortes sabem tirar suas próprias conclusões sem precisar de ninguém para fazer isso por elas. Vou aceitar sim ser sua amiga próxima. Mas tenho a leve impressão que eu vou te ajudar mais do que você pode me ajudar. — Claire completou, sorrindo, então se surpreendeu quando a comida apareceu na mesa. — A Rosinha já terminou o discurso?

— Que observadora você. — Murmurou Cassiane.

Algum tempo depois, no dormitório da Sonserina...

Se tinha uma coisa que a irritava profundamente era admitir que estava sentindo falta de algo. Sua arrogância nunca permitiu tal ato, e por isso se sentiu vazia, com raiva, vontade de chorar para se libertar desse ódio que sentia. Talvez fosse exagero, talvez não. Claire conhecia muito bem o sentimento libertador de chorar de raiva, e só não o repetia para não dar o gostinho a ninguém de ter uma preciosa lágrima sua derramada. Mas toda vez que olhava para o lugar onde estava, só conseguia pensar na sua vingança. Para alguém que já viveu em um orfanato, Claire não deveria reclamar de está dividindo um quarto com outras seis meninas. Mas para alguém que já viveu por quatro anos em Beauxbatons, em um quarto com cristais de gelo, dividindo apenas com duas meninas, ela poderia muito bem reclamar de onde estava. Mas não era apenas o lugar, era toda a situação que a deixava a flor da pele. Ter que se adaptar a uma nova situação quando os outros colegas da sua idade já estavam muito bem adaptados. Só de lembrar-se de como ficou surpresa com a forma que apareceu o jantar, já dava vontade de gritar, e o pior era que ela sempre se esquecia de usar um feitiço silenciador quando tinha essas loucuras, e não podia passar uma primeira impressão errada para seus colegas. Tinha que ser forte e saber jogar, pois situação era um jogo, e ela tinha que saber exatamente o que fazer, e quando. Era preciso de uma boa estratégia e paciência. E de preferência não ser afetada por nada. Claire estava tentando, e esperava conseguir.