Hopeless escrita por vivian darkbloom


Capítulo 9
Capítulo VIII - Gostosuras ou Travessuras.


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, obrigada por todos os comentários! A vida está corrida e é complicado responder a todos, me desculpem.
Esse, até agora, é meu capítulo favorito, espero que gostem dele tanto quanto eu. Se puder dar uma dica, seria para lê-lo ouvindo a banda The Pretty Reckless, combina com o momento kk.

Boa leitura!



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31 de Outubro.

Halloween.

Naomi L. Acker.

A escola estava extremamente enfeitada naquela noite, porém não como nos anos anteriores. Dessa vez, tudo havia sido planejado e executado durante duas semanas, através do imprescritível trabalho dos monitores, que corriam de lado-a-lado do castelo buscando deixar tudo perfeito para a noite. Durante aquele tempo, todas as rivalidades entre casas foram esquecidas com um único propósito: tornar aquele evento perfeito.

Naomi não era monitora, felizmente, mas sabia o tanto de deveres a mais que Rony e Hermione haviam tido nos últimos tempos, quase deixando o Weasley doido. Em uma noite, no salão comunal, ambos chegaram reclamando seriamente sobre como pareciam discordar de tudo dos monitores da Sonserina, principalmente os do 5º ano – os gêmeos Malfoy.

— Eu vou socar a cara do Draco se ele continuar de palhaçada — o ruivo reclamou, agarrando uma pequena tortinha que Harry havia guardado para ele e comendo rapidamente. — O imbecil acha que pode fazer o que quiser e está quase matando de susto o pessoal do primeiro ano.

— Bem, acho que essa é a intenção... — Natalie murmurou baixinho, jogada no sofá, ao lado de Naomi.

— Além disso, Áquila parece pensar que Dumbledore é como o pai dela e vai disponibilizar todo o ouro que quiser para a gente pagar a festa — suspirou a Granger, jogando-se em uma poltrona, os olhos fervendo de raiva —, acredita que ela encomendou uma decoração absurdamente cara para o Salão Principal? Tudo porque estava enjoada da antiga, era muito “ultrapassada e antiquada” e a agora a gente tem morcegos voando de um lado para o outro!

Naomi não segurou um sorriso, ao imaginar a cena das duas brigando fervorosamente, pois segundo Ron (que levou um tapa após proferir essas palavras) ambas estavam quase duelando para ver quem mandava mais durante os preparativos.

Porém, mesmo entre brigas (e quase maldições), todos na escola deveriam assumir que os corredores estavam lindos, com pequenas abóboras que pareciam pegar fogo por dentro, quadros fantasiados e pequenos esqueletos que se moviam e corriam atrás dos mais novos. E foi uma surpresa para todo mundo quando chegaram ao Salão Principal.

Naomi foi uma das primeiras a entrar, acompanhando as Granger, Ron e Harry. Lyanna deveria ter ido com eles, mas preferiu ir antes, para encontrar com alguns amigos e o irmão, todos da Sonserina. Ela estava particularmente animada pois, além de tudo, aquele era o dia de seu aniversário e, apesar de não uma de suas datas favoritas, estava amando os presentes que estava ganhando.

Assim que pisou no local, ficou de boca aberta. O teto havia sido escurecido, para imitar uma noite de tempestade e pequenos raios transpassavam ele, a sensação de estar ao ar livre era ainda mais real pela pequena brisa que ambientava o local, fazendo-a sentir um pouco de frio. Uma fumaça branca vinha das paredes, se dissolvendo antes de chegar as mesas.

Além disso, cada casa parecia ter um tema. A parte da Corvinal tinha pequenos dementadores voando perto de sua mesa, que se dissolviam em uma fumaça roxa quando algum aluno os tocava. Na Lufa-Lufa, imitações de plantas perigosas fingiam atacar os alunos, mas na verdade pareciam ter sido feitas de goma de mascar (e, provavelmente, eram deliciosas). A mesa da Grifinória tinha miniaturas de guerreiros, que saiam duelando ao redor de seus estudantes e se atacavam, morrendo tragicamente (para depois de alguns segundos reviverem e voltarem a brigar). Porém, nenhuma era mais aterrorizante que a da Sonserina, com falsos túmulos espalhados perto das paredes e correntes pendendo dos assentos, eles pareciam ter se inspirado em algum assassino, já que manchas de sangue estavam espalhadas ao redor e partes de corpo (não muito reais e feitas de doces) enfeitavam a mesa.

Como Hermione havia dito, morcegos voavam pelo salão, mas não mexiam com os alunos (Naomi notou que eles provavelmente nem eram de verdade, apenas uma ótima imitação) e chegavam a ser fofos.

— Admita, eu fiz um ótimo trabalho. — Áquila Malfoy disse, junto com seu pequeno grupo e chegando perto de Hermione. As duas se encararam, claramente a Granger mantinha-se irritada.

Os alunos que a acompanhavam pareciam ter se esquecido do uniforme, pois usavam todos (com exceção de Lyanna que se destacava, ao lado de Jason, e Selina, ainda admirando tudo ao redor) vestes pretas e as meninas, maquiagens carregadas. A loira carregava uma pequena gata, que parecia bastante entretida em observar os morcegos voando e um pingente de prata em forma de pentagrama, cujo qual Naomi sempre via ao redor de seu pescoço, se destacava.

— Você não fez tudo sozinha, Malfoy. — Rebateu, erguendo uma sobrancelha. — E quanto custou isso?

— Nada que você precise se preocupar. — Draco respondeu, pela irmã. — Meu pai financiou, como uma generosa doação pela melhoria dos serviços da escola, desde que a Profª Umbridge entrou como Alta Inquisidora.

— Claro, dá para entender porque eles se dão tão bem.... — Natalie disse, ironicamente. — É a mesma necessidade de atormentar a vida alheia, certo?

Naomi riu, diante da cara de irritação dos sonserinos.

— Olha aqui... — Antes que Áquila pudesse continuar a frase, Lyanna entrou na frente.

— Pode parar vocês duas, é Halloween, pelo amor de Merlin! Ninguém merece ficar aguentando briga desnecessária. — Disse, encarando ambas de maneira tão séria, que nenhuma das duas se atreveu a discordar.

— Lya tem razão, além disso, eu quero entender como essa fumaça funciona... — Selina comentou, encarando curiosa a parede, ajudando a morena e puxando Áquila pelo braço para longe dali.

— Aliás, parabéns Naomi! — A Black a parabenizou, com um sorriso sincero. — Você merece muitas coisas boas, de verdade.

— Obrigada. — Agradeceu, um pouco corada. Havia passado a tarde abrindo os diversos presentes que Hagrid e até mesmo Dumbledore haviam lhe enviado, além dos que os amigos entregaram. Antes de saírem ela se enrolou em um cachecol que o pai lhe deu e estava se sentindo imensamente grata pelo mesmo, que a mantinha aquecida. O sentimento de estar sendo amada e acolhida conseguia suplantar todo seu desgosto por aquele dia.

A morena piscou para ela, antes de se virar e acompanhar o resto dos amigos. Sua presença na mesa da Sonserina era tão comum a eles, que às vezes Naomi se perguntava se ela não tinha mais de sua família paterna, do que imaginava.

— Bem, eu acho melhor a gente ir sentar, eu realmente quero experimentar aqueles salgados ali. — Natalie disse, apontando para uma pequena torta de frango que parecia ter sangue escorrendo de suas beiradas.

— Você tem razão. — Naomi concordou, a seguindo animada. O grupo sentou-se na ponta da mesa, mais próximos a saída. A animação no ambiente era geral, todos realmente estavam se divertindo, até mesmo os professores pareciam mais contentes, olhando admirados ao redor e servindo-se dos inúmeros pratos feitos especialmente para a data.

— Isso está incrível! — Exclamou Ron, com a boca cheia de carne e empanados, fazendo Hermione torcer o rosto de desgosto em sua direção. — O que foi?

— Nada. — Respondeu, revirando os olhos.

— Nom, você teve notícias de Hagrid? — Harry perguntou, virando as costas para o amigo e a encarando, um tanto pensativo.

— Não... — Ela tentou não parecer triste, enquanto olhava para o lugar dele na mesa dos professores, agora ocupado por Grubbly-Plank. — Ele só disse que ainda vai ficar fora um tempo e que era para nós nos cuidarmos aqui, enquanto isso.

O Potter assentiu com a cabeça, desanimado. Ela sabia que o menino era extremamente próximo de seu pai e, por consequência dos anos, acabou se tornando um grande amigo seu também.

Contudo, Naomi sabia que era mais do que a falta de Hagrid que o deixava mal daquela forma. Além de seu aniversário, 31 de outubro era também uma data muito triste para ele.

— Você sente falta deles, não é? — Perguntou, ao vê-lo meio cabisbaixo. — Dos seus pais.

— Todos os dias. — Harry respondeu.

Há exatos 14 anos atrás, Lord Voldemort havia entrado na casa de James e Lilian Potter e os assassinados, fazendo com que o jovem filho do casal escapasse por pouco do mesmo trágico fim. Naomi havia crescido ouvindo sobre a história de coragem e bravura de ambos, mas foi somente quando conheceu o garoto que foi entender aquilo sobre qual ninguém falava: eles haviam deixado uma criança para trás, que jamais poderia conhece-los ou sequer ter uma lembrança deles, se agarrando somente ao orgulho de ter dois heróis como pais.

— Eu sinto muito por eles, de verdade — Disse, segurando sua mão. Ele lhe sorriu fracamente, fingindo prestar atenção na comida.

— Tudo bem, eu sei que essa não é uma data boa para você também. — Naomi concordou com um aceno de cabeça.

— Na verdade, é mais confuso que ruim — explicou —, eu comemoro meu nascimento, mas... é como festejar algo que você desconhece. Não sei quem são meus pais, se me abandonaram ou foram forçados a se separarem de mim, e talvez eu nunca saiba a verdade, é meio vazio.

— Bem, tente ver essa data como a que você foi resgatada, não a que foi deixada. — Harry tentou lhe confortar, ao ver o lado bom da situação.

Ela se manteve calada, um tanto pensativa. Realmente não havia motivos para reclamar de sua vida e todos os dias Hagrid havia buscado preencher esse vazio da melhor forma que podia, mesmo que descuidado às vezes. Ela era, acima de tudo, grata.

— É, acho que você tem razão.

— Às vezes eu tenho. — Deu de ombros, fazendo-a rir.

— Bem, eu vou entregar o presente do Aron, é aniversário dele também. — Ela explicou, pegando um pequeno embrulho que havia levado para o Salão consigo e levantando-se.

Eles não eram próximos, na verdade trocavam algumas palavras quando tinham aulas juntos. Porém, ele sempre foi bom para Naomi, gentil e educado, ela não via porque não retribuir de uma maneira pequena.

O garoto estava sentado com Sophie, na mesa da Corvinal, conversando e rindo com a mesma. Ela notou que Rionach, que na verdade era de sua casa, estava ali na companhia de ambos. Não era muito comum, mas às vezes alguns alunos (principalmente Nach e Lyanna) faziam amizades com outros de casas diferentes e costumavam frequentar a mesa uns dos outros durante os banquetes e jantares.

— Aron, tudo bem? — Cumprimentou, quando chegou perto o suficiente.

— Naomi? Ei, tudo bem sim e com você? — Ele pareceu surpreso, mas feliz de vê-la ali, abrindo espaço para que sentasse perto de Rionach.

— Tudo bem... Eu só queria te entregar esse presente — estendeu a caixinha para ele, que aceitou um tanto espantado —, sei que não somos exatamente amigos, mas me falaram que ontem foi seu aniversário e eu fiz algo.

— Obrigada! — Agradeceu, sorrindo. Quando abriu a caixa, viu que dentro estava entalhado um pequeno pingente de madeira, em formato de uma pequena varinha.

— É de figueira, acho que é uma árvore nativa do país da sua família — explicou, lembrando-se que os Zhyra eram muito conhecidos em Brunei, um pequeno país comentado em uma das aulas de História da Magia — e você me falou um dia que gostava de duelos, por isso a varinha.

— Naomi, isso é lindo! — Elogiou, emocionado. — Obrigada, de verdade, eu amei. Fico até envergonhado de não ter feito ou comprado nada para você.

— Não precisa — ela sorriu, tranquilizando-o — me ajuda na próxima aula de feitiços, que estamos quites.

— Com certeza, o que você precisar! — Ela riu de sua empolgação, antes de se levantar novamente.

— Eu vou voltar para minha mesa, fico feliz que tenha gostado. — Disse, acenando para ele e as meninas, antes de se afastar.

Naomi sempre sentia-se melhor e mais calma, depois de fazer alguém feliz. Era algo nato de sua personalidade, a necessidade de ver as pessoas ao redor bem. Entretanto, sua leveza logo foi ofuscada por um garoto, que parou sua frente, quando ela passava próxima a mesa da Sonserina.

— Gostou? — Jason Black perguntou, sorrindo irônico para ela e apontando para os túmulos perto das paredes. Desde que ele havia terminado com Sophie, lhe atormentava para sair, mas ela suspeitava que fosse somente para alguma brincadeira, visto que não tinha certeza se possuía o sangue-puro que o grupo dele tanto presava.

— É, é legal. — Respondeu seca, olhando para as lápides, com os nomes “Crystal e Zachary” entalhados. — Parentes seus?

Ele riu, se aproximando ainda mais dela, fazendo alguns olhares pelo salão se viraram na direção de ambos, a deixando um pouco envergonhada.

— Não, quem dera fossem. — Brincou, embora ela tivesse dúvida se não havia um pouco de seriedade em sua voz. — Nunca ouviu falar sobre eles?

Naomi negou com a cabeça, sentindo-se levemente interessada e com a impressão de que já havia visto esses nomes em algum lugar antes.

— Bem, Crystal e Zachary eram comensais da morte, irmãos, na época da Primeira Guerra Bruxa – ele começou a explicar, o sorriso irônico nunca deixando seus lábios. — foram responsáveis por terríveis massacres, tanto de trouxas como de outros bruxos. Dizem, além disso, que mantinham um caso secreto, mas ninguém nunca provou nada. Bem, de qualquer forma, eles continuaram com o banho de sangue, só parando quando foram capturados e levados para Azkaban.

Ela sentiu um arrepio horrível passar pelo seu corpo, enquanto encarava os olhos escuros de Jason, que parecia se divertir com as reações dela.

— Há rumores de que ambos tiveram uma filha — o garoto chegou mais perto ainda, abaixando o tom de voz para deixa-la ainda mais assustada — engraçado que eles foram presos pouco depois do seu nascimento...

— O que você quer dizer com isso? — Ela imediatamente questionou, sentindo suas bochechas corarem.

— Bem, você sabe...

— Jason! — Lyanna o chamou, fazendo Naomi se sobressaltar quando ela se colocou entre ambos. Às vezes, eram tão distintos, como luz e trevas, que ela esquecia-se que eram irmãos. — O que você está fazendo?

— Contando história de terror para minha amiga, algum problema irmãzinha? — Perguntou, irônico.

— Não acho que ela queira ouvir nada. — Respondeu, encarando-o ferozmente. Tinha muita noção de que ele costumava ser insuportável quando queria. — Deixa a menina em paz.

Jason levantou os braços, em sinal de rendição, porém com o sorriso irônico ainda no rosto, fazendo Lyanna se irritar profundamente. Ela odiava a postura arrogante dele.

— Vem, Nom, vamos para a nossa mesa. — A garota entrelaçou o braço em uma Naomi ainda estática, se por assombro do conto ou pela insinuação do Black, nem a mesma saberia dizer. Porém, voltando para os amigos em silêncio absoluto, ela pegou-se espiando por cima do ombro em direção aos túmulos novamente.

“Crystal e Zachary”.

Definitivamente, ela já havia visto aqueles nomes em algum lugar antes, apenas não conseguia se lembrar onde.... no fundo, ela não tinha certeza se queria saber.

June Black.

A noite se arrastava, além do jantar para a sobremesa e o ânimo de todos os alunos parecia apenas aumentar e melhorar, conforme os minutos passavam. Os professores ainda coordenavam tudo, porém também se perdiam em um gole ou outro de vinho e conversas paralelas.

A mesa da Lufa-Lufa era uma das mais animadas do local, com todos interagindo entre si, brincando e rindo. Muitas vezes os estudantes dessa casa eram tidos como os mais calmos de toda a escola, mas o que poucos sabiam sobre os lufanos era que eles adoravam uma boa comemoração.

E June Black estava entre seus colegas, que riam abertamente de uma piada contada por um dos amigos de Rigel. Ela possuía o sangue maroto de seu pai e jamais se negava a interagir nesses momentos, onde tudo parecia leve, fácil e eles quase se esqueciam de toda tragédia que os cercavam. Era uma noite de alegria, somente.

— Então, você vai embora para casa no Natal? — Phillipa perguntou, quando recuperou o fôlego de tanta risada. Era uma das mais agitadas da noite e June tinha certeza que a mesma se daria muito bem com Sirius, se o conhecesse.

— Uhun, na verdade minha mãe quer viajar para a casa dos pais dela — explicou, servindo-se de mais suco. — então eu vou ficar... Em Londres. Com alguns parentes, os Weasley, eu acho.

June quase deu um tapa em sua própria boca solta. Por pouco não falou que ficaria com o pai, o que geraria uma situação extremamente confusa, visto que o mesmo ainda era conhecido como um assassino procurado pelo Ministério e ela raramente falava que era sua filha.

Não que tivesse vergonha ou algo do tipo. Na verdade, se orgulhava muito de ser uma Black. Mas as crianças da escola eram maldosas e, quando ele escapou de Azkaban há alguns anos, alguns que sabiam de seu parentesco haviam realmente lhe atormentado. Com o passar do tempo, ela procurou evitar saindo dizendo por aí quem era seu pai.

— Entendi, espero que seja divertido. — Pippa disse, sorrindo, sem desconfiar da quase gafe da amiga. Sem que ela percebesse, June respirou aliviada.

— É, eu também. — Concordou, já sonhando com as pequenas férias que viriam.

Faziam meses que ela e Sirius não se viam, comunicando-se às vezes por cartas e tomando o cuidado de ninguém intercepta-las. Na verdade, durante toda sua vida teve pouquíssimo tempo ao lado dele e, embora evitasse assumir, isso lhe machucava. Era como se uma parte de si sempre estivesse faltando. Ela esperava poder diminuir essa sensação um pouco, no natal.

Estava concentrada em devorar um pedaço de torta de tripas (que na verdade, era geleia de morango) e totalmente perdida em seus pensamentos, quando um aceno de Dumbledore fez todos os alunos pararem com as conversas e brincadeiras e prestassem atenção no diretor.

Ela prendeu a respiração, animada e ansiosa pelo que viria a seguir. Tinha sido um verdadeiro sacrifico esconder de seus amigos o que estavam planejando tanto para a noite, mas finalmente o momento havia chegado.

— Boa noite a todos — começou, seus olhos azuis brilhando por trás de seus óculos. — Vejo que todos aprovaram essa bela decoração que nossos monitores prepararam, devo dizer que até nós, professores, estamos bastante orgulhosos.

Ele fez um gesto abrangente com a mão, indicando os responsáveis de cada casa, que foram sonoramente aplaudidos por todos os alunos, fazendo June sorrir orgulhosa consigo mesma.

— A noite está sendo espetacular, porém não devemos acaba-la ainda. Alguns dos monitores do quinto ano preparam uma formidável surpresa, muito mais divertida que qualquer coisa que eu possa dizer. — ele brincou, fazendo os alunos rirem. — Então peço, por favor, que se adiantem e repassem aos seus colegas essa adorável ideia.

Em pares, os monitores de cada casa foram se levantando. Na Grifinória, Hermione e Ron; na Corvinal, Aron e Tessa; na Sonserina, Áquila e Draco; por fim, na Lufa-Lufa a própria June foi acompanhada por Zacharias Smith, a quem ela deveria assumir não gostar muito.

Os oito pararam à frente da mesa dos professores, tendo Hermione tomado a frente, quando notou que estavam todos nervosos demais para começar a falar.

— Boa noite, como disse o professor, nós preparamos uma pequena surpresa para o dia de hoje. — Ela começou, com um sorriso tímido. — É, na verdade, uma brincadeira, chamada de “Gostosuras ou Travessuras”.

Algumas piadas idiotas vieram da plateia, mas foram rapidamente silenciadas por um olhar severo de McGonagall, próxima a eles.

— Será uma brincadeira de caça ao tesouro. — Tessa retomou a explicação, procurando ajudar Hermione. — Que se passará em uma área da Floresta Proibida, já protegida por feitiços dos professores e que será patrulhada pelos mesmos.

Ela fez sinal para outra pessoa tomar a palavra e June se adiantou, parando ao lado dela.

— Diversas triquetras* foram espalhadas pelos Monitores-Chefes, que não irão participar da brincadeira. — Ela ergueu um pequeno objeto de metal, formado por linhas entrelaçadas, muito conhecido por quem estudava runas antigas. — Elas estão escondidas em árvores, buracos, entre as folhas e até mesmo pelo chão. É claro que também foram colocadas pegadinhas e outros empecilhos pela área.

— Vocês vão se separar em grupos e o objetivo é encontrar o maior número de triquetras possíveis. — Áquila explicou, parando ao lado dela. — No lugar de usar a varinha para iluminar o caminho, vocês podem pegar velas encantadas que são distribuídas na orla da floresta. No final, vamos juntar todos e a casa que tiver achado mais, ganha um prêmio.

Ela fez um gesto abrangente para a mesa dos professores, que tinha uma abóbora enorme, transbordando de doces e pequenos artefatos mágicos. Vários ergueram-se animados.

— Além do direito de poder continuar comemorando até mais tarde, sem a interferência de nenhum professor. — A Malfoy concluiu, com um sorriso, ao ver a agitação que se passou pelo Salão.

— O que estão esperando? Podem ir! — Aron disse, com um sorriso. — Os monitores–chefes já estão esperando vocês na Floresta.

A agitação foi tamanha que muitos largaram pratos pela metade, procurando juntar-se em grupos rápidos e partirem para fora. June foi em direção a sua mesa, sorrindo.

— Isso foi uma ótima ideia! — Pippa elogiou, quando ela chegou perto.

— Obrigada, foi bem legal de planejar também. — Ela agradeceu, acompanhando-os para fora.

— Você pode participar? — Jorge Weasley questionou, surgindo ao seu lado, no meio do mar de alunos que tentava passar pelas portas.

— Não que sejamos contra trapaça. — Fred completou, a sua direita, fazendo June rir.

— Eu posso, quem escondeu foram os Monitores-Chefes, eu não tenho a menor ideia de onde está qualquer coisa. — Ela respondeu, descendo os degraus de entrada e indo com eles para os jardins.

— Incrível! — Os dois disseram, juntos.

June sorriu, os acompanhando para a orla da floresta, onde os Monitores-Chefes lhes entregaram velas encantadas para iluminar o caminho.

— Assustada? — Fred perguntou, acompanhando-a para dentro da floresta, que parecia mais escura que o usual, enquanto Jorge, Rigel e Pippa ficavam um pouco mais para trás, conversando animadamente.

— Nenhum um pouco. — Ela suspirou, o puxando para longe de um fantasma que surgiu ao lado deles. — Na verdade, estou até animada.

— Eu também. — O garoto piscou para ela, com um sorriso brincalhão em seus lábios. — Aliás, acabei ouvindo que você ia passar o Natal com a minha família...

— Com meu pai, na verdade. — Ela interrompeu, a voz em um sussurro. — Ele me convidou para ficar na casa dele.

— Ah... — Fred pareceu um tanto incomodado, erguendo a mão e coçando a cabeça de leve, com uma risada nervosa. — Legal, é, legal mesmo.

— Por quê? Algum problema? — June questionou, desconfiada. Ultimamente tinha a sensação que as pessoas andavam lhe escondendo diversas coisas e era algo horrível, porque ela raramente mentia para algum de seus amigos.

— Não, nenhum. — Fred tentou desconversar, olhando ansioso ao redor.

— Weasley, o que você...

— Ei, por que não nos separamos? — Jorge perguntou, se aproximando deles. — Acho que temos mais chances de reunir mais daqueles negócios estranhos.

— Triquetras — A Black corrigiu.

— Isso mesmo. — Ele apontou o dedo para ela, em concordância. — Então? O que acham?

— Acho uma ótima ideia. — Pippa concordou, animada, sendo seguida por Rigel.

— Incrível, então, eu vou com vocês e Fred com June, para garantir que ela não vai roubar. — Jorge brincou, embora já estivesse saindo com os outros dois.

— Eu não tenho como roubar! — Ela reclamou, olhando feio para ele.

— Comigo do seu lado, não tem mesmo. — Fred rebateu, a cutucando de leve e fazendo-a rir.

— Pois saiba que se eu quisesse, você nem desconfiaria. — A jovem começou a andar, sendo seguida por ele, ambos olhando atentos para o redor da floresta. Estavam tendo uma péssima sorte, pois poucas triquetras apareciam e alguns alunos que passaram por eles pareciam ter muito mais.

June começou a ficar ansiosa. Sentia em seu íntimo que algo estava errado, mas não sabia exatamente explicar o quê. Talvez, só a ideia insistente, que não lhe deixava de jeito nenhum, sobre Fred estar mentindo para si, era o suficiente para atormentar todos os seus pensamentos.

— Tem algo que você queira me contar? — Ela perguntou, olhando desconfiada para o garoto.

— Como assim? — O Weasley parou de andar, ficando na sua frente, pouco mais que uma palma de distância.

— Não sei, qualquer coisa que queira me dizer. — Insistiu, olhando para baixo, não queria encara-lo e acabar transparecendo todas suas dúvidas e incertezas. Ele mexia com partes de si que nunca soubera bem como definir e aquele clima de velas e mistério em nada ajudavam.

— June, não tem nada que eu possa te contar... — Respondeu, chegando mais perto da garota. Tão perto que ela sentir o ar ao redor se esquentar um pouco e sua respiração um tanto acima de seu cabelo.

— Você sabe que eu odeio quando as pessoas mentem para mim, não sabe? — Ela deu uns passos para trás, se apoiando em uma das árvores, contudo novamente ele se aproximou.

— Eu sei, só confia em mim, por favor? — Pediu, esticando o braço ao redor dela.

— Tudo bem... — June, naquele momento, esqueceu até de onde vinha todas suas dúvidas e incertezas. Ela pensou que Fred fosse lhe abraçar ou qualquer coisa do tipo, infelizmente ele logo puxou o braço de volta, embora ainda o mantivesse próximo. Agora, um pequeno objeto prateado estava em sua mão.

— Achei. — Sussurrou, com um pequeno sorriso.

— Parabéns. — Ela também disse, baixinho. Contudo, qualquer palavra logo foi abafada por um cálido beijo, que começou lentamente, somente com um tocar de lábios e foi se intensificando, fazendo suas pernas fraquejarem um pouco.

Beijar Fred era exatamente tudo que ela sempre havia esperado e desejado, talvez até mais. Ela queria que aquele momento jamais se acabasse e ela pudesse eterniza-los, ali, entre a iluminação oscilante e a brisa que bagunçava seu cabelo.

Aquele era o melhor Halloween da sua vida.

Angus Grant.

Dor: sensação de sofrimento.

A Floresta Proibida estava lindamente iluminada, por diversas chamas de velas que pareciam incandescentes. O encantamento posto sobre as mesmas era realmente incrível, visto que elas não derretiam nas mãos dos alunos e nem se apagavam com a brisa do ambiente.

Além disso, a área destinada a procura dos objetos era maior do que qualquer um esperava, fazendo-os realmente adentrar a floresta ao ponto de não mais conseguirem enxergar o castelo atrás. Os animais locais haviam sido afastados e vez ou outra era possível ver os professores patrulhando o local, garantindo que estavam todos em segurança.

Em alguns momentos, fantasmas apareciam do nada e os alunos mais novos corriam para perto dos mais velhos; mãos cadavéricas se erguiam do chão e agarravam seus tornozelos, fazendo diversos estudantes gritarem de susto; plantas se moviam absolutamente do nada e soltavam névoas verdes que os faziam espirrar e imitações de inferis perseguiam alguns, desaparecendo somente quando se usava alguma azaração.

Angus Grant estava fascinado com a brincadeira, desde que a mesma havia sido anunciada e a cada minuto se encantava ainda mais. Seu grupo parecia mais se divertir do que se assustar com as pegadinhas, o que deixava tudo ainda melhor.

— Eca, que nojento! — Draco exclamou, quando uma das plantas soltou uma seiva roxa em suas vestes. — Eu não lembro de isso ter sido preparado não.

— É porque não foi. — Áquila disse, segurando o sorriso e indo para perto dele, o limpando com a varinha. Angus e Jonathan se encararam por um momento, nenhum dos dois conseguindo conter a risada da cara absurda do loiro. — Toma cuidado onde encosta.

— Tudo bem, mamãe. — Ele respondeu, quando ela se afastou um pouco, recebendo um olhar irritado de volta.

— Vem cá, você não tem noção nenhuma de onde pode ter mais? — Lyra perguntou para a prima, olhando atenta ao redor.

— Não, mas provavelmente nas árvores ou no chão. — A Malfoy se abaixou, afastando algumas folhas com a ponta da varinha. — Aqui, achei mais um!

— Da onde vocês tiraram essa ideia? — O Grant questionou. Ele andava um pouco atrás de Jonathan, que ia à frente de todos, iluminando o caminho para o grupo, porém era visível que estava distraído demais.

Na verdade, Angus e a Lestrange eram os únicos realmente empenhados, já que Draco se negava a encostar em qualquer coisa, enquanto que Áquila e Charles viviam parando atrás deles e sumindo nas sombras da floresta, voltando alguns minutos depois.

— O Zhyra havia sugerido que nós fizéssemos alguma coisa aqui fora, falou que seria mais divertido para os alunos, aí a coisa foi se montando. — Draco explicou, apontando a varinha para uma mão cadavérica que havia agarrado suas vestes. — Avifors!

A mão rapidamente se transformou em um morcego, que saiu voando livremente para o topo das árvores, assustando um grupo de lufanos que estavam perto.

— O Aron? — Jonathan perguntou, virando para trás, parecendo interessado na conversa.

— Ele mesmo, conhece?

— Não, só dos jogos. — Rapidamente o garoto desconversou, fazendo Angus erguer uma sobrancelha, achando estranho.

Eles continuaram em silêncio, vez ou outra parando para se livrar de alguma pegadinha ou para pegar alguma triquetra que encontravam pelo caminho. Era prazeroso estar lá fora, mudando um pouco a vista das paredes do castelo.

— Mas que símbolo é esse, afinal? — Angus questionou, ao enfiar a mão dentro de um buraco em um carvalho próximo e pegar o pequeno objeto, menor que a palma de sua mão.

— É um símbolo de proteção. — Áquila respondeu para ele, como se já esperasse que alguém fosse perguntar. — E também representa os planos materiais, físicos e metais.

— E como, em nome de Merlin, vocês chegaram nisso? — Jonathan, dessa vez, mostrou-se curioso, parando um pouco de andar e se apoiando em uma árvore. A garota deu de ombros, tirando o cabelo loiro que caia pelo seu rosto.

— Era muito usado em rituais de magia antiga — ela disse, dando de ombros, como se fosse algo óbvio —, eu mantenho essas práticas, então conheço bastante e pensei que poderíamos usar isso no lugar de algo mais convencional.

 — Brilhante. — Lyra elogiou, fazendo a prima sorrir.

— Então é magia antiga que sua família usa para as mulheres saírem tão bonitas? — Angus brincou, recebendo um olhar cortante de Charles.

— Você vai precisar de um ritual bem sério se continuar de graça, Grant. — O mesmo respondeu, ainda lhe encarando. O garoto, entretanto, se limitou a sorrir, de maneira irônica. Era seu passatempo favorito irritar o casal.

Na verdade, seu grupo era extremamente desajustado e não eram poucas vezes que brigas saiam ali. No fundo, entretanto, todos se protegiam e cuidavam uns dos outros. Talvez, justamente por essa inconstância, fossem tão inseparáveis.

— É melhor pedir permissão para sua dona antes de fazer qualquer coisa, cachorrinho. — Provocou, erguendo o rosto desafiadoramente. Sabia que o garoto tinha um pavio curto quando se tratava da Malfoy e era realmente divertido provoca-lo, quando estava entediado.

— Ah não, vocês dois podem parar. — Lyra se colocou entre eles, enquanto Áquila puxava o namorado pelo braço para trás, com a ajuda de Draco. — Principalmente você — ela disse, apontando o dedo para o garoto.

— Mas eu não fiz nada...

— Angus! — Ela repreendeu, com um tom de voz tão sério e autoritário que ele realmente achou melhor acatar. — Ninguém quer briga agora, não hoje à noite, é sério.

— Tá bom, m’Lady. — Ele respondeu, ainda sorrindo, agora de forma brincalhona. Às vezes, as pessoas levavam tudo sério demais.

— Vamos continuar procurando, vai. Quero voltar logo para dentro. — Jonathan falou, dessa vez incentivando o Fimmel a ir na frente, para evitar maiores conflitos novamente. Contudo, antes que pudessem andar mais que alguns passos, foram interrompidos por um som aterrorizante.

Mais adiante na floresta, alguém gritava. Não de susto, nem por alguma pegadinha. Era um grito diferente, que parecia arranhar os pulmões e deixou todo o seu corpo arrepiado, com uma sensação horrível. Era um grito de dor.

Os seis se entreolharam, assustados, antes de saírem correndo em direção ao som, com as varinhas nas mãos. Estava mais distante do que esperavam, mas ainda sim, continuaram. Angus corria mais rápido que os outros, desviando dos galhos, folhas escorregadias e partes traiçoeiras do solo.

Ao seu redor, podia ouvir outras pessoas correndo na mesma direção.

Seu coração estava acelerado, imaginando mil hipóteses do que poderia encontrar, mas ainda sim, ele não parou. Por mais que muitos pudessem duvidar, ele jamais deixaria alguém correndo perigo desnecessário e, por estar na frente, já se preparava para enfrentar o que quer que fosse preciso, para ajudar algum colega.

Entretanto, ele quase caiu de surpresa quando chegou até os limites da área e não encontrou ninguém. Olhou ao redor, procurando, um tanto confuso. Alguém havia gritando, exatamente daquela direção, então....

Sua respiração parou quando olhou para o chão, vendo um corpo inconsciente jogado entre as flores, sendo claramente um aluno. Ele correu em direção ao mesmo, tirando os galhos que haviam caído por cima do estudante e, com a ajuda de outros que foram chegando, o virando.

— Ele está morto? — Uma aluna da Corvinal perguntou, quase em lágrimas.

Infelizmente, Angus não sabia responder.


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Notas finais do capítulo

*triquetras: http://blacksheepstickers.co.uk/182-thickbox_default/triquetra-pagan-bumper-sticker.jpg