Hopeless escrita por vivian darkbloom


Capítulo 10
Capítulo IX - Verdades e Consequências.


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores, tudo bem?
A fanfic já está chegando a quase 100 comentários e eu não consigo expressar o quão realizada eu me sinto com isso. Eu acho lindo a forma como a gente interage e todos os personagens estão se interligando, eu estou ficando realmente animada com esse novo rumo.
Além disso, queria dizer que eu estou demorando tanto para responder os comentários, por causa do meu estudo para o ENEM, porém no feriado vou tentar responder todo mundo. Além disso, eu uso o tempo livre para escrever, porque eu acho importante sempre manter vocês o mais atualizados possíveis.
Falando em atualização, eu não vou poder postar no próximo final de semana, por causa do vestibular, mas vou escrever um capítulo no feriado, cujo qual pretendo postar na sexta.

Por fim, gostaria de falar que eu lancei um conto do Sirius no Tumblr, explicando a relação dele com a Lyanna e June, o que acharam?

É isso, boa leitura a todos!



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Lyra Lestrange.

Hogwarts amanhecia nublada, mais uma vez. Era como se o clima tivesse se adaptado as emoções dos alunos, acompanhando todo o mórbido sentimento que havia se abatido sobre eles. No castelo, ninguém falava alto demais e até as brincadeiras que os envolviam haviam sido paradas, não por ordem de algum professor, mas porque ninguém sentia vontade de rir.

Pelos corredores, alunos olhavam sempre desconfiados por cima do ombro. Com medo, confusos. Ninguém sabia ao certo o que esperar ou o que pensar. O garoto estava morto? Conseguiu sobreviver aos terríveis ferimentos? Quem era o responsável? Eram respostas que nenhuma pessoa parecia autorizada a dar.

Em seu dormitório, Lyra Lestrange sentia os ventos dessa confusão lhe assolarem também. Ela havia visto o corpo, minutos após Angus encontra-lo. Havia sido um choque horrível, que lhe deixou sem palavras. O resto da noite foi um borrão, ela lembrava-se dos professores, exasperados, mandando os alunos voltarem para dentro do castelo, sendo guiados pelos monitores igualmente assustados.

Quando entrou na Sala Comunal, ninguém sabia ao certo o que dizer. Alguns choravam nos cantos, outros encaravam as paredes, perdidos. Porém todos viraram para olha-los, quando adentraram o ambiente. Eram os mais próximos da vítima e, também, os mais confusos.

Para qualquer um que não conhecesse seu grupo, pensaria que eram suspeitos inevitáveis, pois ninguém sabia ao certo como reagir. Enquanto Áquila e Charles conversavam em sussurros baixos, de maneira pragmática, Draco subiu para o dormitório e Angus saiu, sabe se lá para onde, por fim Lyra e Jonathan sentaram-se juntos no sofá, com a cabeça dela apoiada em seu ombro, visivelmente cansada.

— Provavelmente um comensal. — Ela ouviu sua prima dizer ao namorado. — O que eu me pergunto, é como conseguiram entrar na escola e porquê ele.

— Talvez a família dele tenha feito algo de errado. — Charles respondeu, após longos minutos em silêncio, onde havia sumido para ir buscar dois cálices de vinho para ambos. Como ele conseguia arrumar essas coisas quase que absolutamente do nada, Lyra jamais saberia explicar.

— Bem, teria que ser algo terrível. — A loira disse, tomando um longo gole. — Ele era sangue-puro, certo? Bastante conhecido e respeitado....

— E com segredos. — O garoto completou, de maneira quase sombria. — Aposto que metade dessa sala tem alguma coisa que possa lhes condenar, se vier à tona. Talvez o dele tenha chegado na pessoa errada.

Lyra não aguentou mais ouvir nada, o medo subindo como uma cobra rastejante pelo seu corpo, seus segredos fazendo toda sua pele se arrepiar. Ela levantou, se despedindo sutilmente deles.

— Vejo você daqui a pouco. — Áquila havia dito, lhe olhando preocupada. Ela sempre andava prestando atenção demais na Lestrange, esperando o momento em que ela fosse desmoronar de novo e ela precisasse segura-la e ampara-la, como da última vez.

Na verdade, a morena sentia-se da mesma forma, sempre circulando ela, com medo de qual seria o próximo passo em falso que daria. Elas tinham essa relação próxima e quase que surpreendente, tornando-se praticamente irmãs de criação. Uma tentava sempre proteger a outra, embora às vezes acabassem esquecendo de cuidar de delas mesmas.

Ela subiu e deitou em sua cama, deixando-se embalar pelo sono e todas as sensações ruins que jamais deixavam seu corpo.

Duas semanas após, Lyra ainda encontrava-se perturbada.

E ninguém tinha respostas sobre o ocorrido na floresta.

Naquele dia, ela estava sozinha em seu dormitório, todas as meninas já tinham saído para o café da manhã, mas ela demorou-se na cama, sem muita vontade de levantar, indo se arrumar apenas por insistência da prima. Não queria enfrentar o clima horrível da escola, todos sussurrando e desconfiando dos colegas. Não havia tal agitação desde a morte de Cedrico...

Lyra balançou a cabeça, procurando afastar os pensamentos dos olhos claros do garoto, que lhe encaravam cada vez que ela fechava os seus. Não queria ficar ainda pior.

O seu malão estava aberto diante da cama e a jovem procurava um pequeno colar, que havia ganhado de seus tios. Tinha um pingente em formato de serpente, que, segundo Narcissa, era o patrono de sua mãe.

 Ela continuou procurando e aproveitando para limpar as penas antigas, pergaminhos usados e outras inutilidades que preenchiam o fundo do malão. Era um trabalho mecânico, rápido, que não exigia muita concentração, mas era o suficiente para fazer seus pensamentos focarem em alguma coisa.

Infelizmente, com pesar, suas mãos tocaram uma caixinha preta, guardada de baixo de roupas e agasalhos. Lyra suspirou, pegando-a e sentando na sua cama. Ela deixou o objeto repousar em seu colo, como se pudesse lhe ferir caso obtivesse grande proximidade.

A pequena caixa parecia brilhar, conforme a jovem a encarava. Após longos segundos, que pareceram durar infinitas horas, ela estendeu os dedos trêmulos e soltou o pequeno lacinho que segurava a tampa. Respirou fundo algumas vezes, antes de puxar a pequena gargantilha que estava guardada.

Ela era feita de renda, escura, com pequenos pingentes em formato de escorpião e um maior, no centro, que cobria boa parte de seu busto e tinha a cauda mais longa. Era lindo e sombrio, ao mesmo tempo. Havia sido um presente de Cedrico, há um ano atrás. Ele costumava dizer que o animal combinava com a Lestrange: sorrateiro, silencioso e fatal.

Mas perto dele, ela nunca chegou a ter todo o veneno que dizia possuir. Era fácil se render aos seus sorrisos, era bom sentir que estava caindo, despencando em um abismo sem fundo, porque ele amenizava todo possível impacto.

Até que não estava mais lá para segura-la.

Lyra fechou os olhos, apertando o colar na mão, querendo poder fazer a dor evaporar junto com toda aquela angustia que atormentava seu peito dia e noite. Talvez, se não fosse seus inúmeros erros impensados e a falta de coragem que o fizeram se afastar de si, ela poderia tê-lo mantido vivo. Poderia ter feito algo.

Infelizmente, nunca saberia.

E por mais que todos os dias Áquila tentasse lhe convencer do contrário, a jovem sabia a verdade: era a única culpada por não terem tido a chance de pelo menos se despedirem.

Seu egoísmo, sempre falou mais alto. Talvez fosse de família.

Segurando as lágrimas que ameaçavam cair, ela levantou-se. Seu peito ainda estava dolorido, as unhas quase entrando na carne da palma de sua mão, conforme ela apertava mais forte o objeto. Foi em direção ao espelho, olhando para seu reflexo.

Parecia uma garota quebrada. Céus, o que ela não daria para possuir a força que todos diziam que sua mãe tinha? Talvez se seu sangue fosse mais frio e sua alma de um material mais resistente, como ela, a dor seria evitável.

De maneira quase mórbida, ela soltou a gargantilha aos poucos, levando-a até seu pescoço. Não combinava com o uniforme – era bela demais para uma roupa tão simples. Mas Lyra não se importou. Era tudo que lhe restava de Cedrico. E desde que tivesse uma parte dele consigo, ela poderia fazer qualquer coisa.

Reunindo coragem, jogou os restos de seus pertences no malão e foi em direção a porta, saindo do dormitório. Não havia mais ninguém no Salão Comunal, fazendo com que rapidamente ela fosse para as masmorras, apertando o passo ao passar pelos corredores e subindo as escadas.

O Salão Principal não era muito longe e já estava lotado quando chegou. Lyra procurou seus amigos com o olhar e encontrou o grupo todo junto, na beirada mais distante, comendo em silêncio. Sentiu diversos olhares sobre si, conforme ia em direção a eles. Era a amiga do garoto atacado, afinal.

Áquila havia guardado um lugar para si, entre ela e Jonathan e a jovem prontamente sentou-se, sentindo-se mais acolhida em estar no meio de ambos.

— Capricharam hoje. — Jonathan sussurrou, lhe apontando o pudim de framboesas, cujo qual era seu favorito. Isso, pelo menos, lhe fez sorrir fracamente enquanto se servia.

Sentiu o olhar da prima sobre si, mais especificamente em sua gargantilha. Ela sabia presente de quem era, na verdade a Malfoy sabia de tudo, antes mesmo de planejar lhe contar, havia herdado o talento do pai para ter olhos e ouvidos em todos os lugares, afinal, segundo Lucius, segredos eram apenas uma forma diferente de comprar as pessoas. Conhecendo bem a garota, em suas mãos eram armas.

Mas Lyra nunca se preocupou em ser ferida por ela.

Entretanto, evitou retribuir os olhares, concentrando-se em mastigar a sobremesa, aproveitando o sabor doce que preenchia sua boca.

— Você tem alguma novidade? — Ouviu Draco perguntar, a sua frente, para Charles, que aos poucos ergueu o olhar do prato. Ela realmente admirava como ele sempre conseguia achar espaço para comer e ainda sim, mantinha o corpo definido sem muitos esforços.

— Não — respondeu, balançando a cabeça de leve —, mas acho que se foram mesmo os comensais, nem seu pai, nem o meu, nos diriam por cartas, certo? É melhor esperar chegar em casa para descobrir.

— De qualquer maneira, aumentaram a segurança da escola, perceberam? — Áquila disse, olhando ao redor. — Os professores parecem estar se dividindo para patrulhar os corredores e agora nós, monitores, temos que fazer as rondas sempre em duplas.

— Além disso, eu vi alguns aurores nos limites da propriedade — Jonathan comentou, sempre sendo bastante observador. — Principalmente perto da floresta.

— E eles esperam fazer o quê? É óbvio que os comensais não vão repetir nenhum ataque — Draco parecia meio entediado conforme falava, sem se preocupar muito com a situação. — Além disso, não faz diferença, é meio tarde, né?

— Cala boca, Draco. — Angus resmungou, irritado com a falta de tato e de empatia do garoto. O mesmo, entretanto, soltou uma risada debochada, mas calou-se rapidamente ao olhar severo da irmã, que parecia querer atirar um feitiço em sua direção, como já havia feito em outras ocasiões, com força o suficiente para ele aprender a respeitar suas ameaças silenciosas. 

Às vezes, seu primo conseguia ser um babaca egoísta além dos limites imagináveis.

— Eu espero que ele esteja bem... — Lyra sussurrou, embora todos pudessem lhe ouvir. Eles concordaram, baixinho. — Sinto falta dele.

— Todos nós sentimos — concordou Zabini, embora não fosse realmente próximo do colega, sua presença – ou melhor, a falta dela – era notada.

Quase que instantaneamente, todas as cabeças se viraram em direção ao lugar vazio ao lado de Angus: onde S∅ren costumava sentar-se. Às vezes, você não percebe o quão importante é uma pessoa, até que é forçado a passar seus dias sem ela. Essa era uma lição que o universo parecia nunca cansar de reforçar para Lyra...

Selina Campanella.

Três semanas haviam se passado do ocorrido e Hogwarts parecia respirar um pouco mais aliviada, embora o clima cinza ainda se mantivesse presente. As outras casas não estavam tão abaladas quanto a Sonserina, mas a Lufa-Lufa respeitava o luto deles, de maneira educada.

Entre todos os alunos da casa amarela, a mais próxima de S∅ren era Selina Campanella, embora não fossem amigos. Eles convivam devido as amizades em comum, nada além disso, mas ela sabia que ele era uma boa pessoa e não merecia o ataque que havia sofrido.

O seu grupo de amigos, entretanto, parecia um tanto deslocado em meio ao corredor, no intervalo entre as aulas, sempre conversando baixo, conforme ela se aproximava. Por algum milagre, nem Jonathan nem Lyra estavam com eles.

 Lyanna lhe acompanhava, em silêncio e de mau humor. Desde que o ataque ocorreu, atribuíram a culpa a Sirius Black, seu pai e nada parecia irritar a jovem mais do que isso. A cada dia que passava, ele parecia mais longe de provar sua inocência e a lufana sabia o quanto isso perturbava sua amiga.

Portanto, havia lhe deixado quieta, acompanhando-a como uma sombra pelo castelo, em busca de Áquila. A jovem Malfoy estava entre os sonserinos e para quem a olhasse, sem lhe conhecer, iria pensar que a mesma estava aborrecida, com seu ar de superioridade que dificilmente deixava seus olhos cinzas; Selina, porém, sabia desvendar Áquila como um enigma fácil e entendia que, apesar da pose, ela estava perturbada.

Alguns alunos passavam ao lado do grupo, a maioria mantendo-se um tanto afastada. A verdade é que a fama deles nunca foi das mais simpáticas.

— Oi — cumprimentou educadamente a todos, quando finalmente chegou perto. Angus lhe olhava meio de canto, mas eles não haviam conversado desde a festa. Era apenas uma noite, onde os dois queriam se divertir e não havia nenhum sentimento presente.

— Olá — Áquila foi a primeira a responder, soltando-se dos braços do namorado e indo em direção a ela.  — Não têm aula agora?

— Não, pensei em ficarmos nos jardins. — Respondeu, enquanto a mesma encarava Lyanna com uma sobrancelha erguida. — Talvez o ar puro melhore o humor desse docinho em forma de pessoa.

Áquila riu, jogando os cabelos loiros pelo ombro, enquanto a Black franzia as sobrancelhas diante da provocação.

— Você tem razão, é melhor a gente levar essa lobinha para passear. — A loira brincou, o apelido era uma clara referência ao patrono e forma animaga secreta de Lyanna: uma loba cinzenta. A jovem revirou os olhos, embora a sombra de um sorriso passasse pelo seu rosto.

A Malfoy enganchou os braços em ambas, após se despedir dos amigos, e saiu com elas pelos corredores.

Era claro que eram um trio que atraia diversos olhares por toda Hogwarts: diferentes umas das outras de diversas formas, cada uma possuía uma beleza singular, mas Selina sentia-se a mais deslocada. Não que isso a deixasse mal ou algo do tipo (sabia que era bonita), esse sentimento devia-se somente ao fato de que, embora opostas como neve e fogo, as outras duas tinham semelhanças claras: o olhar expressivo, maxilar marcado e cabelos volumosos – traços que haviam herdado dos Black. Qualquer um que as visse lado a lado poderia imaginar que havia um grau de parentesco.

Já a lufana, gostava de pensar que, em meio as rosas espinhentas que ambas poderiam ser, ela era o contraste: o delicado lírio que as entrelaçavam.

Não demorou até chegarem aos jardins, indo em direção a uma grande árvore, não muito distante do castelo. Selina tirou uma toalha da mochila, estendendo-a pelo chão e sentando-se em uma pequena roda com as meninas, uma de frente para a outra.

— Vocês acham que podem me visitar mês que vem? — A Campanella perguntou, um pouco tímida. Por ordem de Umbridge e do próprio Ministro das Magia, as férias de natal seriam adiantadas e começariam já na segunda semana de dezembro, em poucos dias. Era uma forma de distrair e recompensar os alunos para desviar suas atenções da tragédia.

— Acredito que sim. — Lyanna respondeu, parecendo agora mais animada. Tinha um certo fascínio pela vida que a amiga levava, em meio aos trouxas. Era tudo tão diferente e novo, sempre lhe encantava ficar na casa dela e visitar a cidade ao seu lado, conhecendo ainda mais de seus costumes.

— Não sei... vou tentar passar alguma tarde com você, só preciso esperar meu pai ir passar o dia longe de casa. — Áquila explicou, parecendo um pouco triste. Ela era a que menos via a amiga nos períodos de férias, pois o preconceito retrógado de Lucius jamais lhe permitiria saber que a filha andava acompanhada de uma mestiça.

— Ou todas vocês podem ir ficar um dia na casa do meu pai. — Ofereceu a Black, seu humor definitivamente melhorando com o rumo da conversa. — Ele disse que precisa falar comigo urgentemente, mas não deve ser nada sério, depois disso podemos marcar algo.

— Eu iria adorar! — Da última vez que ficou na mansão Black, Selina ficou fascinada pelas histórias de Sirius, sobre a época em que os marotos estudavam em Hogwarts.

— Com os Weasley? — A loira perguntou, torcendo o nariz. Naquele momento, ficou ainda mais parecida com Narcissa, se possível.

— A casa é grande o suficiente para você poder ficar no lado oposto — respondeu Lyanna, batendo a ponta do dedo no nariz da prima, fazendo-a desfazer a careta em um sorriso. — Além disso, tem muita relíquia de família lá, que Sirius quer jogar fora, vai que você se interessa por alguma....

— Com certeza eu vou, então. — Concordou rapidamente, fazendo ambas as amigas rirem. Não havia maneira melhor de compra-la, do que oferecer a oportunidade de saber mais sobre o passado dos Black.

— Ótimo, combinado então. — Lyanna sorriu, satisfeita.

— Parece que alguém melhorou de humor, finalmente.... — Selina cantarolou, bagunçando seu cabelo de leve e fazendo-a fingir uma cara de brava.

— Não sei do que você está falando. — Exclamou, erguendo o rosto e empinando o nariz.

— Claro que não.... — Áquila revirou os olhos, jogando-se de lado e apoiando a cabeça no colo da lufana, que passou os dedos por seu cabelo de leve. Embora a mesma fosse mais próxima de Lyanna, era com Selina que costumava ser mais carinhosa e apegada, visto que sempre tiveram a mesma facilidade de demonstrar seus sentimentos, enquanto a Black possuía fortes muralhas ao seu redor que raramente se quebravam.

— Vocês souberam? — Uma voz masculina atrás da árvore, fora do campo de visão delas, falou. As três mantiveram-se em silêncio, escutando. — Dizem que foi o Black que entrou na escola e o atacou.

Imediatamente, os olhos de Selina voltaram-se para Lyanna, que tinha a expressão séria, quase como uma felina prestes a atacar.

— Com certeza foi, todo mundo sabe que ele é um criminoso, quase toda a família é, na verdade. — Outra, dessa vez feminina, concordou de maneira enfática. — Tomara que levem ele pro lugar correto, que é Azkaban, para os dementadores.

Nem Selina, nem Áquila foram rápidas o suficiente para segurarem Lyanna, que se levantou em um pulo ágil, com a varinha já na mão. Ela sempre havia sido a mais rápida das três e ambas observaram atônitas a garota cruzar o gramado com os olhos fervendo de ódio.

— Merda... — a lufana sussurrou, dando um salto e ficando de pé, correndo junto com a Malfoy. Quando as duas chegaram do outro lado da árvore, a Black parecia uma pessoa totalmente diferente da que conheciam, seu olhar era mais grave e irritado, a varinha permanecia apontada para o casal, que pareciam assustados.

— Repete! — Ela gritou, dando mais um passo para frente. — Repete o que você disse do meu pai!

— Black, se acalma.... — O garoto, da Sonserina e mais novo que elas, entrou na frente da suposta namorada corvina, as mãos erguidas.

— Se acalma o inferno, quem vocês pensam que são para ficar falando essas coisas?! — Lyanna parecia prestes a lançar um feitiço na direção deles, então não foi surpresa quando a jovem de cabelos ruivos ergueu a própria varinha, atrás do sonserino e lançou um raio vermelho na direção da morena.

Então, as coisas ficaram realmente confusas.

Em um movimento rápido, Lyanna se defendeu do feitiço, gritando azarações, Áquila empunhou a própria varinha, assim como garoto, ambos entrando no duelo, enquanto Selina tentava encontrar uma forma de para-los.

Raios coloridos voavam por toda parte, mas era claro qual dupla tinha a vantagem. Além de serem mais velhas, Lyanna e Áquila eram mais rápidas e habilidosas que a maioria dos estudantes da sua idade. Elas se defendiam e atacavam ao mesmo tempo e o casal sofria para conseguir se manter sem arranhões, os feitiços passando a centímetros deles.

Pensando rápido, a Campanella puxou a varinha, se colocando entre eles de maneira ágil.

Protego! — Gritou, invocando um escudo que separou eles, fazendo os últimos raios ricochetearem em diversas direções. — VOCÊS PERDERAM A CABEÇA?

Lyanna respirava com dificuldade, ainda tomada pela raiva, enquanto Áquila encarava ambos com ódio no olhar, fazendo-os se encolher.

— Tira a Lya daqui. — Ela pediu, desviando deles para Selina, embora para ela sua voz soasse mais doce e as tempestades cinzas que eram seus olhos, mais amenos do que quando se dirigia a eles.

— Áquila...

— Ela precisa se acalmar, Sel. — Explicou, em um tom de voz mais baixo que eles não escutariam.

— Eu não quero ir a lugar algum! — A morena protestou, um pouco fora de si, quando a lufana passou os braços ao seu redor e a puxou de leve. Embora fosse mais forte, ela não resistia muito e logo Selina foi levando-a através dos jardins, em direção ao castelo, ainda ouvindo a voz de Áquila ao fundo.

— É melhor vocês correram para fora da minha vista antes que eu mude de ideia. — Ela ameaçava, a varinha ainda brincando em suas mãos. — Além disso, duelar contra um monitor é uma inflação grave, podem ter certeza que isso chegará aos ouvidos do professor Snape.

Selina suspirou, finalmente entrando nos corredores gelados. A Malfoy não deveria fazer aquilo, visto que ambas que estavam erradas, mas o orgulho normalmente nublava sua justiça com eficiência.

Rapidamente, encontrou uma sala amarrotada com mobília velha, entrando nela com Lyanna, que ainda parecia meio perdida com a situação.

— O que deu em você? — Perguntou, sentando com ela em umas cadeiras antigas que rangeram com o peso.

— Eu não sei...

— Lya, você não pode sair atacando as pessoas, porque elas desconhecem a verdade. — Explicou, com a voz suave. A morena parecia alheia as suas palavras, ainda surpresa pela própria explosão de raiva.

— Pronto, já dei um jeito nisso. — Áquila exclamou, entrando na sala e a fechando com um feitiço. — Eles nunca mais vão falar do seu pai.

Selina a censurou com o olhar, embora não dissesse nada. Não era o momento para represálias e ela sabia que a loira tinha somente a intenção de proteger a amiga.

— Eu não deveria ter perdido o controle daquela forma, eu só... — Lyanna balançou a cabeça, suspirando pesadamente. Ela raramente se mostrava tão frágil, mas o peso do mundo parecia pender de seus ombros.

— Tudo bem, tem muita coisa acontecendo ultimamente, a gente entende. Só não deixa isso se repetir, por favor...— Selina falou, sorrindo de leve, enquanto Áquila concordava enfaticamente com ela.

Na verdade, ela suspeitava que os conflitos de Lyanna eram muito maiores do que ambas poderiam suspeitar, soterrando-a em sentimentos conflituosos, mas infelizmente era difícil demais para ela se abrir, até mesmo com suas amigas.

— Me desculpem. — Pediu, parecendo envergonhada.

— Sel tem razão, está tudo bem. — Áquila disse, sentando-se do outro lado dela e a envolvendo com os braços. Geralmente, ela protestava e se soltava, mas talvez estivesse cansada demais ou precisando do gesto. A Campanella aproveitou, se aproximando mais e puxando ambas para si, em um tipo de abraço coletivo.

— Não, não está tudo bem. — Ela sussurrou, embora continuasse a esconder o rosto entre elas. — Eu sinto muito, Áquila...

— Do que você está falando? — Selina perguntou, ainda com o rosto apoiado em sua cabeça.

— Por que você está pedindo desculpas para mim?

— Nada. Eu só... sinto muito por ter te envolvido nisso. — Lyanna se calou, e a jovem sabia que a Malfoy deveria estar com uma expressão confusa.

Ultimamente, a Black andava perdida em coisas que nenhuma delas sabia entender e havia algo que, claramente, ela mantinha escondido. Elas não se importavam, sabiam que cada pessoa tinha a hora certa de desabafar e, quando fosse o momento, ela viria e lhes diria.

É fato que segredos jamais duravam para sempre, mas sendo otimista, Selina gostava de imaginar que não era nada que prejudicasse a amizade delas.

Sem dizer mais nada, as três se mantiveram agarradas umas nas outras. Elas eram uma família, afinal, com laços mais profundos que sangue. E você sempre protege e perdoa a família.

Franklin Boudrot.

Há consequências em se guardar um segredo. Elas podem ser catastróficas, derramando um veneno mortal em sua alma, pelo silêncio forçado; alguns precisam arcar com os resultados de suas mentiras e as ações que causaram nas vidas de outras pessoas – eternamente marcadas pelo engano; por fim, há também a culpa. Talvez a pior de todas.

A culpa te faz tomar decisões estúpidas, criar um castelo de cartas que pode se desfazer a qualquer momento e lhe força a repetir todos os dias diante do espelho que suas ações são corretas... mesmo que não sejam, de verdade.

Franklin estava ainda no estágio de negação: ele sabia que mentia, sabia que escondia algo crucial, mas negava-se a revelar. Preferia se convencer de que poderia lidar com a situação sozinho – ainda que não pudesse.

Por isso, naquela noite, gelada pelos frios de dezembro que chegaram com uma velocidade alarmante, fazendo o tempo fora do castelo se transformar em uma nevasca, o jovem havia decidido quebrar algumas regras.

Ele estava fortemente agasalhado, enquanto escondia-se entre prateleiras velhas da biblioteca, procurando um livro, qualquer um, que pudesse lhe ajudar.

Com muito custo, tinha conseguido convencer Tessa a sair do Salão Comunal consigo e esperar no corredor do lado de fora. Ela era monitora, se a pegassem fora do horário não teria problemas. E ele precisava de proteção enquanto buscava uma solução.

A garota não havia feito muitas perguntas, ela não era de falar demasiadamente mesmo. Mas sabia que o observava em cada ato, estudando-o em sua inteligência silenciosa. Talvez a mesma pudesse lhe ajudar, com seu dom para saber cada página de conteúdo da biblioteca, mas não podia contar a ninguém o que sabia.

As páginas velhas e manchadas passavam pelas suas mãos rapidamente, enquanto ele puxava um livro atrás de outro para folhar seu conteúdo. Nada muito útil e ele realmente duvidava que fosse encontrar o que precisava. Na verdade, sabia que sua única chance era a Sessão Proibida do local, mas para isso precisava de autorização de um professor e dificilmente algum permitiria, devido ao caos que havia se instalado na escola.

Já estava a horas naquela busca interminável e a cada segundo que se passava, a sua eterna irritação inquietante parecia mais próxima de finalmente explodir por entre seus poros.

Suspirando de desapontamento, ele foi em direção a prateleira mais funda do local e também a com pior iluminação e puxou um livro grosso, empoeirado pelos anos sem uso e com o título quase apagado. Lembrava-se vagamente de ter visto um parecido na biblioteca de sua casa, anos atrás. Talvez pudesse servir para algo.

Rapidamente, puxou ele para uma mesa próxima, sussurrando “Lumus” e se colocando a analisar a capa:

“A obliquidade das brumas – volume único.”

Era um nome estranho, provavelmente deveria ser um conto perdido entre a sessão de feitiços. Irritado, Frank acabou empurrando-o de frustação. Aquilo não seria de utilidade alguma!

Porém, para sua surpresa, o mesmo caiu aberto no chão, ainda nas folhas iniciais e não era um conto que se mostrava, mas sim anotações rápidas e um tanto rabiscadas.

Abaixando-se e olhando com mais atenção, Franklin notou que os escritos eram antigos, na verdade eram feitos em mais de uma língua. Pelas linhas das páginas, três dialetos se mesclavam: ora inglês, ora latim e uma simbologia que o garoto desconhecia.

Curioso, ele voltou a puxar o livro para a mesa, dessa vez abrindo a primeira página. Para sua sorte, ela estava em seu idioma:

“Aqueles que se aventuram devem ter cuidado,

Segredos aqui inscritos jamais poderão ser repassados.

Leia, estude e reflita,

E somente com certeza e necessidade, execute.”

— Mas o que inferno é isso? — Resmungou, ainda mais confuso. Pelo seu olhar rápido e um breve conhecimento em latim, ele reconheceu instruções de feitiços e poções, conforme voltava a folha-lo. Até onde sabia, misturar mais de uma linguagem era um artificio para quando queria-se esconder algo.

Bem, nada que é permitido precisa ser escondido.

Talvez aquilo fosse de alguma utilidade, afinal. E se não, pelo menos algo novo aprenderia.

Pegando-o com cuidado, colocou em sua bolsa, fechando-a em seguida. Ninguém provavelmente daria por sua falta, visto que não parecia ser muito utilizado ou retirado do local em que estava, isso era bom e útil para Frank.

Tão silencioso como havia sido ao entrar, ele saiu. Tessa ainda estava exatamente onde havia deixado-a, olhando atentamente para os lados, sempre pronta para confrontar algum outro aluno.

— Você demorou. — Resmungou, ajudando-o a fechar com cuidado a porta da biblioteca e seguindo pelo corredor, com a varinha a lhes iluminar o caminho.

— Desculpe. — Respondeu, simplesmente, virando o corredor.

— Pelo menos achou o que queria? — Ela indagou. Se a não conhecesse, diria que era uma curiosidade inocente, mas sabia que Tessa tinha seus meios de descobrir o que queria.

— Pode-se dizer que sim, não se ainda. — A jovem acenou com a cabeça, não muito satisfeita com a resposta, porém sem insistir. A amizade delas era forte justamente por isso: sabiam o momento de parar.

Infelizmente, enquanto subiam uma escada, viram Draco Malfoy vindo em seu caminho, fazendo patrulha com um monitor lufano, que nada parecia feliz em estar com sua companhia.

— Hendrix, esse não é seu horário. — Comentou, olhando desconfiado para a garota, que simplesmente deu de ombros.

— Nunca é demais conferir se tudo está sendo feito direito, não é? — Ela respondeu, mantendo a calma, sem parecer que havia sido pega fazendo algo de errado. — De qualquer forma, já estou indo para meu Salão, poupe-se da preocupação.

Para seu azar, Draco não a ouvia mais, seus olhos cravados em Frank, que o encarava de volta, sem se intimidar.

— Olha só, quem está aqui... — Murmurou, com seu sorriso irônico cujo qual o garoto daria tudo para simplesmente arrancar de sua boca, a força.

— Me deixa em paz, Malfoy. — Disse, segurando a mochila com mais força e subindo os últimos degraus, seu ombro esbarrou no dele de propósito e, por ser mais forte, o fez cambalear um pouco. — Vem, Tess.

Draco riu as suas costas, soltando uma provocação qualquer. Mas, naquela noite, Frank não revidou. Não porque sua raiva estava diminuindo, mas sim porque estava cansado demais para brigar. Os pesos de seus segredos estavam cada vez maiores, fazendo até mesmo seus ombros se curvarem. Ele só queria a droga de uma paz, pelo menos por alguns minutos.

Tessa não contestou suas ações, o seguindo pelo caminho que levava ao Salão Comunal.

— Obrigada pela ajuda. — Ele murmurou, quando chegaram a sala e ela se jogou em uma poltrona perto do fogo, buscando se aquecer.

— Tudo bem. — Respondeu simplesmente, dando de ombros.

Franklin se despediu com um aceno, subindo as escadarias em direção ao seu próprio dormitório. Todos os garotos já estavam dormindo profundamente, então ele buscou ser o mais silencioso possível quando abriu o malão, escondendo o livro em baixo de seus casacos e materiais. Ninguém poderia encontra-lo, enquanto não soubesse exatamente para o que servia.

Por fim, jogou-se na cama, embora seus músculos tensos se negassem a relaxar e permitir um descanso verdadeiro. Quando fechou os olhos, o sorriso irônico de Draco lhe voltou a mente e a raiva fez seus punhos se fecharem. Por que tudo tinha que ser tão infinitamente complicado?

Ele queria que as coisas voltassem a ser como antes, onde ambos eram melhores amigos, frequentando a casa um do outro e sonhando com o dia que iriam para Hogwarts, viver as aventuras que seus pais lhe contavam.

Suspirou, sabendo que de nada desejava querer voltar atrás. O passado deveria manter-se onde pertencia, soterrado por erros e palavras mal-ditas que, com o tempo, tornaram malditas e a sua raiva cada dia mais crescente.

Forçou para o fundo de sua mente tais pensamentos, embora seus sonhos acabassem sendo preenchidos por segredos, principalmente aqueles que se esforçava tanto para esconder. Um dia, talvez não tão cedo, deveria encara-los, pois não poderia passar a vida mentindo sobre o seu passado com os Malfoy, muito menos sobre o que havia presenciado na floresta, com o garoto Le Fay.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam desse capítulo?