Rick E Os Fantasmas escrita por MSMoura


Capítulo 6
Caso 5 - Uma Modesta Festa na Casa Perdida na Floresta, Parte 2




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"Então, quem interrogaremos primeiro?" perguntou Len.

"Hum... É uma boa pergunta." respondeu seu irmão, Brad "Que tal começarmos pelo tal do Meva, o passarinho ali? Ele é o mais próximo de nós."

E assim, os irmãos foram em direção a Meva, que, empoleirado em sua poltrona, bicava sua comida no chão com seu ridiculamente longo bico,  e tomava um pouco mais do suco que se encontrava na mesa. O beija-flor de um metro e meio tinha o olhar no horizonte, como se seus comes e bebes fossem algo da qual ele não dava muita importância. Brad era um garoto muito observador, por ser um detetive. Uma das coisas que o garoto percebera era que Meva constantemente movia seus olhos em direção ao cadáver de Caio, mas assim que o visualizava, rapidamente levava seus olhos a algum lugar da sala.

"Bom dia... Ou melhor, boa tarde, senhor Meva" começou Brad, que, ao dizer "bom dia", havia reparado no relógio que dependurava-se do colete de Meva, que marcava uma hora da tarde "Como vai o senhor?"

"Não muito bem." respondeu Meva, franzindo sua testa "O dono da residência está atrasado para sua própria festa. Isso é inaceitável."

"O dono da residência...? Você quer dizer... O senhor Caio?" perguntou Len, confusa.

"Mas é claro!" respondeu Meva, abrindo suas asas "Por quem mais estaríamos dando esta festa? Hoje é o aniversário dele, sabe."

"Hum... Sinto-lhe informar, senhor Meva... Mas Caio faleceu. Aquele é o corpo dele." explicou Brad, apontando para Caio.

"Tolice!" gritou Meva "Torça essa sua língua, rapaz. Aquele não é Caio. Ele ainda está entre nós, garoto. Deve estar apenas se arrumando em seu quarto, nada mais."

Brad e Len olharam para o andar de cima, onde havia uma porta com uma placa brilhante onde dizia "Quarto de Caio". Ela estava aberta, e não havia ninguém lá.

"O cara pirou." sussurrou Len para Brad "Não acho que vamos conseguir algo dele".

Brad olhou com pena para Meva, que não conseguia aceitar ou compreender que seu amigo havia partido. Ele já vira uma reação parecida em diversas outras pessoas em outros casos, mas nunca nesse nível.

"Realmente... Não tiraremos nada dele no momento."

E assim, os irmãos, ainda com seus pratos de comida, decidiram ir em direção a Miles, que estava na varanda.
Ao abrir a porta da frente, Brad se abaixou rapidamente, derrubando o seu prato. O motivo? Miles havia instintivamente atacado Brad quando ele abriu apareceu perante o batente. A espada não teria acertado o garoto, pois foi parada pela madeira, mas mesmo assim, o detetive já tinha sido atacado diversas vezes durante suas aventuras, por isso, todo cuidado é pouco.

"O que você quer, moleque?" perguntou Miles, irritado. Brad não sabia se era por conta de que seu amigo havia falecido ou se foi porque sua espada não alcançou a cabeça de seu alvo.

"Moleque, não!" reclamou Len "Vocês nos contrataram, exigimos respeito! Meu irmão tem um nome, sabia?"

Miles lançou um olhar tão furioso para Len que a garota quase se pôs a correr para dentro da casa, mas fez o máximo de esforço possível para não ser intimidada (apesar de ter sido).

"Tá, "senhor Brad"." Miles deixou seu prato no chão apenas para fazer aspas no ar com seus dedos "O que você quer comigo?"

"Gostaríamos de saber do que o senhor sabe sobre o assassinato de Caio." respondeu Brad.

"Hunf." resmungou Miles "Não sei de muita coisa. Apenas que Caio caiu duro no chão ontem."

"Bem... Você pode nos contar um pouco da situação de Caio?" pediu Brad "Sabe, antes do assassinato."

"Depende do que você quer saber, garoto."

"Que tal... a família dele?" sugeriu Len "Ele mora sozinho? Esse tipo de coisa."

"Moramos todos nesta casa, garota." respondeu Miles "Subindo as escadas e seguindo o corredor, estão todos os nossos quartos."

"E como é a relação entre o grupo?" perguntou Brad "Teve algum... tipo de briga ou ressentimento que possa ter surgido recentemente?"

"Tsc." disse Miles, enquanto cuspia na direção da grama à frente "Vocês, detetives, são muito bisbilhoteiros. Não descansam até saber de cada detalhe de nossa vida. Nojento."

"Vocês me chamaram aqui." respondeu Brad, começando a perder sua paciência "Se eu não bisbilhotar, não vou saber de nada, e o caso não será resolvido, e a morte do seu amigo vai ser chamada de "acidente" por toda a eternidade, enquanto o verdadeiro assassino continua solto por aí, talvez até tornando você e os outros residentes nas próximas vítimas. É isso que você quer, senhor Miles?"

O soldado, que facilmente alcançava o telhado que ficava há pelo menos três metros do chão à frente da porta, deu um pisão violento no chão. A madeira se quebrou facilmente, e Brad começou a reconsiderar seu método de abordagem.

"Admiro sua coragem, rapazinho." respondeu Miles, claramente pensando nas infinitas maneiras que ele poderia fazer Brad bater as botas "Contarei o que sei."

"Obrigado pela cooperação, senhor Miles." agradeceu Brad, enquanto Len mordiscava seu pedaço de pão, escondida atrás do irmão.

"Caio era um ótimo amigo meu. Era um bom homem, apesar de ser meio excêntrico. Nós só vivemos aqui nesta casa porque ele não se importa em dividir seu teto com gente louca como nós. Tudo ia bem por aqui. Meva voava feliz pela floresta e nos trazia frutas frescas. Thierry era o faz-tudo da casa, limpando, cozinhando e tudo o mais. Eu era o guarda, o músculo. Nenhum animal selvagem os amedrontava enquanto eu estivesse aqui. Pierre e Accerola eram nossos pequenos raios de Sol, fazendo pequenos trabalhos como arrumar a mesa, lavar a louça e coisas do tipo. Caio realmente adorava os dois, principalmente Accerola, já que ela era sua filha, e já morava aqui bem antes de nós nos mudarmos para cá. Éramos um grupo estranho, mas feliz."

Brad começara a anotar mentalmente tudo que Miles falava, enquanto Len, que havia colocado seu prato no chão, anotava tudo em seu pequeno bloco de notas. Porém, para o detetive, algo soou estranho na história de Miles:

"Mas... E a senhora Puella? Ela não morava aqui antes?"

"Não, não morava. A senhora florzinha chegou aqui há um ano, mais ou menos."

Brad e Len se olharam. Finalmente tinham um suspeito.

"Hum... Você pode contar um pouco mais de como as coisas mudaram quando Puella chegou?" pediu Brad.

"A dona flor e Caio se deram bem imediatamente. De modo que ele passava quase o dia inteiro conversando com ela, negligenciando até Pierre e Accerola de vez em quando. Ela realmente tomou toda a atenção dele. Ele mal escrevia, para vocês terem uma ideia."

"Huh. Ele é um escritor? Não sabia disso." comentou Len.

"Ah sim, ele escreve bastante. Ou escrevia, na verdade. A única coisa que ele continuou a escrever foi o seu diário."

Brad teve certeza de anotar essa informação em sua mente. Len fez o mesmo, mas no papel.

"Uma última pergunta, senhor Miles." disse Brad "Como era a relação entre Caio e Puella? Digo... Eles brigavam muito? Ou, pelo menos, recentemente?"

"Eu não sou tão bisbilhoteiro quanto vocês, então eu não saberia dizer. Mas do pouco que eu via dos dois, eles pareciam ser um casal feliz. E agora, que tal o senhor parar de me fazer perguntas, para me deixar feliz?"

**********************************************************************

Sentados à mesa, Brad e Len mordiscavam maçãs, enquanto conversavam baixinho sobre suas descobertas. Puella havia se tornado a primeira suspeita, apesar de eles não terem muito mais evidências além de ela ter sido a última residente a chegar, meros doze meses antes da morte do autor Caio. Miles também havia mencionado um diário, que Brad com certeza não queria esquecer de dar uma olhada depois. Fazer o quê, Miles poderia ter tentado insultá-los, mas ele e sua irmã eram bisbilhoteiros de carteirinha, não podiam negar.

"Mas antes" decidiu Brad "acho melhor falarmos com a própria Puella."

"Com certeza." concordou Len.

Puella não estava mais sentada (ou plantada) na mesa, mas como a cozinha era bem próxima da sala, os irmãos conseguiram vê-la lá, sendo levada de um lado para o outro pelo mordomo Thierry, em cima de um carrinho de mão.

Ao chegar no cômodo, o lugar era um caos. O forno à lenha estava com sua portinhola aberta, fazendo o fogo ocasionalmente invadir a cozinha, enquanto as panelas em cima dele pulavam loucamente, com líquidos ferventes borbulhando e tampas dançando. Mesmo com tudo isso acontecendo, Puella continuava sendo levada por Thierry à todos os cantos da cozinha, desde a mesa onde ela preparava uma imensa massa, até a pia onde ela limpava os pratos. Era como se o caos fosse parte dela a esse ponto.

Para tentar não atrapalhá-la ou serem pegos na confusão que estava aquele lugar, Brad e Len decidiram ficar na porta. Brad foi o primeiro a tomar coragem para falar:

"Hum... Senhora Puella? Gostaríamos de ter uma conversinha."

Thierry e Puella pararam imediatamente por alguns segundos, e começaram a encará-lo. Assim que Brad começara a ficar desconfortável, ambos começaram sua louca rotina novamente. O garoto tomou isso como um "Claro, estamos à seu dispor!".

"Qual era a sua relação com o senhor Caio?" perguntou Brad.

Brad esperava um susto, um desconforto ou qualquer coisa do tipo. Sabe, uma reação. Mas Puella simplesmente continuara em seu pequeno mundo. Para a sorte de Brad, ela conseguia responder perguntas de dentro de seu cômodo caótico:

"Eu o amava. Éramos inseparáveis. Apenas isso."

"A sua relação com os outros inquilinos era amigável, ou havia conflito entre a senhora e alguém?" perguntou Brad.

"Eu me dou bem com todos desta casa. Com exceção de Accerola, que não costuma falar muito em minha presença, todos desta casa me tratam bem e são amigáveis comigo. Aceita uma pétala, senhor Brad? Está fazendo um ótimo trabalho."

Brad foi pego um pouco de surpresa pelo súbito oferecimento de uma pétala, mas ele lembrara que Puella tinha esse hábito, e recusou educadamente.

"Ah. Que triste. O senhor não aceita um doce? Um pedaço de pudim? Ou talvez, quem sabe, algo que eu esteja fazendo nesse momento?"

"Não, valeu, senhorinha." respondeu Len, por seu irmão "Eu só queria perguntar... A senhora não usa algo para cobrir suas pétalas? Você nunca queimou-as, trabalhando tanto perto do fogo assim?"

"Ah! Obrigado pela preocupação, senhorita Len, mas isso nunca me ocorreu. Tenho prática na cozinha, pois não me queimo há décadas!"

"Prática? Tem algo branco transbordando daquela panela." observou Len.

"CÉUS!" gritou Puella.

Enquanto levava a flor cozinheira pela cozinha, para tirar a panela do fogo, Thierry se virou para os irmãos e disse:

"Não se preocupem, está tudo sob controle por aqui. Podem continuar a investigação."

Len estava para sair, quando Brad perguntou:

"E o senhor? Não tem nada para acrescentar? Qualquer informação pode nos ser útil."

"Não." respondeu Thierry "Mas sintam-se livres para examinar o quarto de Caio. Nós não tocamos em nada do lugar desde ontem."

"Obrigado." respondeu Brad, que gostaria de ter ganho mais alguma informação, mas ter o acesso ao quarto do falecido foi um bom progresso.

Os irmãos decidiram continuar as interrogações, apesar de terem uma vaga suspeita de que os dois últimos residentes não seriam de grande ajuda.

Ao chegar próximo à Pierre, o cãozinho, Brad viu que ele havia se levantado para pegar um pedaço de peru da mesa, pois estava comendo-o em seu canto. Infelizmente, quando Brad começara a falar com o canino, ele apenas soltou um curto choro, e continuou comendo seu pedaço de carne branca.

Os irmãos suspiraram, e decidiram falar com a última residente que ainda não havia se pronunciado: Accerola, a que Brad e Len ainda há pouco descobriram que era a filha de Caio.

Voltando à mesa, Brad e Len olharam para cima, para o candelabro que se balançava loucamente acima deles. Algumas das velas tinha se apagado, outras haviam caído, e, para a sorte dos residentes, elas caíram em cima de comidas ou de jarras de suco, fazendo com que o fogo delas não causasse um incêndio.

A pessoa que estava fazendo aquela bagunça era Accerola, que de alguma maneira tinha não só subido no candelabro, como tinha levado seu prato consigo. Ela tinha trazido frutas, um pedaço de pão e duas fatias de peru. Ela não tinha comido basicamente nada além do cacho de uvas que ela havia levado, e nem aquilo ela estava comendo de um jeito normal: Ela arrancava uva por uva, e a jogava para cima, tentando pegá-la com a boca, o que, pelo menos noventa por cento das vezes, não funcionava, fazendo com que pequenas uvas estivessem cobrindo quase toda a mesa.

Rindo e balançando, Accerola finalmente avistou Brad e Len, e decidiu puxar conversa. Claro, não de um jeito convencional. Ela jogara uma uva na direção os irmãos e, por sorte, Brad conseguira pegar a fruta com a boca.

"HAHAHA!" riu Accerola "BOA PEGADA!"

"Obrigado, senhorita Accerola." agradeceu Brad.

"Ah, para com essa ladainha! Temos a mesma idade, não? Então deixa essa formalidade de lado, cara. Conversemos como dois velhos amigos, que tal?"

"Ahn..." Brad pensou muito antes de responder "E aí... Cabeluda?"

"HAHA! É, algo assim. E então, o que vocês querem?"

"Te interrogar, dona loira." respondeu Len.

"Então interroguem-me!"

Brad tentou pensar em uma pergunta, juntando tudo o que ele havia ouvido até então, e perguntou:

"O que você poderia me dizer da relação entre Caio e Puella?"

Accerola sorriu ainda mais do que seu rosto podia suportar.

"Eles eram um belo casal. Não brigavam, conversavam muito um com o outro. O velho completava a florzinha."

Brad não achava que ela estivesse mentindo, mas parecia ter algo a mais naquela história. Algo que Accerola não estava disposta a contar.

"Sério? Nenhuma briga? Nada... Que pudesse entrar no caminho do amor deles?"

O sorriso de Accerola subitamente sumiu.

"Você faz ótimas perguntas, detetive. Pena que eu não estou a fim de responder a todas."

Aquilo realmente pegou Brad e Len de surpresa. Mas ele não desistiria tão fácil.

"Hum... Accerola! Por favor, me diga o que você sabe! Tem algo que pudesse atrapalhar o namoro dos dois?"

"Uvas são ótimas!" respondeu Accerola "São bolinhas roxas cheias de sabor!"

"Sério, responde, loirinha!" suplicou Len.

"Perus são galinhas bem engraçadas, não acham?"

Os irmãos estavam perdendo a paciência, mas, estando tão no alto, era difícil conseguir convencer Accerola a fazer o que eles queriam. Mas, de qualquer jeito, Brad tentou fazer uma última pergunta:

"Você tem algo contra Puella?"

Accerola, de repente, ficou muda. Quando Brad e Len estavam prestes a desistir dela e sair andando, ela disse:

"Puella nunca será a minha mãe."

Os detetives mirins ficaram surpresos com aquela fala. Quer dizer, era óbvio que Puella nunca seria a mãe de Accerola, já que Puella era uma flor. Mas algo naquela frase soou curioso para Brad... Outra para as anotações mentais e físicas.

**********************************************************************

Depois do episódio, Brad e Len decidiram dar uma volta pela casa. Agora que tinham permissão de Thierry para andar por aí, eles iriam usar ao máximo essa oportunidade.


Primeiro, foram para a varanda, e lá, nada acharam além de Miles, que continuava ranzinza.

Depois, foram até a parte de trás da casa, onde acharam uma pequena cabana, onde Brad presumira que eles guardavam ferramentas.

"Se eu tivesse algum tipo de veneno, eu guardaria aqui." comentou Len.

Eles adentraram a cabana, e realmente, haviam diversas ferramentas lá, mas nada de veneno. Talvez Miles, o guarda/soldado cuidasse dos ratos também.

Mas ferramentas não eram as únicas coisas que eles acharam lá.

A cabana era pequena, havendo uma mesa no lado esquerdo, e diversas caixas de madeira lotadas de martelos, pregos, serras e tudo o mais. A mesa em si estava suja de graxa, mas não tinha nada em cima. Exceto um pequeno copo de pedra, com um toco de madeira em cima.

Dentro do copo, havia um fino pó branco, e um pedaço do que parecia ser uma pétala branca.

"Uau, nunca uma evidência esteve tão óbvia assim." comentou Brad "Olha só, irmãzinha. Uma pétala que parece ser da Puella. E esse pó... Com certeza veio desta pétala."

"Mas porque alguém faria isso? O que tem demais em uma pétala?"

"Se for o que eu estou pensando... Mas droga, teríamos que voltar para a cidade para consultar uma enciclopédia botânica ou algo assim."

"Você... Quer dizer que..."

"Isso, maninha. Puella pode ser venenosa."

**********************************************************************

De volta à casa, os irmãos estavam debatendo se voltariam para a cidade ou não. Eles haviam saído bem cedo de casa, mas se fossem voltar para a cidade para depois voltar para esta casa, já seria noite com certeza.

Eles poderiam ir agora para provar suas teorias, ou poderiam continuar na casa, para tentar conseguir mais informações.

Eles decidiram seguir a segunda opção.

Os residentes continuavam distraídos com seus afazeres e comidas, então Brad e Len subiram sorrateiramente as escadas, e adentraram o quarto do falecido Caio. Porém Brad, antes de subir, havia dado uma breve olhada na cozinha, para Puella e suas pétalas. Elas eram da exata cor da pétala que eles haviam achado na cabana. Brad também havia tido uma pequena suspeita, mas decidira falar sobre isso no quarto de Caio.

Dentro do quarto, Brad fechou a porta. Len havia sentado na cama sem pensar duas vezes, e apesar do irmão pensar em repreendê-la, ele havia coisas demais em sua cabeça, e decidiu falar para sua irmã o que ele estava teorizando em sua mente:

"Len. Eu acho que sei como Puella fez Caio ingerir o pó de suas pétalas."

"Como?" Len perguntou.

"Ela cozinha, não é?"


"Ai não."

Os irmãos ficaram inquietos, pois não sabiam se eles haviam ingerido a comida na qual Puella havia posto o pó de suas pétalas. Eles nem sabiam se a flor era tóxica no geral, o que só os deixou mais preocupados.

"Bem, não adianta ficarmos tão encucados assim." decidiu Len "Vamos dar uma olhada nesse quarto."

Era um quarto grande, mas simples. Uma cama ficava perto da janela, enquanto um guarda-roupa tomava uma das paredes. A outra parede era tomada por uma estante lotada de livros, e a única parede vazia tinha uma pequena escrivaninha, com uma pena e um livro aberto. Uma pequena flor que era da mesma espécie de Puella estava num copo de água em cima da escrivaninha.

"Olha só, o diário do cara. Que tal dar uma olhada?" sugeriu Len.

"É para o bem do caso... Então vamos lá."

O diário estava na última página escrita. "Caio deve ter morrido à noite, depois de ter escrito no diário", Brad pensou.

O que chamou a atenção do garoto foi o fato de que os capítulos pareciam ter títulos, como se fossem um livro. Talvez Caio estivesse pensando em publicar seu próprio diário?

Brad pegara o diário e começara a passar as páginas, parando nas páginas onde haviam títulos, para ver se tinha algo interessante em algum deles. Um chamado "Está terminado." chamou sua atenção. Ele era até que recente, apenas umas vinte folhas anteriores ao último capítulo escrito. Nele, Caio descreveu como o fato de Accerola não se dar bem com Puella o fez se separar da flor. Aquele foi o único capítulo com um título chamativo, então o garoto foi direto para o último capítulo escrito.

Ele começara a ler o capítulo final, e eram coisas insignificantes, como o dia de Caio (que não teve nada de interessante) e quais livros ele pensava em comprar no futuro. O capítulo acabou quando a noite havia chego, onde Caio comera um pedaço do pudim de Puella e havia se deitado.

"Mas que droga, não tem nada..." reclamou Brad, enquanto folheava o diário e suas centenas de folhas "Provavelmente passaremos o resto do dia lendo esse negócio para ver se tem alguma informação útil e-"

Ao mexer no livro, uma folha caiu no chão. Brad a pegou, e se impressionou com o que havia nela.
Era um desenho totalmente detalhado de uma flor que com certeza era Puella, ou pelo menos, uma flor de sua espécie. Das várias informações contidas na folha, uma chamou a atenção de Brad:

"... As flores e sementes da Cerbera odollam são altamente tóxicas. Ela começa a fazer efeito em uma hora, e o processo todo dura cerca de três horas. A vítima sente uma leve dor de estômago, depois entra em coma... E seu coração para de bater. Seus sintomas podem ser nomeados como sendo de uma "Morte gentil". "

"Deus do céu." disse Len "Então..."


"Puella realmente é tóxica. E o componente químico que causa o envenenamento fica indetectável. É o crime perfeito."

"Mas... Como ela fez o Caio ingerir esse negócio?" perguntou Len.

Brad estava pronto para responder essa pergunta, quando sua mente começou a voar ao olhar para a Cerbera odollam que estava dentro do copo d'água na mesa de Caio. Algo nela parecia familiar... Fora o fato de que Puella era uma.

Algo naquela escrivaninha inteira parecia familiar...

"AI!"

Uma dor de cabeça intensa atingiu Brad, e, quando ele se deu por si, estava dentro de uma casa totalmente diferente. Uma casa... Moderna.

"É este o livro."

Uma mulher de mais ou menos trinta anos, cabelos loiros, uma simples camiseta vermelha e calças azuis estava de pé, logo atrás de Brad. Ao seu lado, uma garota de longos cabelos brancos, uma jaqueta preta e calças azuis rasgada flutuava. Ela era semi-transparente, o que deixou Brad confuso.

"Que livro?" perguntou Brad.

"Como assim, panaca?" perguntou a garota flutuante "Essa mulher disse pra gente que tinha um livro fazendo barulhos na casa dela. O livro do namorado falecido dela ou sei lá. Não achei que você estivesse tão desligado assim."

Brad estava realmente confuso. O quarto era parecido, mas tudo... parecia diferente, um pouco mais novo. Havia um bulbo no teto iluminando o quarto, e o garoto nunca havia visto aquilo na vida. Suas roupas eram totalmente diferentes das quais ele estava vestindo há alguns minutos atrás. Uma jaqueta enorme, de um material desconhecido para ele. A calça era azul, como a das mulheres presentes.

Ao olhar para a escrivaninha de Caio, Brad novamente viu a Cerbera odollam em um copo d'água, e o diário de Caio aberto na mesa. Ao se aproximar dele, algo estranho aconteceu. O garoto se sentiu sendo sugado para dentro das folhas, como se olhar para elas fosse levá-lo para um mundo completamente diferente.

Mas, mesmo assim, ele decidiu tocar as páginas.

E, num flash, Brad estava de volta ao antigo quarto de Caio, olhando para Len, sentada na cama. Ela parecia muito com a garota flutuante, porém mais jovem.

"O que houve, panaca?" perguntou Len, que ficou confusa com o que havia acabado de falar. "O que é... panaca?"

E, num momento de clareza, as memórias de Rick e Morgana voltaram.

"O-onde estamos, Rick?" perguntou Morgana, assustada, ainda com a aparência de Len.

"Acho que... Estamos no livro do tal do Caio, o autor." respondeu Rick.

"Mas... Então aqui é a história dele? Somos os personagens da história que ele escreveu?!"

"É, acho que é isso. Nossas memórias provavelmente foram substituídas pelas memórias dos personagens, por isso achávamos que éramos eles..."

"Eu não sabia que isso era possível..."

"Bem, Hemeros fez algo parecido lá na biblioteca, nos jogando para dentro de livros. Deve ser o mesmo princípio, mas numa escala menor."

"Caio? Então é ele que está ligado à esse lugar? Então..."

"Só precisamos achá-lo."

"Mas como fazemos isso?"

"Eu acho que só acharemos o Caio se resolvermos esse mistério..."

"Mas que misté- Ah, o mistério de quem matou o Caio dessa história?"

"Isso aí, Morgana. Mas... Eu estava para responder a uma pergunta sua, não?"

"Ahn? ...Espera... AH! Como a Puella fez o Caio ingerir o pó tóxico?"

"... Eu... Eu sei dessa... Tava na ponta da língua... O que era mesmo?"

Rick estava pensando como se sua vida dependesse disso, o que realmente dependia. Mas seus pensamentos foram interrompidos por um grito vindo da sala de jantar:

"A SOBREMESA ESTÁ SERVIDA!" gritou Thierry.

"Sobremesa..." sussurrou Rick.

"O pudim...?" sussurrou Morgana.

"O pudim... Que Caio comeu... Que estava faltando um pedaço... Que foi feito ontem..."

"O pudim tá envenenado." concluiu Morgana.


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