Rick E Os Fantasmas escrita por MSMoura


Capítulo 7
Caso 5 - Uma Modesta Festa na Casa Perdida na Floresta, Parte Final




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/742489/chapter/7

"TEMOS QUE CORRER!" gritou Rick, e assim o fizeram.

O garoto jogou o diário o mais rápido possível na direção aproximada de onde a cama estava, e a dupla correu em direção ao corredor. Havia um pequeno muro que servia de parapeito para o corredor, e Rick sabia que se quisesse impedir aquelas pessoas esfomeadas de devorarem o pudim, ele teria de fazer algo drástico.

E assim o fez.

"AAAAAAAH!"

Rick pulara do parapeito em direção ao candelabro. A distância era pequena, porém o impulso que Rick tomara tinha sido enorme, fazendo com que, ao se agarrar no cabo que suportava o candelabro, todo o objeto caísse junto com ele, bem em cima da mesa de jantar.

*CRASH!*

Rick, todo dolorido da queda, fez o possível para se levantar rapidamente e alertar à todos, enquanto Morgana descia correndo as escadas:

"NÃO COMAM O PUDIM!" gritou ele.

Puella, Miles, Meva e Thierry estavam de pé, perto da mesa, prontos para pegar um pedaço do pudim que agora estava esmagado por baixo de trezentos quilos de metal e velas e setenta quilos de garoto.

"Mas... Mas..." gaguejou Puella "Por que você fez isso, detetive? O meu pobre pudim..."

Rick tentou sair do meio de tanto metal e cera quente, caindo para fora do objeto no processo. Ao se levantar, limpou suas roupas antigas e arrumou-se. Depois, apontou confiantemente para Puella, e gritou:

"CULPADA!"

"Senhor Brad, o senhor poderia falar ao invés de gritar?" pediu Thierry "Meus pobres ouvidos sessenta por cento algodão não estão aguentando mais."

"Ah, me desculpa." respondeu Rick "Mas, bem, o que eu disse ainda tá de pé. Ela é a culpada! Ela matou o senhor Caio!"

Todos no recinto deram um coletivo "OH!".

"M-mas por que eu mataria o meu amado Caio?" perguntou Puella.

"Bem... Não sabemos o porquê ainda. Você me diz. Só sabemos que ele morreu por envenenamento, causado por suas pétalas, que foram adicionadas à ESTE PUDIM!" explicou Rick, apontando para os restos esmagados da sobremesa, prensada embaixo do candelabro.

"OH!" gritou Puella, enquanto caía para trás, sendo segurada por Thierry "Eu matei meu amado... Ele morreu por minha culpa!"

Rick estava orgulhoso por ter desvendado o mistério. Mas só agora ele percebeu o quanto os personagens daquela história eram esquisitos. Um beija-flor gigante, um homem gigante, um mordomo feito de roupas e uma flor falante. O Caio era meio esquisito.

Rick estava feliz da vida, mas Thierry estava furioso:

"Como o senhor pôde dizer uma coisa dessas? ELA é a culpada?!"

"As evidências apontam para ela, ué. O que eu posso fazer?" respondeu Rick.

"Eu sei que ela não colocou uma de suas pétalas na receita! Eu a ajudei a fazer!" argumentou Thierry.

"Isso não diz nada, ô do tecido" disse Morgana "Você pode muito bem estar tentando encobri-la, não é?"

"Mas se eu estivesse tentando fazer tal coisa, por que eu teria ido lá chamá-los?!"

"Ahn... S-sei lá, me diz você!" respondeu Morgana.

"PAREM!" gritou Miles, enquanto pisava fortemente no frágil chão de madeira da casa, quase quebrando-o, dando a volta pela mesa para chegar até onde Rick estava "O senhor Thierry não mentiria. Ele é o mais antigo da casa, era facilmente a pessoa mais leal à Caio neste recinto. Ele não protegeria o assassino de seu mestre, nem pensar."

"Então... Estamos de volta à estaca zero?" perguntou Meva, que havia se empoleirado novamente na poltrona.

"Não, não estamos." respondeu Rick "Sabemos que foi uma das pétalas de Puella que acabou com Caio... Se vocês realmente acham que não foi ela... Então algum de vocês colocou o pó na receita sem ser visto. Como fizeram isso, eu não sei. Mas esse alguém tinha uma pétala. Puella, você já deu uma de suas pétalas à alguém desta casa?"

Puella estava com uma expressão de quem estava prestes à desmaiar (o que era difícil de se notar, já que ela era uma flor), mas conseguiu levantar-se gentilmente para falar:

"E-eu... Já dei pelo menos uma pétala para cada pessoa nesta casa..."

"AGORA sim estamos de volta à estaca zero!" gritou Meva, da poltrona.

"Cale-se, Meva!" ordenou Miles.

O grupo ficou em silêncio por alguns segundos. Rick estava cada vez menos ligado com as memórias do incrível detetive Brad, o que o fez voltar a ser o Ricardo comum de sempre, que NÃO era um detetive. Ele já estava ficando sem ideias, quando Morgana resolveu falar:

"Hum... Thierry, alguém foi à cozinha quando você e a Puella estavam fazendo o pudim?"

Novamente, os residentes soltaram um coletivo "OH!".

"N-na verdade... Todos passaram pela cozinha pelo menos uma vez."

"E DE VOLTA À ESTACA ZERO!" gritou Meva. Miles jogou um pão na cara do beija-flor, que o acertou em cheio, fazendo ele ir direto ao chão.

Rick sabia que alguém tinha matado Caio. Mas quem poderia ter sido?

Então, Rick começou a tentar colocar as peças no lugar: Alguém havia envenenado Caio, usando uma das pétalas de Puella. O pudim foi primeiro servido para Caio, que morreu rapidamente. Porém, essa pessoa não deu um fim no pudim, a evidência mais incriminadora possível...

Por quê? Por que ela não deu um fim no pudim? Será que... Essa pessoa queria que ele fosse servido à todos?

Mas quem, dentre as pessoas que estão nessa sala de jantar, que estavam prontas para devorar o pudim, faria tal coisa? Miles, Meva, Puella, Thierry, até Pierre, que continuava no seu canto. Todos eles pareciam interessados no pudim... Exceto Pierre, que não havia saído do canto. "Mas ele provavelmente não gosta de pudim, é um cachorro...".

Foi então que Rick percebeu algo estranho:

"Gente... Cadê a Accerola?"

**********************************************************************

"Como ela pôde fazer tal coisa?!"
"Eu não acredito. A pequena Accerola?!"

"É ridículo! Por que ela faria isso?!"

"Au!"

Isso foram apenas alguns dos inúmeros comentários que os residentes soltaram na confusão que se deu com todos percebendo que Accerola era a culpada. Mas um comentário que não foi dito, mas que passou pela cabeça de Rick foi: "Como a gente vai conseguir pegá-la?"

"AU!"

As pessoas continuavam falando cada vez mais alto, enquanto Rick organizava seus pensamentos e Morgana tentava calar todo mundo, o que não estava funcionando.

"AU AU AU AU AU AU AU AU!"

Finalmente, todos se calaram. Alguém estava latindo.

"P-Pierre?!" exclamou Thierry "Você saiu de seu canto?!"

"Au." respondeu Pierre, confiante de que todos entenderiam o seu latido de confirmação.

"Mas... Por quê?" perguntou Miles.

"Au au. Au."

"O que ele disse? Eu não falo cachorrês." comentou Morgana.

"Ele disse que quer ajudar a achar Accerola." respondeu Thierry "Ele conseguirá farejá-la."

"É ISSO!" comemorou Rick "Vamos lá, Pierre!"

"Au. Au au." disse Pierre, levantando uma de suas patas, num sinal de "pare".

"... O que houve?" perguntou Rick.

"Ele disse que por conta da comida, ele não está reconhecendo o cheiro da Accerola" respondeu Miles "Ele precisa de algo que ela vestiu hoje, para poder distinguir o cheiro!"

"Uau, e tudo isso depois de três latidos?" perguntou Morgana.

"Cachorrês é uma língua bem versátil." respondeu Thierry.

Rick pensou e pensou. Onde eles arranjariam algo que tenha o cheiro de Accerola, e de hoje, ainda por cima?

Foi quando ele se lembrou do lugar onde ela passara o maior tempo hoje: O candelabro. Rick foi até os metais retorcidos pela queda e começou a procurar e... Bingo! Lá havia um pedaço de pano, que havia sido rasgado do vestido de Accerola mais cedo.

"UAU!" exclamou Pierre, ao ver que Rick tinha achado algo da garota.

O cãozinho preto e branco cheirou o pedaço de pano, e saiu correndo pela porta da frente, com a dupla Rick e Morgana logo atrás, sendo seguidos pelos residentes.

Pierre deu a volta pela casa, e seguiu floresta adentro, em oposta direção ao rio que corria logo à frente da residência. O enorme grupo continuou seguindo o canino através de inúmeras árvores, folhar laranjas e marrons caídas e caindo, e um vento forte e amedrontador que fazia os dentes de Rick e Morgana baterem.

Essa corrida durou pelo menos dez minutos, com Pierre sempre parando para tentar achar com precisão a rota de Accerola. Até que toda aquela distância percorrida levou o grupo até a entrada de uma enorme caverna.

Pierre deu um último latido, sinalizando que aquele era o lugar: Accerola estava lá.

O grupo parou, e todos olharam para Rick e Morgana.

"É melhor vocês ficarem aqui." pediu Morgana "Ela é uma criminosa, pode ser perigosa."

"Ela com certeza é um pouco instável." sussurrou Rick para Morgana "Você lembra da conversa sobre as uvas e... Perus sendo galinhas engraçadas? DOIDA!"

"Por favor, não machuquem ela..." pediu Puella "Ela não é uma má garota..."

"Bem, quem vai decidir isso é o juiz, madame." respondeu Rick "Se tiver juízes nesse mundo esquisito, claro."

E, com isso, a dupla entrou na caverna.

Rick esperava uma escuridão total, o que, em retrospectiva, realmente deixaria os dois em desvantagem. Não era um bom plano.

Porém, o que eles encontraram surpreendeu ambos: Pequenos cogumelos que brilhavam num suave tom de azul estavam crescendo por toda a caverna, iluminando levemente o ambiente. Com essa luz, a dupla se sentia segura, mesmo estando indo em direção a uma garota que pode não ter alguns parafusos bem apertados.

Mas os dois não estavam muito certos em se sentirem seguros.

"IÁÁÁÁÁ!" gritou Accerola, pulando em Morgana.

Por sorte, Morgana conseguiu se desviar do ataque. Accerola tinha pousado logo atrás de Rick, que não teve a mesma sorte. A garota de longos cabelos loiros pulou em cima dele, derrubando-o.

Mas Morgana estava alerta; Ao ver Accerola em cima de Rick, ela imediatamente deu uma investida na garota, jogando-a no chão, longe de seu amigo.

Accerola se sentou, recostando-se nas paredes da caverna, e começou a rir. Rick e Morgana se levantaram, e deram alguns passos de distância da garota.

"Quem são vocês?" perguntou ela.

"Hum... Aqui, somos Brad e Len. Dois detetives mirins." respondeu Morgana.

"Tá... Certo. Mas quem vocês são realmente?"

"Somos caçadores de fantasmas." respondeu Rick "Eu sou Rick, ela é Morgana, um espírito."

Accerola assobiou, e riu mais um pouco.

"Vocês fizeram bem em resolver o meu último caso." disse ela.

"Na verdade, só o resolvemos porque você fugiu." admitiu Morgana "Estávamos prontos para culpar Puella."

"Ah. Então... Vocês conseguiram impedi-los de comer o pudim envenenado?" perguntou Accerola, decepcionada.

"Você realmente queria que todo mundo fosse envenenado?" perguntou Rick, furioso "Que tipo de monstro você é, garota?!"

Accerola, que estava rindo, subitamente ficou calada. Levantando-se do chão frio da caverna, a garota olhou para os olhos de Rick por alguns segundos.

E então, em menos de um segundo, o corpo de Accerola começou a virar pó e a se desmontar, revelando um corpo brilhoso que era exatamente igual ao de...

"CAIO?! O AUTOR QUE MORREU?!" exclamou Morgana.

"Mas... Você morreu! Seu corpo ainda está no chão da sala de jantar!" disse Rick.

Rindo novamente, mas dessa vez, com uma voz incrivelmente mais grave do que a anterior, Caio respondeu:

"Meu "eu" dentro dessa história morreu sim. Mas o meu "eu" verdadeiro, minha alma que se prendeu a este livro... Ela continua aqui, viva. Bem, o máximo de vivo que um fantasma pode ser, claro."

"Mas... Uau, minha cabeça está rodando." disse Morgana.

"A minha ainda mais." disse Rick "Mas por que você estava querendo matar seus próprios personagens?"

Caio fingiu ignorar a pergunta, e começou a falar enquanto andava, olhando para as paredes:

"Eu gostaria que este mistério tivesse um desfeche um pouco mais intricado, com muito mais reviravoltas... Mas acabei ficando um pouco animado demais, sabendo que meu último mistério não continuaria sem um fim, e acabei estragando tudo, fugindo da casa. Mas devo parabenizá-los, vocês cumpriram bem os seus papéis, colhendo todas as pistas e sabendo que perguntas fazer e onde investigar, tal como eu desejava que vocês fizessem."

"Obrigado, eu acho." agradeceu Rick.

"Você me perguntou... " disse Caio, virando para encarar Rick "Porque eu estava tentando matar meus personagens, certo?"

"Isso."

"Você pode não saber, senhor Rick... Mas esse é o quarto livro de minha principal série, Os Detetives Mirins. Eu... Meu verdadeiro eu, lá no mundo real, teve um ataque cardíaco enquanto escrevia o último capítulo. Eu não podia deixar ele sem resolução, deixar minha obra máxima sem um desfecho. Por isso, meu espírito acabou ficando preso neste lugar..."

"É, isso é bem interessante e coisa e tal, mas não responde nossa pergunta." reclamou Morgana.

"Tudo em seu tempo, criança."

"Eu não sou criança, tiozinho." respondeu Morgana.

"Tanto faz. Mas o motivo de eu ter tentando acabar com meus personagens é simples: Seria o final perfeito."

"Final perfeito?!" indagou Rick "Todos morrem e fim?!"

"Vocês podem não conhecê-la, mas eu realmente tenho uma filha chamada Accerola... Ela é uma garota incrível, e sonha em ser uma escritora como eu. Mas ela sempre me dizia que gostaria de continuar a minha série, Os Detetives Mirins. Eu não poderia deixar isso acontecer... Senão, ela viveria para sempre na sombra de seu falecido pai, sendo comparada comigo para sempre... Por isso, decidi não deixar nenhum espaço para uma continuação em meu último mistério. Ela vai ter que seguir seu próprio caminho."

"E é por isso que você nos envolveu nisso tudo?" perguntou Morgana.

"Sim, e me desculpem por isso. Ninguém da minha família conseguiu entrar no meu livro... Por algum motivo, vocês conseguiram. Eu sei que é meio antiquado escrever diretamente num livro, mas é meu estilo. Tudo que está acontecendo agora está sendo transformado em palavras reais nas páginas em branco de meu livro..."

"Agora que seu livro está completo... O que você vai fazer?" perguntou Rick.

"Eu... Não sei se minha esposa Puella e minha filha Accerola lerão este livro... Talvez elas nem queiram mais vê-lo, depois de tudo que eu fiz com ele. Joguei ele pelas paredes, fiz as folhas se mexerem sozinhas... Mas por algum motivo, eu não conseguia escrever nele daqui de dentro. Por isso eu precisava de alguém aqui dentro... Eu precisava passar uma mensagem para elas diretamente. Achei que se elas tocassem no livro, elas poderiam ser mandadas para cá como eu, mas não foi o caso. Mas agora, com vocês aqui... Eu posso finalmente dizer para elas as minhas últimas palavras."

"Sim, pode. As entregaremos assim que voltarmos ao mundo real." assegurou Morgana.

"Diga a Puella... Para continuar tratando Accerola do jeito que ela sempre a tratou. Eu conheço ela, aquela mulher provavelmente está protegendo Accerola como se ela o mundo estivesse tentando mandá-la para o outro mundo comigo. E... Para minha filha... Apenas diga a ela como essa história terminou. Meus personagens podem ter ficado vivos, mas minha vontade continua a mesma. Não deixe ela continuar a minha série... Convença-a a seguir seu próprio caminho, criar suas próprias ideias. Ela é uma garota incrivelmente criativa, eu sei que ela vai ser uma grande escritora. E diga para ambas... Que eu as amo. Que sempre as amarei. E que eu estou bem... Estar morto não é tão ruim assim. Poder flutuar é bem divertido."

"Hehe. Considere sua mensagem entregue, senhor Caio." respondeu Rick.

"Obrigado, vocês dois... Muito obrigado mesmo." agradeceu Caio, que, ao terminar sua frase, começou a brilhar intensamente. Seu corpo lentamente começou a virar pó, e, em alguns segundos, Caio havia sumido completamente.

Algumas lágrimas desceram pelo rosto de Morgana.

"Então... Resolver os problemas que te prenderam neste mundo realmente é uma das maneiras de mandar um fantasma pro outro mundo, não é?" ela observa.

Rick se sentiu mal. Ele havia dito que acharia um jeito não só de libertá-la do anel, mas também de reaver suas memórias e mandá-la para o outro mundo. E ele não tinha feito muito progresso em nenhuma dessas áreas.

"É, aparentemente..." respondeu Rick.

"Queria saber o que me prende na Terra..."

Rick ficou ainda mais chateado, e Morgana finalmente percebeu este fato:

"N-não que ajudar pessoas com você não esteja sendo divertido, Rick! Eu não sei se eu quero ir pro outro mundo ainda, mas... Eu gostaria de pelo menos ter minhas memórias de volta, sabe..."

Após essa breve conversa, Rick e Morgana decidiram voltar para a entrada da caverna. Porém, o que os esperava não eram os personagens da história, mas uma luz branca ofuscante. A dupla continuou andando em direção a ela, e, quando a luz cessou, ambos abriram os olhos, e já não estavam mais no mundo de Caio, mas de volta ao quarto do autor, de pé em frente ao seu livro.

Puella, uma mulher em seus trinta e poucos, cabelos loiros amarrados num rabo de cavalo, estava lá para recebê-los.

"Mas o que houve?! Você tocou o livro e simplesmente desmaiou!" gritou Puella, preocupada.

A mulher parecia não poder ver Morgana, que flutuava gentilmente ao lado de Rick. Ela provavelmente conseguiu se tornar invisível a tempo, o que deixou Rick mais tranquilo. É sempre difícil explicar que Morgana não é uma fantasma perigosa, que é sua parceira e coisa e tal, mesmo as pessoas que estão contratando o garoto sabem que fantasmas existem.

"Ahn... Quanto tempo eu fiquei desmaiado?" perguntou Rick, que percebera que ele havia desmaiado em cima de sua mochila.

"Mais ou menos um minuto." respondeu Puella.

Rick riu. Ele havia passado quase um dia naquela história. Pelo menos, tecnicamente, aquela havia sido sua missão mais rápida de todas.

Ele olhou para o livro que Caio havia escrito, e o tocou novamente. Mas, dessa vez, ele continuava no mundo real. Ao abrir na última página escrita, Rick pôde ler que o final da história realmente foi escrito, em detalhes e à tinta, no livro. Até a letra de mão que Caio usara em outros capítulos parecia ser igual, depois que Rick folheou o livro.

"Senhora Puella... Temos que conversar."

Puella levou Rick para o sofá da sala, e o garoto contou tudo que havia acontecido na história, inclusive a mensagem que Caio tinha para ela e Accerola. Morgana se certificava de lembrá-lo de certas partes que ele havia esquecido.

A mulher, após ouvir a história, agradece Rick e lhe dá vinte reais pelos serviços.

Os olhos do garoto, como sempre, se enchem de lágrimas.

O sofá da sala ficava há menos de três metros da porta da frente, o que fez Rick e Morgana seguirem diretamente à ela, prontos para ir embora. Rick girou a maçaneta, e abriu a porta completamente, porém, ao invés de sair, ele não se mexia.

"O que... O que aconteceu, Ricardo?" perguntou Puella.

"Oi, Puella."

A voz fina que respondeu, do outro lado da porta, pertencia à uma garota de mais ou menos quatorze anos, longos cabelos loiros que se estendiam até os ombros. Seu rosto continha sardas no nariz, e seus olhos pareciam ser incrivelmente observadores, apesar de eles não pararem quietos. Vestia uma simples camiseta estampada com diversas laranjas, e uma saia jeans que ia até os joelhos, com um leggings pretas por baixo e tênis simples. Ela parecia com Rick, no sentido de que suas roupas pareciam tão surradas quanto as dele.

"Ela é exatamente igual à Accerola do livro" pensou Rick.

"E oi... Garoto desconhecido." continuou Accerola "O que você faz na minha casa?"

"Sua mãe me chamou aqui... Problemas com fantasmas, coisa rápida." respondeu Rick, descendo as escadas e indo em direção a rua.

"Que desculpa esfarrapada, cara." disse Accerola, rindo.

"Desculpa?" perguntou Rick.

Accerola olhou diretamente para os olhos de Rick, tentando encontrar algum resquício de sarcasmo ou de mentira. Não encontrou nada.

"Huh. Bem... Até mais então, garoto desconhecido." disse ela.

"Até mais, Accerola." respondeu Rick.

A garota olhou confusa para ele, pensando em como ele descobrira seu nome, enquanto Rick continuou andando, despreocupado e feliz por ter finalmente ter completado mais um caso que lhe rendeu um pagamento.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!