Rick E Os Fantasmas escrita por MSMoura


Capítulo 5
Caso 05 - Uma Modesta Festa na Casa Perdida na Floresta - Parte 01


Notas iniciais do capítulo

Não, você não acabou clicando em uma história diferente por engano. Pense nesses próximos capítulos como uma "história dentro de outra história"... Vai fazer sentido mais para frente, não se preocupem haha



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"Você tem certeza que este é o caminho certo?" perguntou Len, uma jovem e baixa garota, de meros dez anos de idade, para seu irmão Brad. Ela vestia um cachecol vermelho por cima de uma longa vestimenta marrom que lhe caía até os joelhos, acompanhados por uma calça preta e pequenas botas. Cores mudas, que faziam a garota não chamar muita atenção por onde quer que ela andasse. Uma bolsinha preta dependurava-se de seu pescoço.

"Claro... Bem, eu sei que estamos indo pelo caminho que nos foi indicado. Se ele em si estiver errado... Aí teremos problemas." respondeu Brad, enquanto tentava não tropeçar nos diversos galhos caídos pela trilha que eles seguiam. Brad vestia uma boina preta, e um colete marrom que era coberto quase que totalmente por um longo sobretudo acinzentado. Suas longas calças acinzentadas estavam começando a ficar marrons por conta da terra em que ele pisava, assim como seus sapatos pretos. Sua idade sempre era confundida por seus conhecidos; O garoto de quatorze anos sempre era tido como uma criança de onze, por suas feições infantis.

"Mas já estamos andando há mais de uma hora!" reclamou Len "E essa floresta parece não mudar... Eu sinto que estou andando em círculos!"

A floresta realmente parecia a mesma, não importando a direção em que você olhasse. Folhas laranjas e marrons cobriam o chão e o topo das árvores, de tal maneira que era quase impossível enxergar o céu nublado. O outono havia acertado aquela floresta com todas as forças. Os ventos faziam Brad e Len tremerem toda vez que eles passavam pelas folhas. Isso tudo já era motivo de preocupação, pois os irmãos estavam incrivelmente longe de casa a esse ponto, mas o fato de que alguns sons de animais podiam ser ouvidos aleatoriamente sempre assustavam os irmãos ainda mais.

O som de um esquilo fez Len pular, mas, ao ver que era o pequeno roedor, ela se acalmou. O mesmo não poderia ser dito do outro animal que eles haviam ouvido. Um uivo numa floresta longe de qualquer cidade realmente tem um jeito de assustar as pessoas.

Brad e Len apertaram o passo, apesar de estarem há vários minutos sem descansar, e seus pés estarem doloridos.

*THUMP!*

A pressa fez com que Brad tropeçasse em um galho caído na cama de folhas alaranjadas que permeavam o solo da floresta.

"AI! Galho infeliz..." resmungou o jovem.

O solado do rapaz tinha sido perfurado pelo galho, fazendo-o ficar ainda mais chateado. Mas tudo aquilo seria resolvido com o pagamento que ele receberia por seu próximo trabalho como detetive, então Brad tentara ficar com um pensamento positivo no meio das adversidades.

E as adversidades não parariam por aí.

Brad e Len continuavam pela floresta, ficando cada vez mais receosos das árvores que os cercavam, cujas rugas pareciam cada vez mais com rostos humanos. E, claro, não eram rostos felizes. Eram feições de medo.

Enquanto Len tremia, Brad tentava se convencer de que era apenas a sua imaginação. Ele aprendera de um senhorzinho que ele via diariamente que a mente humana tem um fascínio em formar rostos em lugares onde eles não deveriam existir.

Mas quando os ventos, passando pelos buracos e sulcos das árvores começaram a sutilmente dizer as palavras "vão embora" e "perigo", Brad não conseguiu achar uma explicação otimista para a situação.

"Eu acho melhor a gente voltar e-"

Assim que Brad começara a tentar convencer sua irmã a voltar pelo caminho que eles haviam seguido, os irmãos acabaram caindo diretamente em um barranco, rolando colina abaixo. Eles teriam se machucado seriamente, não fosse pela imensidão de folhas caídas que amorteceram levemente suas quedas.

Os irmãos rolaram e rolaram, até que a colina se nivelou, e eles pararam. Sofrendo vários arranhões, não parecia ser o dia de Brad e Len. Pelo menos suas roupas não foram danificadas, pois eram bem resistentes.

Ao levantar, Brad e Len estavam de frente à um pequeno rio que cortava a floresta com um doce som. "Qualquer som que cubra as árvores falantes e os uivos" pensou Brad.

Ao olhar além das águas, Len avistou um casarão mais a frente, no topo de um pequeno morro, onde as árvores do outono ficavam longe, dando atenção à grama, que era invisível na floresta por conta das folhas.

"Acho que chegamos, irmãzinha." concluiu Brad.

Ao pular o pequeno rio, ambas as crianças foram em direção à enorme casa. Ela era imensa, tanto horizontalmente quanto verticalmente. Dois andares e uma enorme base a residência tinha, construídos com madeira de alta qualidade, que parecia ter sido marrom durante a construção, mas que agora tinha um pálido tom acinzentado.

Brad e Len alcançaram a varanda, felizes por finalmente terem saído da floresta que parecia não ter fim. Len, animada para começar o caso, bateu à porta rapidamente, pelo menos quatro vezes.

Após o que pareceu uma eternidade, a maçaneta começou a girar, e a porta se abriu.

"Sim?" respondeu o senhor do outro lado. Ele era velho, e as rugas em seu rosto eram tão enormes que pareciam dobras de roupas...

"Você é feito de roupas." disse Len, sem pestanejar.

"Sim, sou feito de roupas, naturalmente." respondeu o velho, por uma dobra em sua cabeça que parecia ser o buraco onde uma pessoa normalmente colocaria sua própria cabeça "Eu sou o criado da casa, não preciso ser feito de carne e osso, apenas preciso ser eficiente."

A cabeça do senhor era um casaco de lá dobrado de tal maneira que formava algo que lembrava uma cabeça. Dobras que formavam buracos escuros no tecido moviam-se para cima e para baixo; Pareciam ser seus olhos. Seu corpo era inteiramente feito de roupas de todos os formatos, tamanhos e cores. Suas mãos eram luvas, seus pés eram trouxas de meias. Era um senhorzinho estranho da cabeça aos pés.

"Hum... Olá, senhor..." começou Brad.

"... Senhor Thierry."

"Senhor Thierry. Somos Brad e Len, detetives da cidade. O senhor nos contratou ontem à noite." explicou Brad.

"Ah sim, claro. Entrem, entrem."

Thierry abriu completamente a porta, e os irmãos adentraram a residência. A sala principal era gigantesca, com pelo menos seis metros de pé-direito. A fogueira trazia um agradável calor ao ambiente.

Um enorme candelabro com dezenas de velas dependurava-se acima de uma enorme mesa de jantar lotada das mais variadas comidas, desde perus assados a panelas cheias de macarrão. Pães, molhos, sucos e saladas dividiam espaço com incontáveis tipos de frutas.

E, sentados em cada uma das cadeiras, estava uma sorte de pessoas curiosas. Exceto por uma, que estava empoleirada em uma poltrona, um pouco longe da mesa.

O residente que estava em cima da poltrona era um beija-flor verde, vestindo um colete e gravata (e nada nas partes baixas). Ele era do tamanho de um adulto, com um bico que, apesar da distância, alcançava facilmente a mesa e, em especial, uma jarra de suco, da qual ele bebericava constantemente.

Sentado em uma das cadeiras, tentando inutilmente pegar um pedaço de carne com sua espada gigantesca, estava um soldado que parecia ter saído diretamente do exército romano para a mesa. Armaduras prateadas por cima de roupas vermelhas, e um tamanho que quase o fazia ter que se abaixar para não acertar o candelabro (mais ou menos três metros), o homem tinha uma expressão deveras raivosa em seu rosto. Talvez pelo fato de que ele tentava usar sua espada como um garfo para espetar o peru, que escorregava pela lâmina toda vez que ele a levantava.

Na cadeira da ponta direita, estava sentada uma bela flor. Ela não estava necessariamente sentada em uma cadeira, mas em um enorme vaso, onde também estava plantada. Era uma linda flor branca, com cinco pétalas, e um centro amarelo. Suas pétalas pareciam se mover enquanto ela falava, fazendo Brad imaginar se elas eram a sua boca.

Sentado no canto da sala, olhando para a parede, estava um pequeno garoto, que estava vestindo uma camiseta branca, e calças pretas com suspensórios. Um pequeno gorro preto cobria sua cabeça, mas Brad ficou curioso ao ver que ele também parecia ser preto, ou pelo menos, acinzentado. Sua pele também parecia estranhamente peluda. Assim que o garoto virou seu rosto para ver quem havia chego, Brad percebeu que não se tratava de um humano, mas um cão, que parecia estranhamente triste.

O último residente na sala estava sentada no braço do sofá que se encontrava atrás da mesa, logo abaixo da escada que levava ao segundo andar do casarão. A garota não parecia ter mais de quinze anos, e estava vestindo um longo vestido branco. Seus cabelos loiros flutuavam pelo ar, como se um leve vento soprasse por debaixo dela. Ela tinha um sorriso que ia de orelha a orelha. Ela parecia estar estranhamente contente, visto a situação em que a residência se encontrava.

Que situação, você pergunta? Bem, um morto se encontrava deitado gentilmente no tapete da sala. Len pulou quando finalmente percebeu o cadáver.

"Bem... Esse é o senhor Caio." apontou Thierry "Na noite de ontem, ele simplesmente deitou-se no chão... E parou de respirar."

"Huh. Curioso." observou Brad "Ah, desculpe-me. Meus pêsames."

"Tudo bem." disse Thierry "O senhor já deve ter visto várias ocorrências como esta em seus anos como detetive, não? Acostumou-se."

"É, algo assim." respondeu Brad.

"Já vimos muita coisa." adicionou Len "Mas nunca alguém dizendo que um ataque cardíaco é o mesmo que um assassinato."

Thierry pareceu ficar bravo. Ou, pelo menos, era o que Brad achava, visto que era um pouco difícil ler as emoções de uma trouxa de roupas.

"Minha senhorita. Permita-me dizer uma coisa. O senhor Caio era um cavalheiro de incrível saúde. Culpar sua morte em um ataque cardíaco é ridículo. Ele havia reclamado de uma dor de estômago antes de... Partir. Tenho certeza que algum fator externo tenha causado sua morte."

"Foi por isso que eu peguei esse caso, irmã." explicou Brad "Eu sinto que tem algo a mais por aqui."

"Certo... Se você diz, irmão. E o povo sentado à mesa, não vão se apresentar?"

"OH! Que falta de educação a nossa!" exclamou a flor "Por favor, Thierry, me dê um gole d'água para eu poder apresentar nossos residentes. Em troca, lhe darei uma de minhas adoráveis pétalas!"

"Não será necessário, senhora Puella." respondeu Thierry, indo rapidamente para a cozinha e trazendo um jarro de água, que ele despejou no vaso de Puella, a flor.

"Cof cof..." tossiu Puella, colocando uma das folhas de seu caule no centro de sua flor "Ah, estou bem melhor. Bem, como devem ter ouvido, meu nome é Puella. Puella Sauda Cerbera."

"Que nome diferente." observou Len.

"Você...Você não gostou de meu nome? Se eu lhe desse uma pétala, você poderia elogiá-lo?" barganhou Puella, enquanto colocava uma de suas folhas em sua terceira pétala, pronta para arrancá-la.

"Senhora Puella." interrompeu Brad "O que achamos de seu nome não é importante para este caso. Por favor, continue apresentando os residentes."

"Oh, sim!" exclamou Puella "Que tremendo erro meu. Eu não estou em meu normal desde que Caio partiu... Nenhum de nós está."

"Imagino." disse Len.

"Bem... Eu já me apresentei, e Thierry também. O próximo... Olhe, que tal Meva Negati, o beija-flor?"

"Meu nome não é esse." respondeu Meva, enquanto bebericava outro jarro de suco.

"Mas é claro que seu nome é esse, pare com essa brincadeira!" reclamou Thierry.

"Que brincadeira?" respondeu Meva.

"Esqueçam ele. O... homem de armadura que está à mesa se chama Miles Irah." explicou Puella.

O soldado, que ainda tentava pegar o peru usando sua espada como garfo, finalmente se cansou de continuar tentando, e enfiou sua espada no chão da sala, levantando, raivoso, e indo para a varanda do lado de fora.

"Ele... Está um pouco abalado. Caio era um ótimo amigo seu." explicou Puella "Hum... O cãozinho que está ali no canto... Se chama Pierre Tristitia. Ele também está inconsolável. Tentei dar-lhe uma de minhas pétalas, mas ele insiste em não sair daquele canto."

"Se todos estão abalados... Por que ela está tão feliz?" perguntou Len, apontando para a garota loira.

"Ah. A... Accerola costuma ser uma garota incrivelmente otimista. Acho que isso a ajudou a aceitar a morte de Caio com tanta rapidez. Mas garanto que ela havia se abalado muito ontem." explicou Puella.

Brad começou a olhar para o grupo de pessoas que, segundo suas suspeitas, poderiam estar envolvidas com o assassinato, se é que aquilo era realmente um homicídio.

"Então... Fomos chamados aqui para descobrir quem matou o senhor Caio, certo?" perguntou Brad, em voz alta.

"Não, nem pensar. Te chamamos pro jantar." respondeu Meva.

"NÃO É ÓBVIO?!" gritou Miles, do lado de fora.

"S-sim! Eu lhe dou uma pétala de adiantamento, só descubra o que aconteceu com o pobre Caio!" suplicou Puella.

Pierre, o cão, apenas suspirou profundamente. Já Accerola começou a rir loucamente com a resposta de Miles.

Thierry, que havia ido à cozinha novamente, voltou com um pequeno prato de azeitonas, e as colocou na mesa. Depois, puxando todo o ar que podia em seu casaco/torso, gritou:

"A JANTA ESTÁ SERVIDA!"

Para Brad, a janta já havia sido servida desde antes de ele e sua irmã terem chegado, visto a quantidade de comida que se encontrava na mesa, junto com o fato de que Meva bebericava os sucos e Miles tentava comer o peru. Outra coisa curiosa era o fato de que não era nem a hora do almoço, quanto mais da janta. Não poderia ter passado das dez horas da manhã, pois Brad e Len saíram extremamente cedo de casa.

Porém, quando Thierry gritara, todos os residentes correram feito loucos à mesa (exceto Puella, que já estava lá), pegando pratos e colocando as mais diversas comidas neles, e, tão rápido quanto chegaram, saíram, todos em direções diferentes. Meva tinha voltado à poltrona; Miles tinha voltado à varanda; Puella tinha continuado no mesmo lugar, por estar presa à seu vaso; Pierre não havia levantado de seu lugar, porém Thierry levou um pão para o cão; E Accerola, de algum jeito, conseguira levar um prato de frutas para o candelabro, e estava comendo-as enquanto se balançava por entre as velas.

"Sirvam-se, senhor Brad e senhorita Len." convidou Thierry "O jantar foi feito com muito carinho pela cozinheira da casa, a senhora Puella."

"Huh. Não sabia que você cozinhava... Sendo uma flor e tal" comentou Len.

"Ah sim, cozinho! Thierry me ajuda, movimentando-me pela cozinha com um carrinho de mão. Ele é um doce de mordomo."

Enquanto Puella falava, Thierry havia ido novamente à cozinha, e, dessa vez, trouxe de lá uma bandeja contendo um pudim, que parecia ter perdido pelo menos dois pedaços. Puella pegou a bandeja de suas luvas, e a mostrou para Brad e Len:

"V-vocês gostariam de um pedaço de pudim? Eu o fiz ontem, para esta janta incrível! Se isso for ajudar no caso, podem levar ele todo!"

"Não, obrigado. Só comemos a sobremesa depois da janta, se não se importa." explicou Brad.

"C-claro! Q-que tolice a minha!"

Brad e Len se serviram de algumas frutas, alguns pedaços do peru e um pedaço de pão. Com a comida nos pratos, os irmãos foram para perto do cadáver, para examiná-lo de perto.

"Nós devíamos ter comido antes de vir olhar o morto." comentou Len.

"É, verdade. Mas ao que parece, não precisamos chegar perto. Nenhuma marca nele, pelo que eu estou vendo. E o senhor Thierry disse que ninguém mexeu nele... Ele apenas se deitou aqui e morreu. É muito curioso... Você tem alguma ideia do que pode ter sido?"

"Estrangulamento teria deixado marcas no pescoço, então... Será que foi algum tipo de envenenamento?" respondeu Len.

"Hum... É uma boa teoria. Apesar de que eu não conheço nenhum veneno que mate alguém tão gentilmente assim... Teremos que dar uma olhada por aí. Entrevistar algumas pessoas."

"Vamos lá, maninho."


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