Perdida em STILândia. escrita por micca


Capítulo 2
Foda-se qual lado você vai escolher. (1)




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Provavelmente o meu segundo dia aqui nessa fazenda/casa seria mais animado, quero dizer, quando eu cheguei de viagem passei mais tempo dormindo do que acordada. Sim, meu avô veio checar duas vezes se eu estava viva e teve que me obrigar a comer algo.

Agora com os olhos perdidos no relógio, consto que já está de tarde e suspiro ao revirar os olhos e focar no quarto pequeno, onde tinha apenas minha cama encostada na parede e um pequeno guarda-roupa.

Eu iria ficar com um quarto maior, mas como os meus avôs resolveram ficar aqui, eu fiquei com o de visita, mas não liguei muito para isso, até porque era apenas um lugar para dormir.

Faço um caminho solitário até o banheiro e tomo um banho demorado e logo visto uma calça colorida de tecido fino e uma regata preta, a única coisa que puxei a minha mãe pelo que percebi naquele pequeno dia era gostar de roupas coloridas.

Passo um perfume e suspiro ao perceber que era irritante eu não conseguir sentir o cheiro de nada, sim, eu tenho uma doença rara chamada anosmia congênita... Se isso é uma merda? Bom, eu não sei, até porque eu nunca senti o cheiro de nada e o único lado ruim é que perdi muitas experiências da minha vida.

Suspiro e ando pelo quarto de forma inquieta, ainda mais por ouvir o falatório no andar debaixo.

Suspiro e resolvo ir para lá, porem antes pego meu celular e desço a escada com passos calmos e decididos.

Quando meus olhos se chocam com a sala de estar, percebo que o barulho dos passos fizeram todos me fitarem e fico chocada ao perceber o quanto meus irmãos estavam diferente.

Malia era uma versão mais velha da minha mãe, porem magra e mais alta.

Scott era uma versão menor do pai deles, pelo que me lembro.

Ambos pareciam ser muito unidos, principalmente quando peguei-os se fitarem de forma tão atenta que jurava que eles estavam conversando apenas pelo olhar. Os dois estavam sentados no meio de dona Melissa, que sorriu de forma carinhosa.

— Entre querida. – Foi o que ela pronunciou, mas acabei desviando meus olhos para os únicos idosos da sala e percebi que ambos estavam quietos demais. Minha avó parecia preocupada com minha reação, mas meu avô estava totalmente sério e seus olhos me ordenavam a se aproximar e cumprimenta-los.

Segurei um suspiro e me aproximo dos gêmeos. – Olá. – Sim, foi a coisa mais inteligente que consegui pronunciar antes de abrir um sorriso forçado, até porque ambos me encaravam como uma assombração.

— Lydia, quanto tempo. – Scott disse ao se aproximar e me abraçar de forma desajeitada. – Está tão diferente. – O tom dele era educado, mas a voz surpresa chegou a me incomodar.

— Lydia. – Malia me cumprimentou logo em seguida.

Eu não os abracei direito e percebi que o clima estava estranho e suspirei ao me afastar e me acomodar no meio dos meus avôs.

— Então querida... Estou tão feliz por estarmos todos reunidos. – Ela deu pulinhos animados no sofá e foquei em analisar o local um tanto rustico e colorido. – Provavelmente é estranho para todos vocês, eu sei que não tiveram muito contato... Mas logo se tornaram próximos e vão descobrir muitas coisas em comuns. – Ela tagarela de forma rápido e aquilo me incomodou e me remexi no sofá, sentindo meu avô segurar meu braço. – Vamos ser grandes amigas também, querida... Quero saber tudo sobre você, o primeiro beijo, a primeira paixão, aaai... Tanta coisa.

Aquilo me parecia tão errado, que fiz uma breve careta e resolvi permanecer quieta.

— Ela entendeu mãe. – Malia resmungou.

— Ahh... – A mulher sorriu um pouco constrangida. – Desculpa se te assustei.

— Você precisa de muito para assusta-la. – Vovô resmungou baixo, me fazendo rir.

— Fiquei feliz por aceitar passar um tempo com a gente. – Mel voltou a falar e apenas concordei.

Porque em primeiro lugar: Eu meio que fui obrigada por não ter outro refugio.

Segundo: Aquilo era uma loucura, não somos uma família de propaganda de margarina.

Terceiro: Isso vai ser muito fodido.

Quarto: Preciso parar de enumerar as coisas.

— Ela não sabe falar? – Malia pronunciou baixo, mas ao perceber que todos ouviram, ela corou.

— Malia. – Scott advertiu-a.

Acabei abrindo um sorriso sarcástico e virei pro meu avô. "Mas que merda é essa que você me meteu?" Foi o que eu queria perguntar, mas apenas virei para ela. – Malia, certo? Eu sei falar, mas não tive oportunidade ainda... Já que Melissa não parou de tagarelar em nenhum momento. – Minha voz soou baixa e com nenhum sarcasmo, pois eu tinha respeito em relação a eles. – Agora se está incomodada, peço desculpas. – Ok, a parte das desculpas eu soltei um certo veneno.

Scott olhou-me um tanto assustado, mas logo suspirou. – Isso vai ser interessante. – Bufou e se acomodou ainda mais no sofá. – Estamos começando do jeito errado, pô... Desculpa Lydia, mas para nós é um tanto assustador saber que vai passar um tempo aqui. – Ele foi sincero e o admirei por isso. – É uma mudança brusca... Ter seus avós e você aqui. – Ele se levantou e caminhou até onde estávamos. – Bom, deixa eu me apresentar... Me chamo Scott, sou o seu irmão mais velho e estou fazendo o ultimo ano do ensino médio... Sou capitão do time da escola e tenho três melhores amigos, sou solteiro e pretendo cursar direito... Sou vegetariano, então não como nenhum tipo de carne, mas consumo laticínios e ovos... Diferente da nossa mãe. – Ele pisca em minha direção e passou a mão pelo queixo, como se estivesse pensando em algo. – Acho que é só isso. –Ele riu de forma constrangida e me estendeu a mão. – É um prazer tê-la por perto e pretendo te conhecer melhor...

Eu abri um sorriso e apertei a mão dele. – É um prazer te conhecer também,  Scott. – A atitude dele me fez sentir um tanto agradecida e me levantei do sofá e apertei o ombro dele. – Ainda bem que você come ovo, porque a vovó faz os melhores bolos de chocolate. – Pisco na direção dele, fazendo-o rir baixo.

— Já tive a honra de experimentar. – Sua voz parecia mais calma e os olhos dele transmitiam um brilho divertido.

— Malia... Você poderia se apresentar também né?

A pergunta fez a morena se aproximar de forma robótica e entediada. – Não gosto muito de apelidos... Apena Malia está bom, faço das minhas palavras a do Scott.

Acabei revirando meus olhos pela atitude dela. – Está entendido, Malia. – Olhei para os meus avôs. – Preciso fazer uma ligação, licença.

Me afastei e fui para a entrada da casa e peguei meu celular, discando o numero de Aly.

Não demorou muito para ela me atender e aquilo me fez sorrir de forma automática, sentindo meu coração se apertar de saudade.

— Meu amor. – Ouvi aquela voz meiga gritar.

— Hello, Alien. – Pronunciei o apelido que tinha dado para ela e logo tombei a cabeça para o lado ao ver um banco afastado e me sentei nele, dando uma visão ampla da enorme casa e do jardim que se encontrava perto da entrada. – Como você está? – A casa era da cor azul e fazia um belo contraste com as arvores e pinturas de flor em uma das paredes.

— Eu estou destruída, triste, infeliz e com vontade de matar qualquer um que pergunte "você está bem?", então imagina como eu estou. –Ela murmurou. – Eu sinto saudade e isso dói tanto...

Acabei rindo com o drama dela.

— Sua insensível, sem coração... – Ela voltou a falar e isso me fez sorrir ainda mais. – Está com saudades também? Eu sei que está, se você não tiver eu juro que te mato.

Eu bufei. – Posso falar um pouco? – Ao ouvir um silencio do outro lado da linha, comemoro internamente. – Bom, eu estou bem... Quero dizer, eu não queria estar aqui. – Confesso e não deixo de sentir um certo conforto em poder me desabafar com minha melhor amiga. Era algo tão simples. – Mas você sabe que ai ficaria um inferno, então prefiro viver esse... Aqui não vai ser fácil.

— O que aconteceu? Como foi encontrar sua família depois de tanto tempo?

— Nada fácil... Eles são uma família, Allison... Dona Melissa fala demais e parece querer construir algo, mas eu não posso tirar da minha cabeça que ela me abandonou de certa forma. Já os gêmeos se sentem ameaçados comigo, principalmente Malia e eu nem sei o porque.... Ela nem tentou ser legal, apenas foi grossa e me analisou o tempo todo, olha que nem ficamos vinte minutos juntos. – Suspirei passando a mão por meus cabelos. – E Scott tentou quebrar o clima, mas eu não me sinto bem vinda... É uma família que não participo, mesmo tendo o sangue deles em minha veia. – Senti meu coração disparar ao pronunciar cada palavra, era libertador falar sobre tudo que analisei em tão pouco tempo, algo que eu não poderia falar para os meus avós.

— Minha garota corajosa... Como eu tenho orgulho de você, Lydia. – Aquela voz meiga e chorosa me fez sorrir. – Quando você foi embora, nós conversamos sobre isso... E tínhamos várias alternativas sobre isso e uma delas era sobre a atitudes deles... Não tente ser alguém que você não é, apenas suspire e erga a cabeça. Quando estiver difícil por ai ou doloroso é só me ligar, eu saio correndo para ir encontra-la... Seus irmãos não te conhecem, mas quando fizerem isso vão se apaixonar por você.

Imaginar que Allison compartilhava minha dor me fez querer chorar, é saber que uma amizade poderia ser capaz de sentir tudo.

— Eu quero esquecer o passado e começar algo novo... Mas não sei se consigo.

— Não tente esquecer o passado, amor... Ele é lindo só por ser imperfeito. – Ela riu baixo. – Vamos destruir isso tudo.

Solto uma gargalhada e sinto meu celular apitar, avisando uma mensagem de Jackson e sorrio ao perceber que precisava falar com ele também.

— Vou colocar o Jack na ligação, ele está mandando mensagem. – Anunciei.

— Isso vai ser legal. – Cantarolou minha amiga.

Liguei para ele, logo colocando na ligação com a Alien/Ally/Allison.

— PORRA LYDIA... Você quer me matar? Estou te mandando mensagem o dia inteiro. – Ouvi uma movimentação e percebi que ele estava andando. – Você morreu? Iria te ver, mas aposto que deve estar um clima estranho... Pelo menos foi o que Scott me falou na mensagem. – Ele riu e isso me fez revirar os olhos, porque quando Jackson se mudou a quase dois anos para essa cidade, ele fez amizade com os meus irmãos, já que meu vô que ajudou-o na mudança com os seus pais.

— Larga de ser histérico, moreno. – Aly advertiu-o.

— Allison? – A voz dele pareceu assustada e logo ele riu. – Meu segundo amor está na linha também?

— Sempre, querido... Sempre. – Ela resmungou e aposto que ela sorria. – Já que estamos todos reunidos novamente, preciso dar um aviso pra você Jackson... Nada de tentar roubar minha melhor amiga, não quero ver fotos de vocês juntos e nem saber que estão bagunçando por ai. Nada de irem acampar, porque isso é algo nosso... NOSSO.

Acabei rindo baixo.

— Algo mais? – Ele perguntou sarcástico.

— Não, só isso mesmo.

— Ok, entendemos o recado ciumenta. – Revirei meus olhos. – Olá moreno, amor da minha vida... – De forma manhosa eu pronunciei cada palavra, recebendo uns xingamentos de Allison e me animei ainda mais em provoca-la. – Que saudades, poderia ter vindo me ver... E o clima aqui só vai sumir quando embebedarmos todos. – Ri de forma maldosa e logo ouvi-os rir junto.

— Eles são legais, só de uma oportunidade para eles. – Jackson disse e aquilo não me atingiu, até porque esperava algo dele, ainda mais quando ele colocava mil fotos com os novos amigos.

— Idiota. – Minha amiga resmungou.

— Idiota. – Resmunguei depois.

— Idiota. – Ele disse também e logo bufou. – Não estou escolhendo um lado.

— Não? Por favor, Jack... Você deveria estar conversando com eles, porque está na cara que tem um lado.

Allison tinha um leve problema, ela me defendia totalmente e isso incluía brigar com o seu amigo.

— Cala a boca, Aly. – Jack explodiu e nem demorou muito. – Os gêmeos disseram a mesma coisa quando eu falei para darem uma oportunidade para a Lydia... Não vem me dizer que escolhi um maldito lado. – A voz dele estava alta e aposto que a vizinhança toda o ouvia. – Vocês são tão burras assim? Porra.

— Burro é você, seu maldito. – Aly explodiu também e isso só me fez fechar os olhos e esperar.

— Vocês são tudo para mim. – A voz dele estava baixa. – Se eu tivesse que escolher um lado, sempre seria os de vocês. – Ele sussurrou e podia imagina-lo bagunçando o cabelo, enquanto seu rosto estava vermelho. – Você sabe disso né, Lydia?

— Não quero que você escolha um lado, Jack... Isso seria uma atitude idiota e eu nunca pediria isso. – Fui sincera. – Só não se meta nisso, se eles disseram algo sobre mim não me defenda, não me importo com isso, só quero me formar e seguir minha vida e não atrapalhar a amizade de vocês.

— Não posso prometer isso... Irei te defender sempre.

— E agradeço por isso, mas saiba o que estará em risco. – Suspirei e percebi que estava virando uma mania depois que cheguei aqui. – Não quero mais confusão.

— Não vai ter confusão, nossa amizade está bem clara na minha mente e na deles também... Sempre foi Lydia e Jack, nada vai mudar.

— Allison. – Minha amiga resmungou o nome dela.

Jackson riu baixo. – E claro... Temos a nossa filha Aly. – Ele exclamou, até porque ela é mais nova do grupo por um ano.

Eu ri e vi minha avó acenar para mim.

— Nossa filhinha é sua xerox, amor.. – Fui sarcástica. – Preciso desligar, provavelmente dona Elise quer me empurrar comida.

Os dois riram.

— De noite passo ai pra te ver, ok?

— Nãooooooooo, meu ouvido dói. – Aly gritou dramática.

Eu ri baixo.

— Ok, ok... Tchau dramática, te mando mensagem e até daqui a pouco moreno.

Desliguei e nem esperei-os dizer algo e aposto que Allison iria atormentar jack por longas horas e isso me fez rir e sentir saudade do trio junto.

Se saudade matasse, porra, estaria 100% morta.


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Notas finais do capítulo

OOOOLÁ.

GOSTOU DO PRIMEIRO CAPITULO, HM?

Tumblr: criveis



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