A Liga Extraordinária Brasileira escrita por Eye Steampunk


Capítulo 5
Mistério do Brasil (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

AVISOS

Primeiro: Perdão ao atraso do capítulo, mas houve um longo feriado (Independência e Aniversário da Cidade) em minha cidade e minha família e eu viajamos, logo, não pude está em casa para terminar o capítulo.

Segundo: Os capítulos serão mais demorados, minha férias terminaram, e eu voltei aos estudos, por isso o que era para serem capítulos semanais, agora serão quinzenais (sem data prevista). Agradeço a compreensão!

Terceiro: Vale ressaltar que estou fazendo uma readaptação das lendas (o que pode ser notado desde o início da obra), e isso inclui locais também, inclusive gostaria de saber se seria mais prático criar um favela fictícia ou se mantenho e uso o Complexo do Alemão como base de operação do nosso vilão?



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— Estes são os cavaleiros que irão recuperar meu Quartzito Brasil? — perguntou o cientista.

— Senhores, eu gostaria de apresentar o Professor Porifázius, o encarregado da descoberta da maior fonte de energia já conhecida! — apresentou o Sargento Brandão.

Bruno, Ulisses, Guto e Maria foram conduzidos a uma espécie de sala-museu; artefatos, fósseis e relíquias preenchiam cada canto, junto com um conjunto de pinturas emolduradas penduradas as paredes, estátuas encobertas por panos e artesanato regional, como bonecos de barro e cesto de madeira entalhada pelos indígenas espalhado por todo o cômodo. Ao centro uma ampla mesa redonda preenchida por cinzeiros, copos e jarros de água, um castiçal e baleiros; um quadro de vidro e um retroprojetor também estavam presentes no cômodo, quem entrasse poderia dizer muito bem que aquela era a sala de reunião de professores de história brasileiros.

Professor Porifázius estava sentado a uma das cadeiras, nervoso, batia constantemente com um lápis que carregava as mãos na madeira da mesa. Baixinho, barriga estufada no terno de marrom de ombreira, chapéu de feltro, bigodes, olhos cansado. Parecia uma versão “Santos Dumont” mais cheinho e com insônia.

— Que lugar é este? — perguntou Maria alçando voo entre o local, adentrando e saindo dos diversos espelhos e superfície reflexiva que possuía o ambiente.

— Este era o antigo quartel general da Liga Extraordinária Brasileira! — comentou o Sargento Brandão — Atualmente é o depósito de artefatos sobrenaturais da área 616.

— Liga Extraordinária? — perguntou Bruno.

— Vocês seis não foram o primeiro grupo de seres sobrenaturais a serem convocados a ajudar nossa pátria, no tempo da Era Vargas, surgiu um grupo seleto de seres místico que se uniu para derrotar... — Sargento terminaria a frase, mas gaguejou e trocou o tom de voz — Bem não posso entrar em mais detalhes, este é um assunto mais sigiloso, precisamos discutir o nosso perigo atual. Sentem-se!

— Continuarei aqui no alto... Se não se importar! — enfatizou Maria, uma ordem clara de que não seria um homem que a permitiria lhe mandar onde sentar.

Sargento fechou a cara, respirou e soprou o ar dos pulmões.

— Somente tenha cuidado no que toca... — disse o Sargento.

Ulisses sentou ao lado do professor à esquerda, enquanto o Sargento, Bruno e Guto preenchiam o restante da mesa à direita. Um assento para Maria ficou vazio, o professor não estava mais interessado em batucar seu lápis, retirou uma lupa do terno e começou a investigar Ulisses que se sentiu agoniado com o olhar do Sr. Porifázius. Maria pegou um pequeno retrato em uma prateleira, nela havia escrito “Liga Extraordinária Brasileira – 1930”.

— Então... Por onde começar, em 2016, o grupo de pesquisa deste renomado professor de geologia começou a explorar as minas secretas do Monte Roraima e descobriu algo revolucionário! — sargento se virou ao professor e fez sinal com a cabeça. — Professor, por favor!

Professor Porifázius soltou o braço de Ulisses e guardou novamente a lupa, ele levantou-se para alcançar o retroprojetor, imagens se acenderam do aparelho a uma tela branca. Primeiro uma imagem da expedição do professor ao topo do Monte Roraima, depois a descoberta de uma mina de pedra de aparência rósea e por último, um vídeo experimental; o próprio professor soltava o minério sobre uma bandeja metálica, ela flutuava e girava em torno do próprio eixo.

— Este é o quartzito Brasil, ou como prefiro nomear, Pedra Brasil. — contou professor Porifázius — Esta pedra com propriedades geomagnéticas únicas que não se encontra em nenhum outro local do mundo, um cristal metálico feito da junção de ferro, bismuto e magnetita, com propriedades de girar em torno do próprio eixo...

— Ou seja! — interrompeu Sargento Brandão — Vocês estão diante de...

— Um mini planeta! — respondeu Ulisses interrompendo o sargento e sem ter chiado.

— Excelente forasteiro extraterrestre! — disse o Sargento a Ulisses. — Um mini planeta! Este pequeno minério são os resíduos do antigo planeta que dividia a mesma orbita que a Terra nos primórdios da formação de nosso sistema solar, Terá-B; até em que determinado período, ele colidiu com nosso planeta e partes dos resíduos da colisão formaram a Lua, nosso satélite natural, quanto uma pequena quantidade, mais densa...

— Produziu uma bela mina de mini rochas gravitacionais em nosso terreno! — disse eufórico Professor Porifázius. — Vocês tem a noção do quanto isso é de extrema importância científica ao nosso país, temos uma mina de minerais rotacionais que tem propriedades únicas que podem substituir nossas fontes de energias como a hidrelétrica em nossas terras, ela será bem mais barata e econômica que a energia solar e eólica, e não há registro de quando estas pedrinhas estagnarão na produção de energia cinética...

Maria soprou mais poeira da foto, a imagem de quatro pessoas, a primeira era um homem negro com veste caipira e de cor vermelha, tinha um gorro a cabeça e um cachimbo aos lábios, mas o que o diferenciava era a falta de uma das pernas. O segundo era um índio de cabelereira avermelhada como fogo, seu olhar era feroz, ele trazia uma lança a mão e seus pés descalço eram virados para trás, a terceira era uma linda mulher de traços indígena, no entanto, seus cabelos eram longos e loiros, o que a distinguia era o seu longo saiote feito de algas. E o último era o homem alto, de terno, possuía muito pelos e carregava uma pistola. Na base do retrato tinha escrito seus nomes: “Saci; Curupira; Iara e Lobisomem”.

— Mas o que nós quatro iremos nos envolver?

— Seis! — corrigiu Sargento. — Francisco e Jorge partirão com vocês assim que nós os convencermos. Quanto à pergunta, o quartzito também pode ser uma ótima arma... Professor, o senhor poderia mostra-lhe?

— Claro! — respondeu o professor

Porifázius exibiu outro vídeo, neste ele dizia algo à câmera, mas o áudio foi retirado, seus dois ajudantes ao seu lado, um trazia uma bacia de água, o outro trazia uma pedra mineral. Todos os três estavam vestidos adequadamente com equipamento de segurança, luva, jaleco, óculos de proteção e mascara de gás. O primeiro raspou uma pequena quantidade de minério e despejou na água. O que ocorreu a seguir foi uma reação em cadeia: primeiro a água ferveu e tornou-se ácida, queimando a mão do cientista que a segurava, depois entrou em combustão e começaram a explodir, alarmes acenderam e possivelmente soou, o professor conseguiu escapar do laboratório a tempo, mais explosões consumiram seus dois ajudantes em fogo rubro, a câmera desfocou.

— Mas que merda foi isto? — perguntou Bruno

— Incrível! Não é mesmo? — exclamou eufórico o professor Porifázius, como se a morte de seus cientistas fossem apenas meros inconvenientes — Toda a Base de Estudo fora consumida pelo fogo, mais da metade mortos pela explosão, sorte que a maior gema de quartzito não estava no mesmo departamento. Outra propriedade deste mineral é sua grande alcalinidade, ou seja, ele entra em combustão em contato com a água, e este é o dano que apenas um pequeno grão é capaz de fazer, imagine a pedra inteira?

— Após o incidente, todas as jazidas recolhidas foram levadas para nossa base militar de segurança máxima no Rio de Janeiro, entretanto, por uma falha em nosso código de segurança e mais alguns percalços, fez com que perdêssemos uma pedra de sessenta metros quadrados. — disse o sargento. — E o que nos intriga é o poder que o nosso inimigo tem em posse e o que ele poderia fazer com o mesmo!

— Então os inimigos da pátria poderiam criar uma bomba... Tipo, algo equivalente as nucleares?

— Suponho que sim, Srta. Maria! — confirmou o professor.

— A ideia de uma facção tendo nas mãos o minério de alto poderio explosivo... Poderia ser capaz de reduzir um estado por completo a uma mancha no Oceano Atlântico... — comentou o Sargento.

— E quem poderia está por trás disto? — perguntou Bruno.

— Seu nome é um mistério. — Sargento Brandão se virou ao ocultista, o mesmo nunca demonstrou tanto nervosismo. — Mesmo quando pronunciado é capaz de trazer agouro a esta base...

— Quem? — Maria insistiu na pergunta deixando o porta-retratos sobre a cômoda em que encontrara; ela e Bruno trocavam olhares, suspeitando do feiticeiro Zuí.

— O Corpo Seco.

***

Céu paulista, sobre a Serra da Cantareira, 2030.

— Caros senhores e senhora presente! — anunciou o ocultista Bruno. — Em resumo, nós já sabemos por qual motivo estamos reunidos aqui. O sargento Brandão e seus anônimos superiores nos uniram para da o fim a esta milícia de traficantes de armas e drogas que comanda os morros da cidade do Rio de Janeiro e que ameaça explodir todo o estado carioca, tendo em posse uma dos minerais mais estáveis já descobertos!

Cinco dos seis estavam sentados a uma mesa circular: o ocultista, a fantasma, o homem diabo, o cavaleiro justiceiro e o gigante do saco. Ulisses estava muito ocupado operando e dirigindo a espaçonave pelo espaço aéreo paulista sobre os morros, entre tempestade forte; mas ainda escutava toda a discussão pelas caixas de áudio espalhadas na sala de reunião na Nemo, um cômodo circular de paredes esverdeadas e no canto mais distante, uma vista panorâmica da serra da Cantareira.

— Eu estou aqui pelo direito de cumprir a minha pena das diversas mortes que carrego como fardo! — comentou Jorge, o Negrinho do Pastoreio, de braços cruzados. Agora não sendo uma ameaça, o cavaleiro vestia uma camisa de botão de xadrez, com mangas que entornavam seu braço forte, e calça jeans com sandálias de couro, barba espessa, deixou seu lampião acima da mesa, aceso. — A única nação que me interessa é o dos meus protegidos, os menos favorecidos.

— Explosão! — comentou Guto, o Homem do Saco; largou as roupas de rodeio, voltou a vestir sua camisa sem manga verde, bermuda jeans, chinelos de borracha e tira de couro, com o saco preso a mão. — Morte! Desfavorecidos! Inocentes!

E assim com poucas palavras, o gigante argumentou de forma simples que a posse do quartzito nas mãos de Corpo Seco poderia ser a causa da morte de vários inocentes, e evitando seria capaz de salva-los.

— Justo! — comentou Jorge se convencendo das palavras de Guto, depois se virou para Lúcio. — O que foi? Perdeu algo em meu rosto?

Francisco Lúcio, ou apenas como gostaria de ser chamado, Lúcio, o Homem Diabo; depois de vários banhos de mangueira, várias propostas e ataque de raivas, finalmente cedeu e resolveu ajudar o grupo, não pela nação, mais pelo dinheiro que arrecadaria ao fim da missão, suficiente para montar uma nova e melhorada casa noturna. Ele vestia camisa de manga laranja, calça jeans e tênis de pano e borracha esportivo. Tarde demais, ele não notou que observava com frequência Jorge, seu rosto corou e se virou a Bruno.

— Estou disposto a ajudar! — Lúcio colocou a perna vermelha e cabeluda sobre a mesa, mostrando a tornozeleira que carregava, um pequeno método de segurança caso ele resolvesse mudar de ideia. — Mas digamos que não tenho muitas opções... Somente não me poderão ver ao meu máximo, esse treco limita parte dos meus poderes.

— Estou satisfeita com os seus limites, eu mesmo tenho que me preocupar com os meus... — disse Maria, o poltergeist do banheiro, agradecida por Lúcio está controlado. A fantasma vestia um vestido simples branco, ela flutuava sentada sobre sua cadeira, como se fosse um monge meditando. — Contanto, tenho que concordar com Guto, todas as nossas vidas estão interligadas e em perigo, não é somente o estado do Rio, não sabemos quanto do mineral explosivo eles tem em posse... E se não já estão distribuídos em outras facções adjacentes em outros estados... Ou seja, todos os brasileiros estarão em perigo, até mesmo os mortos, aquilo poderia abalar ambos os mundos!

— Bem explanado, Srta. Maria! — disse cordialmente Bruno, o ocultista; sua capa roxa presa no pescoço por um broche prateado, seu livro sobre uma mesa e um pentagrama aceso do outro lado. — Então? Todos estão de acordo em prosseguir com esta missão suicida como proposto?

Guto não disse nenhuma palavra, Jorge e Lúcio confirmaram com as cabeças e Maria apenas levantou o polegar. O extraterrestre chiou em sua língua materna pelas caixas de som, confirmando sua participação.

— Sem objeções? Muito bem! — disse o ocultista — Estamos decididos a seguir o Corpo Seco até seu esconderijo no Complexo do Morro do Alemão e recuperar o quartzito. Estão todos entendidos?

Jorge levantou a mão.

— Sim?

— Quem é ou o que é o Corpo Seco?

— Uma boa questão, talvez meu amigo aqui filho do submundo tenha algo a nos dizer? — perguntou Bruno a Lúcio.

O ocultista presenciou a última sessão de debate entre o conciliador e o Homem Diabo, dentre as pautas abordada como justificativa estava à citação do Corpo Seco, e Lúcio reagiu de forma inesperada, ele temeu quando dito o nome da criatura. O ocultista já havia presenciado aquele olhar antes, de aterrorizado, o mesmo olhar que Ulisses fazia quando era citado o Caso Varginha, um assunto delicado ao pequeno alienígena. Agora, Lúcio possuía o mesmo receio, ele remexia nervosamente com as mãos, respirou fundo e soltou o ar dos pulmões.

— Meu pai o chamava de O Infortunado!

— Então você confessa que seu pai é o tinhoso? Lúcifer? — perguntou Jorge a Lúcio.

Os dois eram antagonistas, um era um filho de um demônio do submundo com uma humana, o outro era um jovem abençoado por uma santa da Igreja Cristã; Jorge era incapaz de compreender está dividindo o mesmo espaço que o Homem Diabo, e o julgava como uma aberração da natureza, quanto a Luís, ele parecia nutrir outro tipo de sentimentos, como se entendesse o motivo de ser um erro.

— Continue, por favor, Lúcio. — permitiu o ocultista, interrompendo o clima que havia se tornado.

— Ninguém sabe ao certo o seu nome, suas origens ou mesmo a de seus pais, nem mesmo em que cidade nasceu; alguns dizem ser do Nordeste, outro de Minas, outros de São Paulo, cada estrada uma versão diferente, mas a história quase as mesma. Antes de ser Corpo Seco, ou Unhudo, ele era uma criança maligna que infligiu todos os mandamentos divinos...

“Eu sou o Senhor teu Deus. [...] Não terás outros deuses além de Mim”.

“Não farás para ti nenhum ídolo [...]”.

“Aos dez anos, Unhudo começou a adorar o próprio deus, ele disse ser a sua personificação, o clamou por Eternael, o ser místico que reinaria após a grande guerra celeste; nem Deus e nem Diabo eram capaz sobre o seu poder. Sua mãe e seu pai o temiam, assim como toda a sua vizinhança, o nome de sua família foi manchado, assim como a reputação da cidade.”

“Não dirás em vão o nome do Senhor, o teu Deus [...]”.

“[...] Lembra-te do dia de sábado para santificá-lo. [...]”.

“Unhudo e sua família foram expulsos da igreja local, a cidade não permitia a entrada deles, se tornaram hereges; Unhudo tornou-se afrontado pelo padre paroquial do mesmo; dois anos depois, a igreja queimou misteriosamente durante um sábado de missa, dezenas de pessoas morreram carbonizadas no incidente incluindo o padre. Nenhuma prova fora colhida, o delegado regional acreditava ser apenas um acidente causado por uma das velas do altar e as cortinas do templo.”

“[...] Honra a teu pai e a tua mãe [...]”.

“[...] Não matarás. Não adulterarás. Não furtarás. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo. Não cobiçaras... [...]”.

“Entretanto, os moradores da cidade não estavam satisfeito, acreditavam ser culpa de Unhudo; alguns homens diziam ser a manifestação do deus que o próprio adorava: Eternael. A cidade se dividiu, de um lado, seguidores de Unhudo e suas crenças: assassinos, estupradores, ladrões e toda a corja de homens que poderiam praticar suas más reputações não temendo as leis divinas; de outro, os que desejavam expulsar Unhudo e seus seguidores da cidade.”

“Dentre seus crimes, Unhudo matou o seu próprio ventre, derramou o sangue de sua própria linhagem, sacrificou sua mãe ao grande deus Eternael. Este foi o pecado final que o tornou inimigo em potencial; quando completou dezoito, um raio partiu do Céu e o atingiu, condenando-o a morte. Seus seguidores foram dispersos, temendo o poder de Deus, os moradores jogaram o seu corpo em mata fechada, sem direito a um enterro digno, e toda sua história foi apagada e esquecida...”.

“A alma de Unhudo subiu ao Céu, quando chegou aos portões guardados por São Pedro, o próprio arcanjo Miguel o pegou pelos pés e o arremessou de volta à Terra; a alma de Unhudo desceu ao Inferno, mas o próprio Diabo o expulsou de seu reino, nem o Paraíso, nem as Tormentas eternas, Unhudo fora negado de entrar em qualquer reino pós-mortes por seus crimes atroz. Sua alma retornou ao seu corpo putrificado, e vaga pelas matas do Brasil camuflado em árvores secas, se alimentando de sangue. A lenda conta que ele apodrece tudo que toca, muito dos seguidores de Corpo Seco voltaram ao seu senhor e aceitariam de bom grado o ‘Abraço de Morte' um ritual que os torna seu soldados mortos-vivos, os nãos-aceitos: homens que nunca entrarão, nem no céu, e nem no inferno.”

Lucio terminou de contar a lenda do Corpo Seco.

Nenhum dos outros quatro presentes resolveram pronunciar algo, e todos olhavam espantados para Lúcio enquanto ele contava a história, até mesmo Ulisses que ouvia tudo de sua cabine de pilotagem não emitiu nenhum chiado.

— Tudo bem, isto é macabro, eu sou uma não aceita, que trabalha por meios próprios para buscar vingança e puni o pecado de estupradores e assediadores, no entanto, este ser está muito mais além de senso de justiça, ele montou uma seita... — comentou Maria.

— Está tudo claro do porque somente agora ser convocado para está aqui presente com todos vocês restante. — disse Jorge pondo os dedos sobre o queixo de modo avaliador. — Isto é uma missão de minha madrinha, Nossa Senhora, meu trabalho aqui não é apenas resgatar o quartzito, mas destruir este demônio que anda sobre as terras...

— Está falando de mim? — perguntou Lúcio.

— Não, idiota! — disse o cavaleiro — Me refiro ao Corpo Seco...

— Espere um momento, como destruímos algo que já está morto? Isso não faz dele imortal? Como eu? — questionou Maria.

— O bruxo aqui pode repetir o feitiço de aprisionamento que fez em mim e...

— Não sou um bruxo, sou um ocultista, é diferente! — se irritou Bruno com o termo utilizado por Lúcio. — Quanto à magia que utilizei sobre você foi fácil, eu tinha certo conhecimento sobre suas forças e fraquezas, demônios podem ser aprisionados e já foram mantidos por ocultistas e alquimistas passados. No entanto Corpo Seco é uma exceção, ele não chega a ser um demônio, ele está além das hordas do céu ou do inferno. Irei consultar meu livro em busca de algo que possa nos ajudar. Eu tenho esta reunião como encerrada.

Bruno levantou da mesa e deixou o recinto.

— Bem, vou verificar meus espelhos, até mais tarde meninos! — disse Maria desaparecendo no ar.

O gigante Guto foi o terceiro a deixar o local, silencioso e com seu saco em mão como sempre, Ulisses desligou os autos falantes, não seria necessário mais ouvi as conversas do recinto. Lúcio e Jorge foram os únicos que permaneceram no ambiente. O cavaleiro olhava para o demônio com a expressão fechada, testa franzida, olhar julgador e os nós dos dedos brancos de tanto apertar. Lúcio se sentiu incomodado, seu rosto corou com aquele homem o observando, ele conseguia o deixar desconfortável, seu cabelo pegou fogo e ele apagou com as mãos.

— Bem! — disse levantando e apoiando seus braços a mesa. — Buscarei recursos com meu pai e...

Lúcio não teve tempo de reagir, em um segundo ele estava do outro lado da mesa, em outro, Jorge estava com o seu pé alertando o pescoço do Homem Diabo contra o chão. O demônio sufocava de dor, Jorge pegou seu braço direito e o esticou, pressionando o rosto de Lúcio ao piso, pronto para quebrar seu pescoço.

— Então você admite que seja filho de Lúcifer, o anjo caído? — perguntou Jorge.

— Não... — engasga-se Lúcio. — É tão fácil assim... Não sou filho... Não diretamente!

Jorge se agacha e troca o pé pelas mãos pesadas.

— Você pode enganar a todos aqui, mas eu posso sentir o cheiro de traidor, alguém entre nós não é o que diz ser; eu o poderia destruir agora; entretanto, a conduta como um convidado e auxiliador me impede! — disse o cavaleiro. — No entanto, ficarei atento, a qualquer ação sua de traição; se ousar nos enganar pelas costas, eu pintarei o chão com seu sangue...

— En-Entendido! — gaguejou Lúcio.

***

Complexo do Alemão, Rio de Janeiro, 2030.

— Enfim, chegamos! — comentou Bruno.

Todos os seis estavam reunidos na rampa de desembarque da Nemo, a nave estava pousada na mata fechada, de acesso à área lateral-esquerda ao morro, aquele caminho já fora usado por traficantes que fugiam das extintas operações especial da unidade de segurança e agora era o local de pouso e camuflagem de uma enorme espaçonave.

Para espalhar com os mortais, os seis se vestiram de maneira mais apropriada ao calor carioca; Ulisses com sua camisa florida, bermuda e chapéu de pescador, agora acompanhado por uma câmera fotográfica, poderia muito bem se passar por um turista, quanto a Guto, ninguém ousou mudar o visual do gigante, sua camisa regata e sua bermuda jeans era o suficiente para se misturar.

Lúcio e Bruno emprestaram algumas roupas a Jorge, que trocara seu visual caipira por uma calça jeans e uma camisa de botão quadriculada, com sapatos de couro engraxado; O Homem Diabo tinha o mesmo visual, mas em vez de camisa de botão, optou por uma jaqueta de motoboy e uma touca preta para esconder os chifres; Bruno questionou ao demônio se o seu plano envolvia roubar uma moto, ele concordou, o ocultista esperava acreditar que ele estava brincando.

A fantasma estava exuberante, ela vestia seu tradicional vestido de flores brancas, um cinto de couro prendia seu vestido na cintura, como uma donzela grega; o ocultista perguntava se suas roupas eram materiais, ou de tecido fantasmagórico, dentre os seis, ela não parecia encaixar com o ambiente. O ocultista trajava bermuda, chinela de borracha e camisa de time de futebol branco e negra, Clube de Regatas do Vasco.

— É um ultraje você está vestindo esta camisa ao lado deste flamenguista! — disse Lúcio.

— Isto é apenas parte do disfarce, eu não curto futebol, agora vamos nos dividir: Guto e Ulisses, Jorge e Lúcio, Maria e eu, e...

— Eu não vou com o filho do Diabo! — reclamou Jorge apontando a Lúcio.

Bruno colocou os dedos a têmporas, criando paciência para a birra dos dois.

— Eu não me importo de ir com Jorge! — disse Maria.

— Ok, eu irei com Lúcio! — comentou o ocultista entregando o espelho de Maria a Jorge. — Agora mantenham seus disfarces e busquem tudo relacionado a Corpo Seco, tenham cuidado com qualquer um, todos os homens aqui podem ser os “malvadinhos”. Nossas investigações precisam ser discretas, não devemos atrair olhares, estamos em desvantagens em sua área. Agora se espalhem!

Bruno e Lúcio partiram morro acima, enquanto Maria e Jorge desciam, Guto e Ulisses andavam pelos perímetros. O complexo era um conjunto de residências suburbanas de tijolo e cimento apilhado um sobre os outros que se estendia sobre a encosta de um morro, rodeado por outras periferias e mata fechada. O Alemão era constituído de vários becos fechados, escadarias e passagens ocultas; moto e carro subiam e descia o morro, mulheres deitavam em lajes em busca do bronzeado perfeito dividindo o espaço com antenas de TV, enquanto homens preparavam a churrasqueira e a caixa de isopor preenchida com gelo e cerveja, era um domingo de futebol.

Flamengo 0 x Vasco 0.

— Que ótimo, estão todos ocupados com o jogo de futebol, temos menos civis na rua e...

— Vamos, Richard! Passa essa bola ao Dioguinho Amaral! — gritava Lúcio junto com outros três rapazes para uma televisão na porta de um estabelecimento, um bar; Discutiam com os juízes e jogadores, enquanto bebiam cervejas e apreciavam de aperitivos.

Os três estavam tão fixados a partida que não notaram Lúcio. Bruno pegou o demônio pela orelha e o puxou para longe enquanto o mesmo roubava o cesto de salgadinhos e reclamava de dor.

— Você quer estragar o nosso disfarce? —sussurrou o ocultista.

— Não! Somente estava curtindo uma cerva com os amigos ali! — disse o Homem Diabo massageando sua orelha.

— E o que você conseguiu com isto além dos salgadinhos?

 — Informações! Eles falaram algo sobre Madame Valéria tudo saber!

O rabo de Lúcio surgiu por baixo do disfarce e tinha a ponta um pequeno panfleto, dentre os anúncios: compradores de ouro, vendedores de relógio (provavelmente falsos) e Madame Valéria, vidente, cigana, traz seu amor em três dias.

— Uma vidente?

— GOOOL! — gritava os homens do bar a distancia, fazendo Lúcio reclamar.

Flamengo 0 x Vasco 1.

— Você sente algo por Bruno?

Se fantasmas fossem capazes de corar, Maria estaria vermelha no exato momento que Jorge o indagou sobre o ocultista. Os dois pararam em uma espécie de rua comercial; Maria verificava algumas peças em um pequeno varejão de roupas femininas, mas sabia que não poderia comprar nenhuma, felizmente ela poderia usar como modelos para suas roupas fantasmas. Uma pequena televisão presa a uma caixa na parede transmitia a partida, tanto as funcionárias da loja, quanto as clientes, assistiam ao futebol.

— Não! Que absurdo! De onde tirou esta ideia maluca? — perguntou nervosa Maria, apontou para o vestuário de troca de roupas — Poderia... Por favor!

— Vejo em seus olhos. — disse o cavaleiro. — Eu, Jorge, autorizo Maria a entrar na cabine de troca de roupas.

Maria adentrou rapidamente, fechou a cortina, pulou no espelho com o modelo e saiu novamente vestida diferente; Ela se admirou ao espelho, não curtiu o visual, entrou e saiu novamente, devolvendo a peça a estante.

— Primeiro, se viemos aqui para falar de mim, sugiro que estamos desviando do foco de nossa missão; segundo que Bruno é um vivo e eu já estou morta, a não ser que ainda não tenha percebido! — se irritou Maria.

— Não há barreiras para o amor! — sorriu Jorge.

— Que tal falarmos de você e Lúcio? Por que a implicância com ele?

Maria colocava algumas peças a frente do corpo e se admirava diante do espelho, mas na imagem refletida, ela vestia a peça; quando retirou, ela possuía o mesmo modelo, a diferença era que era totalmente branco.

— Não há nada entre nós além de desprezo. — disse Jorge. — E você o também despreza...

— Eu o desprezo por que ele lançou uma horda de demônio contra Bruno e eu, contudo, ele parece uma pessoa legal, ontem quando todos foram dormir, nós viramos a noite conversando!

— Sobre o que?

— As origens dele! — contou Maria — Ele é filho de dois humanos comum, mas no dia que seu pai dormiu com sua mãe, o próprio Senhor do Inferno, Lúcifer, o possuiu e violentou sua mãe; Ele cresceu ouvindo essa história do pai, de como ele fora dominado pelas forças do Inferno. Lúcio teve uma vida triste, sua mãe morreu quando deu a luz a ele, ele foi perseguido por toda sua cidade natal, chegou a ser ferido, seu pai o protegeu no nordeste, cinco anos atrás ele também morreu. O que sobrou a Lúcio foram apenas a solidão, o seu segundo pai ausente e uma casa noturna que Bruno e eu destruímos!

— E você acreditou na história dele?

— Consigo notar quando alguém mente. — comentou Maria. — Lúcio realmente sofre, ele não queria ser filho do tinhoso; eu sei que Bruno ainda não tem resposta ao meu problema, que Ulisses se sente culpado por algo do passado e que você... Você desconfia de um de nós seis seja um traidor e que nutre algo por Lúcio. Então? De quem você suspeita?

Jorge estava preste a discutir que não nutria nada por Lúcio, mas então três jovens entraram na loja e roubaram algumas peças de roupa dos cabides enquanto as funcionarias estavam distraídas; o cavaleiro apontou a cabeça para eles.

— Vamos nos preocupar com suspeitas mais tarde, parece que estamos presenciando um furto! — disse Jorge a Maria.

O locutor gritava por mais um gol.


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Notas finais do capítulo

Olá! Mai um capítulo completo, chegou aqui tão longe! Deixe seu comentário, comente o que gostou, o que odiou, o que merece ser melhorado!



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