A Liga Extraordinária Brasileira escrita por Eye Steampunk


Capítulo 4
Santos e Diabos (Parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Olá, soldados!

Demorei, mas postei!

Mais um capítulo fresquinho saindo do forno, qual sera a missão de nossos heróis na Região Sul do Brasil? Sente na poltrona e curta. Boa Leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/740375/chapter/4

Fazenda do Senhor Baltazar, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 2030.

Os quatro aventureiros sobrevoaram de helicóptero a propriedade do Senhor Baltazar. Um enorme terreno de gramado extenso, vales, uma pequena e quase inexistente floresta de longos pinheiros, um celeiro para os cavalos, extensa área de plantio de monocultura, uma estufa para hortaliças, casa de fazer queijo, um cercado para adestramento, um galinheiro, um aviário de emas e avestruzes, um chiqueiro de porcos, pasto infinitos com varias cabeças de gado, tudo isto nos confins da área rural da capital gaúcha.

O que era mais impressionante era a largura de sua lavoura que se estendia até onde o horizonte terminava, vários camponeses trabalhavam recolhendo grãos; estavam entre homens e mulheres coberto de panos até a cabeça para evitar a insolação, aparência decrépita como se apenas vivessem da colheita. Homens montados a cavalo com chicotes a mão e armas no coldre cavalgavam entre os camponeses, o quarteto não presenciou nenhuma agressão, mas deduziam que o chicote era um alerta para manter seus trabalhadores na linha.

— Horrível! — sussurrou Ulisses.

— O que você disse? — gritou Bruno em seu assento da frente para o ET.

Ulisses apenas negou com a cabeça, afirmando um “nada importante!”.

O barulho das hélices do veículo eram muito alto, ainda existiam os grandes fones de comunicação para piorar a comunicação do grupo; Sargento informou que o Senhor Baltazar era meio hostil quanto a bizarrices, o que fez o ocultista deixar seu visual de mago de RPG para o caipira da cidade; Bruno estava de camisa branca nova, um lenço vermelho preso ao pescoço, uma calça jeans, cinto de couro e sapatos engraxados; Ele realmente conseguia se passar por um típico gaúcho, diferente de seus amigos.

 Maria tinha uma flor branca presa a uma mecha de seus cabelos loiros, e estava de vestido branco florido com flores também brancas, fora os pés descalços, ela parecia “normal”; Guto foi obrigado a vestir uma camisa de botão tamanho GGG, entretanto ninguém impediu de soltar o seu saco, ele mesmo não amarrava nem na cintura sempre com o punho direito apertando em torno de sua sacola de pano; No entanto Ulisses era o campeão do “mais chance de ser bizarro”, ele vestia uma camisa havaiana, um calça muitos números maior ao seu corpo, e um boné de aba curva, seria uma roupa ideal para um surfista, o que não era o caso do alienígena, sem conta sua pele vermelha e seus enormes olhos que poderiam estragar o seu disfarce.

Bruno e Ulisses dividiam uma das janelas, observando a extensão de pasto com apenas uma estrada de terra a distancia, Maria e Guto dividiam a outra janela e observavam a residência. Era um casarão colonial repintado de vermelho, parecido com os que coronéis possuíam em tempo de escravidão, janelas e portões grandes de madeira com fechaduras pesadas de metais; uma escada de calcário levava a varanda alta que contornava todo o casarão. A porta havia três homens e duas mulheres.

O helicóptero pousou tranquilamente na pastagem, afastando galinhas que ali ciscavam, cachorros latiram e cavalos se exaltaram em seus celeiros; o rotor do helicóptero desacelerou, as hélices pararam por completo, o piloto que trouxe a equipe deixou sua cabine e empurrou as portas para permitir que o quarteto descesse. Guto foi o primeiro, o gigante se sentia desconfortável com o espaço pequeno, ao deixar o veiculo começou a se espreguiçar; Maria usou o ombro do gigante como apoio e desceu os pês ao chão; Ulisses e Bruno por último, os olhos do ocultista brilharam em lilás e quando os seus anfitriões vieram recebê-lo, ele soprou uma areia branca sobre os rostos dos mesmos.

Invocus: Oculus Ocultus!

Da palma da mão do ocultista estendida também voaram vários pentagramas pequenos de cor roxa, com desenho de um olho e uma vareta, cada um atingiu o rosto de seus alvos, Baltazar, seus homens, mulheres e todos os moradores da fazenda. Bruno quase desmaiou se não fosse Guto o segurar, uma magia simples se precisasse invocar apenas um pentagrama, no entanto, vários exigia muita energia e esforço.

— Bem vindos a Fazenda da família Baltazar! É claro! Eu sou Baltazar e... — disse o mais velho entre os homens, sem notar que seu rosto estava coberto com um pó branco. — O que houve com seu amigo?

— Enjoo de voo! — respondeu Maria, mais rápido. — O coitadinho tem estomago fraco!

— Entendo, homens e sua maquinas voadoras... — resmungou o Sr Baltazar levando um charuto à boca. — Se não traz nenhum benefício a minha fazenda, para mim é inútil. Rapazes! Peguem as malas dos nossos convidados e damas, apresentem os quartos. Servirei o almoço brevemente, é melhor que vocês estejam mais dispostos a me encontrar a mesa.

— Sim, senhor! — disseram em uníssono seus serviçais.

Os homens, vestidos como boiadeiros iam à frente com as malas, enquanto as mulheres de longas saias de serviçais acompanhava o quarteto, começaram a reparar em seus rostos banhados de poeira, mas culparam o forte vento das hélices. O helicóptero subia aos céus se afastando, e partiu-se seu único meio de transporte.

— Havia necessidade de jogar terra nos rostos deles? — sussurrou Maria a um ocultista fraco.

— Você não queria que eles vissem que eu faço magia, ou que você anda por um gramado descalço sem sujar os pés! — respondeu Bruno. — Um feitiço de ilusão, permite que eles não olhem nosso lado sobrenatural.

— Então quer dizer que posso levitar? Não aguento ficar com os pés no chão!

— Não abuse da sorte, fiz uma magia simples que faz aparecer um calçado no seu pé, transforma um extraterreste em um garoto humano e tira o saco da mão de um gigante!

— E como sabe que está funcionando?

— Vocês ainda não notaram que estou de capa!

— Que capa? — Maria olhou com mais detalhe a Bruno, e então notou um tecido balançando ao vento, sua capa roxa presa ao seu pescoço. — Você usou o feitiço em nós!

— Precisava testar para ter certeza, é a primeira vez que o uso! — argumentou Bruno.

Pararam de conversar, seus tons de voz estavam ficando cada vez mais altos e quase estragando sua magia contando as duas senhoras que o acompanhava. Nas horas seguintes surgiram vários acidentes que precisaram de mais do “Oculus Ocultus”, Maria pediu que Bruno lhe permitisse entrar no casarão, entretanto por acidente ela apareceu dentro de um dos espelhos dos casarões; o boné de Ulisses caiu, revelando sua careca vermelha rugosa e Guto derrubou alguns vasos com seu modo desajeitado. Este último não parecia algo sobrenatural, mas o gigante se sentiu tão culpado que Bruno resolveu fazer esse favor e apagar a memória de quem viu o acidente.

O gigante ganhou um quarto pra si, assim como Maria, diferente do ocultista e do ET que tiveram que dividir um pequeno cubículo de parede de madeiras, janela grandes com cortinas pesadas, uma cama de casal com grossos lençóis e dois grandes travesseiros, um armário de pinheiro, e um pinico de porcelana debaixo da cama. Ambos terminaram de se trocar e lavar os rostos, os quartos não eram úteis, eles sabiam que aquela seria sua última noite no casarão.

Em torno do meio dia, os quatros deixaram seus aposentos, avisados pelas empregadas em suas portas, o Senhor Baltazar convidava todos ao almoço; Todos se reuniam a enorme mesa de mogno e tampo de vidro, castiçais e uma variedade de comidas enfeitavam a mesa, vez ou outra havia tecnologia como celulares e uma televisão, no entanto, aquela casa parecia ter mergulhado no período do coronelismo.

Sentado à cabeceira da mesa, o anfitrião, o Sr. Baltazar, um homem nas faixas dos cinquenta anos, barrigudo, bigode negro que escondia seu lábio superior, nariz de batata, olhos pequenos como amêndoas, rosto vermelho, vestindo com um peão de rodeio. Ao seu lado, deduzia o quarteto, ser a Srta. Baltazar, ela era muito nova e graciosa, vestia como uma camponesa e tinha um hematoma no rosto, no canto do olho esquerdo. Uma criada sentava ao seu lado, assim como dois homens empregados do Sr. Baltazar sentava ao lado contrario da mesa a sua esposa; o quarteto foi convidado a sentar na cabeceira oposta, com Bruno na ponta, Guto a sua direita, Maria e Ulisses a sua esquerda.

O ocultista queria tomar a palavra, mas o coronel o censurou, e pediu que conversassem após a refeição; criadas serviram porcos assados, feijão mexido, arroz com galinha, etc. Ulisses degustava a comida com um pouco de desconforto, Guto não reclamava e levava tudo à boca, Maria não pegou em seus talheres, Bruno contou que ela seguia uma dieta, o coronel entendeu.

— Essas mulheres modernas e seus malucos regimes! — disse o Sr. Baltazar. — Por isso eu prefiro alguém com mais carne!

— O que houve com seu rosto? — perguntou Maria para a Sra. Baltazar.

Sem levantar a cabeça da linha de visão de seu prato, a jovem respondeu.

— Escadas!

Nenhum dos quatro notou, mas o Sr. Baltazar apalpava a coxa de sua mulher por baixo da mesa, ela apenas se assustou, logo disfarçando levando um talher a boca. Maria estava muito incomodada, não somente pela comida mortal que não poderia degustar, mas pelas atitudes do fazendeiro; o hematoma no rosto de sua mulher levantava uma suspeita: ele batia nela. A fantasma arranhava suas unhas contra sua pele, se segurando para não avançar sobre aquele homem porco.

— Então, senhor Baltazar! — falou o ocultista. — Quanto mais cedo nos adiantássemos, mais poderíamos salvar sua vida. Conte-nos, o que está acontecendo?

O fazendeiro trocou o peso do corpo de um lado para o outro na cadeira.

— Esta acontecendo faz sete dias, desde Domingo passado, no começo não eram nada demais, os três primeiros dias eram janelas batendo a noite, luzes piscando e som de galopar; acreditávamos que eram os ventos, queda de energia ou apenas algum de nossos baiões que se soltou a noite. — contou o fazendeiro.

— E o que fez mudar de ideia? — perguntou Bruno.

— O quarto dia... Os animais ficaram loucos! — exclamou o fazendeiro fazendo gesto com as mãos. — Eu tinha seis homens de minha total confiança; na quarta, pedi para que dois deles cuidassem dos cavalos e verificassem o que estavam o assustando, eles foram pisoteados quase até a morte, estão agora internados com costelas quebradas no hospital local. Na quinta e sexta, tivemos infestações de formigas que atacaram as terras, as plantações e nosso casarão; dois de meus homens receberam varias picadas e também tiveram que ser internados. Então ontem a noite começou a sua aparição, um fogo acesso circulava entre as plantações, nós o vimos, negro, alto, montado a cavalo, galopando em torno da fazenda assoviando e trazendo a mão uma vela. No dia eu estava fora, em negócios na cidade, meus homens não conseguiram o capturar, por isso vocês me foram indicados; houve-me boatos que vocês são especialistas em captura.

Bruno queria rir da situação, era este o disfarce? Os quatros eram capturadores de criatura fantástica? Um fantasma, um ET, um gigante e um ocultista, era a piada presente.

— O Negrinho do Pastoreio! — respondeu Maria, as descrições batiam com a lenda.

— Negrinho do Pastoreio? — o fazendeiro gargalhou. — Aquela lenda estúpida de um escravo que foi salvo pela Nossa Senhora Aparecida? Não! Aquele era um homem mais velho, não um garoto! Este é o famoso Justiceiro que as bandas dos pampas contam!

— Justiceiro? — perguntou Ulisses.

— Sim, meu pequeno homem! — zombou o fazendeiro. — O Justiceiro, ou o Salvador; é como ele é conhecido pelas bandas; O homem montado a cavalo que mata fazendeiros e “liberta” os camponeses de seus serviços, apenas isto, não a nada de santo ou mágico. Mas se eu o encontrar, minha carabina não medirá esforços em estourar a cabeça deste desgraçado!

— Pelas informações levantadas e acolhidas por testemunhas, ele parece ser imune a qualquer arma de fogo. — argumentou o ocultista.

— Fracos de pontaria, tenho os melhores homens treinado em tiro e...

— Quatro já foram parar no hospital! — interrompeu Maria. — Inclusive, estes relatos não parece algo “não mágico”!

— Ele parece perseguir infiéis... — disse Bruno chamando a atenção a si.

— Eu tenho meu dízimo em dia, toda semana a paróquia da cidade recebe uma generosa doação e parte de meu leite! — respondeu o fazendeiro. — Meu lugar no céu está garantido!

— Pecados não são dividas para serem quitados com bens de consumo. — respondeu rispidamente a fantasma.

— Por ser uma mulher da cidade grande, você possui uma língua muito afiada! — bufou Sr. Baltazar, se levantando e pegando sua mulher pelos braços. — Vamos Ana! Quanto a vocês, foram pagos para me proteger, fui informado que eram os melhores, ainda que eu não precisasse, no entanto, meus homens insistiram em querer reforços! Tem passe livres para percorrer qualquer área da fazenda e tomarem qualquer medida que impeça este maluco! Eu o quero morto!

Ana estava preste a levantar e impedir que ele levasse sua mulher, entretanto Breno a puxou de volta a cadeira, o que foi um alívio ela não está intangível; O ocultista não poderia deixar estragar os planos, lançou um olhar a Maria e jurou silenciosamente: “Eu prometo que ele pagará seus feitos, mas primeiros, concentração!”.

***

Anoiteceu.

Os camponeses encaminharam a um conjunto de quatro casas de madeira na área leste da fazenda, eram como antigas senzalas e não parecia suprir a quantidade de trabalhadores. Maria chegou a conversar com Ulisses no banheiro, ele não se sentia incomodado com uma garota presa a um espelho enquanto ele fazia suas necessidades extraterrestres.

— As condições de trabalho são deploráveis — ela reclamava

— Sim! — respondia ele.

— E aquela mulher, aquilo não era escadas, ela foi agredida! — ela gritava, mas felizmente abafada pelas paredes do cômodo.

— Sim! — respondia ele.

— Eu quero matar aquele velho! — resmungava.

O alienígena concordava com a cabeça.

Duas horas de sono para a vigília noturna e o quarteto mais os dois capangas de Baltazar já estavam prontos. Bruno, Guto e os dois homens, um se chamava Pedro, o outro Zé, vigiaram cada um dos quatro cantos do casarão. Maria levitava por meio a plantação, invisível para não ser confundida com o seu adversário e Ulisses estava no ponto mais alto da casa, em um cômodo ao lado do quarto do Senhor e Senhora. Baltazar; ele trazia um binóculo e sua arma não mais confiscada, assim como também cuidava de um aparelho de comunicação de rádio, emprestada pelo sargento, cada um tinha um rádio comunicador e poderia comunicar com o outro a distância.

A lua cheia subiu e atingiu o ápice no céu noturno, Ulisses se distraiu com as estrelas e suspirou sentindo saudade de casa, ele havia aprendido o nome das estrelas dado pelos terráqueos. Sua casa se localizava na distante Galáxia Andrômeda. Ele apontou o binóculo para a constelação de mesmo nome, apenas conseguia ver o brilho, uma galáxia disfarçada de estrela. Então o barulho de cascos sobre terra batida. Ulisses se desconcentrou e não observou sua caça contornando os limites da fazenda adentro da plantação.

O fazendeiro estava certo, não era um garoto como as lendas, mas um homem negro na faixa dos trinta anos, apenas com uma calça branca de pano, montando em um alazão caramelo, os braços fortes, o direito segurando as rédeas, enquanto o esquerdo segurava uma espécie de lampião aceso, como se ele quisesse realmente chamar a atenção, ele queria ser caçado.

— Coelho... (ruído) Toca... — comunicou o extraterrestre no radio comunicador.

Os capangas armaram suas espingardas, Bruno acendia um pentagrama, Guto levantava o seu saco pronto para capturar qualquer um, então o combate iniciou. A primeira arma foi disparada e o primeiro grito, Ulisses acompanhava com seu binóculo do alto e trocou de janela para saber a origem dos gritos, o que encontrou foi o capanga Zé caído ao chão inconsciente. O ET correu à janela oposta, mas não encontrou o segundo capanga, voltou a sua primeira janela e observava Guto e Bruno cercar o Negrinho.

— Não tem como escapar! Se renda! — gritou Bruno.

O Negrinho não o escutou, exibiu seu sorriso branco e avançou em galope para cima do ocultista; então um pentagrama roxo ascendeu ao chão, o mesmo usado no Homem Diabo, Bruno havia desenhado ele no solo antes, em diversas partes da fazenda, o pentagrama de contenção. O ocultista abriu um sorriso, mas logo mudou a expressão para surpreso, quando o Negrinho conseguiu romper o pentagrama e o acertou no rosto com o lampião que trazia a mão. Guto contra-atacou e jogou seu saco contra o cavalo que foi sugado como se fosse uma estrela sendo consumida por um buraco negro, Negrinho apenas saltou de sua montaria para não ser abduzido junto.

Depois que o equino sumiu, Guto voltou a abrir seu saco para conter o Negrinho, no entanto, ele não se mexeu um centímetro. Quando o gigante estava pronto para captura-lo, pequenos seres subiram suas pernas e começaram a mordê-lo. Guto começou a gritar e a se coçar para retirar as formigas do seu corpo.

Invocus: Spherus Mania! — Bruno gritou do ponto em que foi derrubado, seu nariz estava retorcido e um filete de sangue escorria.

De suas mãos pentagramas roxos com desenho de três círculos e uma vareta brilharam, então esferas de energia de cores dourada foram disparada contra o Negrinho. O alvo apenas brilhou como uma lâmpada e todas as esferas de energia acertaram seu corpo, mas sem causar nenhum dano; Bruno olhava incrédulo às suas mãos.

— Minha vez! — disse o Negrinho.

Suas mãos brilharam e chamas as cobriram, ele as movimentou como se fosse lançar uma bola e labaredas de fogo foram disparados contra o ocultista. Ele somente teve tempo de utilizar o Scuna Ariety para se proteger, no entanto, o escudo apenas o impediu de ser queimado, o impacto o lançou a cinco metros adentro da plantação. Negrinho se virou ao casarão, deu um passo e um disparo laser quase atingiu o seu pé, ele olhou para o alto e observou Ulisses tremendo de medo com sua arma laser apontado para ele. Negrinho riu e continuou a caminhar em direção a casa, Ulisses fraquejou e deixou o receio o dominar; ele saia que aquele cara era bastante poderoso, ele derrubou um gigante com formigas e resistência às magias do ocultista, o que ele poderia fazer? Mesmo tendo uma boa mira, ele sabia que sua caça tinha imunidade a armas de fogo.

A batalha se mudou para o casarão, provavelmente o Sr. Baltazar também acompanhava o combate das janelas, pois o barulho da porta de seu quarto abrindo e de uma arma sendo engatilhada foi ouvido pelo extraterrestre. Ulisses deixou seu quarto apenas para observar o fazendeiro, sua mulher e o capanga chamado Pedro descer as escadas, ele indo logo atrás. Os quatros encontraram o Negrinho na Sala de Visitas, onde ele se deitava em um sofá colonial com estofamento vermelho e coberto por um pano rendado.

— Olá, Senhor Baltazar! — Negrinho usou o lampião que usava para acender um fumo e levou à boca. — Sua casa é reconfortante...

Baltazar apontou sua espingarda e atirou, Negrinho brilhou e a bala ricocheteou, atingindo a coxa do capanga do Sr. Baltazar, ele urrou de dor e caiu ao chão, a mulher de Baltazar gritou e foi socorre-lo.

— Levante mulher! — gritou Sr. Baltazar. — É seu marido que precisa de ajuda!

O Negrinho desapareceu do sofá.

— Para onde ele...

O fazendeiro não teve tempo de terminar a pergunta, o rapaz negro surgiu ao seu lado como um fantasma, Sr. Baltazar virou o rifle, mas Negrinho o pegou de sua mão e dobrou ao meio. O fazendeiro se afastou e começou a cair sobre os móveis, assustado; Ulisses estava paralisado de medo e não conseguia atirar no rapaz com receio do projétil atingir o Sr. Baltazar; sua esposa ainda estava aos prantos enquanto estancava o sangramento da coxa do capanga.

— Quem é você? — perguntou Sr. Baltazar. — O que quer de mim? Meu dinheiro? Meus animais? Eu posso... Eu posso lhe dá qualquer quantia!

— Eu vim liberta meu povo!

— Você esta falando dos catadores? Mas eles são meus, eu os pago bem, dou moradia e comida e...

— Não, você os engana, traz a proposta de vim trabalhar na sua fazenda para viver na cidade grande, tiram eles de suas terras natais e os enche de dividas de “passagem”, trata-os como animais, mercadorias, em más condições de trabalho — rosnou o Negrinho avançando pesadamente. — E quem lhe desafiar a não pagar a dívida, você e seus capangas o matam... Os mortos se lembram de tudo, os mortos nunca esquecem! Eu sou Negrinho do Pastoreio, protegido pela Virgem Maria, e eu o condeno a...

Ulisses não entendeu o que aconteceu, mas uma das garrafas da coleção de rum e vinho do fazendeiro começou a levitar pelo cômodo, enquanto Negrinho falava seu discurso de justiça, ela se aproximou e o atingiu na cabeça. Um impacto foi o suficiente para derruba-lo e o deixar inconsciente no chão. Sr. Baltazar não havia entendido, seu primeiro estado foi choque, depois surpresa e admiração, ele começou a rir sem parar e se arrastou até o rifle de seu capanga, no entanto, Maria surgiu no corredor da casa e o impediu de pegar.

— Não!

— Mas eu quero mata-lo! — reclamou Baltazar.

— Agora ele é um prisioneiro oficial do Exército Brasileiro!

— Do que diabos vocês esta falando mulher, eu tenho direito de tira a vida deste maluco, ele invadiu minhas propriedade e...

— Não tem Sr. Baltazar! Ai! — disse Bruno surgindo à porta, com um distintivo a mão com o brasão de metal das Forças Armadas Brasileira — Eu sempre quis fazer isso, mas nós somos do exército, e nossa missão é capturar este rapaz!

— Força Armadas? Exercito? — Sr. Baltazar se virou ao capanga. — Vocês não me falaram que a ajuda seria vinda do exército.

O capanga nada respondeu, ele continuava sendo auxiliado pela mulher de Baltazar, o que parecia até estranho, ela estava dando mais atenção a Pedro que a seu marido.

— Vamos Ulisses, me ajude com o corpo! — disse o mago pegando o Negrinho pelas pernas e Ulisses vindo ajuda-lo carregando pelos braços. — Senhora, eu temo que ele precise de cuidados médicos, podemos oferecer carona até o hospital mais próximo.

A mulher concordou e ajudou o capanga a se levantar e a mancar até fora. Deixando Maria e o Sr. Baltazar sozinhos. Bruno reclamava algo sobre ainda buscar um gigante com ataque de coceira no meio da plantação.

— Espere um momento, ela é minha esposa! E ele deve ter alguma recompensa! Eu devo ser contabilizado pelos estragos que vocês fizeram em minhas terras, eu...

— Você deveria apenas ficar calado! — flutuou Maria, transformando-se em sua aparência assustadora e avançando contra o fazendeiro.

Gritos.

Sr. Baltazar nunca mais foi visto pelos seus empregados em suas terras.

***

Bases 616, Iguaçu, 2030

— Vocês o que? — perguntou o Sargento Brandão.

— Matei o fazendeiro! — disse Maria flutuando.

Os quatro estavam em um cômodo que mais parecia um tipo de Sala de Espera: Bruno com suas veste de ocultista, sentava a uma poltrona, Ulisses sem o seu disfarce dividia o sofá com o gigante Guto que já tratava suas picadas com uma pomada, enquanto Maria flutuava aos céus com um casal de bonecas, a mulher do fazendeiro e o capanga, eles eram amantes.

— Isso vai custar mais perseguição da imprensa... — disse o sargento enxugando a testa com um lenço. — Muito bem, vamos começar os trabalhos...

— Como estão o Homem Diabo e o Negrinho do Pastoreio? — perguntou Bruno que degustava de uma caneca de jujubas, enquanto bebia a suco de carambola servido ao quarteto.

— Obrigado por perguntarem, nossos conciliadores estão cuidando dos tratos! Acompanhem-me! — ordenou o Sargento.

Os quatros foram levados por um corredor fechado de metal, onde soldados patrulhavam encostando-se a parede a cada metro, luzes brancas de neon preenchiam o teto do corredor com intervalos iguais, ao fim se encontrava uma porta com maçaneta giratória como a de bancos de segurança máxima, dois soldados que patrulhavam giraram-na e digitaram uma senha no painel eletrônico ao lado da porta.

As fechaduras estalaram e a porta se abriu a um corredor maior. Celas de vidro preenchiam toda a extensão do cômodo, mas todas estavam protegidas por uma tela negra, como se as criaturas que mantinham ali não eram necessária serem vista. Excetos duas exibiam luminosidade, o que indicava serem os recentes prisioneiros, Sargento encaminhou para a primeira no lado esquerdo do corredor. O quarteto encontrou-se com seu último capturado, o Negrinho do Pastoreio.

— Negrinho do Pastoreio, nunca foi nomeado, sem registro de nome ele aceitou ser chamado de Jorge, algo relacionado à sua religiosidade, cristão católico, ele se afirma ser como um cavaleiro de sua madrinha, Nossa Senhora da Aparecida. — respondeu Sargento Brandão. — Ele irá cooperar com o caso, em troca de perdão pelos seus crimes; segundo o mesmo, ele sabia que teria que quitar sua dívida com as leis humanas, já que nas leis divina ele se perdoa todos os dias.

Jorge estava sentado em frente a um dos agentes do Sargento Brandão, seus olhos fixos ao seu conciliador, mantinha a mesma aparência quando havia sido derrubado por Maria; O cavaleiro retirou algo do bolso, uma fotografia, entregou ao conciliador, ele começou a chorar e deixou a sala.

— Mas o que foi que ocorreu? — perguntou Maria.

— Nas lendas, Negrinho do Pastoreio é conhecido por encontrar objetos perdidos! — explicou Bruno se lembrando das histórias. — Há um ditado popular: “Se Negrinho do Pastoreio não encontra, ninguém encontrará!”.

O cavaleiro olhou fixamente a fantasma, como se lembrasse de quem o acertou na cabeça, no entanto, ele não parecia magoado, na verdade exibia até um sorriso. Maria não sabia se por ser capturado ou de alguma forma souber que ela havia matado o Senhor Baltazar.

— E quanto ao Homem Diabo? — perguntou o ocultista.

— Seu nome de batismo é Francisco Lúcio! — respondeu o Sargento Brandão. — Ele foi o famoso Bebê Diabo noticiado no triângulo paulista, reza que ele é filho do próprio Diabo com Maria Angeline, sua mãe, que morreu quando deu a luz. Francisco conta uma versão diferente, segundo ele o seu pai é um humano comum, cearense, mas que foi possuído por um demônio, e o mesmo lhe levou a sua terra natal, fugindo das perseguições.

Na outra prisão estava Francisco, algemado, amarrado, acorrentado e apenas com uma camisa chamuscada e bermuda; olhava furiosamente para o conciliador e parecia fazer ameaças. O vidro impedia que fossem ouvidos os sons, mas Breno tinha total certeza que não eram palavras de carinho e amor.

— De que forma ele poderia ser útil? — perguntou Maria, tanto incomodada em ter o Homem Diabo na equipe, quanto vê-lo aprisionado, não parecia o certo. — Seu estado é deplorável!

— Nossos conciliadores farão o seu melhor! — disse o Sargento. — Acho melhor vocês descansarem e...

— Não antes de o Senhor responder. — interrompeu Bruno — Qual o propósito de juntar seis dos seres mais peculiares da historias brasileiras? O que um extraterrestre, um meio-demônio, um cavaleiro justiceiro, um fantasma vingativo, um gigante caçador e eu, um ocultista refugiado estamos metidos? Quem é agora, o nosso inimigo?

Sargento se virou ao ocultista.

— Excelente pergunta!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ei, chegou ate aqui?

Deixe um comentario, conte-nos o que achou do capítulo, e faça surgi um sorriso no rosto deste escritor :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Liga Extraordinária Brasileira" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.