A Canção de Fogo - Faíscas escrita por Sapphire


Capítulo 20
Verirsis I


Notas iniciais do capítulo

Esse é um capítulo que eu gostei de ter escrito, porque ele aborda alguns acontecimentos passados da Família Parsons, assim vocês conhecem mais um pouco de cada um :)))



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A velha Shera contava para Verirsis sobre como a vida passava diante de seus olhos em momentos de morte. Ele sempre imaginava que aquilo devia ser só uma história, e quando finalmente acreditou, preferiu que fosse mentira. 

No começo de sua adolescência, ele estava à beira da morte após adquirir uma doença muito comum por matar os mais jovens no Norte em épocas frias. Já fazia semanas desde que o rapaz estava deitado em sua cama com uma alta febre que parecia aumentar cada vez mais. 

“Crianças, não corram! ” Ouvia a voz da cuidadora tentando chamar atenção das crianças Parsons. Os flashes de seu passado o fizeram lembrar de quando ele e sua família tinham indo visitar sua tia, a Rainha Fiona Pachini, irmã de sua mãe Elli.  

Na época, Verirsis tinha apenas 8 anos, sua irmã Clair brilhava com seus 10, um pouco mais nova que Aeris que possuía 12 anos. Os três corriam acompanhados de seus primos, Flora Pachini e Lontres Pachini.  O dois tinham as características típicas dos Pachini, eram brancos, não tão claros quanto os Parsons, mas eram brancos. Seus cabelos loiros ondulavam, e seus olhos eram lindos, azuis. O pequeno Verirsis costumava se perguntar se quando sua mãe era jovem, era igual a sua prima Flora, pois as características eram iguais. Os irmãos Pachini eram tão pequenos quanto os irmãos Parsons.   

A visita dos Parsons para o reino de Livada se dava graças ao fato da morte do marido da sua tia Fiona. Korfi Pachini era o Rei, e morreu por causas que ninguém nunca tinha descoberto. 

O príncipe do Norte lembrava de correr pelos campos floridos dos jardins do Palácio dos Pachini. Uma sensação muito boa, que até o momento não havia se repetido. Porém, do que ele sentia falta era daquela alegria que invadia seu coração quando estava junto de seus irmãos no passado. Agora, eles só se reuniam nos jantares, mas não era a mesma coisa.  

Verirsis aprendia a lutar com um cavaleiro de seu pai, de vez em quando, Aeris ensinava, mas na maioria das vezes estava ocupado aprendendo a ser um rei. Clair e Praire passavam mais tempo juntas, por serem mulheres suas ocupações eram parecidas.  

“Como você cresceu!” A voz de seu tio Vroiner soou em sua cabeça. O irmão de seu pai o elevou pelos braços e girou o pequeno Verirsis.  

Eles estavam na festa do Norte, um jantar anual que reúne todas as famílias importantes do Norte. Naquele dia até mesmo os homens da Rocha foram. Por isso, seu tio estava ali. 

Os homens da Rocha são soldados altamente treinados no extremo norte, antes do lugar onde é sempre dia de neve. Eles são controlados pelos Troknys, uma família menos poderosa que os Parsons, mas com o auxílio do Rei do norte,  os homens da Rocha formam uma força quase imbatível.   

“Recebam vossas majestades, Rei Kloire Parsons e a Rainha Elli Parsons Pachini”. Lembrou de uma voz soando no meio da festa. 

 Sua mãe, a rainha Elli estava mais deslumbrante do que nunca. Seus longos e loiros cabelos ondulavam em um penteado, que deixava os fios soltos na altura dos ombros. A coroa prata estava encaixada perfeitamente no topo da cabeça, dando um ar mais gracioso ainda. Os cabelos brancos de seu pai combinavam com a coroa da mesma cor que a de sua mãe.  

Verirsis estava sentado em uma cadeira, se deliciando com caranguejos trazidos direto do reino de Caphiro.  Clair estava distante dele, rindo e conversando com suas amigas. De longe ela era a mais linda entre elas, da mesma forma que Aeris se destacava entre seus amigos. O caçula colocou a mão no queixo e rezou para ter um irmão mais novo, quem sabe dessa forma ele tivesse um amigo para compartilhar momentos assim. 

Foi quando um homem com vestes brancas se aproximou, o rei Kloire deu um sorriso para seu filho e se sentou ao lado dele. 

“O que faz sozinho? ”  Sua voz soou atenciosa. “Não devia estar correndo com as outras crianças? ” 

“Elas não gostam de mim...” Respondeu olhando para o chão.  

“Por qual motivo eles não gostariam do Príncipe do Norte? ” Seu pai levantou uma das sobrancelhas com um pequeno sorriso no rosto. 

“Eles dizem que sou um bruxo! Que somos amaldiçoados por ter essa aparência” Ele soou triste. "Eu só queria ter um amigo” Observou sua mãe a alguns metros de distância conversando com algumas Ladys. “Espero que mamãe me dê um irmão”. 

"Sendo menino ou menina, será seu amigo, assim como vocês e seus irmãos são próximos" Confortou o filho. 

"Será mesmo?" Antes que pudesse falar que não se sente tão próximo de seus irmãos, Clair surgiu no meio dos dois. 

"Ver, vamos ali, minhas amigas querem te conhecer!" Após ouvir isso, o Rei Kloire deu um sorriso e se despediu de seus filhos, se juntando aos seus semelhantes.  

Após alguns segundos Veririsis estava andando pelo salão de festa em direção das amigas de Clair, o garoto estava nervoso, mas não sabia o porquê. Tentou respirar fundo, mas isso não ajudava em nada. Enquanto se aproximava, ouvia as vozes femininas "Ele é tão fofo!" "Que cabelo lindo!". 

A memória que se seguiu foi o forte grito de sua mãe que preenchia os corredores do castelo de gelo. O garoto, que devia beirar os 9 anos, estava observando a movimentação no corredor.  

Verirsis! Entre! ” A voz de Clair soou pelo corredor, e logo o garoto estava dentro do quarto de Aeris junto com os outros irmãos. 

“Espero que seja um menino” Verirsis desabafou caindo sob a cama. 

“Espero que seja uma menina” Clair sorriu. 

“Espero que mamãe fique viva” Quando Aeris disse aquilo, os outros dois irmãos o encararam. “O que? ”.  

As lembranças que se seguiram foram de Verirsis andando até os aposentos de sua mãe. Quando ele abriu a porta, ela estava deitada olhando para o bebê mamando em seu peito. Clair deslizava seus dedos entre as mechas loiras de sua mãe. 

"Filho, venha conhecer sua irmã" A voz suave de Elli soou como se fosse um sonho e, ao se aproximar da cama, ele viu um pequeno bebê tão branco quanto a neve. Lembrou de se perguntar se quando nasceu ele era tão feio assim. 

“Não é mais o caçula, parabéns” Clair deu um sorriso. 

O garoto estava triste, ele respirou fundo e sua mãe percebeu o semblante. Assim que Clair se retirou do quarto, ela fez um sinal com a cabeça e as servas que estavam em volta também saíram.  

"Por que está tão triste?" Perguntou. 

"Você não vai mais me chamar de pequenininho, agora você não vai mais gostar de mim" Verirsis disse de cabeça baixa. A mãe dele deu uma pequena risada, quando percebeu isso, ele virou a cabeça para cima e perguntou franzindo as sobrancelhas. "Qual a graça?" 

"Não é porque você não é mais o menor que eu vou deixar de gostar de você, Veririsis" Começou a passar a mão em seus cabelos "Mesmo quando você for bem velhinho eu ainda vou te amar da mesma forma". 

O garoto deu um sorriso à medida que a visão ia ficando mais turva. 

"Já estamos chegando?" Ele já era crescido quando disse isso. Seus olhos cinzas olhavam pela janela da carruagem. Respirava fundo olhando para a vista da floresta no caminho de Aksum. Essa era a pior parte em uma viagem, a demora que eles tinham sempre que se deslocavam de um reino para o outro. 

"Nada mudou desde a última vez que você perguntou" Aeris disse olhando para ele. "Fique calmo, vai demorar menos do que quando fomos para Livada visitar nossa tia... Você lembra?" 

Verirsis fez que sim com a cabeça. 

"Será que eles estarão lá?" Clair não desviou seu olhar da janela. 

"Até onde sei, todas as famílias reais foram convidadas para o décimo quarto aniversário do Príncipe Hélius Tass" Aeris explicou para sua irmã. 

"Nós também somos príncipes, nem por isso temos enormes comemorações" Veririsis desabafou. A criança já devia ter por volta de 11 anos, seus cabelos brancos começavam a tocar o pescoço e suas bochechas tomavam um tom rosado a medida em que saíam do frio e entravam no calor. 

"É diferente" Clair voltou a atenção a seu irmão "Por mais que os reinos sejam independentes, de uma forma ou de outros todos são dependentes de Aksum, o que o torna o Reino mais importante, uma espécie de Capital". 

"Eu quero ver seus dragões!" O mais novo soltou um sorriso. 

"Dragão" O mais velho corrigiu. Depois de alguns segundos ele explicou. "Só resta um dragão em Aksum, ele é bem velho, tão velho que quando o Rei Cefiso Tass I conseguiu doma-lo, o dragão já era um adulto... Logo depois da morte do Rei, o dragão foi domado pelo seu filho, o atual Rei Átila Tass II. Nem mesmo os dragões são imortais Verirsis, e pelo jeito, Akk será o último de sua espécie, já que ele não colocou ovos" 

"E como ele põe ovos?"  Verirsis perguntou.  

"Isso eu não sei" A Voz de Aeris pareceu ter ficado cada vez mais longe, até sumir totalmente, apenas para ser tomado pela voz do mesmo em um som mais forte. Cuidado! ”  

Verirsis se esquivou para conseguir escapar do corte que sofreria com a espada. Naquela altura do campeonato, o garoto já devia ter quase 13 anos, seus cabelos haviam sido cortados recentemente e os fios brancos mal tocavam as orelhas. 

 Era o Príncipe do Norte contra um soldado qualquer. Eles estavam em um pátio cercado por galerias vazias.  

“Firme sua base! ” Aeris gritou mais uma vez.  

O garoto correu para atacar o soldado e um passo em falso o fez ser derrubado. Ele fitou a espada na sua frente, se não fosse um treinamento ela a cravaria em seu rosto encerrando de uma vez com sua vida. 

“Mais uma vez” O irmão mais velho disse. 

Verirsis ficou imóvel tempo o suficiente para Aeris gritar seu nome umas três vezes. E quando ia gritar uma quarta, o garoto se levantou e, depois de largar a espada no chão, andou furiosamente para o jardim. 

Seu corpo estava sentando em um banco ao mesmo tempo em que olhava para uma árvore de tronco preto e folhas brancas. Deixou que o ar escapasse de seus pulmões, uma espécie de sinal para a frustação que estava sentido. De cabeça baixa, sentiu os passos lentos vindo na sua direção, não se esforçou para saber quem era. 

"Por que saiu?" A voz de Aeris estava mais calma. 

"Eu sou uma vergonha para os Parsons, não sei como papai ainda não me deserdou" Ele soou indiferente. 

"Você está dizendo isso baseado no que?" O maior desviou os olhos do irmão e passou a focar na árvore. 

“Que espécie de Rei gostaria de ter um filho que não sabe nem lutar com uma espada? ” Verirsis suspirou.  

“Que espécie de pai ama o filho só porque ele sabe usar uma espada? ” As falas de Aeris silenciaram Verirsis. “Quando eu tinha a sua idade também não sabia lutar... Tudo tem seu tempo. ”  Longos minutos em silêncio se passaram e o único som audível era o do vento movendo os galhos.  

Verirsis não entendia o porquê ele precisava ser um guerreiro, tentou explicar para seu irmão mais velho da forma que pode, mas pareceu não ter surtido muito efeito. 

“Vamos fazer um trato, eu não vou te pressionar tanto, certo? ” 

“Certo” O mais novo disse, e poucos segundos depois de dizer isso, foi surpreendido pelo abraço de Aeris. 

“Te amo, irmãozinho”  

“Também te amo, AerisA voz foi ficando cada vez mais distante, assim como sua visão que ia desaparecendo como cinzas no ar. 

Logo, toda alegria se transformou em uma tosse profunda. Ele não sabia quando começou a se sentir assim, o fato é que agora ele estava ali, vendo toda sua vida através de seus olhos... será que isso é morrer?  

Verirsis desejou ser mais velho, quem sabe assim ele teria mais momentos como aqueles para lembrar, e sua morte demoraria mais. A visão de um adolescente feliz ia se apagando, sendo consumido por algo ruim que corria em suas veias. 

“Eu vou sentir sua falta, irmão” A voz de sua irmã mais nova, Praire soava. 

“Eu te amo, filhoSeguido pela vez de seu pai, Aeris. 

As vezes essas palavras ressoavam em sua cabeça. Se até mesmo sua família já tinha aceitado sua morte, quem era Verirsis para continuar lutando? Deixou que um longo suspiro escapasse de seus pulmões e se viu lentamente deixar seu corpo. Mas não, aquele não era o fim do garoto. 

 Uma forte tosse reanimou todo seu corpo, ele abriu os olhos lentamente e se viu em um quarto totalmente embaçado. A voz surpresa de uma idosa, o suor na sua testa, o som do vento tentando abrir a janela. Verirsis sentia, ouvia e via tudo aquilo.  

Verirsis estava vivo. 


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Notas finais do capítulo

Iai, o que acharam??? Eu to bem ansioso para saber, não esqueçam de deixar seus comentários, beijos e até o próximo :D



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