Nemuru - Desperta-me escrita por Candle Light


Capítulo 7
Sand grain 砂粒


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo pra vocês gente ^^
Não esqueçam daquele comentário maroto, assim posso saber o que vocês acham do andamento da história, dos personagens etc. Isso é bastante importante!



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—Nemu, seu pai no telefone! - minha mãe chamou da sala. Deixei meu livro e fui atender.

Tou-san— cumprimentei da forma japonesa

—Oi filha, como está tudo?

—Na mesma, pai.

—Está gostando das aulas?

—Estou sim - lembrei mentalmente que não podia deixar escapar minha aulas de História da Arte ou Análise da Imagem.

—Quero te avisar que comprei uma passagem pro Rio daqui a duas semanas pra te ver e aproveitar e resolver umas coisas.

—Ah, ok! Me liga quando chegar e combinamos de fazer alguma coisa.

 

Conversei umas trivialidades com ele e desliguei. Não via meu pai desde a minha formatura, seria bom sair um pouco com ele. E ao mesmo tempo, muito perigoso. Como eu ia continuar fingindo estar estudando engenharia na cara dele? Uma coisa era por telefone, outra era pessoalmente. Senti um incômodo no estômago ao pensar nisso.

—Nemu, ‘tô saindo pro hospital. - minha mãe avisou

—Ta bem. - respondi e lhe desejei bom trabalho. A casa ficou solitária quando ela saiu. Só eu e Gâteau. Eu normalmente não ligava, mas me senti um tanto sozinha. Peguei meu gato, um balde de pipoca e fui assistir algum filme da Netflix.

Meu celular vibrou enlouquecidamente, atrapalhando meu filme. De uma hora pra outra todo mundo resolveu falar comigo? De fato tínhamos Daniel confirmando nosso passeio de patins do dia seguinte, Nicole surtando porque eu ia sair com ele no dia seguinte e....oh, essa era inesperada. Marina tinha me mandado algo. Uma exposição de arte no CCBB com os dizeres “ talvez te interesse :)”.Uma exposição de um artista que eu conhecia, que legal! Agradeci e disse que provavelmente iria. Confirmei com o Daniel, e Nicole eu até queria ignorar mas achei melhor responder.

“Eu espero que você me conte tudo o que acontecer amanhã”

“E que você vá muitíssimo pirigótica”

Era o que diziam mais ou menos as mensagens. Não consegui não rir ao pensar na minha pessoa vestida de uma forma “pirigótica”. Definitivamente uma visão ridícula. Mas em todo caso, não estava querendo impressionar ninguém. Nicole fazia daquilo como se fosse uma grande coisa, mas eu só pensava nisso como “é uma saída entre amigos” Ok, uma parte do meu cérebro sabia que Daniel não tinha me chamado só como amiga. E o que diabos eu faria caso as coisas rumassem muito para esse lado? Nem ideia.

Para distrair minha cabeça de ficar pensando coisas com quais eu não deveria me preocupar agora, voltei a ver meu filme com minha pipoca gordurosa de manteiga e meu gato balofo ao meu lado.

****

Bem, obviamente eu não poderia fugir disso por muito tempo. Lá estava eu, vestida para andar de bicicleta. Da forma como Nicole via, eu deveria estar vestida com leggings apertadas e uma blusa sem mangas sensual, mas eu estava de short cáqui e uma blusa larga turquesa lisa. Ou seja, provavelmente uma bosta. Mas era proposital, já que eu queria não me destacar.

Esperei onde marcamos, num quiosque na praia. Ele estava um pouco atrasado, o que me deixou ansiosa. Olhei a paisagem e tentei desfocar da minha ansiedade. O céu azul sem nenhuma nuvem à vista, o mar calmo, a temperatura agradável. Os meses de outono e primavera eram meus preferidos por causa da luminosidade e temperatura amena. Voltei meus olhos para baixo e lá estava o garoto se aproximando.

—’Tá atrasado, seu otário! - eu disse quando ele chegou, em tom de brincadeira. Deixemos as coisas leves, não é?

—Grossa. - ele respondeu, rindo.

Pedalamos até o fim da praia do Leblon, apostando corridinhas até os postos, e depois rumamos para o Arpoador ao fim da tarde. Prendemos as bicicletas e descemos as pedras para molhar os pés. Agora o céu estava tingindo-se de laranja conforme o sol baixava. Olhei as cores contra o fundo da praia e do morro dois irmão na outra ponta. A lua começava a despontar lá do outro lado, saindo do mar. Daniel aproximou-se.

E jogou água em mim!

Começamos a fazer uma guerra de água, até que me cansei e fiz uma bola de areia, prestes a ser atirada nele.

—Não! - ele gritou- Areia não vale!

—Trégua? - eu perguntei.

—Sim, só não joga isso em mim.

Joguei minha bola no mar, onde ela se dissolveu e se juntou aos outros grãos do fundo, indiferenciados do resto. Grãos de areia eram engraçados. Como as pessoas, eles podiam ser totalmente iguais para aqueles que não sabem enxergar que todos são únicos. Podem parecer iguais, mas era só olhar de perto e ver seus formatos e cores distintas.

Daniel se aproximou enquanto eu olhava, perdida, a areia revolvendo na beira da água.

—Nemu…

Ele pegou minha mão. Engoli em seco. Meu estômago pareceu cair. “Ai porra, eu faço o que agora? Eu quero pegar ele? Não, acho que não. Mas a gente se dá bem, será que não podia ser? Mas ele é só meu amigo!”

E isso foi o que passou na minha cabeça em apenas um segundo. E enquanto ele se aproximava mais do meu rosto, eu pensava que talvez, para ele, eu fosse um grão de areia que ele escolheu olhar mais de perto. Que eu não tinha nada a perder, e que talvez, desse certo.

“Mas e se não der!?” minha cabeça gritou.

Eu tinha menos de um segundo para decidir agora. A boca dele estava a meros centímetros da minha. E na confusão do meu cérebro, eu por fim pensei “ foda-se”.

E beijei meu amigo Daniel.


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