Nemuru - Desperta-me escrita por Candle Light


Capítulo 3
Play Hard 一生懸命遊べ


Notas iniciais do capítulo

Gosto muito desse capítulo, espero que gostem também! :)



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Para minha sorte (ou talvez não, não consigo decidir) Nicolas resolveu ir conosco. Agora provavelmente eu precisaria cuidar de dois bêbados ao invès de um só.

—Por que eu aceitei fazer isso mesmo? - perguntei com um fundo de esperança de dar uma desculpa pra fugir dali.

—Porque a gente vai te ajudar a socializar - Nicole respondeu me puxando pela avenida até a entrada da cancela que dava na Biblioteca. Assim que nos aproximamos eu comecei a me arrepender mais ainda. O corredor que era formado pelo prédio da biblioteca e o do Museu de Ciências da Terra estava repleto de gente e isopores, latas de cerveja e garrafas pelo chão. Antes que eu pudesse protestar, Nicole foi até uma barraquinha e trouxe um copo que enfiou na minha mão.

—Toma. Álcool vai soltar você. -ela mesma já tinha um outro na própria mão. - Agora me mostra alguém do seu curso aí.

—Ahn… - olhei em volta. Putz, ia ser difícil. Tinha gente demais pra reconhecer alguém. - Ah, uma hora a gente acha - eu disse, com o intuito de que ela esquecesse logo sobre isso.

Nicolas olhava em volta meio perdido e buscando pessoas que lhe interessassem. Ele era meio sem jeito para paquerar garotas na noite, mas ele sempre tentava de qualquer forma. Ele era fofo e era seu melhor trunfo.

—Tem alguma garota legal na sua turma? - ele perguntou.

—Creio que sim Nicolas.Não fiz amizade com ninguém ainda, então nem posso te apresentar. Foi mal.

—Ah, tudo bem. Eu provavelmente só vou dançar e beber hoje mesmo. - ele geralmente era muito otimista, ao ponto de quase ser trouxa. Mas acho que estava aprendendo.Sorri para ele.

—Vamos nos focar em nos divertir.

 

Bem, Nicole esqueceu bem ráido de seu plano de me enturmar com as pessoas do meu curso. Umas duas horas depois ela já estava bêbada e eu já estava tonta depois de várias coisas que ela botou na minha mão para beber. Beberiquei a atual bebida do meu copo, e olhei sem entender. Como eu estava com aquela coisa rosa e doce do demônio na minha mão se a última coisa que eu lembrava era de estar bebendo Ice? “Acho que é hora de dar uma parada e sentar um pouco” pensei. Minha cabeça estava leve e meio rodopiante.

—Nic! - gritei no ouvido dela, puxando-a para perto - vou sentar ali na beirada da rampa!!

—’! - ela disse sem prestar muita atenção e voltando para a área cheia de cascalho na frente do prédio de ciências humanas que tinha virado pista de dança. Eu me dirigi com Nicolas para a rampa que ficava do lado esquerdo e sentei-me, ainda girando.

—Você tá bem? - Nicolas perguntou.

—Tô sim - disse sacudindo a cabeça - só tenho que dar um tempo do álcool.

—Vou te arrumar uma água, ‘peraí.

Assenti com a cabeça. Não estava com sede, mas minha vontade era deitar e dormir. Olhei o pessoal dançando, a música alta. Minha cabeça doeu. Onde estava Nicolas com a maldita água? E Nicole?  Resolvi levantar e caçar os dois, mas no meio da muvuca eu não enxergava direito, até porque alta eu não era. Acotovelei-me no meio das pessoas tentando avistar minha amiga, até que vi um cabelo familiar. “ Ah, Nicole, ótimo, graças”, pensei

—Nic… - comecei a falar mas parei quando vi que ela estava muito ocupada com a boca num cara qualquer. “Ai puta que pariu… Af, tudo bem, se pega aí e me larga bêbada na festa”— bufei. E voltei pro meu lugar. Nicolas tinha desaparecido em algum buraco negro também. De forma que decidi ir pra um lugar mais calmo porque minha cabeça estava latejando a beça com aquela música e a bebida. Estava me dirigindo para a parte de trás de um dos prédios, onde haviam duas mesas de cimento e uma casa abandonada, e onde o pessoal tinha uma horta. Nesse momento, uma tontura atacou de repente, e me recostei na grade da rampa por uns momentos.

Até que alguém encostou no meu braço e uma voz masculina perguntou:

—Oi. Tudo bom?

Virei-me para dar de cara com um total desconhecido. “Ai não, me deixa quieta” pensei, sem muita paciência para falar com ninguém. Tentei não ser grossa de qualquer forma.

—‘To ótima, obrigada. – repliquei enquanto desviava os olhos para parecer mais interessada no além. Quem sabe ele fosse embora logo.

—Eu ‘tava te vendo de longe há algum tempo. Te achei muito bonita, muito...gostosa. Quando eu vi você vir pra cá sozinha pensei que pudesse ser minha chance. – ele disse, ficando absurdamente perto. “Ai merda, por acaso a minha recostada na borda da rampa pareceu que eu tava sensualizando você?” - pensei. Dei um passo atrás, sem nem tentar disfarçar minha cara de irritação e que claramente dizia “af, sai daqui”. Lembrei-me das vezes em que tinha ficado com garotos aleatórios em festas e do sentimento vazio que senti, sentimentos de confusão, de “por que eu estou fazendo isso?” e do prazer zero que tirei dessas experiências.

—Pensou errado. – fui seca enquanto me afastava lentamente, ainda com dor de cabeça e meio tonta.

—Ah qual é, não pode me dar nenhuma chance? – ele se aproximou a ponto de encostar o rosto no meu cabelo para dizer isto no meu ouvido enquanto segurava meu braço.

—Não! Me solta - tentei sair dali, mas ele segurou meu braço com mais força, me puxando de volta, se forçando sobre mim. Pude sentir o cheiro de bebida em seu hálito e gritei mais alto – Me solta!

—Ei cara – uma outra voz surgiu atrás dele. Ele virou, mas sem soltar meu braço – A garota está comigo. É melhor soltar ela se você quiser voltar pra casa com duas bolas.

—Pft. – ele bufou uma risadinha, e provavelmente ia tentar despachar a menina. Mas a garota se aproximou dele, estalando as articulações dos dedos, e com uma voz de gelo disse:

—Eu falei sério, filho da puta. Mete o pé.

Senti a mão dele afrouxar e imediatamente puxei meu pulso para a liberdade, enquanto a garota se interpunha entre eu e ele. O garoto foi embora resmungando algo que eu entendi como sendo “sapatão maldita”. Ao que ela gritou de volta quando ele descia o caminho de volta para a “pista de dança”

—Senhora sapatão maldita pra você, macho topíssimo!

Ela virou para mim. Estava escuro, então pouco pude ver do seu rosto. Ela tinha um cabelo longo, um pouco abaixo dos ombros, escuro e bagunçado. Tinha várias pulseiras de couro no pulso e usava uma camiseta preta de laterais abertas, mostrando o top que usava por baixo. Além disso tinha uma camisa quadriculada em vermelho e preto, talvez, amarrada sobre uma calça jeans rasgada nas pernas que iam até as canelas.

— Você está bem? - ela perguntou. A voz era um pouco grave, uma mezzo.

—Sim. - vacilei nas pernas, tonteando para o lado – Só um pouco tonta.

Ela segurou meu braço, estabilizando-me.

—Vem, vamos achar seus amigos.

Descemos a rampa de volta à pista, a garota me apoiava para que eu porventura não beijasse o cascalho logo depois de ela ter me salvado de beijar aquele cara. Não demorou para que eu achasse Nicolas, saído do buraco negro em que se metera mais cedo. Entregou-me para meu amigo, dizendo-lhe para que cuidasse de mim. Antes de se afastar acrescentou para mim:

—Se cuida, garota.

Nicolas me colocou sentada num dos nichos que haviam na lateral do prédio.

—Você sumiu! Pra onde diabos você foi, Nemu?

—Você que sumiu! Fiquei um tempão parada na rampa, a música estava me deixando pior e tentei ir lá pra tras.

—Demorei pra conseguir a água, porra. Tudo tem fila. Aliás, quem era a garota? - disse, me entregando a água, a qual virei de uma vez só.

—Não sei - disse, massageando as têmporas - Mas evitou que um cara me pegasse à força. Cadê a Nicole?

—Não sei. - ele disse olhando na direção da pista de dança. - Mas pelo jeito que ela estava mais cedo logo vamos encontrar ela em algum canto, jogada.

Eu consegui rir, embora o ato me causasse um pouco de dor inicialmente.

—Lembra aquela vez que encontramos ela dormindo no tapete quando rolou aquela social bizarra na casa da Flávia? - eu recordei, e nós dois rimos dessa lembrança.

E de fato encontramos Nicole mais tarde. Ela dormia na grama do canteiro próximo ao prédio de ciências. Naquele momento eu ja estava melhor, então eu e Nicolas conseguimos erguê-la e deixá-la sóbria o suficiente para ir embora.Entretanto, resolvi levá-la para minha casa porque ela não tinha nenhuma condição de ir sozinha.

Só sei que no dia seguinte eu lembrava de coisas esparsas da festa. Que bebida do demônio era o gummy. Quem precisa do feitiço Obliviate quando se tem uma bebida destilada forte misturada com um troço doce o suficiente para você achar que nem tem álcool naquilo?

Lembrava dos meu amigos sumirem no meio da festa. Lembrava que Nicole pegou algumas pessoas. E acima disso, lembrava que fui agarrada, e que uma garota me ajudou. Eu pouquíssimo lembrava da sua imagem, mas lembrava da voz. Queria poder agradecê-la, mas seria eu capaz de reconhecê-la?

Rolei na cama, olhando para meu teto com estrelinhas fosforescentes coladas. O sol atravessava timidamente o blecaute e minhas cortinas turquesa.

Atravessando o quarto, havia uma escrivaninha branca com meus materiais de pintura. Um pouco a frente dela, meu cavalete. Na parede à frente da minha cama, prateleiras de livros.

“Ainda bem que é sábado”, pensei. Nesse momento, meu gato, o Gâteau, pulou na minha cama e começou a amassar minha barriga.

—Já acordei, já acordei. - eu lhe disse. A cabeça doeu um pouco quando me sentei, mas foi melhorando aos poucos. Pra quê fui beber? Pra quê fui na festa? Acabou não me acrescentando nada, só uma má experiência e uma dor de cabeça. E um mau humor matinal. Um resmungo e um ruflar de lençois lembrou-me de que Nicole estava dormindo ali ao meu lado na cama de puxar. Ela ressonava e estava enrolada na coberta de uma forma emaranhada e esquisita. O cabelo era um ninho.

—Ei, acorda piranha! Tá tarde!

—Hmmmm - ela resmungou - Não tô a fim, me deixa.

Joguei um travesseiro nela, brincando.

—Ridícula! - ela devolveu a travesseirada, rindo  -’Tá! Sua chata!

Afaguei meu gato laranja gorducho com um pequeno sorriso enquanto levantávamos, pensando em mais tarde ir num dos meus lugares favoritos de pintura.


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