Nemuru - Desperta-me escrita por Candle Light


Capítulo 18
Sorry ごめんなさい


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Voltando à atividade. Este capítulo tem um título especial porque ele é inspirado numa música. Eu não pretendia fazer isso para os capítulos da Nemuru, esta era minha idéia para os capítulos que serão narrados pela Marina (ops, spoiler) mas essa música era perfeita demais para este capitulo então não resisti.
Quem acertar a música ganha um beijo (brinks hehe)
Mas agora sério, se alguem acertar o prêmio é um capítulo mais rápido (tá fácil galera!)

Bjoks da tia



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Gomen’nasai é a expressão japonesa para “me desculpe”. E foi assim que me desculpei com Daniel por adiar nosso encontro, já que eu tinha piorado do meu resfriado. É claro, também foi uma desculpa para eu dar um tempo ao meu pobre coração ansioso. Mas foi bom de qualquer forma ficar de molho em casa por dois dias. No meio da tarde recebi uma mensagem do meu pai lembrando-me do feriado de 15 de Junho e que ele queria que eu fosse para São Paulo visitá-lo. Daqui a 15 dias. Era até meio em cima da hora para meu pai. Ele costumava combinar essas coisas com meses de antecedência, então imaginei que devia estar ocupado com o trabalho. De qualquer forma respondi-lhe que iria sim. Eu gostava de visitar meu pai apesar de tudo.

Revirei-me no sofá com minha coberta. Já estava à algumas horas assistindo séries e começava a entediar-me. Mas o que fazer? Estava nublado e frio, eu estava entre a vida e a morte combatendo vírus que davam dor de cabeça e febre e não tinha nada para fazer num geral. Levantei e fui até a janela, abrindo-a. Agora a chuva caia constante e forte, o cheiro da terra molhada subia e alcançava minhas narinas. Pus um braço para fora, pegando algumas gotas geladas. A luminosidade tornava-se difusa sob tantas nuvens, o céu ficava todo branco e cinza. Cruzei meus braços sobre o parapeito e deitei a cabeça, observando a paisagem cinza, calma e vazia.

Vazia como a minha casa, vazia como a maioria dos meus dias. Como hoje.

Suspirei. Estava realmente solitário ali, silencioso. O único som vinha da chuva e carros que eventualmente passavam. Fui ao meu quarto e coloquei uma música enquanto arrumava algumas bagunças que eu tinha deixado espalhadas sobre minha mesa, minha cama e a estante. Terminando, decidi desenhar algo e a música calma que tocava aliada àquele tempo chuvoso me levou à um cenário de pós- chuva: um céu cinzento refletido num lago, uma ponte e árvores que tinham sua imagem na água mexida e borrada por pingos remanescentes. Uma silhueta de uma pessoa que caminhava com um cão e um guarda-chuva. Era uma imagem de calma e paz, e na minha imaginação o único som ali eram os animais que voltavam a cantar após o temporal. Uma imagem de paz era mesmo o que eu precisava pois me dava a falsa sensação de estar em paz comigo mesma.

Nicole conversou comigo por mensagens aquela noite, querendo se certificar que eu não tinha dado pra trás de novo e se eu estava bem o suficiente pra manter o combinado com Daniel no dia seguinte. Eu estava, pelo menos de saúde física. Mentalmente eu acreditava estar preparada, mas apenas na hora eu teria certeza.

Quando fui dormir, o sono custou a vir e passei uma noite estranha que parecia ter passado a maior parte na semi consciência. O que acho que não preciso nem dizer, me fez acordar ainda morrendo de sono e de péssimo humor. Para a sorte de quem cruzasse meu caminho nessa manhã, minha mãe havia comprado Nutella, então meu dia já melhorara em 20%.

Eu tinha combinado com o Daniel na praça perto do Rio Sul logo após minhas aulas. Não sei se era um bom lugar, eu nunca tinha feito isso e pra falar a verdade eu nem sabia muito bem o que estava fazendo. Eu só tinha que fazê-lo e acabar logo com essa história e parar de me sentir um lixo.

Por volta das cinco horas eu já estava lá, impaciente, tentando treinar o que dizer. O cansaço por fim me venceu e sentei num do bancos de madeira e abri meus joguinhos de celular pra me distrair, mas nem consegui passar duas fases e Daniel chamou meu nome de longe. Ergui a cabeça e o vi se aproximando, acenando para mim. estava com uma jaqueta jeans estilosa e a outra mão no bolso da mesma.

—Oi Nemu, e aí?  - ele disse agora perto de mim, enquanto inclinava-se para me dar um beijo. Eu virei a cara e ele imediatamente adotou uma postura defensiva, sem saber o que estava acontecendo. - O que houve?

Inalei profundamente e comecei a falar.

—Daniel, eu não posso continuar com isso.

—Isso o que?

—A gente, Daniel. Eu não posso. - ele parecia confuso, mas agora eu sabia que não tinha mais volta. Eu tinha engatado a falar. - Eu não consigo mais fingir, pelo bem de nós dois. Eu fiquei com você porque nunca ninguém tinha demonstrado esse interesse em mim e eu tinha esperança de começar a gostar de você de volta. Mas eu não conseguia e ao mesmo tempo tentava passar de que estava tudo bem para não te machucar, porque você parecia tão feliz...No fim eu só não posso mais fazer isso com você, nem comigo.

 

Eu disse tudo com uma expressão séria e o mais firme que eu conseguia. Ele estava de boca aberta sem saber o que dizer, a imagem da própria descrença e confusão.

—Nemu...o que? Você ta zoando comigo.

—Me desculpa Daniel. Alguém vai te amar, mas esse alguém não sou eu.

Eu disse por fim, dei um aperto amigável em seu ombro e fui embora. Ele ficou lá parado, mas não me atrevi a olhar para trás. Minhas mãos tremiam de nervoso e assim que consegui dar alguma distância lágrimas começaram a correr pelo meu rosto. eram lágrimas de nervoso e também que continham certa culpa. Afinal eu fui a responsável por essa merda toda. Se eu não tivesse aceitado desde o início nada disso teria acontecido. Se eu tivesse falado a verdade. “E se”.

Mas o dano havia sido feito, e estava marcado em nossas vidas para sempre. Mas em vez de me arrepender decidi que aprenderia com isso, para que no futuro não viesse a acontecer de novo. Eu sentia um alívio sem tamanho por ter tirado essa questão dos meus ombros. Eu estava sozinha mais uma vez, e isso também, junto ao alívio, me trazia um gosto amargo de solidão e as velhas questões que me assombravam.

O caminho todo até em casa minha mente se fixou em detalhes urbanos no caminho, pessoas, qualquer coisa menos o que havia acontecido. Eu me sentia dormente agora. Depois de tanto tempo me torturando com isso, parecia que algo faltava. Quando cheguei em casa e deixei minha mochila no quarto meus olhos encontraram eles mesmos no reflexo do espelho. Eu não parecia diferente, o peso que me saíra parecia físico algumas vezes, mas não era. Não fez diferença na minha imagem. Eu não sabia o que buscar olhando aquele reflexo, mas encarava meus próprios olhos como se eles pudessem me revelar alguma coisa. Toquei o vidro com a ponta dos meus dedos, a superfície fria.

“Somos só eu e você agora”, disse.

Meu suspiro forte atravessou o silêncio e levantei os olhos para minha árvore florida. Algo dentro de mim se irritou com a pintura com cores suaves ali presa. “Por quê eu deveria ser uma árvore florida? Talvez eu possa ser uma árvore verde feliz.” pensei. Eu precisava aprender a ser feliz comigo mesma e encontrar quem eu realmente era no meio de tantas coisas que giravam na minha mente. Ás vezes ficava bem e confortável sozinha, às vezes terrivelmente solitária e desejando o calor de alguém.

Comecei a pensar algo que deveria ter sido óbvio para mim, mas não fora: eu deveria saber o que diabos eu queria antes de me envolver com alguém. Eu precisava saber mais sobre mim e aproveitar a vida comigo mesma.

Peguei meu celular e digitei para Nicole:

“Consegui”. Ela me respondeu poucos minutos depois com emojis de palmas e então “Agora solteiríssima você vai numa festa comigo comemorar e vamos ficar loucas!”

E como em muito poucas vezes na minha vida, eu achei que talvez realmente fosse uma boa idéia ir numa festa com Nicole.


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