Nemuru - Desperta-me escrita por Candle Light


Capítulo 15
Weakness 弱点


Notas iniciais do capítulo

Olá meus queridos! Primeiramente quero me desculpar pelo meu desaparecimento por tanto tempo '>
Espero que gostem ^^



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Domingo era sempre um dia monótono. Eu acordava geralmente umas 10 horas, tomava café preguiçosamente e me jogava no sofá para ver desenhos (sim, me julgue), ler quadrinhos ou algum livro na companhia do meu gato com nome de bolo. Esse domingo não foi diferente, a não ser pelo fato de que em vez de me jogar no sofá direto e morgar por pelo menos 3 horas consecutivas, eu resolvi organizar a bagunça do meu quarto antes que a preguiça possuísse meu corpo por completo.

Minha escrivaninha estava o caos. Não dava mais para ver direito a cor do tampo dela. Deixei meu Nescau cereal sobre a cômoda enquanto juntava os papéis. Dentre eles havia rascunhos, resumos de matéria, lembretes, recibos de compras. Fui descartando tudo de inútil e os rascunhos e desenhos iam para as pastas que ficavam nas gavetas debaixo da cama. Lá no meio encontrei meu desenho da deusa Thor que eu deveria entregar com capa e essas frescuras na segunda feira e deixei-o separado preso ao meu quadro, ao lado da minha promessa não cumprida, a pintura da árvore florida.

Olhei emburrada para a pintura. Ela olhou de volta para mim como se dissesse “nada ainda?”. Suspirei, lembrando que eu tinha me convencido a me encontrar com Daniel e terminar o que quer que fosse o nosso rolo e voltarmos ao estado de amizade.

Peguei meu celular e enviei uma mensagem para ele dizendo “Preciso conversar com você. Pode ser amanhã à tarde?”. Demorei um pouco para tocar no ícone de enviar, com receio que ele me odiasse. Mas o fiz rapidamente como quando se arranca um band-aid, jogando em seguida o celular na cama e voltando ao meu cereal. Parte de mim tinha medo da sua resposta, e outra parte estava ansiosa porque realmente, eu não conseguiria levar isso mais à frente.

Ele me respondeu em pouco menos de um minuto, parecendo preocupado, concordando em me ver após a aula, na praça próxima à minha casa. Soltei o ar com força, sem nem saber como ter essa conversa.

Até o fim do dia eu havia esquecido sobre a futura conversa. Falei por mensagem com Nicole, que me contou várias fofocas sobre a faculdade dela e os novos amigos e falei também com Marina, que me perguntou o que eu estava fazendo, dizendo que estava entediada na sua pausa do estudo. Acabamos conversando por pelo menos meia hora sobre coisas como histórias de vida e interesses. Ela me contou suas aventuras numa festa de outra faculdade que tinha sido num armazém no Porto e como ela se perdera com mais dois amigos antes de chegar. Contou sobre o carnaval de dois anos passados onde ela e amigos distribuíram abraços grátis e deitaram no meio da rua vazia de madrugada, bastante alterados pelo álcool. Contou sobre sua adolescência andando com um pessoal gótico e o dia que invadiram o cemitério de madrugada. Marina tinha tantas histórias interessantes e eu não conseguia parar de escutá-las. Diferentemente dela, eu não tinha muitas aventuras para falar já que sempre tinha sido muito quieta e sempre segui as regras. Confessei-lhe de que se eu pudesse voltar, talvez eu tivesse me permitido fazer algumas merdas quando mais jovem. O máximo que me lembro de ter feito foi fugir da escola na hora do recreio e ficar bêbada em algumas festas, sendo que eu bêbada não era muito interessante porque me dava dor de cabeça, o que me deixava de mal humor.

Quando Marina teve que voltar pro estudo eu resolvi voltar ao meu cronograma de domingo e ver besteiras na tv, de pijama e comendo balas de gelatina com meu gato.

 

***

 

No dia seguinte acordei ansiosa, antecipando a conversa com Daniel. Eu não fazia a menor ideia de como fazer isso. Ensaiei o papo umas cinquenta vezes na minha cabeça, mas conforme o dia passava e as aulas não eram suficiente para manter-me distraída, o texto se modificava várias vezes e fui ficando ainda mais ansiosa. Tentava me manter no pensamento de que assim seria melhor para ambos.

No fim da aula tratei de juntar rapidamente meu material, pegar meu ônibus para casa e finalmente acabar com o tormento. Arrancar aquele band-aid de uma vez e seguir em frente.Cheguei na praça com certa antecedência e sentei num dos bancos, suspirando pesadamente.Minhas pernas não queriam ficar quietas e por fim cedi aos meu materiais de desenho para passar o tempo, desenhando de cabeça uma coisa qualquer. Acabei começando a traçar um cachorro, e na metade do meu trabalho meu celular vibrou com notificações de mensagem. Era Daniel, avisando que estava chegando.

Logo que ele apareceu na minha visão, fiquei de pé e guardei meu material. Não sei se conseguia esconder minha ansiedade e meu medo. Eu nunca havia terminado com ninguém e meio que me sentia mal por fazer aquilo.

—Oi Nemu - ele deu-me um beijinho na testa - Desculpe o atraso. O que você queria falar comigo.

A expressão dele era um tanto preocupada, uma cara de cachorro que caiu da mudança. Engoli em seco e tentei começar a falar

—É...Daniel, então…

—Ah, espera - ele me interrompeu - eu lembrei que gosta de doce e trouxe isso aqui.

Ele pegou na bolsa uma caixinha bonitinha e me deu. Sem conseguir falar nada abri e lá dentro tinham três paglias italianas. Senti um nó na minha garganta e meu coração pesou imediatamente. Daniel era atencioso e gostava tanto de mim… Sacudi a cabeça, tentando afastar a hesitação que se apoderava de mim e abri a boca pra falar, mas ele ainda não tinha terminado.

—Estava pensando em te chamar pra jantar também, onde você quiser, Nemu. Faz tempo que não passamos um tempo juntos e eu sinto sua falta, sabe.

Engoli minhas palavras. Meu peito apertado, eu não tinha coragem. Não tinha coragem de arruinar a felicidade dele assim, do nada. Os conselhos de Marina e Nicole ecoaram na minha cabeça me deixando ainda mais perturbada. Mas eu simplesmente não conseguia. Não naquele momento.

—O que você queria me dizer? - ele perguntou por fim. Engoli todo o meu discurso planejado, enfiei numa gaveta na minha mente e com um sorriso falso eu o respondi:

—Não era nada demais, deixa pra lá. Eu só queria te ver de novo, passar um tempo.

Daniel abriu um grande sorriso e passou um braço por cima dos meus ombros.

—Ótimo! vamos aproveitar o agora então!

E começamos a andar enquanto ele falava sobre várias coisas, da faculdade e da vida dele. Eu falei muito pouco durante esse tempo, só pensando no que eu faria já que tinha dado para trás. Quando eu teria coragem de novo? Daniel percebeu minha postura um tanto retraída e quieta e me perguntou mais de uma vez se estava tudo bem comigo, ao que eu respondi que eram problemas da faculdade, quantidade de trabalhos e provas. Ele pareceu desconfiado, mas não insistiu muito. Tentei me soltar mais para não deixá-lo preocupado, mas não obtive muito sucesso.

Daniel por fim me deixou na minha portaria. Enquanto observava sua forma distanciar-se me culpava pela minha fraqueza. Por não conseguir ser honesta e fazer o melhor por nós dois. Eu apenas não conseguia depois de olhar em seus olhos preocupados e tão felizes em me ver e estar comigo. Eu não consegui. Não tive como acabar com isso ali.

Entrei em casa e fui direto ao meu quarto, sentei na cama e enterrei o rosto nas mãos. Eu mal conseguia acreditar em mim mesma. Queria falar com alguém, com Nicole, mas eu sabia que ela  me daria uma bronca. Talvez eu merecesse mesmo uma bronca, quem sabe eu deixava de ser tão covarde.

Soltei um grande suspiro cansado. Por quê relações humanas tinham que ser tão complicadas?


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