Nemuru - Desperta-me escrita por Candle Light


Capítulo 14
Beach ビーチ


Notas iniciais do capítulo

Finalmente um novo capítulo povo! Peço desculpas pela demora, mas sabem como é, to fazendo monografia. Quase todo o meu tempo livre vai pra ela ou pra estudar para que eu finalmente possa me formar porque não aguento mais >



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Como prometido, chamei Marina para ir à praia comigo e Nicole no sábado. Precisávamos aproveitar enquanto os dias estavam com sol e o inverno ainda não chegava. O sol não estava mortal como nos verões cariocas, o que era um grande alívio pois era possível ficar sem uma barraca tranquilamente. O céu estava azul, com poucas nuvens esparsas do tipo cirros, altas e espalhadas como se tivessem sido puxadas a se abrirem.

Eu estava deitada com Nicole ao meu lado próxima ao mar na altura do Posto 9 de Ipanema. Eu observava o céu com uma mão fazendo sombra nos olhos enquanto Nicole observava as pessoas à nossa volta e parecia ansiosa.

—Nemu, essa sua amiga ‘tá demorando muito. - ela disse. eu tinha contado sobre a Marina para Nicole e ela ficou ansiosa em conhecê-la. Sabendo da minha dificuldade em fazer amigos, ela quis saber que tipo de pessoa conseguiu se aproximar de mim tão rápido.

—Ela deve estar chegando. Demorar um pouco é normal já que ela tem que vir de ônibus.

Virei-me na canga, alcançando minha bolsa para checar meu celular. Tinham algumas mensagens dela, a última dizia que já tinha descido do ônibus e estava indo para a praia.

—Ah, ela está chegando.

Mal terminei de falar e vi uma figura se aproximar acenando e sorrindo. Marina chegara, vestindo uma blusa branca sem mangas, short jeans com as barras desfiadas e um óculos escuros tipo aviador. Seu cabelo totalmente solto tinha ondas displicentes e bagunçadas mas de uma maneira charmosa que combinava com ela.

Só percebi que a olhava fixamente e com a boca entreaberta quando ela falou comigo.

—Oi Nemu! Desculpa a demora. Você deve ser a Nicole né?

Nic já havia levantado para cumprimentá-la enquanto eu voltava a mim rapidamente para fazer o mesmo. Ela colocou a canga ao meu lado e livrou-se rapidamente das roupas, atraindo meu olhar curioso.

Me permiti saciar a curiosidade enquanto ela olhava o mar e perguntava sua temperatura. Seu corpo de biquíni surpreendera-me por ser ainda mais bonito do que eu imaginava. Aquela cor morena se espalhava na pele toda e tudo era muito proporcional, das pernas longas aos braços modestamente definidos. Notei pela primeira vez uma tatuagem no ombro direito que saía da escápula e chegava ao ombro. Era um desenho de flores e seus galhos enroscados com espinhos, com duas vinhas alcançando o início da lombar. Notei uma segunda tatuagem no tornozelo, um violino formado por padrões em estilo tribal.

—Alguém quer mergulhar? - ela perguntou, tirando-me rapidamente da minha observação furtiva. Balancei a cabeça. Preferia deixá-la ir na frente dessa vez. Quando ela já estava longe o suficiente para que não ouvisse, Nicole comentou:

—Ela é bonita né. - disse com uma expressão de “not bad”.Eu balancei a cabeça afirmativamente devagar.  - Aposto que os caras devem chover em cima dela.

—Uma pena para eles, mas a Marina não gosta de homens. Ela joga pro mesmo time.

Senti Nicole me olhar daquela forma que ela faz quando começa a tirar conclusões.

—O quê?  - disse, virando para ela. - Somos só amigas.

Nicole soltou um “hm” não parecendo muito convencido. Levantei-me e fui para o mar também, não querendo ouvir as doideiras da minha amiga. Encontrei Marina brincando nas ondas e pegando jacaré. Quando me viu saiu da água e veio ao meu encontro.

—A água ‘tá fria? -perguntei

— ‘Pra mim ‘ta ótima. Vem, entra também!

Pisei na água e me arrepiei até os ossos: a água estava gelada! Marina riu do meu pulo surpreso.

—Ah, qual foi, não está tão fria!

—Está sim sua maluca! - repliquei. Ela sorria, se divertindo.Pegou meu pulso e começou a me puxar. Seu toque estava frio, mas ainda era mais agradável que aquele mar. Eu resisti, travada de frio e para piorar ela se afastou e chutou um pouco de água em mim. Eu entrei na brincadeira e comecei a revidar. Logo eu estava molhada e não sentia frio e Marina me puxou pela mão outra vez para o mar. Depois de mergulhar a água até ficava agradável e depois de furar algumas ondas, voltamos para onde Nicole estava.

Sentamos e minha amiga mais antiga me lançou outra vez aquele olhar, ao qual eu respondi revirando os olhos, sem que a outra percebesse. Virei-me para Marina e ela sentava apoiada para trás nos braços. O sol que batia na sua pele molhada a fazia brilhar e seus olhos amarelos ficavam ainda mais claros, diluídos em luz. Respirei fundo e soltei. Precisava parar de encará-la dessa forma, mas que diabos!

Deitei na canga, ajeitando-me na areia para que ela tomasse a forma do meu corpo. Marina me olhava parecendo curiosa e um ligeiro sorriso passou sobre seus lábios logo antes de desviar o olhar. “Ela combina com praia”, - pensei. E combinava com a cor do biquini, branco com estampas de flores e plantas verdes.

Por fim fechei os olhos e decidi pensar em nada e aproveitar o sol, que estava realmente agradável.Estava tão agradável que me batia uma sonolência, mas não queria dormir ali. Pisquei os olhos, entreabrindo-os e as gotas de água salgada presas em meus cílios pareciam diamantes quando brilhavam com a luz. Pareciam pequenos polígonos furta cor que desapareciam quando eu abria mais os olhos. Oh, essa era uma bela visão. Tão difícil de captar...Acabei me perdendo em devaneios por algum tempo, até que caí num estágio de semi-consciência.

 

***

 

Voltei a mim com Nicole jogando água no meu corpo. A sensação gelada me fez dar um salto.

—Acorda, Bela Adormecida!

—Eu não estava dormindo! - disse de sopetão. Nicole se limitou a levantar uma das sobrancelhas e dizer:

—Quer matte?

Aceitei com prazer percebendo minha sede. Nem sei como pude cochilar naquele calor. Olhei em volta lembrando de Marina, mas ela não estava ali.

—Cadê a Marina?

—No mar. Ela ficou com pena de te acordar. - Nicole sorriu. - Eu gostei dela. Uma pessoa legal.

Sorri diante do comentário. Era bom que elas tinham se dado bem e isso era importante para mim. Sentia que minha nova amiga tinha sido aprovada pela mais antiga

Ficamos na praia até a hora do almoço, quando a fome começou a nos atingir e o sol estava ficando horrivelmente quente mesmo para um dia ameno. Foram horas de conversas e risadas, que deixaram minha manhã mais alegre. Mesmo com ambas zoando a coisa que elas mais tinham em comum: eu. Relevei por ser a primeira vez que elas se viam, numa próxima vez eu esperava que elas tivessem outras coisas para conversar.

Saímos da praia e deixamos esperamos o ônibus com Marina na Prudente de Morais. Quando ela subiu no ônibus despedindo-se de nós duas, Nicole e eu fomos andando para casa. Ela morava relativamente perto de mim, de forma que costumávamos voltar juntas dos lugares.

—Eu gostei da Marina. Vamos sair mais vezes. - Nicole disse enquanto andávamos. Eu sorri genuinamente feliz. - Como vocês se conheceram mesmo?

—Foi naquela festa que você me obrigou a ir. Ela me salvou de um cara e depois nos reencontramos na faculdade.

—Eu não lembro de quase nada dessa festa, Jesus!

—Não é de se admirar - eu disse, rindo. - E o pior que você nem bebeu tanto assim. Você lembra de onde eu e Nicolas te tiramos no final?

—Por favor não me lembre disso. - ela falou, colocando a mão no rosto. -Mas olha só uma coisa sobre a Marina.

—O quê? - perguntei já ficando meio preocupada.

—Eu vi vocês na praia. Cuidado pra ela não se apaixonar por você. Digo, você é hétero né? Não ia ser legal pra vocês duas.

Engoli em seco. Ela se apaixonar por mim? Impossível. Éramos apenas amigas, e ela tinha plena consciência de que eu era hétero. Mas…e se? Eu nunca nem tinha considerado a possibilidade. O que eu faria se por um bizarro acaso isso acontecesse? Tinha medo só de pensar em machucá-la. Marina era uma pessoa que não merecia sofrer, ainda mais por uma pessoa como eu.

—Nicole, você está doida. Isso não vai acontecer. - eu repliquei, mais pra mim do que para ela. Era típico da Nicole salientar coisas que eu não percebo e me deixar ansiosa por isso. Ela fez um “hm” ainda não convencida, mas não continuou o assunto, ao que agradeci internamente. Lidar com uma coisa dessas não ajudaria todo o meu dilema relacional. Ainda tinha o Daniel.

O que me lembrava que eu deveria falar com ele e ser honesta uma vez na vida.

Me separei de Nicole na rua principal -  já que íamos em direções opostas - e me dirigi para casa com meu cérebro dando voltas em torno de como essa situação seria problemática. Felizmente, meu estômago pareceu não gostar do papo do meu cérebro e desviou minha atenção para a fome que eu sentia. Imaginava o que eu faria de almoço caso minha mãe ainda não tivesse voltado do hospital.

Para minha felicidade, ao sair do elevador eu ja sentia um cheiro de comida e agradeci aos céus. Entrei em casa e lá estava minha mãe mexendo algumas panelas no fogão.

—Oi Nemu! Como foi a praia? - ela disse cumprimentando-me com um sorriso.

—Foi ótima! E como foi o trabalho?

—Ah, hoje foi meio parado. Ainda bem que sábado eu só fico até o almoço.

Deixei-a para tomar um banho e me livrar da areia e da crosta de sal no meu cabelo que o deixava duro. Quando saí do banho, notei meu celular vibrando em cima da escrivaninha e ao checá-lo, percebi que eram mensagens de Marina dizendo que adorou sair comigo e Nicole e que devíamos ir na praia mais vezes.

Sorri e comecei a digitar uma resposta.


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