Allons-y, Winchester! escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 8
Carta do passado


Notas iniciais do capítulo

Hi!

Hoje a atualização é mais cedo e será dupla porque sim. Oi? Hahahahha É que na verdade estou ansiosa para terminar essa fic e já que ela tá prontinha, resolvi dar uma adiantada nas postagens.

Este capítulo é narrado pelo Sam e, entre aspas, temos uma carta dele.

Boa leitura!



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"Hey, Dean.  

Como você está, cara?  

Espero que bem. Na medida do possível, claro.  

Espero também que você tenha uma boa vida, apesar de tudo que esse ramo de trabalho tirou de nós e vai continuar tirando.  

Aposto que não será fácil continuar na estrada, caçando coisas e salvando pessoas sem mim. Digo isso não para me gabar, mas só porque eu imagino que será difícil mesmo. Porque, para mim, também está sendo. Você é insuportável às vezes, mas eu sinto a sua falta.  

Eu costumava acordar no meio da noite com a impressão de que você estava aqui, que tinha arranjado um jeito de me localizar e tinha vindo me resgatar. Não tenho sonhado mais com isso há muito tempo... 

Bem, só agora me dei conta que escrever essa carta será muito complicado. Eu devia ter feito um roteiro dela antes porque, com certeza, esquecerei de algum detalhe, mas vou tentar colocar aqui pelo menos o que você realmente precisa saber sobre o que aconteceu comigo. 

Sim, Dean, eu estraguei tudo quando decidi ir até a nossa antiga casa. Não estava nos meus planos, juro. Mas eu não achei a sua torta no primeiro mercado e peguei o caminho para outro. Não estava nos meus planos passar em frente a nossa calçada ao fazer isso, mas a decisão de entrar na casa foi inteiramente minha, sim. Por isso, por favor, não se culpe pelo que aconteceu. Não foi sua culpa, cara. E o mais importante: eu estou bem. Se você está lendo essa carta estúpida e sentimental agora é porque eu tive uma vida muito melhor do que poderia imaginar ou merecer, e estou perfeitamente bem. 

Sei que você deve estar se perguntando o que eu fiz quando me dei conta do que havia ocorrido comigo. Será que eu traí a sua confiança de novo? Será que te decepcionei mais uma vez? Será que esqueci que somos uma família e que meu lugar é ao seu lado?  

Não, Dean, eu não esqueci de nada disso. Eu tentei voltar, tantas vezes que perdi a conta. Mas todas as tentativas foram completamente inúteis. 

Eu chamei pelo Cass, mas acho que no ano em que estou, ele não me ouviu. É um detalhe importante que preciso que você leve em conta, tudo bem? Nesse momento, o Cass é apenas um anjo em meio a tantos outros no Paraíso. Ele é um soldado, um servo, não me conheceu ainda, nem a você, portanto, meu chamado nem deve ter chegado aos ouvidos dele.  

Bem, depois de entender isso, eu procurei uma encruzilhada. E adivinhe, só? O Crowley não existe ainda. Isso mesmo, ele não se transformou no demônio que você conhece hoje. Todos os demônios que procurei depois de descobrir isso simplesmente não puderam me ajudar.  

Você não vai gostar de ler isso, mas eu estava disposto a fazer um pacto qualquer para voltar ao meu tempo normal. Chegando aí, nós poderíamos resolver tudo com o Rei do Inferno, certo? Sei que daríamos um jeito, eu conheço você. Mas... acontece que o pacto não funcionou. Nenhum desgraçado de olhos vermelhos conseguiu me enviar de volta. Eu não entendo o motivo, porém tenho uma teoria.  

Lembra daquilo que o Doutor falou sobre os Anjos Lamentadores? Que eles se alimentam da sua energia potencial ao te jogarem no passado? Que eles se alimentam dos anos que você viveria no curso normal de tempo? Pois é, eu acredito que os pactos não funcionaram porque a minha energia se foi, não existe mais. Nenhum demônio pôde me jogar no século XXI porque, provavelmente, eu chegaria aí morto.  

Estou apostando que você vai ignorar tudo isso e convencer o Doutor a me ajudar, mas, por favor, não faça isso. Não há qualquer garantia de que vai funcionar e, mesmo que funcione e vocês apareçam aqui onde e quando estou, a bordo da TARDIS, tenho certeza que haverá algum tipo de consequência. Pela nossa experiência, sempre há. 

Sendo otimista, mesmo que não haja, eu salvei muitas vidas aqui, Dean, e quero que essas pessoas e seus descendentes permaneçam a salvo. Isso mesmo, depois que aceitei que essa era a minha nova vida, eu continuei caçando. O sobrenatural existe em qualquer tempo e lugar, eu não podia ignorar isso. Além do mais, caçar foi e tem sido uma forma de manter minha cabeça em ordem. Sinto que não estou te decepcionando ao começar o nosso legado e o de tantos caçadores. 

Uma parte de mim, ainda quer voltar. Não queria que nada disso tivesse acontecido, acredite. Por outro lado, isso foge do nosso alcance, Dean. Tem que haver um limite para o que podemos ou não fazer, certo?  

Por favor, concorde comigo, cara. Não faça nada estúpido para me salvar. Salve a si mesmo e acabe com aqueles Anjos desgraçados por mim. 

Como você deve ter notado, eu não datei a carta nem mencionei o local em nenhum momento. Não me leve a mal, mas não quero facilitar o seu trabalho. Sei que você e o Doutor vão tentar me resgatar, então não posso deixar nenhuma dica de onde me encontrar.  

Sinto muito. Acredito que será melhor assim. Para todos. 

Por fim, se você recebeu essa carta é porque eu a repassei aos meus descendentes. Não pire, por favor. Nem pense que eu te troquei por outra mulher, tudo bem? Não foi nada disso.  

Mas, sim, eu conheci alguém quando cheguei aqui. Na verdade, foi a primeira pessoa com quem tive contato. Ela me encontrou quando eu estava perdido e assustado. Mesmo desconfiada, foi gentil e me acolheu. 

Seu nome é Claire. Não vou dizer o sobrenome, para que você não pesquise e nem me localize.  

Ela é uma boa pessoa, Dean. Você ia gostar do senso de humor dela, com certeza.  

Claire esteve ao meu lado todas as vezes que eu tentei voltar. E quando eu desisti dessa ideia e decidi que iria retomar o meu trabalho nesse tempo, ela esteve ao meu lado também. Claire se tornou uma caçadora corajosa e forte. Tão boa quanto a mamãe. 

Eu já estava atraído por ela, há algum tempo, mas foi só durante uma caçada que nós ficamos juntos de fato. Tem sido assim desde então. 

Essa carta chegou a suas mãos, exatamente no local, dia e horário que determinei que fosse entregue, porque eu tive um filho com ela. Nenhum de nós queria isso, na verdade. Você e eu sabemos muito bem como é complicado e cruel criar uma criança no negócio da família. Mas aconteceu e, enquanto eu e Claire estivermos aqui, vamos fazer de tudo para manter Dean a salvo. 

Um dia, ele vai crescer e conhecer alguém especial. Meu legado vai se expandir eventualmente. 

E numa noite específica, horas depois de um daqueles Anjos Lamentadores ter me enviado para esse tempo, alguém da minha família irá encontrar a TARDIS estacionada em um beco também específico de Lawrence. Essa pessoa irá bater na porta e deixar a carta no chão, antes que você ou o Doutor abram. É essa a orientação que vou deixar e transmitir ao longo do tempo.  

Se você leu tudo isso, Dean, é porque deu certo, meu último desejo foi cumprido. 

Eu não sei como encerrar essa carta...  

Por favor, fique bem e se cuida, ok? 

Eu sei que não digo muito isso, mas... eu te amo, cara. Você é o melhor irmão que eu pude ter. Insuportável, às vezes, mas o melhor. 

Obrigado por tudo o que fez por mim e, por favor, viva a sua vida a partir de agora. Seu trabalho foi cumprido e eu não sou mais sua responsabilidade. Tire esse peso dos seus ombros, tudo bem? Faça isso por mim, é uma ordem. 

Do seu irmão, 

Sam Winchester (Para você, sempre Sammy)" 

Termino de escrever essas palavras e fico olhando fixamente para o papiro sobre a escrivaninha encardida da verdadeira pocilga onde estou vivendo sei lá há quanto tempo e em péssimas condições.  

O Anjo Lamentador não me enviou para décadas atrás, onde haveria alguma tecnologia e um melhor cenário de sobrevivência. Ele foi meticuloso e me enterrou em um passado muito remoto, numa era sombria, onde a falta de esperança impera por toda a parte. 

Talvez a criatura tenha percebido que eu não seria uma vítima comum. Já estive no inferno, morri algumas vezes, quase parti dessa pra melhor em outras centenas. Foi melhor assegurar o meu fim dessa vez, dificultando ainda mais minha localização e um resgate. 

Que fique bem claro que nos primeiros anos, eu tentei mesmo voltar para o meu presente. Todavia, todas as tentativas foram frustradas. Não consegui contato com o Cass e o Crowley não existe ainda. 

Sem escolha, acabei me conformando e resolvi fazer a única coisa que realmente sei: caçar. Os anos passaram voando assim. Ao mesmo tempo, se arrastaram dolorosamente. 

Coloco a pena de volta no tinteiro e levo às mãos ao rosto, enquanto me pergunto se estou tomando a decisão certa ao deixar meu irmão acreditar que estou bem e tive uma vida razoável, até feliz, ao lado da fictícia Claire e de nosso filho, também inexistente, Dean. 

A culpa me consome por permitir que ele pense que eu aproveitei uma circunstância trágica — ter sido transportado para o passado — para lhe dar as costas convenientemente, decepcionando-o pela milésima vez ao agarrar a chance de uma vida minimamente normal. 

Mas prefiro que Dean fique desapontado do que venha atrás de mim. Sei que algo assim teria um preço e que ele não pensaria duas vezes em pagá-lo. E ele já se sacrificou tanto por mim, deu sua vida e sua alma tantas vezes para me salvar... O mínimo que eu posso fazer agora é salvá-lo, para variar um pouco. 

Pesando tudo isso, tomo a minha decisão. E faço a escolha por Dean também. Tenho que convencê-lo a me esquecer e seguir em frente, por mais difícil que seja. 

Leio a carta em silêncio e acho que soa convincente. É emotiva o bastante e possui aspectos realistas, detalhes que são mesmo verdadeiros e que ajudam a corroborar a farsa como um todo.  

Essa carta vai induzir Dean a comprar a ideia de que eu tive uma boa vida e que ele não precisa mais se preocupar comigo. É nisso que espero que ele acredite. Tem que dar certo. 

Ainda preciso fazer essa carta chegar em suas mãos, é claro. Não tive nem terei descendentes que possam fazê-lo por mim. Na verdade, minha saúde anda péssima, de mal a pior, estou muito debilitado e enfraquecido por uma tuberculose. Sei que não vou durar muito. Meu tempo está acabando. 

Sendo assim, só me resta uma opção viável: preciso que um demônio faça a entrega por mim. 

Se eu tiver que vender minha alma por isso, para Dean acreditar em mim e ter um pouco de paz, que seja. 

É isso, chegou a minha hora de retribuir todos os sacrifícios que ele fez. 

A história de Sam Winchester termina aqui.


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Notas finais do capítulo

Adoro uma boa sofrência carregada de drama. Me julguem.

Próximo capítulo será postado na sequência, mas não se esqueçam de deixar um comentariozinho nesse aqui '-' Nunca vos pedi nada.