Allons-y, Winchester! escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 7
Além do fim da linha


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Desculpem o atraso. Minha internet estava ruim (ainda está) e não deu para atualizar na sexta.

Mas aqui está mais um capítulo ♥ É POV Dean.

Boa leitura!



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Enquanto encaro, sem piscar nem por um segundo, os malditos alienígenas de pedra diante de mim, tento assimilar o que aconteceu até aqui, desde que o Doutor brotou no meio do bunker, e o que tudo isso significa em conjunto.

Eu e Sammy seguimos uma pista para uma potencial caçada, porém desta vez não estávamos prestes a enfrentar um monstro sobrenatural qualquer. Não, desta vez, era uma raça alienígena. Criaturas literalmente de outro mundo, que se fingem de estátuas e se alimentam da vida de suas vítimas, mais precisamente do tempo que elas teriam se ainda estivessem aqui, nesse ponto da história.

E o Sammy não está aqui. Ele não está aqui.

O que diabos isso significa? É o fim da linha? Eu o perdi para sempre? Eu falhei em minha missão de protegê-lo não importa do que e a que custo?

— Não... — exponho a resposta para mim mesmo, relutante e inconformado, enquanto minhas mãos suam e meu coração bate pesadamente. — Não. De jeito nenhum, não... Eu quero o meu irmão de volta, e esses miseráveis vão devolvê-lo para mim agora mesmo!

Encaro os Anjos Lamentadores, mas eles permanecem frios e imóveis. Literalmente, como duas estátuas.

— Não pisque — o Senhor do Tempo atrás de mim lembra a primeira regra de sobrevivência nessa situação.

Mas, como desgraça pouca é bobagem e nunca vem sozinha, bem nesse instante a luz da minha lanterna estremece, fazendo o antigo quarto do bebê Sam Winchester mergulhar completamente numa escuridão de apreensão e incertezas.

Em meio à penumbra, sinto uma corrente de ar a minha volta, sutil, e ainda assim impossível de se ignorar. É como se algo tivesse se movido no quarto.

Dou alguns tapas na lanterna e ela pega no tranco outra vez. Jogo a luz na direção dos Anjos Lamentadores e noto que os malditos estão alguns centímetros a frente agora. As mãos ainda estão sobre seus rostos, porém também houve certo movimento, pois agora estão mais próximas do queixo.

Apesar de saber que essas não são estátuas de verdade, testemunhar que elas realmente se moveram me deixa estarrecido. Não que eu ainda tivesse alguma dúvida, contudo agora sei que estou mesmo diante de dois seres imundos e vivos. De dois estúpidos alienígenas que acham que podem aparecer por aqui, no meu planeta, e brincar com a vida das pessoas desse jeito.

No fim das contas, são apenas mais dois monstros. Podem estar em outro patamar, porque são de outro mundo e tão antigos quanto o próprio universo, porém, ainda assim, monstros.

E adivinhem só? Monstros é a minha especialidade. Assim como do meu irmão. É o negócio da família. Nós vamos ficar bem, tudo vai se ajeitar. E ainda não sei como, mas essas estátuas medíocres na minha frente estão com os dias contados. Eu coloco fogo em tudo, não importa, mas acabo com as malditas.

— Nós temos que sair daqui, Winchester. Devagar, com muito cuidado e sem piscar. Eu me encarrego de trancar a porta. Você sai primeiro.

Algo no que o Doutor diz desperta um alerta dentro de mim; sem perceber, acabo me distraindo com um pensamento e pisco. Por sorte, ele deve estar com o olhar cravado e estático na direção do Anjos Lamentadores, lado a lado, já que as criaturas não se movem um milímetro sequer desta vez.

O fato é que não podemos sair daqui. Ainda não. Não assim.

— Não sem o meu irmão — esclareço, pontual e convicto.

Silêncio. Há um longo e estranho momento de silêncio, até o Doutor voltar a se pronunciar:

— Eu sinto muito, Dean. Sinto muito mesmo.

Comprimo os lábios e balanço a cabeça negativamente, ao mesmo tempo em que continuo encarando os seres de outro mundo na minha frente. É incrível como parecem meras estátuas. Um empurrãozinho, e estarão no chão. Com a força e fúria certas, transformo esses Anjos em cacos e poeira.

Claro que isso me faria piscar por puro instinto. Claro que não sei o que aconteceria se eu os tocasse enquanto estão assim, travados em forma de pedra. E claro que estou refletindo sobre tudo isso apenas para não pensar no significado das palavras do Doutor.

— Eu não gostei do seu tom. E já disse que não vou sair daqui sem o Sammy.

Novo silêncio. A luz da lanterna estremece de novo. Desta vez, as batidas que dou nela não surtem qualquer efeito. Às pressas, jogo a luz do meu celular logo a frente. Tenho um sobressalto e recuo ao constatar que as estátuas avançaram consideravelmente até mim. As mãos não cobrem mais os rostos, agora estão erguidas como se quisessem me agarrar. Claro, é o que elas pretendem.

Mantenho os olhos abertos e a ideia irredutível na cabeça. Não vou sair daqui antes que essas coisas medonhas devolvam o meu irmão. Inteiro, intacto, são e salvo.

Como se tivesse lido os meus pensamentos, o Senhor do Tempo argumenta:

— Deanno, eu lamento muito, realmente lamento, mas, nesse momento, não há nada que possamos fazer para ajudar Sam.

Meus olhos ardem. Não pisco. Algo que ele disse me dá certa esperança, levando-me a sair da defensiva e confirmar:

— Nesse momento não? Você quer dizer que vamos fazer algo depois, certo? Nós vamos reverter essa situação, não vamos?

Se o Doutor tivesse respondido na lata, acho que eu teria me convencido a deixar o quarto agora. Entretanto, não é o que ele faz. Ao invés disso, gagueja um pouco antes de expor:

— Eu... Eu não vou mentir para você, Deanno. É praticamente impossível localizar o seu irmão e trazê-lo de volta.

— Praticamente, mas não definitivamente, certo?

— O que você quer que eu diga? — O Doutor soa meio impaciente agora. — Nós temos que sair daqui.

Ignoro o novo aviso e retomo:

— Eu quero que você diga que nós vamos localizá-lo e trazê-lo de volta. É bem simples, só isso.

— Eu não posso prometer algo assim.

Começando a ficar irritado com seu tom conformado, indago de um jeito ríspido:

— Por que não?! Você não é um maldito Senhor do Tempo?! Não tem uma máquina do tempo? Não pode ir a qualquer lugar e ponto da história num piscar de olhos?!

Péssima hora para falar em piscar; lembro-me que meus olhos estão ardendo cada vez mais.

— Não é assim que funciona, não é tão simples — o Doutor retruca, com seriedade e até certa tristeza.

— Eu espero que fique simples logo ou então...

Paro de falar e avalio minhas reais opções nesse momento. E ao que tudo indica, se o Doutor não me garantir que nós vamos resgatar o meu irmão, só há uma coisa que eu posso fazer: encontrá-lo por conta própria.

Dou um passo à frente e concluo:

— Ou então eu vou deixar uma dessas coisas horrorosas me levarem até ele. Você escolhe.

— Não faça isso! — O Doutor alerta, fazendo-me deter o passo por puro instinto. De um jeito urgente, ele esclarece, falando muito rápido: — Também não é assim que funciona! O Anjo que te alcançar primeiro não vai te jogar no mesmo ponto que Sam, não há qualquer garantia disso! Então vocês dois estarão separados e perdidos para sempre! Para sempre!

Alarmado com a possibilidade de complicar ainda mais as coisas, mantenho o olhar fixo nas estátuas por via das dúvidas. O que é bem difícil, pois devo manter ambas no meu campo de visão. Tenho que ter muita concentração e sangue frio.

Engulo em seco e tento colocar a cabeça em ordem. Agarro-me ao "praticamente impossível, mas não definitivamente impossível" e digo a mim mesmo que vou resgatar o Sammy. E já que, de certa forma, foi o Doutor que nos colocou nessa sinuca de bico, não vou aceitar não como resposta. Não vou mesmo.

— Prometa que você vai me ajudar — exijo, resoluto e tentando me agarrar a alguma esperança. — Só me diga que nós vamos consertar isso, que você vai pensar numa saída, em algum jeito, mesmo que agora pareça praticamente impossível. Ou... eu realmente vou arriscar e deixar esses malditos Anjos acabarem comigo.

Desta vez, o Doutor não demora a responder:

— Eu prometo que vou tentar.

— Eu tenho sua palavra?

— Sim! — confirma depressa.

No fundo, não sei se ele está sendo sincero ou apenas está maluco para nos tirar dessa situação meio urgente. O fato é que reconheço que não tenho muita escolha agora, a não ser confiar nele e também no meu próprio taco.

— Muito bem — assinto por fim, recuando alguns passos, com cautela e sem piscar.

Nem que seja a última coisa que eu faça, eu vou salvar o meu irmão. Mais uma vez. Quantas vezes forem necessárias. Sempre. Até o fim da linha. Além do fim da linha. É o meu trabalho. Mais do que isso, preciso de Sam ao meu lado, no mesmo mundo cruel e imperfeito em que vivo, no mesmo tempo e espaço em que estou. Ele é meu irmão, minha única família, meu parceiro no crime, minha responsabilidade e o meu propósito. Não existe Dean Winchester sem Sam Winchester, é fato. Não tem como existir.

Repetindo tudo isso a mim mesmo, continuo andando para trás. E isso é engraçado, sabem? Como, às vezes, temos que dar um passo para trás para só então conseguir avançar dois passos mais tarde. É assim que me sinto, recuando por necessidade, porém sem desistir do meu objetivo.

— Eu vou voltar, Sammy. Eu vou voltar por você — prometo, ignorando certo aperto na garganta.

Passo pelo Doutor, mantendo a luz do celular nos Anjos Lamentadores. Cruzo  a porta e logo alcanço o corredor.

Um segundo depois, e de um jeito ágil e cauteloso, o Senhor do Tempo lança seu corpo para o lado de fora também. Ele segura a porta e olha uma última vez para as malditas estátuas, ainda imóveis. Num gesto rápido, bate a porta com força e direciona a chave de fenda sônica na fechadura, trancando o quarto e a raça monstruosa lá dentro bem a tempo.

— Corra! — ele ordena, já em disparada pelos antigos corredores da minha casa.

Entendendo que os Anjos Lamentadores podem sair pela janela e nos alcançar, sigo sua orientação e me coloco em movimento também. Ilumino o percurso com o celular, sempre atento a qualquer sinal de mudança a nossa volta, que possa indicar a presença maligna das criaturas. De olhos bem abertos, arregalados, sem piscar.

Em dado momento, juro que vejo algo escrito em uma das paredes da sala. Uma frase: Você pode salvá-lo. Parece recente, feito com spray de tinta. Não tenho tempo de examiná-la mais de perto, pois temos que sair daqui o mais rápido possível. No fim, chego a pensar que imaginei, que era uma pichação qualquer, nada importante.

Por sorte, não enfrentamos grandes dificuldades para deixar a casa. Quando alcançamos o jardim, dou-me ao luxo de fazer uma parada para descansar. Meio curvado, apoio as mãos nos joelhos e puxo algumas lufadas de ar. Acho que estou começando a ficar velho para certas coisas.

Alguns metros adiante, o Doutor para um pouco confuso e olha para trás. Ao me ver recuperando o fôlego, faz um sinal urgente com a mão e me chama:

— Ei! Temos que continuar, Winchester! Vamos!

Xingo-o em pensamento, intrigado com o fato de um sujeito com mais de 900 anos possuir tanta disposição. Em seguida, lembro que não estou diante de um sujeito comum, e sim de um viajante do tempo de outro planeta. Com certeza, uma corridinha como essa deve ser fichinha para ele.

Querendo preservar o meu orgulho, endireito-me a fim de retomar a corrida de uma vez. Antes que eu esteja de fato pronto para isso, noto que o Doutor não está mais olhando para mim. Na verdade, ele parece concentrado em algo atrás de nós e um pouco acima de nossas  cabeças.

Tomado pela curiosidade, sigo seu olhar e logo reconheço as silhuetas frias dos Anjos Lamentadores na janela do quarto. O vidro está intacto. As mãos das criaturas ocultam seus rostos de forma parcial, parecem ter desistido por ora.

Não sei o que se passa na minha cabeça exatamente. Sinto-me confuso e dividido. A maior parte de mim quer lutar e reencontrar Sam, é claro. Porém, há uma pequena parte que teme fracassar no fim de tudo e só quer que esse sofrimento acabe.

Movido por esse lampejo de fraqueza, fecho os olhos. Por longos segundos. Com força.

Quando vejo o mundo de novo, nada aconteceu, tudo permanece intacto, inclusive as estátuas alienígenas no quarto de Sammy.

Quero acreditar que as coisas não se mexeram porque o Doutor deve estar com o olhar cravado nelas, mas a verdade é que sinto que isso pode ser uma provocação. Talvez os Anjos saibam que já me tiraram tudo. Talvez não estejam a fim de chutar cachorro morto. Talvez estejam me dando alguma vantagem ou me desafiando pessoalmente.

Refletir sobre isso reacende a minha vontade de lutar. Tomado pela determinação de novo, ergo o queixo com teimosia e prometo, mais uma vez, que vou resolver isso. Vou consertar tudo, trazer meu irmão de volta e despachar esses Anjos imundos.

— Allons-y, Deanno — o Doutor sussurra em algum lugar perto de mim.

Antes de segui-lo, encaro as estátuas uma última vez e completo minha promessa com um timbre frio:

— Eu vou voltar por vocês também, filhos da mãe. Eu juro. Me esperem bem aí.

***

Algum tempo depois, estamos de volta à TARDIS. Mal entro no encalço do Doutor e já despejo:

— Então, qual o próximo passo?

Diante do painel de navegação, com a cabeça baixa e analisando alguns botões e comandos com um olhar distante; é assim que o Senhor do Tempo permanece pelo longo momento que se arrasta dentro da espaçonave, causando-me estranheza e uma expectativa incômoda. Não gosto nem um pouco da sua postura. E gosto menos ainda quando ele, por fim, me encara e diz:

— Agora eu vou te levar para casa, Dean Winchester. Eu lamento muito pelo que aconteceu e agora percebo que foi um erro envolver você e o seu irmão nessa história. Sinto muito.

Um gosto amargo surge em minha boca quando a raiva se agita dentro de mim. Meio alterado, dou um passo à frente e esclareço:

— Okay, eu vou refazer a pergunta porque parece que você não entendeu muito bem. Qual o próximo passo para resgatarmos o Sammy? É uma pergunta simples, Doutor, apenas responda.

Gosto ainda menos da expressão séria que o viajante do tempo esboça agora.

Como se eu fosse uma criança que não está entendendo o X da questão, ele explica com certo cuidado:

— A linha do tempo de Sam Winchester foi totalmente reescrita, Dean. É cruel dizer isso, mas enquanto conversamos, bem aqui, ele já deve estar morto. Possivelmente, há décadas.

A raiva se intensifica e rebato de pronto:

— Escuta aqui, o meu irmão está vivo! Nunca mais diga qualquer coisa que sugira o contrário, falou? Você prometeu que ia me ajudar, então seja homem, ou seja lá o que você for, e cumpra a sua bendita palavra. — Faço uma pausa para retomar o fôlego e gesticulo mais alterado: — Você tem uma maldita máquina do tempo, lembra? Então, mexa os seus botões mágicos e vamos voltar até onde o meu irmão está. Vamos trazê-lo de volta e vamos começar a fazer isso agora mesmo. Está decidido.

O Doutor fica em silêncio. Não diz uma mísera palavra nem move um dedo. Isso me deixa ainda mais impaciente. Principalmente porque o infeliz está com aquela expressão preocupante mais uma vez.

— Eu não estou gostando da sua cara — exponho, tentando despertar alguma reação de sua parte, qualquer coisa.

— Até me regenerar de novo, é a única cara que eu tenho. Lamento.

O Doutor tem a audácia de dizer exatamente isso. E embora eu sinta que não fez num tom de deboche, ouço-me retorquindo:

— Péssima hora para bancar o engraçadinho. — Respiro fundo, tentando manter o mínimo de calma, e retomo o que realmente interessa: — Eu vou perguntar pela última vez. Qual o próximo passo, Doutor?

O alienígena ainda me encara em silêncio pelos instantes que se seguem. A expressão séria dá lugar a uma ainda mais consternada. Triste e culpada, eu diria. Quando estou prestes a voar no seu pescoço, afastá-lo do painel de navegação no braço e descobrir, por minha própria conta e risco, como a TARDIS funciona, ele finalmente se pronuncia:

— Como Senhor do Tempo, há muitas coisas que eu posso fazer, mas há outras que, infelizmente, eu não posso. Quando foi jogado no passado, Sam Winchester teve a sua história reescrita em outra linha temporal. Agora, sua existência no passado pode estar diretamente ligada a pontos fixos na história, pontos que eu não posso mudar. Trazê-lo de volta, neste caso, seria impossível, inviável, sem chance. Num “cenário mais simples”, sem estar atrelado a eventos imutáveis, resgatá-lo iria alterar toda a linha do tempo de novo. E um evento assim, poderia causar um paradoxo, ser catastrófico para o mundo e, talvez, para todo o universo.

— Eu vou apostar no cenário mais simples, Doutor. Podem haver consequências e podem não acontecer, certo? — Indico o painel da TARDIS e intimo com urgência: — Quando partimos?

Parecendo incrédulo com a minha insistência, o viajante do tempo retruca:

— Você me ouviu direito, Winchester? Pode haver consequências catastróficas, se fizermos isso.

Lembrando-me de tudo, exatamente de tudo, que eu e meu irmão enfrentamos na estrada até aqui, de todas as perdas, problemas apocalípticos, consequências, e de como demos a volta por cima em cada situação que parecia sem solução, contraponho:

— Não se preocupe. De apocalipse, eu e o Sammy entendemos muito bem. Nós vamos lidar com o que vier, se for necessário.

No entanto, o Doutor também parece determinado. Só que a me convencer do contrário.

— Nós não podemos correr esse risco. É do mundo que estamos falando, do universo, de bilhões de vidas, do tempo! — ralha, meio alterado e muito incisivo. — Não se brinca com o tempo nem com vidas assim.

Solto um riso descrente e questiono:

— Você diz isso pra mim? Acredite, Doutor, eu sei muito bem. Eu não sou um homem que brinca, só adepto do lema "um problema por vez", ok? O problema número 1 é trazer o meu irmão de volta. É a prioridade agora.

— Eu não posso.

— Não pode ou não quer? — questiono em tom de desafio.

Talvez eu esteja sendo egoísta, e talvez seja mesmo muito arriscado trazer Sam de volta. Mas estou convencido de que não tenho outra escolha. Preciso do meu irmão e não vou fugir da responsabilidade de lidar com consequências que podem ou não acontecer em virtude do seu resgate.

Notando uma nuance de tristeza no semblante do Doutor, uma possibilidade percorre minha mente e a exponho:

— Nós ainda estamos falando do Sammy? Ou todo esse papo de "não posso" é sobre aquela garota? Rose? Você desistiu dela e agora quer que eu desista do meu irmão também? Sem chance! Eu não sou um covarde.

Quase sinto certo arrependimento ao ver que minhas palavras atingiram o viajante do tempo em cheio, deixando-o realmente triste. Parece que toquei numa ferida muito pessoal e íntima. Uma ferida que parece bem longe de cicatrizar.

Nesse momento, tenho certeza que o Doutor não superou a perda de sua companion. Talvez, a situação dele e de Rose, seja mais complicada do que a minha em relação a Sam. Talvez eles estejam separados por algo muito mais complexo do que o tempo, afinal.

Sinto o arrependimento pesar em minha consciência. Engulo o orgulho.

— Desculpe, eu não devia ter dito isso.

— Tudo bem. De certa forma, você está certo. — o Doutor assente, meio apático e com um olhar infeliz. Ele, claramente, faz um baita esforço para se recompor e emendar: — Eu não pude salvar Rose, e ela foi parar num universo paralelo a esse. Mas talvez eu possa fazer a diferença por Sam Winchester e por você. Talvez eu possa dar um final diferente para essa história. Talvez eu possa... tentar pelo menos.

Sentindo uma injeção de ânimo diante da sua resistência em queda, reflito:

— Esse é o espírito da coisa, Doutor. Mesmo porque todos amam um final feliz, não é?

Não quero soar insensível, afinal o cara acabou de confidenciar o que aconteceu com a tal Rose e que não pode mesmo resgatá-la, mas estou cada vez mais aflito e ansioso. Cada segundo que transcorre, Sam parece mais longe e a situação, mais grave. Sinto que estamos em uma corrida contra o tempo e, por isso, limpo a garganta e retomo o foco:

— Então, o que faremos agora?

O Doutor me encara firme. A tensão paira no ar e se mistura com a expectativa crescente. Por fim, ele responde de um jeito carregado de significado:

— Aparentemente, algo muito perigoso.

Sei que estou lhe pedindo demais, sei que devem existir regras para o que ele pode ou não fazer, que está ignorando algumas delas para me ajudar e que o Doutor está disposto a burlar seus protocolos de segurança porque percebeu que é o certo a se fazer. Assim como eu, por motivos óbvios, ele também não pode deixar Sam para trás. Não seria justo. Ele não pode carregar mais esse peso em sua consciência.

Todos temos que fazer escolhas difíceis, às vezes, é verdade. Humanos e alienígenas, ao que parece. Mas a certeza de que são decisões em prol de algo correto e nobre é o que nos dá a força para erguer a cabeça e arriscar, não importa o que aconteça.

Por assumir esse risco por mim e, principalmente, por Sammy, fico muito grato. Já não tenho vontade de voar no pescoço do Doutor; o que é um grande progresso, convenhamos.

Sinto-me esperançoso de novo. O suficiente para tomar sua expressão favorita emprestada quando concluo:

— Então... Allons-y, Doutor. Vamos fazer isso.


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Notas finais do capítulo

Sabem aquele episódio que a Donna convence o Doctor a voltar para Pompeia e salvar aquela família do Vesúvio? Pois é, me inspirei nele para escrever esse diálogo entre Dean e Doctor cheio das complicações feat drama hahahahahah

Próximo capítulo será pov Sammy.

Reviews são bem-vindos eheheheh

Inté mais!