Allons-y, Winchester! escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 9
Um tiro no escuro


Notas iniciais do capítulo

Depois de um capítulo sofrido...



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Dividido e aturdido. É assim que estou depois de ler a misteriosa carta deixada do lado de fora da TARDIS. Há poucos minutos, quando eu e o Doutor estávamos prontos para fazer o que fosse necessário para resgatar Sam, alguém bateu na porta.  

Ao abri-la, tudo o que o Senhor do Tempo encontrou foi o envelope amarelado e com aparência muito antiga largado aos pés da cabine azul. A inconfundível caligrafia de Sam dizia que a carta estava destinada a mim. 

Li a misteriosa correspondência. Duas vezes, para ser mais exato. Sem saber o que pensar, por ainda digerir as palavras aqui contidas e o que significam como um todo, repassei-a ao Doutor.  

Ele está inclinado em sua leitura há um bom tempo. Com certeza, também confuso e surpreso com o seu conteúdo.  

Enquanto isso, repasso cada trecho em minha cabeça e analiso tudo o que Sam escreveu na carta. Uma teoria se revela no final e me agarro a ela pouco a pouco. 

— Bem... — o Doutor interrompe meu raciocínio, dobrando o papel devagar. — Acho que isso resolve tudo.  

Ele coloca o papiro dentro do envelope e o estende em minha direção. Suas sobrancelhas levemente arqueadas e a expressão comovida sugerem que comprou o discurso empregado pelo meu irmão na história que relatou na carta. Em outras palavras, o viajante do tempo acreditou nele. Ao contrário de mim que, como disse, tenho uma teoria bem diferente a respeito das linhas que li há pouco. Conheço Sammy e sei exatamente o que ele está fazendo. 

— Como assim resolve tudo? Tudo o quê?  

O Doutor franze o cenho, parecendo bem confuso, e replica: 

— Você ainda quer voltar no tempo depois de ler essa carta? 

— Claro que quero — afirmo, resoluto. — Especialmente depois de ler essa carta. 

O viajante do tempo não captou mesmo o que está acontecendo aqui e por que Sam escreveu toda essa baboseira sentimental. Prova disso é que soa ainda mais perdido ao questionar: 

— Mas essas linhas deixam bem claro que um resgate não é o que o seu irmão quer. Você leu, Dean. Sam está bem e quer que você aceite o que aconteceu, que siga em frente e não tente nada estúpido. É o que está nessa carta. 

Perdendo um pouco a calma, elevo a voz ao esclarecer: 

— Esqueça a maldita carta; é tudo mentira. 

— Como você pode saber? 

Sentindo a teoria ganhar força dentro de mim e ligando pontos que o Doutor é incapaz de enxergar por si só, reforço: 

— Porque eu sei. 

O Senhor do Tempo me encara por alguns instantes, de um jeito piedoso que me irrita um bocado, e balbucia com cuidado: 

— Oh, Deanno... Você não tem certeza, tem? Você quer acreditar, mas não tem certeza. 

Respiro fundo, a fim de manter o mínimo de civilidade. Taxativo e cada vez mais convicto de que não estou defendendo só uma teoria, mas sim a mais pura verdade, exponho: 

— Tenho sim. Cem por cento de certeza, absoluta, nenhuma sombra de dúvida pairando no ar. A história contada nessa carta é totalmente fake. Talvez não tudo, ok, mas o principal, sim. Meu irmão não está bem, ele está sofrendo, acha que não merece ou não pode ser salvo, e quer que eu deixe tudo isso pra lá. 

Para minha surpresa, meus argumentos parecem não convencer o Doutor. Ao invés de se dar por satisfeito, ele permanece com a postura descrente e me questiona mais uma vez: 

— É nisso que você quer acreditar? 

— É essa a verdade — insisto. 

— E se não for? — Ele balança a carta no ar. — E se tudo que estiver escrito aqui for real? Você vai ignorar o último pedido do seu próprio irmão? Vai tentar resgatá-lo mesmo contra a sua vontade? Vai fazê-lo escolher entre a vida no passado ou essa? 

Pisco algumas vezes, subitamente incerto sobre o que estou fazendo. Sim, se houver uma chance de eu estar equivocado, vou colocar Sam numa situação muito complicada e dolorosa. Entretanto, ao repassar tudo que li e percebi até aqui, a teoria ganha ainda mais força e tenho certeza que não posso estar enganado.  

Não é birra da minha parte ou uma tentativa de me iludir, eu apenas sei exatamente do que estou falando. Sei que estou certo. Por isso, não posso mudar de ideia, não há motivo para hesitar. 

— Eu já disse que Sam está mentindo — repito. 

— Sim, e eu perguntei como você pode saber. 

A incredulidade do Doutor me tira do sério. Ao mesmo tempo, entendo que ele precise de um empurrãozinho para acreditar. Resolvo lhe dar isso: 

— Sam quase nunca diz que me ama. Nós não precisamos dizer, sacou? Ele é tudo pra mim, ele se espelha em mim, a recíproca é verdadeira e o resto tanto faz. 

Ainda não convencido, o viajante do tempo pondera de um jeito paciente e cauteloso: 

— Você não acha que Sam diria que te ama se fosse uma despedida? 

Sou obrigado a avaliar esse detalhe.  

Sim, claro que ele diria. E claro que se expôs assim justamente porque, quando se debruçou sobre o papel e escreveu a carta, acreditava que estava se despedindo mesmo de mim. Não duvido que Sam estava falando sério quanto a isso, que fique bem claro. 

Por outro lado, sua declaração também mostra um desespero implícito e uma tentativa de me comover. Tudo para me obrigar a desistir da ideia de procurá-lo e reverter essa situação do diabo em que nos metemos. 

Decido que é irrelevante explicar ao Doutor como a cabeça de Sam Winchester funciona e como ele acha que eu funciono, optando por me ater a outro detalhe da correspondência: 

— O Sammy escreve muitas vezes, repete exaustivamente, que está bem, que tudo vai ficar bem e que eu não preciso me preocupar mais com ele. 

Sem entender, o Senhor do Tempo olha de um lado para o outro antes de assumir que não captou o significado disso: 

— Então? 

Volto a perder a calma e exponho incisivo, elevando a voz mais uma vez: 

— Então que é mentira! Ele não quer se sentir um fardo, só isso. E também acredita que está me protegendo assim, mas não está. Eu não preciso de proteção, eu preciso do meu irmão ao meu lado como sempre. E não vou abrir mão disso. Portanto, nada de mudanças de planos, Doutor. Nós vamos prosseguir com o nosso acordo, falou? 

Eu devo estar me comunicando em grego ou então o Google Tradutor da TARDIS não está funcionando direito, já que, ao invés de se dar por convencido com meus argumentos, o alienígena engomadinho na minha frente tenta recomeçar com a ladainha descrente: 

— Dean, eu entendo o que você está tentando fazer, eu entendo como está se sentindo, mas...  

— Droga, Doutor! — explodo de vez. — Qual parte de "Sam está mentindo", você não entendeu, afinal?!   

Arrependo-me do berro tão logo as palavras escapam da minha garganta. Acho que fui meio grosso com o pobre coitado. O Doutor é um bom sujeito pelo que vi até agora e só está preocupado comigo. Ele deve pensar que eu estou me baseando apenas em palpites para não acreditar no meu irmão, agarrando-me a uma falsa esperança apenas por não conseguir aceitar que o perdi para sempre, me iludindo ao escolher a mentira que consola no lugar da verdade que dilacera. 

O Doutor está certo nesse ponto. Realmente não tenho estômago para aceitar que Sam não faz mais parte da minha vida. Porém, juro que não é só isso que está movendo a teimosia e a determinação dentro de mim. Eu sei que meu irmão está mentindo. 

— Olha, me escute. Você pode conhecer o Sam como a palma da sua mão e, por isso, tem certeza que ele inventou certas coisas do conteúdo da carta para te proteger, mas eu não o conheço há tanto tempo assim. Eu só preciso ter certeza também. Certeza de que estamos fazendo a coisa certa por Sam Winchester. 

Quando o Doutor coloca sua opinião assim, sou obrigado a entender o seu ponto de vista. E reconheço, seria ótimo ter a confirmação absoluta da minha teoria também. Ficaria ainda mais seguro da decisão de ignorar o conteúdo fajuto da carta, se tivesse algo concreto que assegurasse que Sam realmente mentiu. 

A carta. 

Seguindo um palpite, ou talvez apenas o meu instinto de caçador naturalmente desconfiado, arranco o envelope das mãos do Doutor e o aproximo do rosto. Respiro fundo contra o papel amarelado. Meu coração bate pesado e espalha a certeza que sinto agora pela corrente sanguínea. 

— Você quer uma prova? Então sente só o cheiro disso aqui. 

Devolvo a carta ao viajante do tempo, orientando-o a fazer o mesmo que eu. 

Intrigado depois de sentir o odor forte e ácido impregnado no papel, ele ergue o olhar em minha direção. 

— Isto é...? 

— Enxofre — confirmo. E profundamente satisfeito e aliviado diante da prova irrefutável, caminho até a porta da TARDIS, ao mesmo tempo em que convoco: — Não entendeu o grande X da questão, Doutor? Me siga.  

Segundos depois, estamos do lado de fora. Abaixo-me na direção do meio-fio e examino a pequena área onde encontramos o envelope, momentos atrás. Passo os dedos sobre um pó um tanto amarelo e também esverdeado. Sinto o cheiro. Convencido de vez, levanto-me e mostro a descoberta ao Senhor do Tempo. 

— Olha só! Mais enxofre aqui fora. — Faço uma breve pausa e, percebendo que ele continua sem entender, explico melhor: — Meu irmão não repassou essa carta aos seus descendentes; porque eles não existem de verdade. Sam mandou um demônio imundo se encarregar da entrega. Minha aposta é que fez um pacto para isso. O que significa que foi parar no inferno só para que eu acreditasse que ele teve uma vida razoável e não me sinta culpado. Adivinhe só como eu me sinto agora?  

A ideia do pacto surgiu ao mesmo tempo em que eu falava, então me calo pelos instantes seguintes para assimilar melhor essa triste conclusão. Sentindo um nó na garganta, engulo em seco e retomo: 

— Nós temos que continuar, Doutor. Eu preciso salvar o meu irmão. 

Há um longo momento de silêncio, durante o qual o alienígena parece avaliar tudo o que aconteceu, ouviu até aqui e a revelação de que Sam mentiu sobre ter constituído uma família com alguém. 

A noite está silenciosa também. Já é madrugada, na verdade. Faz horas que perdemos Sam e séculos me separam do meu irmão agora. 

Um vento gelado e cortante rasga meu rosto, e o Doutor por fim se pronuncia: 

— Tudo bem. Eu vou ajudá-lo, mas... 

— Não sei se eu já disse isso, mas eu odeio quando você diz mas — interrompo-o, temendo a ressalva e desejando que ele não tivesse dito essa palavra. 

Ignorando minha crítica, o Senhor do Tempo recomeça: 

— Dean, se Sam inventou essa história para deixar a sua consciência tranquila é porque ele estava sofrendo muito e não queria que isso te atingisse. 

— Me conte algo novo, isso eu já percebi, gênio. 

Tento me conter, entretanto acabo sendo sarcástico. Culpem o nervosismo crescente e a tensão do momento, tudo bem?  

Sem levar meu mau humor em conta, o viajante do tempo continua: 

— Resgatá-lo está parecendo mais complicado do que eu havia imaginado a princípio, quando concordei com isso. 

Por não gostar do que ouvi, acho prudente pontuar com um aviso: 

— É bom descomplicar rapidinho porque você não vai me convencer a desistir dele. 

Numa clara manobra para me tranquilizar e se fazer ouvir, o Doutor esclarece: 

— Não é isso que eu estou fazendo, eu só preciso que você entenda o que está em jogo aqui. — Depois de uma pausa dramática demais para o meu gosto, ele explica com detalhes o que está matutando: — Sam não menciona em que lugar e ano está exatamente. Eu posso me basear através da carta, mas, mesmo assim, há uma chance, uma grande chance, da TARDIS não acertar os cálculos. Isso significa que nós poderíamos chegar até Sam quando ele estivesse escrevendo essa carta, ele poderia estar muito mais velho do que você se lembra, ou, talvez, já morto. Sinto muito, Dean, mas nós não teríamos como fazer uma segunda tentativa, se algo assim acontecesse. Nós já teríamos arriscado demais com a primeira viagem. Duvido que a TARDIS obedeça aos meus comandos se perceber o menor risco para a integridade do tempo e do universo. Além disso, se Sam está sofrendo, nós devemos evitar que isso aconteça, certo? Do princípio. E não trazê-lo de volta com toda a bagagem de dor, com marcas que, por mais que ele seja quem é, não vai conseguir carregar. 

As palavras do Doutor fervilham na minha cabeça. Volto a sentir aquele nó na garganta. Não quero que meu irmão passe por mais sofrimentos. Ele já tem PhD nisso, merece um desconto dessa vez. 

Ansioso por uma solução que o livre dos anos de dor implícitos na carta, articulo: 

— Faz sentido. Então o que você propõe para evitar isso? Eu não quero que ele sofra, não quero mesmo. Por favor, eu preciso de uma saída para esse impasse, Doutor. Eu não consigo salvar o Sammy sozinho, preciso da sua ajuda. O que você pode fazer? 

Soando meio incerto, como alguém que está prestes a quebrar um importante protocolo de segurança — pela segunda vez, aliás —, e fazendo certo suspense com a voz, ele revela seu plano: 

— Algo igualmente arriscado e que pode dar muito errado também. Mas que, se der certo, vai evitar que Sam seja jogado num passado distante e passe por todo o sofrimento que tentou ocultar com as palavras que te escreveu.  

— Desse "mas" eu gostei — admito, animado com a ideia, porém ainda sem compreender como vai funcionar. 

Acho que o Doutor nota minha cara de cego perdido em tiroteio, uma vez que acrescenta a explicação que faltava: 

— Se conseguirmos voltar no tempo, algumas horas atrás apenas, e salvá-lo dos Anjos Lamentadores, o Sam Winchester que te escreveu essa carta nunca terá existido, sua existência será totalmente apagada da história e nós voltamos para o curso normal da história. Ainda há muitos riscos envolvidos, porque ele pode ter influenciado a história em sua existência no passado, participado direta ou indiretamente de eventos fixos. É um tiro no escuro ignorar essa possibilidade. Além disso, nós dois estaremos viajando na nossa própria linha do tempo também, o que é... 

Não deixo o Doutor continuar e, com isso, jogar um balde de água fria na esperança que sinto se erguer dentro de mim agora. Apenas o interrompo de novo e encerro o impasse: 

— Eu topo. Vamos fazer isso. Um tiro no escuro é o que temos para hoje. 

De repente, lembro de algo que vi ou pensei de ter visto de relance na minha antiga casa. A frase pichada com spray vermelho. Uma possibilidade ronda minha mente ao reviver esse detalhe. Talvez, eu e o Doutor já tenhamos voltado no tempo afinal. Talvez conseguimos sucesso no resgate do meu irmão. Talvez tenha dado certo.  

— Você pode salvá-lo... — sussurro para mim mesmo. 

Algum tempo depois  

Apesar do pouco tempo em que o conheço, posso dizer que aprendi duas coisas elementares com o Doutor. Um, quando ele diz "Corre", você corre. Dois, quando ele diz "Segure-se!", também é prudente ouvi-lo.  

Entendo esse segundo conselho agora porque, depois que ele determinou as coordenadas necessárias para nos fazer voltar algumas horas atrás, demorei demais para me segurar no console da TARDIS. Então, a espaçonave iniciou seu trabalho prontamente com um solavanco violento que fez tudo em volta vibrar e o chão tremer. 

Agora, luto para não ir ao chão feito uma fruta madura — o que, convenhamos, seria bem humilhante. Por sorte, consigo me agarrar ao painel de navegação no último instante e retomo o equilíbrio, sorrindo amarelo, meio sem graça e assustado. 

Enquanto isso, o Doutor parece fazer os últimos ajustes nos controles, puxa alavancas e aperta botões feito um louco. Ele corre de um lado para o outro, percorrendo o painel com familiaridade e uma empolgação tangível. Com certeza, deve ter feito esse verdadeiro ritual incontáveis vezes, já que possui muitas milhas acumuladas em matéria de viagens no tempo e espaço. 

Enquanto reflito sobre isso e tento imaginar tudo o que ele já deve ter visto e vivido nos últimos novecentos anos, o barulho frenético e mecânico das engrenagens se propaga no ar. As luzes vibram ao redor. O rotor temporal acima do console se move e gira de forma constante; espero que com a lógica exata para levar nós dois até Sam e, principalmente, a tempo de salvá-lo de um destino trágico que me recuso a engolir. 

Ao pensar no meu irmão e no que estou prestes a fazer por ele, sinto-me como Denzel Washington naquele filme, Déjà Vu, e uma voz na minha cabeça diz a todo momento: "Você pode salvá-lo." 

Sorrio ao deixar essa voz ganhar força. Vou ficando cheio de esperança a cada segundo em que a TARDIS sacoleja de um lado para o outro, nos aproximando do destino final. De repente, estou animado demais com tudo isso. Confiante, eu diria.  

Finalmente percebo a grandiosidade e complexidade do universo, como sou pequeno. Mas nada disso me assusta de verdade porque eu sei que só preciso me concentrar mesmo num ponto dele. Preciso me concentrar em Sammy e na minha missão, responsabilidade, no meu trabalho, em nós. Podemos ser pequenos, mas também somos grandes. Somos peças de um jogo complicado em constante movimento e curso, mas não somos dispensáveis de forma alguma, somos importantes e únicos. 

Franzo o cenho ao me dar conta das coisas estranhas que estou pensando de repente. Balanço a cabeça negativamente por instinto, a fim de voltar ao meu juízo normal. Eu hein... Será que é algum efeito colateral da viagem?  

Convenço-me de que estou apenas ansioso com tudo o que está acontecendo e ainda vai acontecer, é isso. 

É bem nessa hora que a TARDIS paralisa por completo, de súbito, a iluminação em seu interior para de oscilar e os ruídos mecânicos cessam. Chegamos.  

Tenho a confirmação disso quando o Doutor me lança um olhar significativo. Meio descabelado e com o sobretudo desalinhado, ele corre feito uma gazela ensandecida até a porta. Abre-a de supetão. Vou em seu encalço com o coração batendo a mil. 

A princípio, fico com medo de não ter funcionado. Tudo o que sei é que estamos em frente à minha antiga casa em Lawrence. Olho para o céu ainda escuro e constato que não estamos no mesmo tempo de antes. Uma checada rápida no relógio em meu pulso e descubro que voltamos algumas horas.  

Pelo cálculo rápido que faço, Sam nos deixou na TARDIS e foi comprar minha torta há uns trinta minutos. Tempo mais do que suficiente para ter pegado o caminho até o outro mercado, passado na frente do que costumava ser a nossa casa e tomado a decisão de entrar.  

É isso! Sammy ainda está lá dentro! 

— Correr, certo? — suponho, já em movimento, enfiando-me no jardim. 

Logo atrás de mim, o Senhor do Tempo analisa: 

— Nós tivemos sorte, Deanno! Acho que o universo está ao nosso favor hoje!  

— Sorte? — repito com incredulidade e em tom de protesto. — Eu diria que estamos em cima da hora, Doc Brown. 

Ignorando a urgência do momento, ele fica muito animado com a referência e diz: 

— Excelente filme! Eu estive nas gravações, sabia? 

Reviro os olhos, enquanto continuo me movimentando depressa rumo à varanda, e replico: 

— Ótimo tópico; momento errado. Fica pra depois. 

— Molto bene! Combinado! Mas como eu estava dizendo, nós tivemos sorte — ele retoma, com sua característica empolgação fora do normal. — Está tudo correndo muito bem até agora, nós não esbarramos com nossos eus desse momento, a TARDIS nos deixou o mais próximo possível do lugar e instante, então... 

— Então vamos parar com a conversa fiada — corto-o, sem querer ser rude, apenas muito tenso e ansioso. 

Talvez entendendo o meu estado de nervos, o Doutor se dá por vencido e fecha a matraca. Segundos depois, já estamos dentro da casa. Subindo as escadas. Correndo pelo corredor de posse de duas lanternas que providenciamos antes da viagem. Além disso, trouxe um spray comigo e o mantenho no bolso da jaqueta. 

— SAM! Não pisque! — grito, derrapando pela soleira da porta e adentrando o quarto. — Por todos os shampoos que você idolatra, não pisque... 

A emoção e o profundo alívio que sinto ao reconhecer meu irmão de costas dentro do recinto são impossíveis de descrever. Sem fôlego, puxo algumas lufadas de ar enquanto ouço-o responder sem mover um músculo: 

— Dean? 

Antes que eu diga qualquer coisa, atento-me às duas criaturas de pedra presentes no quarto, a poucos metros do meu irmão, as mãos esticadas na direção dele como garras e os rostos transfigurados em expressões animalescas, quase demoníacas, horrorosas, do tipo que precisam, urgentemente, de umas boas plásticas. 

— Não pisque, Sammy. Sua vida depende disso — o Doutor orienta, arrancando as palavras da minha boca. 

Meu coração bate pesadamente. Odeio admitir, mas estou com um baita medo agora. 

Mesmo nesse momento crucial, no qual detalhes não são importantes, meu irmão resolve corrigi-lo: 

— É Sam.  

Apesar da leve bronca, tenho certeza que ele fala isso da boca para fora. Apenas para não perder o costume e uma forma de provocar nosso mais novo amigo. Tenho certeza que Sam está feliz por perceber que o Doutor está aqui, que eu estou também, e que tudo vai ficar bem agora.  

Por que... vai, certo? 

É o que estou repetindo para mim mesmo quando Sam dá um passo para trás e tropeça em uma madeira solta do piso. Com isso, ele se desequilibra consideravelmente e o celular, que usava para iluminar as criaturas, cai no chão com um baque surdo.  

Esse pequeno incidente e momento de distração deve levá-lo a piscar, já que quando olho de novo, os Anjos Lamentadores se moveram perigosamente em sua direção. Suas mãos petrificadas quase tocam em Sam agora.  

Engulo em seco ao perceber que a tragédia só não aconteceu porque eu olhei bem a tempo para um dos seres malignos, que estava mais avançado que o outro em seu trajeto até meu irmão. Ao encará-lo no último instante, fiz o maldito alienígena ficar bloqueado quanticamente na forma de estátua de novo. 

Aliviado por não ter acontecido o pior, porém nervoso, já que não ocorreu apenas por um tris, ralho com firmeza e humor ao mesmo tempo: 

— Ok, por todo o amor que você nutre por esses cabelos sedosos e compridos, mantenha os olhos abertos, bem abertos, Sammy. É uma ordem, bitch. 

Mesmo sem poder se voltar para mim, quase vejo a sua expressão contrariada e meio carrancuda quando ele rebate entredentes: 

— Certo, entendido. Jerk.


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Notas finais do capítulo

Um pouco de esperança?

Hahahahahah siiiiiiiiiim, Deanno e Doctor voltaram um pouquinho no tempo para impedir (tentar) que Sammy dos cabelos sedosos seja jogado no passado remoto pelo Anjo Lamentador.

But, como nada é fácil nessa vida (ainda mais para os boys Winchester) temos os Anjos na parada de novo. E para animar vocês, isso não é tudo kkkkkkk Próximo capítulo será complicado ao cubo e incerto, quem viver verá!

Bjs e não esqueçam dos reviews ♥

PS: Esse lance de "Você pode salvá-lo" é inspirado num filme que AMO, chamado Déjà vu (com o divo Denzel Washington).