O Outro Lado da História escrita por MusaAnônima12345


Capítulo 4
Capitulo 3


Notas iniciais do capítulo

Notas finais! ;-)



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Bridgette

 

 

— Bridgette Dupain-Cheng, você quer fazer o favor de sair logo desse chuveiro? Eu preciso me arrumar para o ensaio da CM e tem que ser ainda hoje! – Melody gritou esmurrando a porta do banheiro do nosso dormitório com uma força digna de um elefante. Tive que segurar as risadas para que a mesma não ficasse ainda mais irritada e resolvesse derrubar a porta sozinha.

— Já estou saindo Mel, só um minuto. – gritei de volta enquanto terminava de lavar o meu cabelo e desligava o registro da água. Me enrolei no roupão de banho que estava pendurado na parede e prendi meu cabelo na outra toalha que tinha em mãos. Esfreguei os olhos e olhei meu reflexo no grande espelho preso na pia do banheiro.

Havia sido uma semana muito corrida e eu mal tivera tempo de descansar. Estávamos indo em direção ao fim do meu último ano na Inglaterra e parecia que nada dava errado. Naquele ano eu havia sido chamada para estudar gastronomia pelo diretor de outra escola britânica e me formar no que eu mais gostava fazer: comida. E o melhor de tudo aquilo era que eu poderia escolher onde estudaria pelos próximos anos, ou seja, eu poderia voltar para o meu país e ficar mais próxima da minha família novamente. Poderia voltar para Paris. Eu poderia fazer um milhão de coisas que sempre dava certo, não importava o que eu fizesse parecia que a sorte sempre andava comigo.

Olhei para o par de brincos nas minhas orelhas. Era exatamente o oposto que eu deveria ver.

Por mais fácil que as coisas poderiam parecer para mim eu não gostava daquilo. Era uma maldição e além de tudo, também era temporário. Eu precisava encontrar um jeito de reverter aquilo o quanto antes.

“Era uma manhã de quarta-feira na universidade. Eu estava indo levar o almoço da minha melhor amiga na Comunidade Musical, ou seja, o prédio dentro da escola que Melody tinha aula desde que começara os estudos aqui no College Papillion London. E como sempre, mais uma vez eu estava atrasada para chegar lá. Correndo contra o tempo, peguei o lanche que ela havia esquecido em cima da cama dela e disparei pelos corredores e pelas ruas universitárias a pé mesmo.

O problema da CPL é que no meio da escola e perto da lanchonete que eu sempre parava, tinha uma avenida que os pais dos alunos e diversas pessoas realmente passavam com seus carros. E naquele dia havia chovido pela manhã, então eu deveria ter notado que aquela avenida deveria estar cheia de poças de água, certo? Errado.

No exato momento em que eu iria atravessar aquela infeliz daquela avenida um carro enviado das profundezas simplesmente quase me atropelou. Se eu não tivesse parado ele teria me machucado gravemente. Em compensação naquele dia havia ganhado um banho de graça. Xinguei de todos os nomes que consegui aquele motorista antes de prosseguir o meu caminho.

— Demais, simplesmente demais. – resmunguei, revirando os olhos quando percebi que o almoço que carregava nas mãos havia virado uma sopa ambulante. – Agora vou precisar comprar alguma coisa para a Mel, senão cabeças vão rolar nessa faculdade.

— Achei que você não iria dizer nada senhorita Dupain-Cheng.

Me virei e dei um suspiro para a figura que estava atrás de mim. Era uma mulher mais alta que eu e deveria ter a idade da minha mãe, pois boa parte do seu cabelo negro estava ficando grisalho. Tinha olhos verdes tão escuros e profundos que poderia reconhecê-la onde quer que eu estivesse. Tinha um espírito indomável, um espírito de alguém que já havia vivido muito até ali, mas que ninguém sabia o que ela já havia passado. Uma guerreira e um verdadeiro exemplo para mim quando achava que a situação não poderia piorar.  

— Olá senhora Groutt. – cumprimentei com o melhor sorriso que poderia lhe dar naquele momento. – Como a senhora está?

— Eu estou bem, mas parece que você não está tendo um bom dia hoje. – a mesma comentou me observando enquanto me livrava do que era há alguns minutos o almoço de alguém na lixeira mais próxima dali.

— Bem, eu só estou atrasada como de costume e acabei de assinar uma sentença de morte pessoal. – brinquei, soltando meu cabelo e tentando evitar que ficasse visível que havia acabado de ser molhado pela água suja da rua. – Tirando isso, meu dia está ótimo.

— Não se preocupe querida, uma hora ou outra a sorte bate na sua porta. – ela me garantiu lançando um olhar profundo, como se quisesse me dizer alguma coisa que eu não soubesse. Pena que só fui entender aquilo muito mais tarde. – Agora eu quero que você pegue isto e leve para a sua amiga, porque daqui a cinco minutos ela vai começar o ensaio de flauta transversal e vai desejar a sua morte quando te vir.

Ela sacudiu a minha frente um saquinho marrom e logo reconheci o que havia lá dentro: os famosos biscoitos de noz moscada que ela costumava fazer nas suas aulas de gastronomia. Afinal não era por acaso que toda a escola sempre a elogiava mais do que nossa cozinheira do refeitório. Sophie Groutt fora o meu principal passe para que mais tarde as portas se abrissem para o meu talento culinário na universidade. Ela foi o que me levou até onde eu jamais pensei que poderia chegar.

Sorri abertamente e me lancei sobre ela, num abraço talvez um pouco exagerado naquele momento. Dentro da College Papillion London aquela mulher era como uma segunda mãe para mim.

— Mais tarde eu volto para tomarmos um café juntas senhora Groutt. – prometi olhando para a avenida e partindo em direção ao meu destino, acenando enquanto continuava minha corrida até a Comunidade Musical.

Eu queria ter tido aquela oportunidade de voltar e bater tal papo tranquilo com a minha professora de culinária, sabe? Aquele papo sem compromisso nenhum. Mas, infelizmente, eu não sabia que as coisas iriam mudar tanto a partir dali.”

— Eu não tenho o dia inteiro aqui Bridg. – uma voz irritada me lembrou que eu precisava sair do banheiro para a minha melhor amiga poder se arrumar para outro ensaio.

Suspirei e amarrando um pouco mais o meu macacão, sai do pequeno cômodo. Do lado de fora a loira parecia querer me estrangular ali mesmo por tamanha demora da minha pequena ducha. Abri um pouco mais a porta e gesticulei para que ela entrasse.

— Por aqui, por favor, senhorita. – disse com um pequeno sorriso no rosto. – Deixei a água quente para que você usasse. Quem sabe esse seu mau humor não vai embora?

 Minha melhor amiga nem se deu ao trabalho de me dar uma resposta torta, porque eu sabia que no mínimo seria um xingamento daqueles. Então ela simplesmente bufou igualzinho um bicho enjaulado e bateu a porta com força atrás de si, se trancando em seguida.

— É cada uma que acontece comigo... – murmurei balançando a cabeça e indo pegar uma muda de roupas para que pudesse me trocar.

— Não reclame da sua sorte Bridg. – uma vozinha bem conhecida me reprovou. Dei uma risadinha. - Você mais do que ninguém sabe que muitas pessoas gostariam de colocar as mãos naquilo que você tem.

— Ladrões, vilões com sede de poder, maníacos, colecionadores fanáticos, catadores de bugigangas... – contei nos dedos e me virei para encarar a pequena kwami que flutuava perto do meu guarda-roupa. – Me esqueci de alguma coisa? – indaguei terminando de me vestir com uma sobrancelha arqueada.

— Só do seu juízo mesmo. – Tikki respondeu dando uma gargalhada e abraçando meu rosto. Retribui o pequenino gesto de carinho. Mal sabia que sentiria falta daquilo um dia. – Você, por acaso, vai á algum lugar?

— Vou apenas dar uma volta por ai. Preciso pensar um pouco. – disse amarrando meu cabelo como de costume e lhe encarando um pouco séria. – Digamos que tenho o pressentimento que um gatinho abandonado precisa conversar com alguém antes que faça uma besteira.

— Acho que isso é um bom trabalho para a versão pouco conhecida da Ladybug. – a kwami brincou, fazendo com que um pequeno sorriso escapasse dos meus lábios.

— Você tem razão Tikki, tenho certeza de que...

— Com quem que você tá falando Bridgette? – a voz de Melody atrás da porta do banheiro me gelou dos pés a cabeça.

Abri meu casaco e gesticulei o mais rápido que consegui para que Tikki pudesse se esconder, graças a Deus quando minha melhor amiga abriu a porta do outro cômodo não havia nenhum indicio que tinha outra pessoa comigo no dormitório. Me virei com um sorriso mais esforçado e “normal” que consegui para encarar a loira já vestida com suas costumeiras roupas do grupo de música da universidade. Ela me encarou com uma expressão preocupada, mas acho que preferiu não repetir a pergunta. Queria uma resposta.

— Eu... Hã... Eu, eu estava praticando para a próxima peça de teatro da facul oras. – ok, essa poderia não ser a desculpa mais convincente do mundo, mas o que eu poderia fazer? “Ah Mel, não eu estava apenas conversando com um ser místico que me transforma numa versão amaldiçoada de uma super-heroína, a Ladybug, você não conhece?”

— Não estava sabendo de nenhuma peça. – Melody comentou desconfiada. Estreitou os olhos e acrescentou, parecendo olhar no fundo da minha alma: - Também não sabia que você fazia teatro. Uma vez você me disse que não gostava desse tipo de coisa.

“Claro que disse.” Me reprovei mentalmente olhando para os lados. “E agora? Droga, pensa Bridgette, pensa...”

— Eu disse teatro? – perguntei nervosa, raciocinando o mais rápido que conseguia para sair daquela situação. – E-eu quis dizer ANFI- teatro. Isso! Foi isso que eu disse! Você não está atrasada para ir para o anfiteatro?

— Amiga, os ensaios não são no anfiteatro. São na ala musical, no prédio que a Comunidade Musical conseguiu há anos. – a loira explicou, me lembrando que mais uma vez o que eu dizia era mentira. – Quer, por favor, me explicar o que você tem Bridg? Eu quero saber na boa, não vou discutir com você nem nada assim.

— É que... Eu... – murmurei e abaixei a cabeça. No fundo no fundo talvez eu tivesse mesmo um motivo para falar sozinha. – Estava só pensando em voz alta.

— Acho que já entendi. - Melody disse cruzando os braços e amolando sua expressão desconfiada. – Félix de novo?

Levantei a cabeça e a mirei por alguns segundos. Aquela seria uma boa maneira de fugir do questionamento que a loira estava me fazendo e que provavelmente iria continuar quando chegasse mais tarde. Dei um longo suspiro e balancei a cabeça o mais cabisbaixa que consegui. Ela apenas me imitou e me puxou para um abraço apertado. Ok, realmente precisava de um abraço daquela garota, não vou negar. Mel podia ser durona, independente, um pouco difícil as vezes, mas uma das suas melhores qualidades era ter um bom coração quando sabia que as pessoas precisavam. Sempre que Félix me tratava mal ou acontecia alguma coisa que ela percebia que eu não estava bem, ela me consolava com um abraço ou um bolinho de chocolate que ela se aventurava a fazer sozinha – e que por sinal eram maravilhosos – ou até mesmo com uma maratona das nossas séries favoritas de investigação e romance policial.

Talvez fora assim que nos tornamos detetives tão boas.

— Olha Bridg, vai ficar tudo bem tá legal? – me assegurou, tentando me alegrar – sim, naquele momento eu estava me sentindo um pouquinho culpada pela aquela cena – mais uma vez. – Eu sei como o Félix pode ser um pouco grosseiro, frio...

— Cínico. – apontei.

— Irônico, um pouco sarcástico... – Melody acrescentou pensativa.

— Chato e ignorante. – apontei mais uma vez.

— Mas ele também tem um coração amiga. – contou abrindo um pouco de espaço entre nós duas e me encarando com aqueles olhos claros tão bonitos quanto do Agreste. Argh, eu estava fazendo de novo. – Ele pode parecer um monstro, mas ele não é.

— Claro. – disse balançando a cabeça com um sorriso sarcástico. – Espero que um dia essa fera encontre a Bela e vire um príncipe como no filme da Disney. Porque assim não tá dando não.

A sua risada me fez arquear as sobrancelhas e ir até o banheiro para tentar disfarçar a minha culpa disfarçada de tristeza. De soslaio pude vê-la amarrando os sapatos, sentada em sua cama e depois se dirigir onde eu estava, penteando os longos cabelos loiros que iam até a altura de seus ombros. Talvez um pouco mais comprido. É difícil dizer quando uma pessoa sempre está de cabelo preso.

— A vida não é um filme de conto de fadas Bridgette. – me reprovou sem olhar diretamente para mim. – Mas caso fosse, a sua vida então seria aquele filme que tem um alienígena azul.

— Alienígena azul? – repeti, confusa. – Tá falando do filme “Lilou & Stiti”?

— Sim. – Melody afirmou dando uma gargalhada e passando um batom discreto, sempre o meu contrário. Na verdade eu nunca usava muito batom, então... – No seu caso, você seria o Stiti. – explicou explodindo em gargalhadas.

Balancei a cabeça e fiz um movimento de olhar as horas, batendo o dedo indicador no meu pulso. Ela estava atrasada e eu também.

— Ok, ok não tá mais aqui quem falou. – minha melhor amiga disse lançando as mãos pra cima, em sinal de rendição. Ela me deu um beijo na bochecha e foi em direção a porta. – Bem, nos vemos mais tarde amiga. Tenho que correr senão já sabe né? Suspensão das aulas de música, e eu simplesmente não posso parar de tocar agora que estamos prestes a fazer um concerto na Itália, pelo menos não agora.

— Eu vou ficar bem amiga. – afirmei acenando para a garota. – Lembre-se: você arrasa.

Ela deu uma risadinha e fechou a porta do quarto.

***

Eu estava no alto de um prédio próximo a um dos rios da cidade de Londres – considerado por muitos o mais importante para a capital – o rio Tamisa. Digamos que ele era grande demais para que eu pudesse atravessá-lo com o meu ioiô e por isso me limitei a ficar onde eu estava mesmo. Eu até mesmo possuía uma bela vista dali: estava próxima do Museu Nacional, a Coca-Cola London Eye, aquela famosa e gigantesca roda-gigante que é um dos principais pontos turísticos do Reino Unido e é claro o poderoso relógio que havia passado por milhares de gerações e ocasiões importantes, tipo a Primeira e Segunda Guerra Mundiais.  Uma vista deslumbrante que até mesmo me fizera pensar se tinha aproveitado o tempo que passara naquele país tão diferente de Paris.

Mas a minha mente já tinha muita coisa para me preocupar e era exatamente por aquele motivo que eu estava ali.

Tinha que arrumar um jeito de encontrar um gatinho branco vira-lata antes que ele se metesse em confusão.

“Poucas horas atrás, na volta da CM e depois de ter entregado o almoço de Melody eu havia voltado na lanchonete da senhorita Groutt. Afinal estava devendo uma conversa com a mesma há algum tempo. Então eu fui lá e como estava chegando no final do expediente, não demorou para ela aparecer e me convidar para conversar a sós com ela. É claro que eu estranhei, afinal eram muito poucas as vezes na qual eu parava ali para ter uma conversa séria como aquela. Enfim, ela começou a falar sobre a juventude dela e de algumas pessoas que não via há muito tempo, mas uma em especial me chamou muita a atenção.

— Espera, então quer dizer que a senhora conhece o professor August desde que era jovem? – perguntei tentando entender toda aquela história. A mulher a minha frente deu um pequeno sorriso e assentiu levemente.

— Sim querida. – confirmou colocando as mãos sobre a pequena mesa onde estávamos sentadas. – Como estudávamos na mesma escola, foi questão de tempo para nos tornamos muito amigos. Éramos nós e mais três pessoas. – contou estendendo os dedos de uma das mãos. – Robert, Serena e Niakamo-Fu. Claro que já faz muito tempo, mas me lembro muito bem dessa época aqui mesmo em Londres, numa escola pouco conhecida hoje. Robert era dos Estados Unidos e Fu, como eu o chamava, era da China. Os dois faziam intercâmbio nessa época.

— Você nunca falou muito do seu passado senhora Groutt. – comentei, um pouco sem graça por tal conhecimento dos fatos. – Você... Ainda mantêm contato com eles?

O sorriso nostálgico aos poucos foi desaparecendo e me arrependi da pergunta que fizera na mesma hora.

— Bem, só mantemos contato em extrema urgência. – ela respondeu com um olhar sombrio. A encarei por longos minutos enquanto seu olhar estava fixado em um ponto qualquer do escritório, distante. – Quando precisamos enfrentar alguma coisa para um bem maior.

— Bem maior? – repeti, visivelmente confusa e desconfiada. Mal sabia o que viria a seguir.

A mulher a minha frente deu um longo suspiro e fechou os olhos, massageando as têmporas. Alguma coisa estava errada. Que conversa era aquela? Céus, no que eu havia me metido dessa vez?

— Acho que está mais do que na hora de você saber a verdade e o porque está aqui Bridgette. – a mesma disse voltando a me encarar fixamente. Me encolhi na cadeira que estava e não ousei sequer piscar. Ela umedeceu os lábios e começou a falar novamente: - Como você deve saber Londres está passando por um momento histórico neste próximo mês de junho. É o aniversário da Rainha Elizabeth que por tradição todos os ingleses comemoram esta época do ano. – assenti com a cabeça e gesticulei para que ela continuasse. – Acontece que este ano algo está preocupando o governo inglês. Trata-se de uma lenda terrível que foi proferida para esse período especificamente.

— Que lenda exatamente senhora Groutt? – indaguei séria, algo que geralmente era raro de se ver tratando de mim.

— A lenda dos opostos do bem. – ela respondeu se ajeitando na cadeira para evitar me encarar nos olhos diretamente. – Há algum tempo atrás, especificamente no primeiro grande império da China ancestral havia um rei muito sábio e que cuidava do seu povo. Esse rei havia chegado até ali graças a intercessão de forças maiores, os deuses que o mesmo acreditava que lhe favoreceram para tamanho cargo. Nesse mesmo reino também havia um homem ambicioso que desejava o seu lugar e logo o mesmo planejara tomar o poder a força, reunindo aqueles que não aceitavam seu governo nem seu domínio sobre a China desde míseros camponeses até guardas de maior confiança do imperador. Outro deus ancestral chamado Papillion, lhes proporcionou o poder de controlar outras pessoas e obriga-las a fazer o que quisessem apenas sobre emoções negativas e ruins, tudo isso sendo proporcionado por um broche em formato de uma mariposa.

— E o que aconteceu? – perguntei curiosa, apoiando minhas mãos sobre a mesa também.  

— O rei sabia que precisava tomar uma atitude, senão o pior aconteceria com ele e também com todos os seus súditos. – a senhora Groutt continuou a sua história. – Junto aos seus sacerdotes reais ele invocou os supostos deuses que queriam o seu bem. Eles lhe dariam ajuda, mas em troca o imperador teria que trazer a eles pequenos objetos, acessórios, na qual guerreiros valentes os usariam para lutar contra o mal e restaurar a harmonia. Assim surgiram os miraculous, pequenas jóias que faziam o seu portador e a pessoa que os utilizasse possuírem poderes e habilidades especiais.

— Por muitos séculos eles foram utilizados e ao todo os miraculous eram sete: o da raposa, o da tartaruga, o do pavão, o da abelha, o da mariposa que fora resgatado, o da joaninha e o do gato negro. – explicou esticando os dedos novamente. – Os dois últimos eram os mais utilizados sendo que o miraculous da Ladybug eram os brincos da criação e o do Chat Noir era o anel da destruição, porém também eram os mais cobiçados pelo lado negro das gerações.

— Mas porque se haviam outros cinco miraculos? – perguntei tentando pronunciar a palavra que a mulher a minha frente havia dito. Ela deu um sorriso e balançou a cabeça.

— Esses miraculous, - ela deu ênfase a palavra que eu dissera errado. – tinham um poder especial que os outros não tinham. Juntos, ambos representavam o Yin Yang, ou o bem e o mal, para que entenda melhor. Significava o equilíbrio entre essas forças para os chineses. Quem os possuísse conseguiria o Poder Absoluto, ou seja, ninguém poderia impedir nada ou fazer nada. Essa pessoa teria o Alfa e o Ômega em suas mãos, digamos assim.

— Tá legal... E o que aquela tal “lenda” e eu temos a ver com toda essa história? – indaguei, tentando fazer com que a senhora Groutt desenrolasse logo aquele rolo em que estava metida.

— A lenda foi proferida na última geração onde todos os miraculous foram utilizados. – a mulher contou novamente com o olhar distante dali. – Os heróis estavam lutando contra um inimigo que não parecia lá grande coisa aos olhos normais. Se tratava de um senhor já de idade que possuía conhecimentos sobrenaturais com feitiçaria e magia negra. Seu nome era Guntfh. Era baixinho e sempre andava com uma bengala, que era a fonte de seus poderes. – Sophie Groutt deixou que seus olhos se estreitassem enquanto parecia pensar no que estava me contando. Aquilo me deixou intrigada. – Antes que fosse totalmente destruído e derrotado ele lançou uma maldição nos miraculous da criação e da destruição. Guntfh disse que a próxima geração de super-heróis que utilizassem tais jóias seria voltada para o lado sombrio onde ele estava. Disse que se não quebrassem sua maldição até o terceiro ciclo da lua do 90° aniversário da Rainha ele voltaria, mas não seria com ele que iriam lutar e sim com alguém mais forte do que ele.

Um minuto de silêncio nos envolveu e um calafrio passou pelas minhas costas. Então de repente a mulher de cabelos castanhos grisalhos e de olhos verdes intensos se levantou, caminhando na direção de um pequeno armário que havia no pequeno escritório e pegando alguma coisa de lá de dentro. Após um longo suspiro ouvi sua voz novamente.

— Sabe que a considero como uma verdadeira filha Bridgette. – disse, mas não pude ver sua expressão. – Desde a sua chegada tenho lhe observado, lhe ensinado e principalmente te ajudado a seguir o seu caminho. Você é uma garota especial e eu sei que o que há dentro de você é algo que brilha. É algo que fará a diferença no mundo um dia.

Olhei em sua direção e arqueei uma sobrancelha. Cara, eu realmente não estava entendendo mais nada do que tava acontecendo ali. Quando a senhora Groutt se virou, vindo na direção de onde estávamos conversando e se sentou novamente, então consegui enxergar o que havia em sua mão. Era uma pequena caixinha preta com alguns pequenos – e quase invisíveis – detalhes vermelhos. Também tinha alguns tons de roxo, mas eram muito poucos.

— Tenho certeza que tem capacidade o suficiente para aceitar isto. – disse com uma confiança que eu não tinha em mim. Ok, a situação havia saído do controle. – E que, com toda a certeza do mundo, conseguirá cumprir o seu dever de heroína de Londres.

— Não, você não quer dizer que... – murmurei pegando a pequenina caixa e abrindo com um misto de curiosidade e descrença.

Imediatamente um brilho avermelhado saiu de dentro da mesma, me impedindo de raciocinar o que estava acontecendo ali e me obrigando a tapar meus olhos de tamanha claridade. Assim que tal fenômeno acabou e consegui abrir novamente os meus olhos eu quis que alguém me acordasse daquele sonho bizarro na qual estava tendo. Diante dos meus olhos uma... coisa (?) preta com poucas bolinhas vermelhas – que parecia uma joaninha com as cores invertidas talvez - simplesmente FLUTUAVA, imóvel.

Até que ela abrisse seus olhinhos e eu desse o grito mais alto que consegui.

— Olá nova mestra. Meu nome é Tikki, qual o seu nome?”

Aquela memória estava tão fresca na minha memória que não pude deixar de rir com a primeira reação que tive diante da minha kwami. O vento britânico gelado batia no rosto indicando que aquela semana de final de abril haveria mais uma mudança no tempo. Provavelmente iria chover de novo. Bom, por mim poderia chover até granizo, mas do mesmo jeito eu continuaria ali pensando em uma maneira de agir a respeito do que a senhora Groutt me dissera há exatamente um mês atrás daquele.

Eu tinha que ter foco e não me esquecer de nenhuma palavra da qual minha “tutora” havia me dito.  

 “– Como assim o meu primeiro dever como nova super-heroína é ajudar outro super-herói a voltar ao normal? – essa foi a minha primeira fala quando encarei aquela que havia me presenteado com o miraculous da criação. – Fala sério, sabe quantas pessoas poderiam ser esse tal de Chat Blanc? Mais do que eu tenho capacidade de contar! – reclamei gesticulando com as mãos, exasperada. Eu e minha manias...

Então ela virou de volta para mim, com uma grande jarra de suco de laranja – o meu favorito por coincidência ou não do destino – e um prato com um lanche que eu sempre comprava na sua lanchonete. Sim, ela devia estar preparada para aquela conversa já há algum tempo. Talvez fora por aquele mesmo motivo que ela me chamou para uma conversa séria dentro do escritório da lanchonete que, também por coincidência ou não do destino, eu também havia descoberto que não era dela.

Vocês já vão entender.

— Ora querida não seja por isso. – ela me acalmou, ou estava tentando, com um sorriso no rosto. – Assim como pode ser o primeiro pode ser o seu último dever.

— A questão aqui Bridgette é que os miraculous voltem ao normal. – aquela... coisinha vermelha flutuante disse próxima de onde a minha professora de gastronomia enchia dois grandes copos com suco. – Se houver um desequilíbrio no Yin Yang então todo mundo poderá sofrer com as consequências e pior: o mundo inteiro sofrerá com as ameaças de alguém praticante de magia negra muito poderoso.

— Mas eu não sou a melhor pessoa do mundo para essa missão. – disse abaixando a cabeça e encarando as mãos sobre o meu colo. Senti a mão de minha professora sobre o meu ombro e a olhei.

— Ora minha filha e quem disse que eu era? – a mesma perguntou, me fazendo encará-la sem entender. Soltando um pouco do ar que segurava, Sophie tirou de dentro de sua roupa um colar com um pingente em formato exato do rabo de uma raposa. Encarei o pequeno acessório e somente quando vi uma pequena elevação saindo de dentro de uma das mangas da blusa da mesma foi que me dei conta.

— Você possui um miraculous. – murmurei surpresa. – Então... V-você era uma das...

— Sim, eu fazia parte da última geração de miraculers. A mesma da história que te contei. – afirmou, balançando a cabeça na direção de um pequeno vulto que flutuava perto da... Tikki, a minha nova kwami. – Trixx, venha se apresentar para a Bridgette.

A pequenina raposa se virou para me encarar e a poucos centímetros do meu rosto, o pequeno vulto laranja pareceu querer me intimidar com seus olhinhos estreitados. Engoli em seco.

— Então você é a nova portadora da Tikki. – Trixx, mais afirmou do que realmente me perguntou. – Como você já ouviu o meu nome vou te dar um pequeno aviso: salve a minha amiga senão eu mesma vou ter que acabar com você, tá entendida garota?

— C-claro, eu a-acho que sim... Eu... – gaguejei, nervosa com tal aproximação daquele ser que eu desconhecia os poderes especiais e que na certa estava em desvantagem naquele momento. Para minha maior surpresa daquele dia a raposinha riu do meu desconforto e olhou para a cara séria de sua portadora.

— Ah qual é Annabeth, eu estava apenas brincando. – a kwami esclareceu levantando suas pequeninas mãos. Fiz uma careta.

— Annabeth? – repeti, permitindo que as palavras escorregassem da minha boca boquiaberta. – Achei que seu nome fosse Sophie. A senhora estava mentindo para mim esse tempo todo?

— Bridgette, eu não devia dizer isto para você, mas como eu gosto de quebrar regras vou contar mesmo assim. – ok, me explica mesmo porque agora eu claramente estou boiando. – Depois da derrota do inimigo do meu grupo eu me aposentei como super-heroína, assim como todos os outros que eu disse para você agora pouco. Mas como tudo o que nós fazemos que é de importância nacional neste país, a Coroa inglesa me convocou para uma reunião com a Rainha. Depois de uma longa conversa nós duas decidimos que, para manter a segurança da realeza e de todos os habitantes da Inglaterra, eu deveria escolher o próximo portador do miraculous da Ladybug o quanto antes para evitarmos uma catástrofe na nossa pátria.

— Então você simplesmente foi infiltrada numa das melhores escolas de Londres para escolher uma pessoa aleatória para evitar uma maldição proferida há mais de trinta anos atrás acontecesse e destruísse não só o Reino Unido, mas o mundo inteiro? – eu indaguei confusa, surpresa e irritada ao mesmo tempo. Ela me pareceu sem graça e coçou a nuca, desconcertada.

— Isso. – afirmou dando uma gargalhada sem humor. – Loucura né?

— Se essa maldição foi feita quando você ainda não era aposentada como super-heroína, então porque você simplesmente não volta a ativa com a sua equipe e impede isso de acontecer? – perguntei incrédula. Não fazia sentido nenhum tudo aquilo. Na verdade mais nada faria sentido na minha vida depois de tudo aquilo.

— Acontece que somente a próxima geração poderia evitar tudo isso de acontecer Bridgette. – Tikki explicou calmamente. – Ou seja, somente você e o portador do miraculous do Chat Noir podem quebrar essa maldição antes do final do prazo.

— E se eu não conseguir fazer isso? – Nossa, como brotavam perguntas da minha boca. Misericórdia Jesus.

— Então o mundo simplesmente vai por água a baixo. – Trixx respondeu flutuando próxima a pequena joaninha negra de pintas vermelhas.

Suspirei pesadamente. Mais uma responsabilidade nas minhas mãos. Sem pressão nenhuma. Olhei para a minha kwami que tinha um olhar triste no rostinho. Aquilo me partiu o coração. Tikki provavelmente não tinha culpa de nada e eu tratando aquela situação daquele estado provavelmente não estava ajudando em nada. Um fio de compaixão tomou conta do meu interior e quando me dei conta estava fazendo carinho na cabeça daquela coisinha que mais tarde me faria tão bem.

— E por acaso eu ganho algum nome, já que sou o oposto do que deveria ser? – perguntei com um pequeno sorriso. Minha professora pareceu pensar por um momento.

— Como você seria o oposto da verdadeira Ladybug, que é humilde, solidária e bondosa, você poderia se chamar Miss Fortune, que seria “Senhora da Fortuna” ou “Bad Lady”, que seria “Garota Malvada”. Ambas são exatamente o oposto do que realmente você deveria ser.

— Eu acho que vou ficar com Miss Fortune. – disse alargando o sorriso. – Quem sabe não atraio dinheiro, não é mesmo?”

Bridgette não pôde deixar de sorrir com tal lembrança. Se apenas um nome pudesse deixa-la realmente rica, então naquele momento ela já deveria estar milionária. Não, aquilo era apenas uma “identidade secreta” como Annabeth havia lhe dito naquele mesmo dia. Olhando mais uma vez para o grande e antigo relógio que tanto gostava de admirar, percebeu que já estava começando a escurecer. Logo teria que voltar para a universidade, pois no dia seguinte ainda haveria aula, longas e longas horas sentada numa carteira enquanto poderia estar por ai a procura de Chat Blanc, seu mais novo alvo.

Um alvo que estava mais difícil de encontrar do que uma agulha em um palheiro.

Pegou o ioiô amarrado em sua cintura e se preparou para ir embora. Foi então que finalmente a dupla se encontrou.

Gato estúpido.

— Então é você que será a minha parceira daqui pra frente? – o mesmo indagou com um sorriso sarcástico no rosto. Já conhecia aquele tipo de expressão mesmo estando de costas. – Ora não se preocupe, deixa que o Chat Blanc aqui faça o seu trabalho senhorita.

Dei um sorriso mais aberto que consegui e me virei.

— Não, deixe que eu faça isso por você gatinho de rua. – rebati e ergui a cabeça quando vi o sorriso na sua cara desaparecer por completo.

Mal sabia que tudo estava apenas começando.


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Notas finais do capítulo

Olá de novo pessoal! :D

Bem, um salve para o pessoal da madrugada que vai ler este capítulo agora e um até mais tarde para os fantasmas que vão ler isso pela manhã.

Até o próximo capítulo e aguardo o comentário de vocês! :v



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