The Queen's Path escrita por Diamond


Capítulo 15
Capítulo XV - 02 de Junho de 1871


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores, tudo bem com vocês? Antes de mais nada eu gostaria de esclarecer a razão deste capítulo ter ficado tão imensamente imenso rs. Chegamos a metade da trama e esse é um dos capítulos mais importantes da história, então eu não queria ter que dividi-lo em duas partes pois quebraria todo o ritmo da história. Peço desculpas para quem tem dificuldades em ler capítulos grandes. Semana que vem retornaremos a nossa programação normal, haha.

Agradeço a todos que estão acompanhando a obra. Vocês são maravilindos. Espero que gostem. Desejo a todo uma ótima leitura!



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Margot tinha a cabeça repousada no ombro de Beatrice e ronronava baixinho enquanto seu torso subia e descia no mesmo ritmo lento de sua respiração. Os dedos magros da princesa de Mivre subiam e desciam delicadamente sobre a gata, enquanto admirava o quadro afixado da parede. Ela já tinha conhecido muitas damas durante sua vida, mas nenhuma delas parecia trazer consigo tanta beleza quanto Katherine Miglidori.

Desde que se mudou em definitivo para Odarin (o que não fazia muitos dias), ela havia se encantado com o quadro da antiga rainha e fazia questão de reservar alguns minutos de seu dia somente para apreciá-la. Mesmo sem tê-la conhecido, seu retrato lhe dava a impressão de que a antiga senhora daquele castelo era uma pessoa enérgica e muito segura de si mesma. “Eu gostaria de ser assim”, Beatrice pensou enquanto sorria consigo mesma. “É uma honra para mim poder sucedê-la”.

Estava tão compenetrada em admirar a antiga rainha que sequer reparou nas passadas apressadas que vinham do final do corredor. Somente quando o som já estava bem próximo foi que ela olhou para o lado, a tempo de ver Sarah pulando em seus braços de maneira eufórica.

— Parece que alguém acordou bastante agitada hoje. — Beatrice comentou em meio a uma risada, retribuindo a jovem com apenas um dos braços, já que o outro mantinha Margot aninhada em seu torso.

— E não teria como ser diferente. Finalmente, é o dia da coroação! — a princesa de Odarin comentou entre pulinhos. — Você não está nervosa? Vai ser a próxima rainha do reino! Se eu estivesse no seu lugar estaria prestes a desmaiar.

— Nervosa? Não, é apenas uma formalidade como qualquer outra. — a loira comentou do mesmo modo calmo de antes. Somente naquele momento ela percebeu que a menina encontrava-se descalça, ainda em suas vestes de dormir, com o cabelo desgrenhado e solto. — Posso saber por que você ainda não está pronta? Faltam apenas três horas até o início da cerimônia.

— Você quer dizer que ainda temos três horas até o início da cerimônia. — Sarah respondeu enquanto revirava os olhos. Estava certa de que aquelas horas passariam se arrastando e ela já não aguentava mais esperar. — Temos muito tempo ainda.

— Não seja boba, vai ver como essas horas passam voando, principalmente quando estiver se arrumando. — Beatrice comentou enquanto olhava para os lados. Era raro ver a princesa desacompanhada de sua fiel companheira e aquilo lhe causou certo estranhamento. — Onde está Evangeline?

— Ela serviu meu desjejum na cama e depois disse que iria se recolher em seu quarto por uns momentos. Disse qualquer coisa sobre não estar se sentindo bem e que nos encontraria no salão assim que estivesse sentindo-se melhor. — a menina comentou sem dar muita atenção ao assunto.

— Que incomum. Espero que ela se recupere a tempo. — a princesa de Mivre comentou enquanto dirigia o olhar para o relógio do Hall Principal. — E você não tem um minuto a perder, agora só temos duas horas e cinquenta e três minutos para te arrumar. Vamos, eu ajudo você.

Sarah não conseguiu não revirar os olhos enquanto soltava um suspiro. Em alguns aspectos, Beatrice e Evangeline eram bastante parecidas. Logo que se conheceram, a princesa de Mivre propôs que elas fossem amigas e assim iniciou-se o relacionamento das duas. Ainda assim, era impossível dissociar sua imagem da figura materna que Sarah gostaria de ter tido.



Encostada nas almofadas de sua cama, a cabeça de Evangeline borbulhava em pensamentos, ocasionando-lhe uma enxaqueca severa como ela não tinha em muitos anos. Ela tinha um pequeno lenço disposto sobre os olhos, numa vã tentativa de que a escuridão lhe aliviasse um pouco da dor.

Tanto empenho para organizar a cerimônia de coroação e o baile que a seguiria, somente para se encontrar naquele estado deplorável. “Espero que Sarah não deixe para se arrumar no último segundo”, ela pensou enquanto acomodava-se melhor na cama. Ela tentava esvaziar a mente e logo que sentiu o desconforto ceder um pouco, seu repouso foi interrompido por leves batidas em sua janela.

Retirando o lenço dos olhos, seu rosto se contorceu em uma careta ao vislumbrar a figura inexpressiva de Jacques além da vidraça. Levantando-se com pressa para despachar o jardineiro, ela seguiu até as janelas, abrindo-as enquanto ralhava com o servente.

— O que você quer? — ela questionou de modo impaciente enquanto cruzava os braços. — Não está vendo que eu estou tentando repousar um pouco?

— Me encontrei com Sarah no jardim agora há pouco. Estava fazendo a última inspeção antes de seguir  para o salão. Ela comentou que você não estava se sentindo bem. — erguendo uma das mãos em direção ao interior do quarto, Jacques estendeu para a governanta um maço de flores brancas e pequenas presas por um barbante. — Chá de Flor de Camomila é muito bom para enxaqueca, ao menos era isso que o Boticário costumava receitar aos clientes.

Ainda que de modo relutante, Evangeline aceitou o maço de flores pelo simples fato de que a dor estava realmente insuportável. Caso contrário, ela teria mandado o jardineiro engolir o pequeno “buquê”.

— Você não podia ter entregue isso pela porta, como uma pessoa normal?

— Não, eu estou bem aqui fora. — ele respondeu com a calma inabalável de sempre. A resposta evasiva a fez se lembrar de que desde a morte de sua senhora ele evitava entrar no castelo a todo custo. Caminhar pelos corredores internos certamente trazia diversas lembranças de Katherine.

— Enfim, o dia da coroação. — Evangeline comentou enquanto sentava-se sobre o parapeito da janela, encarando o vasto jardim com uma expressão infeliz.  — Katherine temeu muito a chegada deste dia. Os Deuses sabem o quanto eu gostaria de dizer que seus antigos temores não passavam de preocupações injustificadas.

— Nenhuma das preocupações de Katherine foi injustificada. — Jacques respondeu, sem perceber que naquele momento sua voz havia adquirido um tom mais sombrio. — A excentricidade de sua personalidade jamais afetou seus julgamentos.

— Você não se sente impotente sabendo que não pode fazer nada para mudar o curso que as coisas tomaram? — Evangeline questionou em um misto de curiosidade e desapontamento.

— Eu não perturbo minha mente com esse tipo de pensamento.

— Como você pode ser tão conformista em relação ao mundo a sua volta?

— Não se trata de adotar ou não uma atitude conformista. — o jardineiro mencionou enquanto voltava a caminhar, afastando-se da janela do quarto da governanta. — Simplesmente não faz sentido perder a paz em razão de situações que estão além do meu controle.

Ela o observou ir embora, sem dizer mais nada. Levantando-se do parapeito, ela fechou as janelas, seguindo em passos lentos até a cozinha para preparar o bendito chá de camomila. Desde que se conheceram, a inimizade foi quase instantânea. Evangeline julgava-o como uma pessoa indiferente ao mundo a sua volta, além de frio e letárgico. Por alguma razão que lhe era desconhecida, Katherine idolatrava aquelas características e em suas confidências com a jovem governanta ela gostava de adicionar que pessoas assim eram muito leais e também muito fáceis de manipular.



Ela já havia perdido incontáveis minutos diante do espelho e mesmo assim, por mais que contemplasse seu reflexo, Delia mal conseguia se reconhecer dentro daquelas vestes de gala. O tecido base era de um azul celeste,  seguido de um revestimento de tule lilás. O resultado consistia em uma saia volumosa com cores brilhantes que contrastavam com o tom avermelhado de seu cabelo. A ansiedade de ir a um evento daquela importância era grande, ainda mais considerando-se que ela estaria totalmente desacompanhada. “Deixe de besteiras, é apenas um baile. Logo você vai encontrar com a Sarah e ela vai lhe apresentar ao tenor da orquestra”, ela pensou enquanto checava se estava tudo no lugar. “Essa é uma chance única e eu não iria desperdiçá-la por causa de um medo bobo”.

Bastou sair de seu quarto e fechar a porta para perceber a bagunça que havia se instaurado em sua sala de estar. O local estava repleto de brinquedos de madeira, todos confeccionados à mão por Marco. De acordo com ele, o antigo tratador de cavalos do castelo era muito hábil em trabalhos manuais e acabou lhe ensinando uma coisa ou outra sobre como esculpir madeira. Aproveitando os pedaços inutilizáveis da restauração do castelo, o rapaz gastou boa parte de seu tempo livre desenhando e trabalhando naqueles brinquedos.

Observando os quatro sentados ao chão, divertindo-se de modo despreocupado, ela não pôde evitar de expor um sorriso. Já havia pensado em desistir do baile pelo menos uma dúzia de vezes e em todas o rapaz lhe fazia mudar de ideia. Era uma sorte poder contar com alguém que lhe incentivava a correr atrás de seus sonhos. Marco bem sabia que aquele era o maior sonho da garota e ao invés de se opor, ele faria questão de estar ao lado dela quando tudo desse certo.

Após um momento, as badaladas do relógio lhe lembraram do quão tarde já estava e ela se apressou em descer as escadas. Ela gostaria de ter ido para a festa muito mais cedo, mas ainda havia tantas coisas para terminar que não teve outra opção senão aprontar-se somente após o entardecer. Delia gostaria de correr escada abaixo, mas a longa e volumosa saia de seu vestido a obrigava a caminhar com passos curtos e comedidos, caso não quisesse tropeçar e armar uma cena.

O som do tecido arrastando-se pelo piso chamou a atenção das crianças e também de sua companhia. Rosetta foi a primeira a se erguer do chão, correndo em sua direção.

— Você está parecendo uma princesa. — a menina comentou de modo tímido enquanto a encarava da cabeça aos pés.

— Obrigada, a ideia era não parecer tão deslocada

— Vai ter bolo na festa que você está indo?

— Não sei, Gregory. — ela respondeu sem dar muita atenção aos meninos, certificando-se pela última vez que não havia nenhuma ponta de tecido solta em seu vestido. — Certamente haverá um banquete para os convidados, deve haver um bolo ou algo parecido para servir de sobremesa.

— Você pode trazer uma fatia de bolo para nós? — o menino questionou com água na boca, imaginando o quão suculento deveria ser um bolo feito para servir a família real e toda a nobreza que a rodeava.

— Gregory, eu não estou indo para comer, estou indo para me apresentar ao tenor da Orquestra Real. — ela o lembrou em meio a uma risada, incrédula quanto à ingenuidade das crianças.

— Ainda assim você pode trazer um pedaço de bolo? — Dimitri soltou a pergunta com os olhos brilhando de expectativa com a possibilidade de degustar uma fatia de bolo logo cedo pela manhã. A camponesa lhe dirigiu o olhar por uns instantes, como se estivesse à espera de algo. — Por favor.

— Verei o que posso fazer por vocês dois. — Delia respondeu em meio a uma risada. Não sabia se aquilo seria possível, mas de todo modo não custava nada tentar.

Seguindo em direção à porta, ela tornou o rosto para se despedir das crianças e percebeu que Marco levantava-se do chão caminhando em direção a ela. Depois de listar meia dúzia de instruções para os pequenos, a camponesa cruzou a porta, sendo prontamente seguida por sua companhia, que advertia para as crianças não colocarem fogo na casa, pois ele logo estaria de volta.

Fechando a porta atrás de si, o rapaz finalmente pôde expressar seu deslumbramento. Por trabalhar como servente no castelo, ele estava habituado a ver a princesa e seus familiares trajando roupas tão elegantes e exuberantes quanto seus cargos exigiam, porém nenhum deles poderia sequer chegar aos pés da imagem de Delia naquele momento.

— Você está linda. — ele comentou enquanto a puxava pelas mãos, fazendo com que a ruiva ficasse bem próxima a ele. — Não vá ceder aos encantos de nenhum nobre!

O aviso foi dito em um tom jocoso, o que arrancou uma risada baixa dos dois enquanto a jovem o atacava com alguns tapas leves em seus braços.

— Seu bobo, sabe que eu jamais faria algo assim. — ela respondeu fingindo irritação com o que havia sido dito, o que gerou mais algumas risadas. — Eu gostaria que você pudesse ir comigo.

— Não é necessário, sei que você pode muito bem dar conta disso sozinha. — o rapaz mencionou enquanto acariciava o rosto de sua companheira delicadamente, enquanto a encarava nos olhos, tentando lhe transmitir alguma confiança. — Além do mais, alguém precisa tomar conta das crianças, não é mesmo?

A resposta veio em forma de um menear de cabeça por parte de Delia, que não teve outro modo de expressar sua concordância. Seu rosto já havia cruzado metade do caminho para beijá-lo e ela não interromperia aquele momento apenas para responder uma pergunta retórica.

Apesar de todos os estímulos, Marco podia sentir a ansiedade e o nervosismo de Delia pela forma como ela segurava a gola de sua camisa com força, tentando assim ocultar o tremor de seus dedos. Quase sempre partia da ruiva a iniciativa de encerrar as carícias, temerosa de que elas fossem além do permitido. No entanto, naquela ocasião ela fez questão de prolongá-la o máximo que pôde. Tinha consciência de que com o fim do beijo chegaria a hora de partir em direção ao castelo.

— Você não precisa ficar nervosa. — o rapaz comentou quando a jovem o libertou daquele enlace. — Ninguém neste reino merece mais este cargo do que você.

Não tendo mais nada para dizer que pudesse encorajá-la, Marco depositou um beijo em sua testa antes de apontar o local onde Gaspar e uma das carruagens da Família Miglidori esperavam pela camponesa. Delia seguiu em direção ao cocheiro com passos lentos e comedidos. A partir daquele momento, ela estava por conta própria.



Àquela altura o Sol já estava se pondo do lado de fora do castelo e o fenômeno natural parecia ainda mais magnífico ao ser acompanhado pela sinfonia impecável da Orquestra Real. A música invadia o salão animando o ambiente, que estava cheio de monarcas e nobres importantes de todo o continente. O lado esquerdo havia sido reservado para as valsas enquanto que o direito estava repleto de mesas para aqueles que desejassem se deliciar com o banquete proporcionado pela Família Miglidori.

Antes que qualquer convidado pudesse escolher qual lado do salão se adequava melhor aos seus interesses, todos faziam questão de cumprimentar o mais novo rei de Odarin. Tal como ditavam as tradições, Allen trajava uma roupa exuberante, em um tom de vermelho vivo, da mesma cor da bandeira de seu reino. O vestido de Beatrice possuía os mesmos tons e por diversas vezes os convidados o felicitaram não só pela conquista da coroa, mas também pelo privilégio de casar-se com uma moça tão bela e educada quanto a princesa de Mivre.

Sarah os acompanhava neste momento inicial apenas por mera formalidade. Boa parte dos nobres sequer dirigia-lhe o olhar e intimamente ela não se incomodava com isso. Se lhe perguntassem, ela prontamente abdicaria de alguns de seus privilégios reais em troca de um pouco mais de privacidade e liberdade em sua vida. Independentemente de tudo aquilo, ela sorria de modo afável para cada pessoa que se aproximasse dos três.

No entanto, para sua infelicidade, ela percebeu a aproximação de um casal que ela não desejava reencontrar tão cedo. Sem maiores alternativas, ela sorriu mais uma vez e tentou soar animada ao rever o Barão e a Baronesa Chevalier.

— Meus queridos Friederich e Florence, que prazer poder revê-los aqui. — a princesa os saudou com uma falsa empolgação logo que juntaram-se ao pequeno trio.

— Minha amada, não sabe como sentimos sua falta em nosso lar depois que partiu. Majestade, eis aqui uma jovem muito distinta e a quem nossa família se apegou bastante durante o período em que esteve conosco. — era perceptível o esforço da Baronesa em tentar agradar Allen.

— Fico muito feliz em ouvir isso. Inclusive, gostaria de agradecer a receptividade de vocês com a minha irmã durante os últimos meses. Não fosse o apoio da Família Chevalier, é muito provável que não estivéssemos aqui hoje, celebrando este momento. — Allen respondeu ao gracejo do mesmo modo respeitável e polido como lhe era característico. Não era à toa que o nobres de Odarin e dos reinos vizinhos o admiravam tanto. — É um alívio saber que ainda existem famílias leais e que prezam pelas tradições de nosso reino.

— Não tenha dúvidas quanto a isso, Majestade. Sabe que eu e minha família estamos sempre à inteira disposição da Coroa. — respondeu o Barão Chevalier. — Inclusive, existem algumas questões urgentes das quais eu gostaria de discuti-las logo que possível.

— E eu terei o maior interesse em ouvi-las. Vamos para um local um pouco mais reservado, sim? — o rei sugeriu, tornando o rosto para a Sarah rapidamente antes de deixar o salão. — Logo estarei de volta, então por que não aproveita a festa enquanto isso? Ela é mérito seu, afinal de contas.

O elogio poderia soar simplório, mas todo o esforço da princesa parecia ter valido a pena. Ela sentia-se radiante de poder trazer algum orgulho ao seu irmão.

— Allen tem razão, Sarah, este baile está impecável. Você fez um ótimo trabalho aqui.

— Estarei mais aliviada quando tudo isto acabar. Nunca se sabe quando um lustre pode despencar e arruinar tudo. — a possibilidade daquilo acontecer era mínima e o absurdo arrancou algumas risadas das duas. Tão logo a princesa esqueceu da piada que havia feito, seus olhos se iluminaram assim que ela vislumbrou uma silhueta familiar que trazia consigo um copo de bebida alcoólica. Incapaz de conter sua animação em revê-lo, ela correu em direção ao conhecido. — Edgar!

O primogênito da Família Avelar conversava em meio a uma pequena roda de amigos. Ao ouvir seu nome sendo chamado no meio da multidão, ele tornou o rosto para trás, tão somente para ser surpreendido com a princesa praticamente pulando em seus braços.

— Cuidado, assim vai derrubar nós dois no chão. — ele comentou em meio a uma risada, correspondendo ao abraço da jovem com apenas um dos braços, uma vez que a outra mão estava ocupada mantendo o conteúdo de sua taça intacto e longe de quaisquer ataques.

Allen e Beatrice haviam chegado em Odarin poucos dias antes da cerimônia de coroação. A Família Avelar figurava como um dos convidados de honra, mas alguns compromissos em Hallbridge os impediram de viajar com antecedência. Haviam chegado na noite anterior, mas devido à enorme quantidade de preparativos, não conseguiram se encontrar antes do baile.

— É tão bom ver um rosto amigo no meio de tantas pessoas. — Sarah comentou quando finalmente libertava-o de seus braços. Estava empolgada por poder contar com uma de suas companhias favoritas, principalmente quando se tratava de bailes. Nessas ocasiões, ela e Edgar costumavam arrumar um meio de escapar da multidão, buscando refúgio em algum local calmo onde poderiam conversar para passar o tempo.

— É muito bom poder vê-la novamente. — a voz feminina e afetada já era velha conhecida da princesa e ouvi-la fez com que seu largo sorriso murchasse lentamente. Detrás de Edgar, a figura de Charlotte a encarava com um olhar de superioridade e desdém, enquanto degustava de sua taça de vinho.

— Ah, é você. — a princesa comentou sem humor. A ruiva, por sua vez, já não lhe dava a menor atenção, pois tinha os olhos fixos em Beatrice.

— Meu Deus, seria esta a coisa mais linda que já vi em toda a minha vida? — Charlotte comentou com deslumbramento enquanto aproximava-se da mais nova rainha de Odarin. No entanto, seus olhos não estavam voltados para a jovem à sua frente, mas sim para a tiara cravejada de diamantes que Beatrice trazia sobre os cachos loiros. — Essa coroa é simplesmente espetacular. Uma pena que não esteja sobre a minha cabeça, onde ela realçaria muito mais, é claro.

— Ora, Charlotte, estou certa de que existem opções de coroas mais acessíveis para você. — Sarah mencionou, após pensar na resposta perfeita que daria para a ruiva atrevida.

— O que quer dizer com “mais acessíveis”?

— É como uma daquelas frutas estranhas que existem em Hallbridge. Tenho certeza que a coroa de um abacaxi lhe cairia muito bem. — a princesa esclareceu em meio a um sorriso provocante.

As gargalhadas de todos que haviam presenciado o diálogo eram bastante audíveis e a brincadeira fez com que o rosto de Charlotte se tornasse rubro, em um misto de raiva e constrangimento. A própria Beatrice havia levado as mãos até a boca, tentando suprimir sua risada. Ela jamais teria pensado em uma resposta tão adequada quanto aquela e, mesmo que tivesse, nunca a teria explicitado daquela maneira.

— Espirituosa como sempre. — foi tudo que a ruiva conseguiu pensar em responder para tornar a situação menos pior. Ainda assim, o descontentamento era claro em seu rosto e ela daria o troco pela brincadeira de mau gosto logo que encontrasse uma oportunidade. “Vocês duas não perdem por esperar”.



Delia não mentira quando disse já ter ido a um baile em um outro momento de sua vida. No entanto, ela esqueceu de mencionar que jamais havia ido para um baile em um castelo. A camponesa se deslumbrou ainda mais assim que desceu da cabina, admirada com o tamanho e a extensão da morada da Família Miglidori.

Os convidados estavam por todos os lados, conversando animadamente enquanto brindavam com suas taças de champanhe e vinho. A música da orquestra era audível e tudo naquele lugar contribuía para o encantamento da jovem ruiva.

Subindo as escadarias de entrada, ela se dirigiu até os largos portões de madeira. Estava hipnotizada com tudo a sua volta: o brilho, a música, a decoração e as roupas luxuosas. Seu fascínio era tamanho que ela sequer reparou que deveria se reportar a um dos guardas que regulavam a entrada no castelo, percebendo sua gafe somente ao ser discricionariamente barrada por um homem truculento que se colocava no meio da passagem.

— Alto lá, senhorita. — comentou o guarda, impedindo-a de ingressar na morada. — Aonde pensa que está indo?

— Ao baile. — Delia comentou enquanto apontava para o interior do salão, levemente nervosa com a presença do homem corpulento que não parecia nenhum pouco simpático ou cortês. — Sou convidada da princesa Sarah.

— Todos aqui são. — ele mencionou em meio a risada irônica. Em seguida, ele cruzou os braços, achando demasiadamente suspeita as atitudes da jovem. — Posso ver o seu convite?

Um convite, é claro! Delia não sabia precisar quem havia sido mais desatenta das duas: ela por não perguntar a Sarah como faria para ingressar no baile ou a própria princesa que não se recordou de confeccionar um convite para a camponesa. Nervosa com aquela realização, ela começou a gaguejar enquanto tentava explicar a situação. Sua tentativa de explicar a situação que ensejou aquele convite soava cada vez mais confusa e menos convincente, além de estar evidente nas expressões do guarda que ele não acreditava em uma palavra sequer daquele falatório todo.

Quando já estava prestes a desistir, a ruiva foi surpreendida por um rapaz de cabelos escuros e postura polida, que passou a mão em seu braço, dirigindo-se diretamente ao guarda.

— Esta jovem é minha acompanhante esta noite. — o rapaz mencionou com um sorriso confiante no rosto. — Acredito que o meu convite seja suficiente para nós dois.

— Sem sombra de dúvidas, Senhor Phillip Chevalier. — respondeu o guarda, que ensaiou uma reverência e abriu passagem para os dois. — Perdoe-me o mal entendido.

Puxando-a pelo braço, Phillip adentrou no castelo com muita confiança, cumprimentando ainda alguns nobres que acenavam em sua direção. Delia o acompanhava sem compreender o que motivou aquele estranho a lhe ajudar a ingressar no castelo se nem mesmo a conhecia. Na realidade ela ainda não acreditava que o guarda realmente havia lhes permitido entrar daquela maneira. Quem quer que fosse aquele rapaz, deveria ser alguém importante. Apenas para certificar-se de que não tinha nenhum guarda lhes seguindo, ela tornou o rosto para trás, mas de imediato recebeu uma cotovelada de sua companhia.

— Não olhe para trás dessa forma, ele vai suspeitar novamente. — o jovem mencionou em meio a um sussurro, ainda tentando manter as aparências. — É a primeira vez que entra de penetra numa festa?

— Não estou de penetra, eu fui convidada para este baile pela princesa em pessoa! — ela respondeu de modo impulsivo, tentando manter a voz baixa apesar de sua revolta com o rapaz atrevido. Quem ele pensava que era para lhe abordar com aquele tipo de indagações?

— É mesmo? — ele questionou de forma irônica. — Neste caso, por que não apresentou seu convite na entrada?

— Porque a princesa não me deu convite algum, apenas me convidou para o baile! — Delia respondeu sentido as bochechas esquentarem de raiva. Era o típico ar de arrogância característico da nobreza que ela simplesmente não suportava.

— Eu ousaria dizer que você está mentindo, mas conhecendo a princesa Sarah, não dúvido nada que aquela tonta tenha esquecido desse detalhe mesmo. — ele respondeu enquanto balançava a cabeça negativamente.

— Escute aqui, fico agradecida pela ajuda agora há pouco, mas agora já posso me virar sozinha! — ela respondeu enquanto desvencilhava-se da mão que a segurava pelo braço. — Nos separamos aqui, tenha uma boa noite.

O rapaz não disse nada e deixou que a jovem desconhecida se afastasse, misturando-se no meio do amontoado de convidados. Só depois de se afastar foi que Delia percebeu a dimensão de seu erro. Ela não fazia ideia de onde Sarah estava e provavelmente demoraria muito para encontrá-la sozinha. “Eu deveria ter perguntado antes de despachá-lo daquela maneira”, ela ralhou mentalmente consigo mesma enquanto subia as escadas do Hall Principal. Talvez de um ponto mais alto, de onde ela teria uma visão panorâmica do salão, fosse mais fácil encontrar a princesa.

A festa parecia não ter fim, considerando-se que havia começado ainda pela manhã e aparentemente ainda duraria muitas horas. Do alto da escada, ela conseguia enxergar o exato local onde o tenor e a orquestra se encontravam, mas jamais teria coragem suficiente para falar com ele sozinha, sem alguém para lhe introduzir. Atentando melhor para as jovens damas, ela tentava identificar a princesa em alguma delas. Muitos dos vestidos de gala que enfeitavam aquele salão foram obras suas e ela sorriu consigo mesma ao perceber aquele detalhe.

Entre eles, um vestido azul logo lhe chamou a atenção. Tratava-se da peça que Sarah havia escolhido para si quando lhe visitou pela primeira vez. Estava conversando com um grupo de pessoas, próximo à área do banquete. “É para lá onde irei agora”.

Decorando o ponto exato onde sua amiga estava, Delia tratou de descer as escadas tão rapidamente quanto a saia volumosa de seu vestido permitia. A euforia fez com que ela esbarrasse em alguns convidados, que lhe direcionavam olhares tortos com os quais ela não se preocupou nem um pouco. Sua chance de tornar-se a artista que sempre sonhou estava a um passo de se concretizar e a ansiedade pela chegada deste momento lhe corroía por dentro. Em poucos minutos ela conseguiu cruzar parte do salão e entre o alvoroço dos convidados já era possível vislumbrar de forma nítida o rosto da princesa.

No entanto, quanto mais se aproximava, mais ela se tornava consciente das pessoas que acompanhavam a jovem. Seus passos foram perdendo velocidade até estagnar completamente. Uma, duas, três, quatro, cinco, seis. Essa era a quantidade de pessoas em torno da princesa e por mais que a camponesa não reconhecesse mais que alguns dos rostos, a realização de que ela estava no lugar errado e na hora errada lhe acertou em cheio, como um soco no estômago. Passado o susto inicial, ela regrediu alguns passos por puro instinto, ainda atônita, o que quase lhe rendeu uma queda se um rapaz não tivesse lhe segurado pelo braço, mantendo-a de pé.

— Está tudo bem com você? — o rapaz lhe questionou com um ar genuinamente preocupado.

No entanto, Delia arregalou os olhos em espanto ao perceber quem havia lhe socorrido naquele momento. Tão logo ela conseguiu restabelecer seu equilíbrio, suas mãos foram diretamente à saia do vestido, erguendo-o de modo a evitar futuras quedas. Sem esboçar qualquer resposta ao cavalheiro que lhe tinha auxiliado, ela pôs a correr, em busca da saída mais próxima do castelo.

— Aconteceu alguma coisa? — Charlotte questionou enquanto se aproximava de seu irmão mais novo, que encarava algo além dos convidados.

— Uma moça tropeçou agora há pouco, mas não deixei que ela caísse. Quando lhe perguntei se estava tudo bem ela saiu correndo sem nem ao menos agradecer, acredita nisso? — Gilbert comentou levemente revoltado, sem tirar os olhos do caminho por onde a jovem saiu correndo.

— Devia ser uma intrusa ou algo assim. — a ruiva comentou enquanto passava seu copo de vinho nas mãos do caçula. — Vamos, não gaste seus dois únicos neurônios com uma bobagem dessas, divirta-se um pouco.

Resignados, os filhos do Conde Avelar retornaram ao grupo de amigos com quem estavam antes. Beatrice e Edgar conversavam animadamente sobre um assunto qualquer, até outro convidado requisitar a atenção da jovem rainha. O primogênito da Família Avelar aproveitou a oportunidade para conversar um pouco a sós com a responsável imediata pelo baile. Naquele instante, Sarah encontrava-se escorada próximo a uma janela, encarando o jardim escuro, iluminado pela luz fraca das lâmpadas a óleo.

— Fez um trabalho impecável com esta festa, sabia disso? — ele comentou enquanto se aproximava da menina, despertando-lhe de seus devaneios. — Inclusive estou me divertindo muito.

— Não precisa mentir, Edgar. Sei que está achando tudo isso extremamente tedioso. — ela respondeu em meio a um sorriso confidente.

— Bom, é verdade. Mas a bebida foi muito bem escolhida. — Edgar mencionou enquanto erguia a taça de vinho, em um brinde imaginário, para logo em seguida verter parte de seu conteúdo. — Minha falta de apreço por festas como essa não tornam seu trabalho menos admirável. Você, por outro lado, não parece muito feliz. Aconteceu alguma coisa?

— Estou apenas cansada. — ela disse após um suspiro. — E um pouco preocupada também. Convidei uma amiga para o baile, pois tencionava apresentá-la ao tenor da orquestra. Apesar de humilde, ela é uma grande artista e toca flauta divinamente bem. No entanto, até agora ela não apareceu e estou me perguntando se aconteceu alguma coisa.

— Imprevistos acontecem. — o rapaz comentou enquanto finalizava seu vinho de uma vez. Aquela deveria ser a quinta taça. Ou a décima quinta. Havia parado de contar algumas horas atrás.

— Você gostaria de conhecê-la. Delia é muito esforçada e talentosa. — Sarah comentou, imaginando que era bem provável que ela tivesse desistido de ir ou não tivesse encontrado alguém para cuidar das crianças.

— Quem sabe numa outra ocasião. — disse enquanto fisgava uma outra taça, desta vez com champagne de um dos serventes que ocasionalmente passava por ali.

— Existe alguma razão especial para tanta bebida ou são os mesmos motivos de sempre? — Sarah questionou enquanto erguia uma sobrancelha, imaginando como o rapaz conseguia se manter de pé mesmo estando sob o efeito de uma quantidade absurda de álcool. Ou talvez, o que era mais provável, ele já estivesse tão habituado à bebida que esta já não tivesse o efeito esperado. De todo modo, era preocupante.

— Os mesmos motivos de sempre. — o rapaz disse enquanto dava os ombros, degustando da bebida sem desviar os olhos da expressão preocupada da menina diante de si. — Coincidentemente tenho algo de novo para lhe contar. Pouco antes de partir de Hallbridge seu irmão me fez uma proposta bastante tentadora. Gostaria que eu me mudasse em definitivo para Odarin, pois quer que eu lhe sirva como secretário real.

— Edgar, isso é maravilhoso! — a notícia fez com que o rosto da jovem se iluminasse de imediato, com a possibilidade de ter seu amigo sempre por perto. — Mas espere, sua irmã não está inclusa neste convite, certo?

— Não, não está. — ele respondeu em meio a uma gargalhada. Não recriminava a princesa pela inimizade com sua irmã mais nova. Todos sabiam como a ruiva não era a pessoa mais fácil de se lidar. — Nosso pai está ficando velho e precisa de alguém por perto sempre, então ela deve retornar para Hallbridge em um ou dois dias.

— Não faz ideia de como fico feliz por você, será um prazer enorme tê-lo sempre conosco. — ela respondeu de maneira sincera, mal conseguindo controlar o sorriso de felicidade. — Estou certa de que você e Allen farão um ótimo trabalho.

Edgar sorriu de modo amável diante daquela ideia. Na realidade, o que lhe soava tentador não era a proposta do cargo em si, mas a mera possibilidade de poder sair de Hallbridge Esperava que com a mudança seus antigos fantasmas fossem deixados para trás junto de sua antiga casa. Nos últimos anos a bebida e as mulheres esporádicas se tornaram um refúgio cada vez menos eficaz. Além disso, ele se sentia bastante cansado daquela vida de “Don Juan”. Embora a mudança não fosse um remédio certo para mágoas passadas, ele estava animado com a possibilidade.

Quando menos esperou, sentiu um braço pesado sobre seus ombros e bastou um olhar de relance para o lado para constatar que tratava-se de seu irmão mais novo.

— Escute essa: doze mil moedas de ouro sobre a mesa. Dois Barões e um Marquês para lá de embriagados. - Sarah juntou as sobrancelha, sem compreender absolutamente nada daquele diálogo. No entanto, Edgar sabia muito bem do que se tratava. - Preciso de mais uma pessoa na mesa. Vamos, é dinheiro fácil!

— Você nem bem terminou de saldar suas dívidas e já está procurando mais? - o mais velho questionou incrédulo com a dimensão do vício de Gilbert.  Mesas de jogo eram sua paixão (e também sua perdição). Ele já tinha perdido as contas de quantas vezes vira o caçula chegar em casa sem boa parte de seus pertences.

— Não tem erro esta noite! Se eu ganhar divido o prêmio com você e se você ganhar divide o prêmio comigo. Temos o dobro de chances dessa maneira, não vai desperdiçar a oportunidade, vai?

Edgar suspirou, sabendo que Gilbert não desistiria enquanto ele não aceitasse participar daquela empreitada absurda. Despedindo-se da princesa, os dois se afastaram em direção a um dos muitos cômodos do castelo, onde a jogatina se iniciaria, sem hora certa para terminar.

Sarah observou a tudo em silêncio, incapaz de sentir qualquer coisa que não fosse pena. Poderia parecer um verdadeiro paraíso aos olhos de outros, mas ela bem sabia como aqueles sentimentos eram superficiais e falsos. Tanto dinheiro, tanto prestígio. Muitos amigos e muitas mulheres. Nada disso parecia apaziguar o sofrimento evidente do primogênito da Família Avelar.

Enquanto retomava seu posto ao lado de Beatrice ela reconhecia o quão sortuda era por ter uma vida além da realeza.

— Bom, já que os meninos foram se divertir um pouco, acho que está na hora de ir fazer o mesmo. — Charlotte mencionou enquanto portava um sorriso típico de quem estava tramando algo. — Beatrice, seja uma boa dama e fique aqui quietinha enquanto isso.

Dito aquilo, a ruiva afastou-se em meio a uma risada. A princesa de Mivre (agora rainha de Odarin) a encarava com uma expressão fechada. Ainda assim, ela engoliu seco e nada disse para responder aquela provocação gratuita. Sarah observou a cena de modo incrédulo, sem entender o real significado por detrás daquelas palavras.

— Beatrice, que ela quis dizer com isso? -a princesa questionou tão logo a filha do Conde desapareceu entre os demais convidados.

— Quem há de saber as coisas que se passam na cabeça dela. Isso pouco me importa. — a loira respondeu enquanto dava os ombros, embora estivesse muito consciente do que aquilo significava. No entanto, ela não sentia a necessidade de estragar o relacionamento de seu consorte e sua irmã mais nova. “Se ela tiver de se decepcionar com Allen, que seja por suas ações e não pelas minhas”.



Já do lado de fora do castelo, Delia sentia uma angústia crescente em seu peito, que se misturava com a dor latente em razão da falta de ar. Não sabia dizer por quanto tempo esteve correndo, tentando abandonar aquele lugar. Por mais que procurasse, ela não conseguia encontrar Gaspar em local algum e a vista turva pelas lágrimas não lhe ajudava em nada. “Sua burra, estúpida, que ideia essa de achar que haveria de crescer no artístico”.

Desesperada, ela tentou contornar o castelo na vã tentativa de encontrar o cocheiro. Em uma área um pouco afastada do pátio, várias carruagens estavam paradas em fileiras e um grupo de condutores se encontrava ao longe, conversando amenidades enquanto aguardavam o fim da festa. “Ele tem de estar ali em algum lugar”. Tentou se aproximar do grupo enquanto fazia um esforço mental para se recordar do rosto do homem que a havia levado até lá.

No entanto, no meio do caminho acabou por esbarrar em outra pessoa. Sua cabeça já não raciocinava do modo como ela gostaria e isso parecia até mesmo lhe prejudicar a visão.

— Delia? Que está fazendo aqui? - Elliot questionou, bastante surpreso ao ver a camponesa nos arredores do castelo justamente numa noite como aquelas. - Aconteceu alguma coisa? Por que está chorando?

A enxurrada de perguntas apenas potencializou a angústia presente no peito da ruiva. Sem saber como responder cada um daqueles questionamentos, o que antes não passavam de duas ou três lágrimas teimosas tornaram-se num choro desesperado. Elliot ficou sem reação diante da cena, incapaz de imaginar a razão daquilo.

— Eu não aguento mais! - ela praticamente gritou em meio ao choro. - Eu só quero ir embora daqui.

De modo a atender aquele anseio agoniado, Elliot passou o braço sobre os ombros de Delia, no intuito de guiá-la até um local seguro, longe dali.

— Você precisa me dizer o que foi que houve, Delia. - ele afirmou enquanto caminhava ao lado dela, em direção à vila dos serventes. Em todos os oito anos que se conheciam, ele jamais havia presenciado a ruiva verter uma única lágrima. - Não pense que isso vai ficar sem resposta.

— Eu conto. - ela respondeu após um tempo. - Mas precisa me prometer que esta conversa jamais chegará aos ouvidos de Marco.


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