The Queen's Path escrita por Diamond


Capítulo 16
Capítulo XVI - 28 de Junho de 1871




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— Quer dizer que se eu puxar deste lado consigo finalizar isso? — Sarah questionou enquanto aguardava a confirmação de Jacques. Ela havia escutado atentamente as suas instruções e intimamente esperava que dessa vez desse certo.

— Sim, mas tome cuidado para que as flores não se afrouxem e caiam antes de prender o arame. — respondeu o jardineiro, observando atentamente os movimentos da garota.

Sarah puxou as duas pontas de arame com a maior delicadeza no intuito de uní-las, mas o que ela mais temia aconteceu. As flores soltaram-se e caíram uma a uma em seu colo, desmanchando completamente a tiara de flores que ela tentava fazer pela terceira vez seguida.

— Argh, eu não consigo! É muito difícil fazer isso, não entendo porque elas sempre se soltam! — ela protestou enquanto batia nas próprias pernas de modo a aliviar um pouco sua frustração. — Eu nunca vou conseguir fazer minha própria coroa de flores.

— A prática leva à perfeição. — Jacques comentou em meio a uma risada alegre enquanto recolhia o arco de metal das mãos da princesa, juntamente das flores que repousavam sobre a saia de seu vestido. Concentrando-se por um momento, ele rapidamente adornou o arame com as flores e prendeu as duas pontas, finalizando em poucos minutos a tiara que a jovem tanto sofria para confeccionar. — Aqui está.

O jardineiro passou a tiara já pronta para Sarah, que a encarava com um misto de frustração e admiração. As flores que eles haviam utilizado como enfeite tinham pétalas bastante volumosas e uma cor que variava de tons vermelhos a rosados.

— Essas flores são lindas. Como se chamam?

— Camélias. — o homem respondeu de modo automático e a menção daquela espécie fez seu sorriso discreto murchar de imediato. — Eram as favoritas da rainha Katherine.

— Jura? Eu não fazia ideia! — a menina respondeu com um brilho incomum nos olhos. Aquela informação lhe era desconhecida e a espécie foi escolhida de modo aleatório naquela manhã ensolarada. — Sabe, Jacques, eu sinto muito a falta dela, mesmo sem tê-la conhecido. Gostaria de poder saber mais sobre seu passado, seu jeito de falar e agir, seus gostos. Sempre tive muita curiosidade quanto a isso, mas Evangeline não gosta de falar no assunto. Eu também fiz essa pergunta várias vezes ao Allen, mas ele diz não ter convivido muito com ela, pois foi mandado para a casa da Família Avelar muito jovem.

— Evangeline sofreu muito com a morte da sua mãe, as duas eram muitos próximas, não me admira que ela não goste de tocar neste assunto. — ele respondeu de modo desanimado. “Eu também era muito próximo dela, mas isso não vem ao caso”, ele pensou amargamente enquanto observava a princesa admirar as camélias com um sorriso infantil no rosto. “Elas são muito parecidas e ainda assim tão diferentes”.

— Eu imagino. Ainda assim, eu seria capaz de qualquer coisa para saber um pouco mais sobre ela. — Sarah comentou distraidamente, enquanto levava a tiara de flores à sua cabeça.

Aquele comentário fez com que o jardineiro se sentisse intimamente culpado das coisas que guardava para si. Gostaria de ter o prazer em compartilhar uma porção de informações com a jovem acerca da falecida rainha, mas aquilo traria diversas consequências (nem todas necessariamente boas) que Jacques preferia não cogitar. Não havia necessidade em revelar segredos que remanesciam em paz no passado.

— Quase me esqueci. — ele mencionou ao recordar de algo. — Elliot disse que gostaria de falar com você nesta manhã. Ele deve estar terminando de alimentar os cavalos a essa hora.

— Oh, é mesmo? Nesse caso, é melhor eu ir andando. — Sarah respondeu enquanto erguia-se do banco de pedra que compartilhava com o jardineiro. — Nos vemos depois. Obrigada pela tiara, Jacques.

O homem sorriu de modo amável em resposta e observou a jovem caminhar animadamente em direção aos estábulos. Observar aquela cena era como reviver o passado e ele não sabia precisar se deveria sentir-se feliz ou preocupado com aquele relacionamento. Não era necessário ser a pessoa mais perspicaz do mundo para reparar no bom humor constante de Sarah e o mesmo poderia ser dito de Elliot. A conclusão era óbvia demais para tratar-se de outra coisa. Infelizmente, ele sabia exatamente onde aquela história terminaria. Tudo que ele poderia desejar era que os dois não saíssem mais machucados do que o que já era esperado.



Adentrando nos estábulos de modo sorrateiro, Sarah examinou todo o local sem visualizar Elliot em nenhuma das baias. Aquilo era de se estranhar, uma vez que sempre que ele resolvia aparecer era nas dependências dos cavalos onde gastava a maior parte de seu tempo. Não encontrá-lo lá fez com que a princesa recordasse quantas vezes nas últimas semanas ela percorreu todo aquele caminho em vão. Aquele assunto já havia sido debatido ao menos uma dúzia de vezes e sempre encerrava-se da mesma maneira: com o rapaz prometendo que iria pensar na proposta de retornar em definitivo para o castelo e a jovem emburrando-se de imediato com a falta de objetividade dele, somente para ter sua ira apaziguada por uma série de carícias extremamente persuasivas.

Era extremamente frustrante para ela procurá-lo por vários dias seguidos sem sequer ter notícias suas. Elliot aparecia de tempos em tempos para visitar seu pai, verificar como estavam os cavalos e preparar novos tonéis com a antiga mistura que Earnshaw havia lhe ensinado a produzir. Nestas ocasiões é que Sarah aparecia e só então eles podiam compartilhar algumas horas juntos. Às vezes a princesa se questionava o que poderia acontecer se algum dia, por um lapso seu, não se desse conta de que o rapaz estava nos arredores. “Ele muito provavelmente voltaria para a cidade assim que terminasse o que havia vindo fazer, sem nem ao menos me procurar”, ela concluiu de modo triste enquanto acariciava o focinho de um dos cavalos à sua frente.

O som das largas portas de madeira se abrindo despertaram Sarah de seus pensamentos e ela viu o momento em que o jovem adentrava no local, trazendo Trovão consigo. O pêlo brilhoso e úmido do animal lhe indicava que ele havia sido recém banhado, o que explicava o fato do tratador não se encontrar ali quando ela chegou. Tentando afastar aqueles pensamentos para longe, ela sorriu em direção ao recém chegado enquanto caminhava até ele.

— Eu estou todo molhado. — ele advertiu enquanto dava um passo para trás, na vã tentativa de livrar-se dos braços possessivos de Sarah.

— Eu não ligo. — ela respondeu enquanto transpassava os braços ao redor de seu torso, abraçando-o enquanto enterrava o rosto em seu peito. O rapaz estranhou aquela atitude, uma vez que a princesa costumava ser bastante eufórica em todas as suas aproximações.

— Alguma coisa errada? — ele questionou enquanto afagava os fios castanhos, que naquele dia encontravam-se soltos, exceto por uma trança localizada ao topo da cabeça, tal qual uma tiara, adornada pela coroa de flores.

— Não, está tudo bem. — a princesa respondeu em meio a um sorriso amável. Não havia necessidade naquele momento em revelar suas inseguranças, afinal aquele era um lado em si que ela mesma repudiava. — Vejo que você já conheceu o Trovão, não é? Muito cuidado com ele, é o cavalo favorito de Allen, mas é muito arisco.

— Eu percebi. — o jovem comentou, recordando-se do trabalho que Trovão havia dado apenas para deixar sua baia na companhia de um desconhecido. — Ele tem algum parentesco com o Guardião?

— Tem, é uma das crias dele. — ela comentou de modo surpreso, imaginando como ele havia adivinhado o parentesco entre os dois equinos. — Como sabe disso?

— Eu tenho meus segredos. — o rapaz respondeu de modo convencido, dirigindo-lhe um sorriso de canto enquanto se afastava para poder acomodar o cavalo dentro de sua baia.

— Jacques disse que você queria falar comigo. Do que se trata?

— Tem algo que eu quero te mostrar. — ele respondeu após fechar a portinhola de madeira da baia de Trovão, certificando-se duas vezes de que os ferrolhos estavam bem presos. — Mas é uma surpresa.

Sarah juntou as sobrancelhas de imediato diante daquela revelação. Elliot sempre havia sido uma pessoa extremamente objetiva, então era de se estranhar que ele estivesse a fazer rodeios de alguma coisa. Repousando as mãos sobre os ombros da princesa, ele a empurrou em direção à porta do estábulo. Logo que cruzaram os portões de madeira, ele usou ambas as mãos para cobrir os olhos de Sarah, o que arrancou da moça uma risada infantil.

Daquela forma era necessário andar ainda mais lentamente, de modo a evitar quaisquer quedas ou eventuais tropeços. O rapaz a guiava por onde ela deveria seguir e aquela situação apenas contribuía para aumentar a ansiedade de Sarah.

— Pronto, chegamos. — ele afirmou enquanto retirava as mãos que cobriam os olhos da jovem. Levemente incomodada pela claridade, ela precisou de alguns segundos para se acostumar, logo vislumbrando o que parecia ser a surpresa que ele havia lhe preparado. Preso ao galho de uma árvore baixa, levemente retorcida, um par de cordas segurava uma tábua de madeira avermelhada horizontalmente, paralela ao chão.

— O que é isso? — ela questionou em meio a uma risada incrédula, sem ter certeza de que havia compreendido bem. — Um balanço?

— É claro. Nunca viu um balanço na vida?

— Óbvio que já vi um balanço antes, seu idiota. — ela respondeu de modo irritado, enquanto o empurrava pelo braço, arrancando-lhe uma risada. — Mas não estou entendendo a razão disto.

Abraçando-a pelas costas, Elliot passou os braços longos e torneados em volta da cintura da princesa, trazendo-a para perto de si. Antes de dizer qualquer coisa, ele enterrou o rosto na curva de seu pescoço, tragando o cheiro da fragrância que Sarah costumava usar todos os dias, o que a fez se encolher dentro de seus braços. O perfume misturado ao cheiro natural da garota lhe parecia mais inebriante e agradável que de qualquer flor que seu pai já tivesse plantado na vida.

— Estava me recordando esses dias como você sempre quis ter um balanço quando criança, mas Evangeline jamais permitiu que Earnshaw confeccionasse um. — ele sussurrou aquelas palavras bem próximo ao ouvido da jovem. Em seguida, ele apoiou o queixo sobre seu ombro, enquanto prosseguia com suas explicações. — Eu sei que amanhã você vai estar super atarefada e que não vamos poder nos ver o dia inteiro. Então fica aqui registrado meu “Feliz Aniversário” e o seu presente deste ano.

Os olhos de Sarah adquiriram um brilho incomum ao ouvir aquelas palavras. Ela sentiu-se extremamente tola ao desconfiar, ainda que por um breve momento, dos sentimentos do rapaz. A verdade é que eles tinham modos muito distintos de expressar o que sentiam um pelo outro, sendo aquela uma realidade completamente nova para ela.

— Eu nem acredito que você recordou-se disto. — ela mencionou de maneira emocionada. — Eu confesso que não sei nem o que dizer.

— Não precisa dizer nada, então. Me basta saber que você gostou. — ele respondeu de modo amável, enquanto sorria timidamente em sua direção.

Sem palavras que pudessem mensurar sua surpresa ou felicidade, ela limitou-se a girar o corpo dentro dos braços do tratador, buscando seus lábios de maneira ávida e apaixonada. O beijo foi prontamente retribuído e por um instante que pareceu infinito eles permaneceram ali, um nos braços do outro, perdidos em suas próprias carícias.



— Não adianta, Allen. Essas contas nunca irão fechar, independentemente do ângulo que se analise isto. — Edgar sentenciou enquanto jogava os papéis sobre a mesa do atual rei de Odarin. Afundando em sua própria cadeira, o filho do Conde Avelar encarou o monarca a sua frente com um olhar desesperançoso. — O que pretende fazer?

— Eu não faço ideia. — o jovem de cabelo negro respondeu de modo seco, enquanto esfregava os olhos com vigor, como se tentasse acordar de um pesadelo. — Dê-me um minuto para pensar.

— A eternidade inteira, se achar que isso trará a resposta de que precisamos. — proferiu o secretário real enquanto direcionava seu olhar para a janela, tentando afastar a mente de todos aqueles problemas infindáveis.

Edgar Avelar era um nome já muito conhecido entre a horda de comerciantes e investidores locais e internacionais. Detentor de uma reputação ilibada e de uma fortuna pessoal bastante considerável, além da personalidade afável, não havia ninguém mais qualificado para o cargo de conselheiro imediato do rei do que ele. Ainda assim, havia problemas que nem mesmo seu vasto conhecimento e expertise em economia poderiam resolver. A situação econômica atual de Odarin estava entre eles. Gastos demais, rendimentos de menos. Afora isso, a ampla capacidade produtiva do reino não era nada rentável em razão da ausência de canais de escoamento para a produção anual. A geografia montanhosa e predominantemente fria do reino jamais possibilitou um investimento expressivo na pecuária. As criações eram todas voltadas para animais de pequeno porte, no intuito de garantir a subsistência das famílias. Restava tão somente a agricultura e a mineração que, apesar de darem bons frutos, não renderam o esperado diante da ausência de compradores interessados em lotes expressivos. Como resultado, a quantidade disponível para venda aumenta, os preços caem e o dinheiro arrecadado é incapaz de fazer a economia do país funcionar de modo eficiente.

— Se ao menos o reino de Mivre pudesse aumentar suas aquisições em um terço, teríamos algum tempo hábil para pensar em algo melhor. — sugeriu o secretário enquanto fazia dobraduras numa folha de papel. Anya gostava quando ele lhe presenteava com flores de papel e como um tolo apaixonado se pegava fazendo dezenas delas quando não podia vê-la. Um hábito que se perpetuou ao longo dos anos.

— Esqueça, está fora de cogitação. — Allen respondeu enquanto abanava uma das mãos em negativa. — Mivre já adquire bem mais do que precisam em respeito ao meu casamento com Beatrice, não posso lhes exigir mais nada.

— E que tal fazer as pazes com Greenwall? Já está na hora de deixar essa rixa infantil para trás e começar a lidar com os problemas como gente grande, não acha? — Edgar sugeriu, seguindo para a terceira flor de papel. Ele só costumava parar quando não havia mais folhas em branco disponíveis ou não havia mais espaço para armazená-las.

— O problema com Greenwall é bem mais difícil de resolver do que você pensa. — o jovem rei comentou em forma de lamento. Encostando-se melhor em sua cadeira, ele soltou um suspiro profundo e cansado. — Eu darei um jeito nisso em breve. Mas isso não está na minha lista de prioridades no momento.

— Então pode começar a vender os diamantes de sua coroa. É a última opção viável que consigo vislumbrar.

— Você está se divertindo com isso, não é mesmo? — Allen questionou enquanto estreitava os olhos em direção a sua companhia.

— Não tenha dúvidas. Eu já acumulei dinheiro suficiente para uma vida bastante confortável. — Edgar respondeu em um tom jocoso, não se importando muito com o olhar ameaçador que pairava sobre ele. — Vim para Odarin em busca de um pouco de diversão.

— Muito em breve você terá um prato cheio de diversão para degustar. — o rei respondeu com a seriedade que lhe era característica. — Mudando um pouco de assunto, eu gostaria que você convocasse a presença de Gilbert aqui, preciso falar com ele o mais breve possível.

— Eu não acho que você queira fazer isto. — advertiu o secretário, juntando as sobrancelhas e entortando levemente a cabeça para o lado no processo, deixando evidente sua discordância com aquela decisão. — Gilbert tem um dom para adquirir dívidas, mas desaparecer com elas não é o seu ponto forte. Não vejo como ele pode lhe ajudar.

— Não deveria falar assim de seu próprio irmão. — Allen alfinetou o companheiro, demonstrando um pouco de humor pela primeira vez naquela manhã. — Ele poderá vir a ser útil.

— Muito bem. Enviarei uma carta solicitando sua presença ao fim do dia.

— Ótimo. — sem mais nada a fazer ali, o jovem rei ergueu-se de sua cadeira, caminhando em direção à porta de seu escritório. Edgar acompanhou seus movimentos. — Agora vamos, estou devendo uma visita ao Barão Chevalier desde o baile da coroação.

— Sobre o que seria?

— O Barão e a Baronesa parecem ter uma ou duas propostas bastante interessantes. — o monarca comentou de maneira casual, enquanto se dirigia ao pátio, onde uma carruagem deveria estar esperando-o. — Desejam que um de seus herdeiros venha a desposar a princesa.

— Você quer dizer casar um de seus filhos com a Sarah? — Edgar questionou de modo estupefato, uma vez que a ideia lhe parecia tão absurda que era difícil acreditar que não se tratava de uma piada.

— Sim. — parando na metade de seu caminho de maneira súbita, Allen tornou o rosto para seu secretário, sem entender a necessidade em confirmar algo que ele havia acabado de dizer. Ele podia sentir no ar que algo não estava certo. — Alguma objeção quanto a isto?

— Não, não. De modo algum. — o primogênito da Família Avelar balançou a cabeça com veemência, no intuito de desfazer o mal entendido que havia gerado. — Eu apenas imagino que um casamento arranjado entre Sarah e qualquer dos herdeiros da Família Chevalier jamais daria certo, por questões óbvias, como deve prever.

— Se o casamento será de seu agrado não é problema meu. Nós somos nobres, não temos tempo ou  energia para gastar com futilidades como sentimentos ou coisas do gênero. Nossas preocupações se limitam às formalidades de nossos cargos. — o jovem rei não demonstrava nenhuma emoção enquanto proferia tais palavras. — Não se trata de um pedido gratuito. Eles têm algo a nos oferecer. Vamos ouvir a sua oferta atentamente, sim?

— Como desejar. — Edgar não teve outra opção senão concordar e seguir o rei em direção à casa da Família Chevalier.

Se havia algo em que ele não depositaria nem mesmo uma grama de sua fé eram os odiosos casamentos arranjados. Em sua mente, eles mais criavam problemas do que eram capazes de solucioná-los, mas, infelizmente, a prática estava enraizada demais na sociedade para que ele sozinho viesse a se opor.

Na realidade, ele mesmo aguardava o dia em que seu pai chegaria lhe apresentando alguma moça de família influente com quem ele supostamente deveria “honrar seus compromissos”. A ideia já havia lhe soado pior. Àquela altura, não passaria de mais um dos fardos que ele carregava em silêncio, escondendo-se por trás de uma máscara de simpatia e sorrisos falsos. Seria exagero considerar-se uma pessoa completamente miserável. Ainda assim, apesar de viver alguns poucos e bons momentos de alegria, ele não poderia dizer que era plenamente feliz. “E jamais serei. Ao menos enquanto não puder descobrir o que houve com a Anya e o que motivou o seu desaparecimento”, ele pensou enquanto descia a larga escadaria que antecedia a entrada do castelo.

Allen cruzou o curto espaço entre os degraus até a carruagem sem sequer piscar ou olhar para os lados, completamente absorto em seus próprios pensamentos. O mesmo não poderia ser dito da mente distraída de Edgar, que olhava para os lados a todo instante, admirando a extensão e beleza do jardim. Era um trabalho admirável e em sua vida ele jamais tivera a oportunidade de presenciar algo sequer similar. Não era de se admirar que Sarah passasse a maior parte de seus dias ali.

Quando já estava bem perto de entrar na cabina, ele percebeu uma presença familiar e tornando o rosto para o lado direito, ele vislumbrou a princesa caminhando ao longe, acompanhada de um rapaz alto, que deveria ser algum servente do castelo. Sorrindo de modo amigável, ele acenou em direção a ela e recebeu um aceno empolgado de volta. Com aquilo, ele adentrou na carruagem e não demorou mais que um minuto para que o veículo se colocasse em movimento.

— Quem é aquele homem? — Elliot questionou enquanto observava o trajeto empregado pelo veículo.

— Quem, o cavalheiro de sobretudo azul? Edgar Avelar. Ele é o filho primogênito do Conde Klaus, onde Allen esteve hospedado todos esses anos. Quando voltamos para casa, ele foi oficialmente convocado para servir ao reino como secretário real. — ela mencionou animadamente. Das muitas famílias nobres que eram aliadas da Coroa de Odarin, o rapaz era um dos poucos dignos de seu apreço, além de ser uma de suas companhias preferidas. No entanto, ao olhar para sua companhia, Sarah percebeu que ele encarava o secretário fixamente. —  Pare de encarar, Jacques não lhe disse que é falta de educação?

— O que você acha dele? — o tratador de cavalos questionou após alguns momentos de silêncio. Ao contrário do que a princesa poderia imaginar, ele havia prestado bastante atenção em seu discurso empolgado e não havia gostado nem um pouco dele.

— Bom, a Família Avelar nos deu abrigo por anos quando não tínhamos para onde ir. — Sarah mencionou, irritando-se levemente com o rumo daquela conversa. — Sim, gosto de Edgar, ele é gentil e uma companhia bastante divertida, mas é apenas isso.

— Eu não gosto dele. — o rapaz sentenciou de modo seco, respirando aliviado ao ver que a carruagem já estava fora do alcance de sua vista.

— Não vejo nenhuma razão para isso. Além do mais, caso você não saiba, existem ao menos duas dúzias de damas que matariam umas às outras se isso significasse ter o privilégio de passar uma noite em sua companhia.

— Eu diria que o gosto dessas damas é bastante duvidoso. — ele comentou com certo desprezo.

— Acho que não importa muito, no final das contas. Apesar de ser muito cortês, ele não superou a perda de sua noiva. Acredita que ela fugiu bem no dia em que ia oficializar o noivado? Sem explicações, sem cartas, nada. Apenas desapareceu. — a jovem acabou exaltando-se além do que gostaria ao narrar aquele fato. Desde que soube do ocorrido, ela não conseguia imaginar a antiga noiva de Edgar de outra maneira senão como uma pessoa egoísta e desprovida de princípios.

— Você sabia que, em regra, quando as pessoas fogem é para proteger a sua própria vida ou a vida daqueles a quem ama? — Elliot questionou no intuito de fazê-la refletir sobre suas próprias palavras, mas logo percebeu que não deveria estar adentrando naquele assunto.

— O que quer dizer com isso?

— Não importa, podemos mudar de assunto?

— Mas foi você quem começou, oras! — Sarah respondeu de modo irritado, enquanto usava ambas as mãos para empurrá-lo para longe.

Como resultado da brincadeira, o tratador se desequilibrou por um momento e assim que conseguiu se recompor, tratou de correr atrás da princesa no intuito de revidar a brincadeira. Soltando um grito entusiasmado em meio a uma risada, Sarah pôs-se a correr para longe, tentando fugir das mãos grandes e vingativas de Elliot. Poder passar alguns momentos assim ao lado dele, sem pressões ou preocupação era sem sombra de dúvidas o melhor presente de aniversário que ela poderia receber.

Intimamente, ela esperava que momentos como aquele durassem para sempre.


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