Hearts Of Sapphire escrita por Emmy Alden


Capítulo 47
¨f o r t y - s i x¨




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A garota cumprimentava todos no caminho. Tinha sentido falta disso, falta de andar nas ruas e vielas da Ordem Ônix. Tinha certeza que era o mesmo sentimento de sua irmã ao chegar na Esmeralda.

Em um dos braços, carregava uma pilha de papéis que continham o relatório mensal atual sobre o domínio de Theo, além do referente ao mês que se passou.

Laeni não era muito de deixar suas tarefas nas mãos dos outros, apesar de que um pouco de descanso com a permissão de deixar sua mente virar um poço vazio seria uma coisa que ela ansiaria fazer um dia.

— Você vai parar me cumprimentar ou vai ficar tentando se esconder nas sombras para sempre? — ela declarou enquanto fingia analisar um tecido em exposição.

A figura que tinha a acompanhado durante os últimos metros paralisou, mas, enfim, se fez visível.

— Você não tem um pingo de humor, sabia? Eu estava prestes a te dar um susto de boas-vindas.

Laeni se virou para observava o irmão do meio da Ordem Ônix.

Ele estava com roupas de treino e os cabelos, molhados, negros e um pouco desgrenhados.

— Como se eu não tivesse notado sua presença desde o princípio. — A menina fungou. — Devia economizar nessa colônia nova, acho que consigo sentir seu cheiro a um quilômetro.

Thalles disfarçou o rubor nas bochechas com um sorriso esperto.

— E como sabia que era o meu perfume?

— Poucas pessoas tem um gosto tão excêntrico quanto o seu. — ela retrucou dando um riso, mas ficou séria de repente. — Você não deveria ficar andando por aí, como se fosse um gatuno. É o segundo na linha de liderança da Ordem Ônix.

O rapaz rolou os olhos:

— Mal chegou e já está rabugenta? Pensei que as férias te fariam relaxar.

— Eu nunca relaxo. — Laeni respondeu ríspida voltando a andar e sabendo que Thalles seguia logo atrás. — Além disso, assistir pessoas se matando não é minha ideia de férias.

Thalles deu de ombros:

— Deveria começar relaxar. — ele apontou e sussurrou perto do ombro da Examinadora. — Se você fosse boazinha, eu poderia até te ajudar com isso.

Embora tenha se sobressaltado por apenas um milésimo de segundo, Laeni apenas gargalhou e continuou andando.

O irmão do meio apressou o passo o suficiente para eles começarem a andar lado a lado.

— Parece que, no fim, as coisas não saíram como Theo planejou, não é? — Thalles perguntou casualmente.

A menina olhou para ele pelo canto do olho:

— O que Theo planejou? — o rapaz deu de ombros, com um pouco de nervosismo. Laeni balançou a cabeça: — Você não é nada sutil em arrancar informações. Deveria aprender mais com Thad.

Thalles bufou.

— Aquele mercenariozinho… — resmungou baixo.

— Porém, para ser honesta, de certa forma, eu sei tanto quanto você.

O garoto parou olhando para ela como se Laeni tivesse dito algo absurdo.

— Quer dizer que você se meteu nessa de Sacrifício de novo só porque Theodor pediu?

Ela assentiu e esclareceu:

— Seu irmão é meu chefe e meu mestre, Thalles.  — Laeni parou e se virou para encarar o menino. Seus olhos negros firmes e sinceros.— Devo minha vida e liberdade a ele. Sei que nunca me colocaria em risco intencional. Se ele pede, eu faço o possível para executar.

— Você sabe que nada é seguro quando a Profecia está em jogo e…

— Confio nele.

Thalles mordeu o lábio. Um brilho que Laeni não conseguia decifrar passou por seus olhos.

— Está bem. Tem muita estima por ele, posso ver.

Com a mão livre, Laeni a apoiou no ombro do rapaz.

— Por todos vocês.

Ela deu um pequeno sorriso para Thalles e ele retribuiu.

Quando Laeni recolheu o braço, o garoto já tinha um outro tipo de sorriso no rosto.

Um do tipo travesso, que ela não gostava nada.

— Que tal eu te dar um presente de boas-vindas de volta?

A Examinadora deu um passo para trás, insegura:

— Não.

— Vamos lá. Você é uma garota eficiente, não vai querer perder tempo subindo toda essa montanha quando pode chegar no topo em segundos, vai?

— Thalles, não ouse…

Laeni apenas teve o tempo de arregalar os olhos, segurar ainda mais firme os papéis antes de sentir a agilidade do menino ao passar os braços por suas costas e ser carregada de uma maneira estupidamente rápida pelos ares.

— Você acreditaria se eu dissesse que sempre achei que se fosse você escolhida um dia, teria grandes chances de sucesso?

Marjorie estava sentada atrás de Corinna perto da beirada do colchão, as pernas rodeavam o corpo da menina, enquanto arrumava os fios da jovem.

Normalmente, Fearis fazia aquela tarefa, mas desde que chegaram à Ordem Esmeralda, Marjorie fez o máximo para evitar que a criada respirasse mais do que o necessário e acabasse atraindo atenção para si.

Apesar de reconhecer que a garota estava se saindo bem em camuflar sua situação, — e ela mesmo ter sido vítima das regras cruéis do seu mundo — Marjorie ainda era cuidadosa ao extremo quando o assunto era Fearis e não tentava esconder o quanto estava contrariada em ser cúmplice daquilo.

Corinna entendia, de verdade.

Uma coisa era pedir para alguém agir furtivamente por causa de algo que a própria pessoa fez. Outra coisa era pedir que arriscasse a própria vida para encobrir os atos de outra pessoa.

Isso envolvia empatia, uma coisa que parecia não ser muito difundida entre os deorum.

— Não sei se acreditaria. — Corinna respondeu por fim. — Você, na maioria das vezes, parecia me olhar como se estivesse preparada para me ver falhar.

Marjorie soltou um riso.

— É verdade, mas era porque eu te achava, e ainda acho, às vezes, tão teimosa. — explicou. — Quer dizer, nas primeiras Audições, você era jovem, uma criança, não tinha muito o que fazer a não ser estar ali e rezar para não ser escolhida, mas com o passar dos anos… Aquele garoto que veio com você…

— O que tem Kallien? — a voz da caçadora saiu um pouco ríspida. Não sabia como sua amizade com o rapaz tinha chegado naquele ponto. Ainda era seu amigo. Ainda o amava. Contudo, ressentimento ainda se mexia dentro de si.

— Às vezes, você sabe, eu ouvia algumas conversas. E o garoto estava disposto a te dar qualquer coisa que você desejasse. Conforto, família, suporte. E ano após ano você continuava voltando à Casa Central. Continuava desafiando a sorte e a probabilidade. Eu ficava dividida entre te achar burra ou ambiciosa.

A Escolhida virou a cabeça com a testa franzida para encarar a Examinadora por cima do ombro.

A ruiva continuou:

— Te achava burra porque você tinha uma escolha de não se arriscar, de não passar por aquilo. — esclareceu. — Te achava ambiciosa porque talvez tudo fosse por causa das riquezas. Eu sentia que você poderia de fato ser vitoriosa aqui e, muitas vezes, pensava que você tinha certeza disso, logo, não se contentava com que Kallien pudesse te oferecer já que por si mesma, você era capaz de muito mais.

As duas ficaram em silêncio por alguns instantes enquanto Marjorie terminava a trança.

Corinna respirou fundo:

— Nunca aceitei a oferta de Kallien porque nunca o amei do jeito que ele merecia e desejava. 

— O amor não leva ninguém a lugar nenhum esses dias, Cori. — a Examinadora murmurou.

— Isso não é verdade. O amor só não serve para nada se for tratado de forma banal. — retrucou baixinho. — Ele é precioso, precisa ser usado e cultivado da forma certa.

Marjorie deu de ombros:

— Que seja. Ainda era uma oferta boa. — disse com um sorrisinho de canto.

— Talvez, mas diferente do que pensa, eu não tive escolha, Marjorie. — a menina não poderia falar sobre suas tendências rebeldes justamente para a garota mas...— Há  algo dentro de mim que diz que eu deveria estar aqui e agora. E diz isso há anos. Creio que não importa o caminho que eu tomasse, eu estaria aqui.

Um silêncio reflexivo pairou por alguns instantes, até que a Examinadora o interrompeu:

— Uau, que azar. — as duas riram. Então, Marjorie olhou para um ponto na parede. Seu olhar indo longe enquanto dizia: — Daria tudo para não estar aqui.

Corinna ponderou um pouco as palavras antes de dizer:

— Mas estamos. Então, vamos fazer o melhor que pudermos.

As linhas dos caminhos dos três Escolhidos, que foram traçadas com certo desleixo antes mesmo de respirarem ar puro pela primeira vez, começavam a se delinear e ficar mais claras a cada dia.

A menina de Fortuna sentava na extremidade da arquibancada, com as duas Examinadoras uma de cada lado.

O menino de Nix sentava na posição oposta à garota, com o filho mais novo da Ordem Ônix ao seu lado.

Ambos disfarçavam olhares para o lugar no meio.

Onde a menina de Amara estava sentada sozinha. Ninguém nos lugares adjacentes. 

O número de Escolhidos já chegava a ser ínfimo o suficiente para ter vários "buracos" na plateia.

De qualquer forma, a menina sentava-se altiva. Um brilho novo no ar, na pele e até na sua respiração. O cabelo estava agora completamente no seu tom natural castanho-avermelhado.

Fortuna a achou bonita.

Nix a achou mudada.

Embora, ambos pudessem concordar que, de um modo ou de outro, a jovem não era mais a mesma.

Na verdade, nenhum deles era.

Mattia retribuiu os olhares.

Primeiro o de Corinna, com um leve reconhecimento de cabeça.

E então Conall, com nada além de um desvio brusco de olhar.

Procurou o olhar de Trevan sentado próximo aos assentos dos Governantes. Ele sorriu com seu sorriso mais brilhante ao notar que ela o olhava.

Algo se aqueceu dentro da moça. 

Embora sentisse uma pontada de culpa, mas não sabia bem o porquê.

Quando arriscou a olhar para o menino de Nix mais uma vez, ele já encarava um ponto fixo longe da visão que poderia ter de Mattia.

Corinna já conversava com as mulheres ao seu lado.

E, apesar de não ser tão drástico nem necessariamente ruim, Mattia sentiu o espaço entre a aliança deles se alargar.

Era natural, no entanto.

Os caminhos do trio ora se afastariam, ora se aproximariam, mas ninguém poderia mudar o fato que, mais cedo ou mais tarde, eles se entreleçariam novamente como naquele vagão de trem.

O confronto começou na Arena reclamando a atenção de todos os presentes, Oniro e Óreas numa disputa um tanto monótona, mas Conway ainda a observava.

Poderia ver um pouco do temperamento que Mattia teria herdado da própria mãe — a mulher que naquele momento se sentava a alguns lugares de distância do Senhor Safira.

A garota definitivamente não era humana.

Conway era capaz de sentir o eco de energia dela chegar até ele.

Sempre achou que Rexta estava blefando desde o momento que acordara em sua cama quase duas décadas atrás. Não era por ela que ele sentia algo. Nunca a levaria para debaixo dos lençóis.

Porém, fazia sentido.

Lembrava de como a Senhora Rubi tinha sumido por pouco mais de um ano depois de afirmar que esperava um filho seu.

Era tempo mais do que suficiente para gerar uma criança e dar um destino a ela.

Era plausível, era o que tentava convencer sua mente. Mais pela menina do que por Rexta.

Portanto, ao ficar acordado nas últimas noites, questionando suas próprias crenças e morais, ele tinha se acertado consigo mesmo.

Se a garota era mesmo sua, nunca poderia dar-lhe as costas. Daria a ela carinho, suporte e conforto por todos os anos que não fora capaz.

E ainda tinha a Profecia.

Uma das partes importantes seria sua herdeira.

Não importa quem fosse a mãe.

Além disso, nunca houve nenhuma prova concreta de que sua esposa gerara uma criança.

Tudo era incerto.

Tudo era rumor.

A vida de Conway parecia ser guiada e orquestrada por um dos deuses mais cruéis e de humor ácido.

E ele estava mais do que farto de não poder controlar sua própria jornada. 

Então a aceitaria.

De uma vez por todas.

Fosse o que fosse.

O Senhor Safira ergueu de novo o olhar do confronto que se desenrolava no centro da Arena para a Escolhida de Amara, que, para sua grande surpresa, já o encarava de volta, os olhos como uma labareda, a postura inabalada.

Deve ser ela. Tem que ser, pensou consigo mesmo.

E, quando o confronto acabou, Conway foi ao encontro de sua descendente.

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