Hearts Of Sapphire escrita por Emmy Alden


Capítulo 30
¨t w e n t y - n i n e¨


Notas iniciais do capítulo

heeeey aqui vai um novo capítulo!!
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Estava com problemas. Muitos problemas.

Não só ela, mas também Conall. E principalmente Corinna.

Depois do que vira na Arena, precisava falar com os dois urgentemente.

Aquele livreto que achara na biblioteca de Trevan tinha muito outros volumes e ela achara vários.

Tinha de admitir que era viciante saber sobre o que tinha sob sua pele, o que podia fazer.

Nunca pensou em ter importância, em ter algum valor, algum dom, mas com aquele poder...Aquela luz branca de poder... de fato, uma luz no fim do túnel da sua vida medíocre.

Pessoas a matariam por causa daquilo que ela tinha. Tinha de significar algo.

Mattia aprendia a cada dia a aperfeiçoar seus poderes. Estudava as Ordens Primárias e Secundárias, assim como seus poderes.

Pelo menos, cada vez que praticava, a dor de cabeça, que costumava a atordoar há um tempo, parecia aliviar.

Tinha acabado de deslizar um dos livros sobre a mesinha ao lado da cama para o alcance de sua mão quando bateram na porta.

Ela se apressou em esconder o exemplar e pedir que entrassem:

—O senhor Trevan requisita a companhia da senhorita daqui a trinta minutos no jardim dos fundos.—a criada esguia levantou um cabide com um vestido coberto o suficiente para suportar a brisa fria que pairava no exterior.

Mattia franziu a testa, mas balbuciou um agradecimento qualquer enquanto a mulher apoiava o traje na cadeira da penteadeira.

Aqueles passeios nos jardins geralmente eram reservados apenas para Idah, outra Escolhida sob os cuidados de Trevan e da Ordem Granada.

Ou a Escolhida de Amara tinha feito algo muito errado ou...

—Não. Acalme-se.—a menina sussurrou para si mesma.—Provavelmente, será apenas uma conversa sobre o próximo confronto. Apenas isso.

Paranoia não ajudaria em nada.

Ela prendeu os cabelos num coque firme, simples, mas arrumado.

Como dissera anteriormente a Raleigh, estava deixando os fios voltarem ao tom natural. O castanho escuro e sem graça ainda contrastava com o vermelho vibrante e peculiar. Pelo menos, o penteado disfarçava um pouco.

Deslizou o vestido vermelho intenso e profundo no corpo, sentindo a firmeza do revestimento raspar sua pele.

Não negaria que Trevan e seus primos tinham um gosto de admirável.

A gola do vestido era canoa ressaltando seu pescoço e sua clavícula que, mesmo estando ali há algumas semanas, já começava a camuflar os ossos do local.

Suas maçãs do rosto também estavam com uma aparência mais saudável e as bochechas começavam a ficar coradas e sardentas como não as via desde que era bem pequena.

Nunca se achou dona de uma beleza exuberante de tirar o fôlego, mas olhando-se naquele momento no espelho de corpo inteiro logo ao lado do armário de roupas, ela podia dizer que passara de insignificante para agradável aos olhos.

Ou talvez tudo isso fosse apenas um efeito colateral de ter um poder crescente em suas veias.

Albernaz que se preparasse para seu novo confronto.

Mattia não tinha mais medo da derrota, porque agora isso não passava de uma possibilidade distante.

Pela primeira vez, permitiu-se cultivar esperança.

 

O jardim dos fundos não era a atração principal da parte traseira da residência.

Mattia parou no topo da escadaria que a levaria para o local do encontro.

Seu quarto tinha vista para o resto da Ordem, para o resto do Setor Superior e, como não saía de lá, a menina percebeu quanto tempo tinha perdido sem explorar uma das paisagens mais lindas que já vira na sua vida.

Duas montanhas negras se erguiam no horizonte, próximas o suficiente para intimidar, distantes o suficiente para que a jovem parecesse ridícula ao estender sua mão para tocá-las. O sol que espreitava entre as nuvens espessas, bem entre os dois picos, tentava lutar para espalhar seu calor no mundo, sem muito sucesso já que uma brisa fria rodopiava entre as colunas e os arbustos.

Entretanto, Mattia parecia alheia a tudo aquilo ao abaixar lentamente a mão. Um calor abrasador parecia subir pelas plantas dos seus pés. Não era uma sensação desconfortável.

—São vulcões.—a voz de Trevan foi baixa, mas ainda assim a menina teve que reunir uma força de vontade para não se desequilibrar e sair o rolando da pequena escadaria.

Virou-se para olhar o dono da fala. Seus cabelos pareciam brilhar ainda mais como se fios de ouro verdadeiro se aninhassem entre os fios de cabelo castanho claro. Os olhos azuis e rubro pareciam profundos e ardentes.

Mattia abriu e fechou a boca diversas tentando achar uma resposta coerente do tipo "Faz sentido. Aqui é a Ordem Granada. Vocês dominam lava.", mas ficou feliz em não ter dito nada e apenas ter parecido patética. Revelar que sabia demais —graças àqueles livretos —poderia levantar suspeita. Atrair atenção.

Então, ela apenas ficou calada por um instante enquanto entrelaçava o seu braço com o que Trevan estendera para ela.

—Não é meio perigoso?—a Escolhida se permitiu perguntar tentando não revirar os olhos para a sua própria pergunta ridícula.

O braço de Trevan contra o seu era quente, mas nada como a quentura que sentira vinda de algum lugar íntimo da terra. Como se um grande e furioso —mas domado por sua presença— animal se enroscasse de maneira sonolenta envolta do seu corpo.

Um pequeno sorriso de canto repuxou os lábios de Trevan.

—Somos a Ordem Granada. Em qualquer lugar de Excelsior, eles poderiam ser pavorosos, mas aqui— o deorum gesticulou com o braço livre para a paisagem ao redor deles.— É praticamente a nossa zona de conforto. Dominamos a lava, o magma dos vulcões.

Mattia tentou fazer sua mente ignorar o modo como ele usava "nós", sabia que não tinha nenhum pingo de vontade de inclusão naquele homem.

Com um estalar de dedos — como se para demonstrar o que havia dito—, pequenas gotas de um líquido vibrante, fumegante e espesso saiu da mão de Trevan e se derramou pelo chão, escorrendo entre os degraus. A temperatura era tanta que, mesmo na brisa fria, a garota era capaz de ver o ar em volta do líquido tremer.

O deorum fez com que as gotas desaparecessem um segundo depois enquanto Mattia ainda encarava o chão com um olhar surpreso e fascinado acompanhado de uma inquietude no estômago.

—Uau, é...

—Assustador?

—Lindo.— a menina disse lembrando-se de voltar a piscar.

Um leve movimento dos ombros de Trevan fez com que ela começasse a descer a escada junto com ele.

Trevan continuou a explicação:

—Além disso, os nossos estudiosos afirmam que é provável que ambos estejam adormecidos ou, até mesmo, inativos para sempre. São mais para simbolismo.

Apesar de assentir com a cabeça, Mattia sentia que aquelas obras de arte da natureza estavam tudo, menos inativas pela eternidade. Pôde sentir isso quando aquele calor envolveu seus pés há poucos minutos.

—E as chances de eles estarem apenas adormecidos são muito altas? — a Escolhida não foi capaz de conter as palavras curiosas e Trevan soltou a respiração pelo nariz achando graça.

A grama estendida e bem cortada agora virava suporte para os arbustos — uns aparados em formatos comuns outros, no formato de criaturas fantásticas estranhas das quais Mattia não sabia o nome.

—Digamos que, se eles resolvessem, acordar levaria centenas de anos para acontecer.

—Graças aos céus até lá eu já estarei há muito esquecida.—a menina disse ainda prestando atenção no caminho de pedras sob seus pés.

Sentiu um chacoalhar suave e erguer o rosto apenas para encontrar o deorum rindo genuinamente.

Não tinha certeza se já tinha presenciado algo do tipo no pouco tempo que estivera ali.

Trevan ficava mais bonito daquela forma.

Mais humano, Mattia pensou por mais idiotas que aquilo pudesse ser.

Os dois se encararam por um instante, e a garota se deixou sorrir apenas um pouquinho antes que o rapaz voltasse a si e limpasse a garganta.

Mattia só notou a estufa —que parecia mais um castelo de vidro do que uma simples estufa — quando estava a poucos centímetros da porta.

Com um gesto, Trevan fez com que as portas transparentes fossem abertas.

Mentiras, mentiras, mentiras.

Corinna precisava de um pouco de verdade. Só assim seria capaz de descobrir o que acontecia de fato com a sua mente. Com seu corpo.

Tinha passado os últimos minutos no jogo inconclusivo de perguntas e respostas com Laeni.

Corinna tinha consciência de que estava tentando ser o mais sincera possível, mas não tinha tanta certeza que a Examinadora fazia o mesmo.

Não quando os olhos de Laeni, vez ou outra, ficavam vidrados, como se ela se comunicasse com uma terceira pessoa.

A Escolhida estava quase certa que era a mesma pessoa que presenciara o seu ataque no corredor.

Solte.

Libere.

Foi o que a voz dissera. Corinna não lembrava o tom ou jeito, mas lembrava das palavras. Palavras que liberaram aquela pressão de poder nas suas entranhas.

Laeni negava tão efusivamente aquela presença, que a caçadora começara a pensar se não fora uma alucinação.

Antes do interrogatório mútuo, Corinna queria se forçar a pensar que fora apenas ilusão. Tudo aquilo.

O ataque com Nyota. O quão fácil teria sido matá-la. O quão prazeroso sua mente, por um momento, a fez pensar que seria.

O ataque do seu corpo contra si próprio. Como sentiu que poderia afogar-se na sua própria respiração. Afogar-se no seu próprio sangue.

A sensação parecia a atingir novamente e Corinna fechou os olhos enquanto Laeni falava sobre alguma estratégia que elas deveriam traçar dali em diante.

Definitivamente a menina não tinha se preparado para descobrir que, talvez, seu maior oponente naquela competição fosse ela mesma.

—Ouvi dizer que você gosta de flores.— Trevan disse enquanto Mattia absorvia os aromas, as cores, as texturas, o mundo de jardinagem que ele revelara a ela.

Begônias, tulipas, violetas, rosas... Mattia nunca reparou tanto na mediocridade do seu vocabulário e de seu conhecimento quanto naquele momento.

Sim, a Escolhida tomava conta dos minúsculos jardins do orfanato em Amara, mas aquilo...

—Esplêndido...eu...eu não tenho palavras, Senhor...

—Trevan. Me chame de Trevan.—Mattia tirou os olhos das flores para observar a expressão do deorum. —Desculpe-me por não ter oferecido tu e a atenção que você deveria ter quando chegou aqui.

—Não se preocupe. Estou ciente de que minhas feições não são muito simpáticas comparadas às de Idah.—ela apontou para o próprio rosto com um risinho.

—Eu também não fui exemplo de simpatia.—Trevan tirou dois fios de cabelo que caíam em sua testa.—Bem, por mais enriquecedor que um livro possa ser, não acho saudável que fique enfurnada num quarto. Além do mais, os livros são móveis e podem ser lidos aqui.

Mattia tinha visto muitos deorum nos últimos dias, mas tinha algo sobre Trevan que o aproximava dela, apesar do seu jeito estranho na maior parte do tempo.

Meia dúzia de criados caminhava ajustando a necessidade de cada espécie dentro da enorme construção.

—Você pode cuidar, se quiser. Também temos livros sobre jardinagem. A menos que você esteja muito viciada nas aventuras épicas e sangrentas espalhadas pela biblioteca.

O Senhor Granada não estava exagerando. Praticamente todos os livros eram sobre guerras e lendas sobre guerras e divindades.

Se no orfanato o que Mattia mais encontrava era romance, ali era justamente o contrário.

—Hm, obrigada.—foi a única coisa que ela pensou em dizer. Não estava preparada para aquele passeio, nem para aquela estufa, nem para o modo como Trevan estava tratando-a.

Olhando-a.

—Infelizmente, tenho que ir agora, só queria lhe apresentar o local. Achei que poderia ter mais opções sobre como passar o tempo aqui...

Por quanto tempo você conseguir sobreviver. Mattia acrescentou mentalmente

—Enfim, se precisar de algo, mesmo que pareça inalcançável, não hesite em me chamar.

Os olhos do deorum ferveram de maneira vibrante em cada palavra.

Como se ele realmente estivesse disposto a fazer qualquer coisa por ela.

Algo como um arrepio percorreu sua coluna,e não foi de uma maneira totalmente ruim.

De maneira galanteadora, Trevan pegou a mão da Escolhida e levou aos lábios, seu hálito morno como o de uma lareira reconfortante.

—Foi um prazer. Até mais, senhorita Brant.

Seus lábios roçaram suavemente a pele da menina e um segundo depois, o rapaz já estava saindo pelas amplas portas da estufa.

Mattia se perguntou se tudo aquilo era parte do encanto dos deorum, se Idah se rendera a eles com tanta facilidade quanto uma pequena parte de si queria fazer.

Não pôde evitar que o poema antigo sobre os deorum que ouvira na infância ecoasse na sua mente.

Com olhos vibrantes, enganar-te-ão.

Com toques suaves, aprisionar-te-ão.

Conquistar-te-ão na primeira oração,

mas com lábios sedutores, arrancarão,

sem dúvidas,

o seu coração.

A garota lembrou do tremor de medo que abalava o seu corpo e o das outras crianças sempre que os adultos recitavam nas noites de fogueira.

Tremor que agora era uma coisa muito mais perigosa, afiada e lasciva.

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