Hearts Of Sapphire escrita por Emmy Alden


Capítulo 29
¨t w e n t y - e i g h t¨


Notas iniciais do capítulo

heyy, mas um capítulo!
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Cenas—lembranças— rolavam na frente de seus olhos como um visor.

Era a primeira vez que iria caçar com seu pai.

—Seus passos precisam ser firmes, mas silenciosos.—Evian disse andando poucos metros atrás da menina.—Se fizer muito barulho toda caça em potencial fugirá.

A menina ficou atenta ao modo como seus pés encostavam no chão. O arco feito por ela e pelo pai para se ajustar em suas costas e braços infantis.

Tinha decidido aprender a caçar nos dias em que vira Evian impossibilitado de levantar da cama devido uma gripe que pegara na última semana do inverno. Quase passaram fome. Quase perdera seu pai por causa disso e a menina não poderia deixar que aquilo ousasse acontecer novamente.

Então aprenderia a ajudá-lo.

Depois de tudo que ele contara que tinha feito pela filha desde o dia que a salvou naquela mesma floresta, Corinna não queria que passasse mais um dia em que o homem tivesse que carregar o peso do mundo em suas costas. Sozinho.

Não importava se não era seu sangue que corria nas veias dela. Foi ele que sempre estivera lá, nos momentos mais importantes e o amava por isso.

—Atenção.—a mão de Evian tocou o ombro da garota para que ela parasse de andar.

Um tipo de cachorro do mato. Inofensivo para Evian, mas um bom começo para a menina.

—Sabe o que fazer. Estarei bem aqui se precisar de algo.

Corinna apenas assentiu com a cabeça e começou a montar a armadilha.

 

Um ruído na moita era tudo que ela precisava fazer para atrair o animal para onde ela queria. O que não demorou muito para acontecer.

Logo, ela estava olhando o animal de cima, que se debatia contra a armadilha presa em suas patas. O bicho grunhia mesmo sabendo que não haveria escapatória.

Corinna tirou a pequena faca do cinto. Parecia tão pesada em sua mão.

"Acabe com isso," era o que sua mente parecia dizer.

Precisaria apenas perfurar pelo, pele, músculos e então estaria feito.

O suor escorreu por sua testa enquanto ela observava o animal lutando por liberdade. Até o seu último suspiro, tinha certeza de que ele lutaria até seu último suspiro.

Foram poucos minutos que pareceram eras.

Só percebeu que seu pai se aproximara quando o homem se abaixou ao seu lado.

—Não posso...Não posso fazer isso.—a menina disse sentindo sua mão suar. Tentando ignorar a voz que dizia para ela que continuasse.

—Está tudo bem. Você não precisa...

—Sou fraca, não consigo.

—Ei, ei...—Evian pegou o rosto da filha entre as mãos.—Você não é nada disso. É muito forte por perceber que ainda não está pronta para fazer isso.

—Vou ter que matá-los um dia de qualquer forma, não vou?

O homem inclinou a cabeça:

—Eventualmente.

—Então por que não consigo fazer isso logo de uma vez?

—Porque há uma diferença muito grande entre matar por necessidade e matar por prazer.

—Tem gente que mata por prazer?—Corinna perguntou abismada e Evian deu uma risada grave.

—Muita gente, baixinha, mas você não é uma delas, entendeu? Nunca será como uma delas.—ele bagunçou o cabelo castanho da menina que sorriu.

—Desculpa, pai.

—Não precisa se desculpar. Nem para mim, nem para ninguém. Nunca por ser quem você é ou pelo que tem aí dentro.—ele apontou para o coração da menina.

Um grunhido impaciente do animal os fez reconhecer sua presença normalmente.

—Se eu tivesse sendo atacada e ainda não estivesse pronta, o que eu faria?

Evian estendeu a mão até a cabeça do bicho que tentava mordê-lo.

—Não deve mostrar que está com medo.

Como mágica, o animal pareceu se acalmar com o toque.

Mal percebeu os dedos firmes e ágeis do homem alcançar a parte traseira de sua cabeça e apertar.

O bicho estremeceu e se aninhou nas folhas.

A criança arregalou os olhos.

—Ele morreu?

—Não, está adormecido e ficará assim por tempo suficiente para você fugir. Funciona com a maioria dos animais, não importa o tamanho. Só precisa achar o ponto certo.—Evian pegou o dedo de Corinna e posicionou no animal.—Está sentindo? Apenas um aperto firme e preciso por alguns segundos é necessário. Agora, venha vou te ensinar algumas armadilhas em árvores.

—Por favor...por favor.

A floresta, o animal e seu pai desapareceram e ela estava novamente sobre a Escolhida de Amara.

A menina estava de olhos fechados e implorando baixinho para quem quer que fosse.

  ❖  

—Por favor, por favor.

Corinna piscou.

Olhou em volta testando o controle do seu corpo novamente.

Alguns deorum quase pulavam de seus lugares de animação com a cena. Alguns humanos estavam boquiabertos.

E os Governantes...eram um misto dos dois.

Nyota começou a soluçar. Corinna voltou os olhos para ela novamente.

Então deslizou a mão que ainda estava sobre jugular da menina até a nuca.

Ela abriu os olhos. Sua respiração voltando ao normal aos poucos, assim como a da própria Escolhida de Fortuna.

—Desculpe.

Corinna pressionou com firmeza o ponto e a menina desfaleceu.

Não precisa se desculpar. Nem para mim nem para ninguém. Nunca por ser quem você é ou pelo que tem aí dentro.

Talvez seu pai tivesse interpretado mal a real natureza da menina. Talvez ela própria tivesse feito isso.

 

Quando Corinna se afastou do corpo adormecido no chão, a Simpatizante andou até Nyota, verificando-lhe o pulso e lançando um olhar pouco afetivo na direção da caçadora.

—Está viva.—ela anunciou. Ninguém disse nada.

Nenhum aplauso ou ovação. A Simpatizante olhou Corinna de cima a baixo, medindo-a ainda com a mão checando o pulso da Escolhida de Amara—Mas...ficará inconsciente por umas boas horas.

Ainda assim, o silêncio se derramou pela Arena.

Menos na mente de Corinna.

Fraca. Uma vergonha. Fraca.

Ela abriu e fechou o punho. Ajeitou as roupas ao mesmo tempo que Alaric caminhava para anunciar o vencedor daquele combate.

Contudo, Corinna apenas se virou e se dirigiu em direção à saída da Arena.

Sentindo-se tudo menos uma vencedora.

Laeni e Marjorie não tentaram pará-la quando a menina passou por elas em direção ao Galpão.

As duas irmãs apenas se encararam tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Assim como todos os presentes.

Nenhuma das duas tinham dúvidas de que Corinna tinha um potencial excelente, mas aquele combate tinha sido...estranho.

Em um momento, todos achavam que ela havia simplesmente paralisado.

No outro, a garota parecia entre um dilema de torturar lentamente ou dilacerar agilmente a oponente.

E no final, Corinna apenas desacordou Nyota. Com uma técnica simples e sutil que nem Laeni nem Marjorie sabiam que era capaz de existir.

—Vá atrás dela. Ficarei aqui para ver a reação.—Marjorie instruiu a irmã que não se demorou a ir atrás da Escolhida.

A corda do controle de seu corpo era escorregadia, mas Corinna tentava segurar firme.

Queria entender o que estava acontecendo, mas sua própria voz —antes suave e cruel, agora apenas raivosa— abafava sua coerência jogando insultos direcionados a si mesma.

Era capaz de sentir os ferimentos do seu rosto formando cascas.

Com sorte, aquele espetáculo que dera tinha tirado a atenção para a sua cicatrização super rápida.

A voz em sua mente agora tinha punhos e golpeava seu interior sem piedade.

Seus pés tropeçavam um no outro. Sua visão estava embaçada fazendo com que ela constantemente trombasse contra uma parede.

—Corinna.—alguém chamou ao longe. Era como se seu ouvido tivesse sido imerso num oceano profundo e alguém a chamasse na superfície.

Fraca. Covarde. Por isso deixaram você. Por isso nunca tentaram te encontrar.

Cada palavra era como se um punhado de água fosse forçado por sua garganta. Afogando-a.

Afogando-a.

Uma, duas, quatro mãos se apoiaram em suas costas.

—Corinna, responda.— era Laeni. Laeni que a chamava de volta a superfície.

Mas tinha mais alguém com ela. Uma sombra a mais. Um corpo a mais.

A humana tossiu e puxou o ar com certa urgência. Não parecia ser o suficiente.

Afogando-se. Afogando-se de dentro para fora.

—Não consigo...respirar. Não...— ofegou.

Conseguia distinguir a silhueta de Laeni segurando seus ombros pela frente e outra pessoa a segurava por trás.

Ajeitando sua coluna, segurando-a para que não desabasse.

Então um vento suave rodopiou entrando por seu nariz e boca.

Ar. Ar. Ar.

Covarde. Inútil. Fraca.

Ar. Ar. Ar.

Cada lufada parecia quebrar as palavras. A força delas.

O ar tinha cheiro de floresta e chuva e terra.

—Solte.—uma voz disse. Mas não era a sua voz. Nem a voz na sua mente, muito menos a de Laeni.

Outra voz.

—Solte.

Não sabia como.

—Libere.

Como o virar de uma válvula, Corinna soltou.

Liberou.

Libertou.

Um impulso involuntário de seu corpo que poderia tê-la jogado longe, caso não fosse os braços desconhecido segurando-a, no mesmo instante que um clarão feriu seus olhos.

Desabou.

Uma mulher de cabelos negros como a noite, estava sentada na janela. Não conseguia distinguir suas feições muito bem, não conseguia focar no rosto dela.

A mulher suspirou olhando para o mundo além. A imensidão do mar azul era a única paisagem que ela precisava ver.

—Você não será como eles.—a moça dizia para ninguém em especial. Certamente não para Corinna que estava de pé em algum canto daquele cômodo sem ter sua presença reconhecida.— Nunca será como eles. Melhor que o melhor deles. Não só por fora, mas por dentro.

Logo a menina notou a mão da mulher apoiada sobre o próprio ventre protuberante.

—Será melhor do que isso tudo que nos cerca. Desde sua primeira respiração até o seu último suspiro.

Uma pedra flutuou na frente do rosto de Corinna e quando a menina olhou em volta outros pedaços do chão começavam a se desprender gradualmente.

Mais rápido a cada segundo.

Tentou dar um passo adiante para avisar a mulher. Para pedir que corresse, mas estava presa no lugar, não tinha voz. Bastou apenas um piscar de olhos e tudo ia pelos ares. Inclusive a mulher com o bebê no seu ventre.

Suas palavras, no entanto, ainda ecoou nos escombros.

"Desde sua primeira respiração até o seu último suspiro."

Mesmo quando a própria Corinna não conseguiu mais ter um chão sob seus pés para se apoiar.

"Nunca será como eles."

Mesmo quando ela era levada para o lado oposto ao que a mulher fora levada.

"Nunca será como eles."

Mesmo quando a jovem se viu deitada no colchão fino encarando o teto fino cheio de ranhuras.

"Desde sua primeira respiração até o seu último suspiro."

"Nunca será como eles."

—Corinna?

A Escolhida piscou algumas vezes, encarando o contraste dos cabelos ruivos como fogo de Marjorie e os pretos como nanquim de Laeni.

—Graças aos Céus, está viva.—Marjorie entoou.

—O que aconteceu?—a voz da menina raspou a garganta como se não fosse usada há muito tempo.

—Você desmaiou no corredor.—foi Marjorie quem disse, e Corinna notou os lábios comprimidos um contra o outro da Examinadora ao lado.—Alguns Escolhidos não lidam muito bem com o primeiro combate corpo a corpo.

As três ficaram em silêncio.

—Apesar de tudo, o ponto de vantagem é nosso.— a caçadora forçou um sorriso nos lábios e Marjorie soltou um risinho.

Laeni ainda estava calada, pensativa até.

—Bem, vou sondar o estado que você deixou a Escolhida de Amara. Aliás, bom trabalho, apesar do susto que nos deu durante e depois. Melhoras.—e com isso a Examinadora se retirou, deixando Corinna sozinha com sua irmã.

Quando o baque da porta do Galpão soou, as palavras saíram instantaneamente.

—Se não for para me contar a verdade pode ir junto com Marjorie.

Laeni arqueou uma sobrancelha.

—Faço das suas palavras as minhas.

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Notas finais do capítulo

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