Hearts Of Sapphire escrita por Emmy Alden


Capítulo 31
¨t h i r t y¨


Notas iniciais do capítulo

Voltamos! Não esqueçam de deixar um comentário sobre o que estão achando ♥️



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/738717/chapter/31

 


Finalmente aquela reunião estava sendo animada.

Theodor teria que se lembrar de agradecer a Escolhida de Fortuna por aquilo. Em algum momento.

Corinna Lestat.

Ela tinha sacudido os ânimos com aquela performance esquisita, mas intrigante.

E o mais importante, vencedora.

Por um momento, o Governante pensou que a menina se entregaria à oponente num ato estúpido de rebeldia. Ainda que uma parte dentro de dele dissesse que ela não seria burra aquele ponto.

—Theodor, o que achou?— a voz de Alaric soou grave cortando as falas misturadas e desconexas de Raina, Rexta e Auremio, pai de Athlin.

O rapaz tocou em um pequeno corte na nuca.

—Não estávamos entrando em parafuso alguns dias atrás por causa da ameaça do Continente Sombrio? Como uma humana sob o nosso controle conseguiu se tornar o assunto principal da nossa reunião?

Incrivelmente, Theo conseguiu fazer com que todos se calassem com poucas palavras controladas.

Quer dizer, não tão incrivelmente assim. Afinal, era o Governante mais poderoso dali.

Ele olhou nos olhos de cada um.

Testando-os.

Como o esperado, todos se recostaram de volta nas cadeiras. Ninguém queria ser o primeiro a apontar para o elefante não apenas no meio da sala, mas sentado confortavelmente na cabeça de cada um deles.

Até dele próprio.

Nenhum deles queria mencionar O tremor.

Nenhum deles queria mencionar o brilho de esperança que cintilava no fundo dos olhos de Conway.

Nenhum deles queria mencionar a Profecia ou como ela os aterrorizava.

Sage bufou entediada.

—Óreas e Febo reportaram mais seis assassinatos.— a garota era a mais nova entre os Governante e era a que ficava mais encarregada dos relatos sobre como andavam os vilarejos humanos.

Periodicamente, os Governantes íam a alguns dos vilarejos pessoalmente, mas, em época de Sacrifício, os humanos tendiam a ficar mais...hostis com visitas.

Não era como se eles não tivessem motivo para agir assim.

—Três em cada um?— Conway chutou.

Seis em cada.— Sage olhou por cima dos papéis que trouxera. — Todas garotas entre 16 e 18 anos. Mesmo biotipo. A semelhança entre elas é como uma faixa de aviso.

—Quem quer que esteja fazendo isso, quer mandar um sinal para nós.—Athlin falou pela primeira vez.

Theodor avaliou a Trindade Ambiciosa — como ele costumava chamar as Senhoras Rexta e Raina, e o Senhor Auremio. O Governante Ônix sorriu para si mesmo.

—Uma rebelião, você quer dizer?— Athlin pareceu surpreso em alguém estar lhe dando conversa. Principalmente quando esse alguém era Theodor.

—Sim, talvez pelo Sacrifício fora de época.

—Organizado demais para ser uma rebelião humana.—Conway interrompeu.—A menos que eles tenham estabelecido uma rede de comunicação bem consistente e escondida dos nossos olhos, o contato entre vilarejos tão distantes, como Gaia e Mors, seria impossível. Ainda mais para estabelecer padrões e verificar se foram cumpridos.

Novamente o silêncio e então, mesmo sem uma dispensa formal, todos começaram a ajeitar suas coisas para voltar para suas Ordens.

Ninguém parecia inclinados a fazer nada a respeito das mortes e isso significava muito.

Pelo menos, a humana descontrolada na Arena, agora era um assunto esquecido como deveria ser.

Conway lançou um olhar demorado para Theo antes de partir e Clyne fez o mesmo antes de lhe dar um beijo na bochecha e avisar que Hayes, sua filha, recebera o convite prévio dele e iria até a Mansão Ônix mais tarde.

Ele apenas deu um aceno de cabeça.

Athlin caminhou na direção de Theodor.

—Acredita mesmo que há uma possibilidade de rebelião?

Theo apenas deu de ombros, de modo que sua túnica dourada e preta se agitasse com o movimento, então enfiou a mão nos bolsos:

—Talvez, eles estão quietos por muito tempo. Os humanos têm desvantagens sobre nós, mas não são todos idiotas. Muitos deles já ouviram sussurros do Continente Sombrio.

O Governante Esmeralda passou a mão pelos cabelos já alinhados.

—Eles pensam que é uma lenda, Theodor.

—E não são as lendas as história mais verdadeiras? As mais inspiradoras, pelo menos?

Athlin bufou.

—De qualquer forma, obrigado pelo suporte hoje.

—Não tem de quê.—Não fiz por você, era o que queria dizer.

Assentindo com a cabeça, Athlin se direcionou para a saída. Ainda conseguia ouvir a voz de seu pai do lado de fora da sala.

No meio do caminho, ele parou.

—Por que ainda a quer?—Theodor sabia muito bem a quem o Senhor Esmeralda se referia.

O Senhor dos Ares apenas levantou uma sobrancelha.

—Eu poderia perguntar a mesma coisa a você.

—Ainda não tenho ninguém e você parece está indo muito bem com o garoto de Nix.

—Se não te conhecesse bem, acharia que está com inveja e com medo que ela resolva se juntar ao meu time.

—Você não me conhece bem.—Athlin cortou e Theo soltou um risinho. —Ela é única chance de eu participar de alguma forma desse Sacrifício.

E provar alguma merda para o cretino do meu pai. Era o que Theo tinha certeza que Athlin queria acrescentar.

—Uma pena para você, mas provavelmente não vou desistir dela, Senhor Esmeralda.

—Dado os últimos acontecimentos, é uma escolha perigosa.—Athlin acrescentou como uma tentativa de soar ameaçador. Seguro de si. —Para nós dois.

—O perigo torna as coisas muito mais divertidas, não acha?

Com um riso irônico, o Governante Esmeralda virou-se novamente em direção à saída.

Quando viu Athlin colocar a mão na maçaneta, Theo apenas disse:

—Enquanto continuar permitindo que seu pai participe das reuniões, fale por você, ninguém nunca te levará a sério nem considerará o que tem a dizer. Você tomou o poder das mãos dele, aja de acordo.

 


Aja de acordo.

Ele agiria.

Por mais que a voz desgraçada que soasse em sua mente fosse de Theodor. O infeliz tinha razão, no fim das contas.

Seu pai, por algum milagre, não abrira a boca para lançar um de seus insultos enquanto o transporte os levava de volta à Mansão Esmeralda.

Nem mesmo para zombar da ideia de rebelião.

Primeiro Theodor, agora Auremio.

Alguma coisa estava muito errada em Excelsior e, dessa vez, Athlin se esforçaria para não ser o último a saber.

Seu pai girava o anel substituto em seu dedo anelar da mão direita, imerso em seus pensamentos.

Há pouco tempo, o anel que estava ali era o oficial da Ordem Esmeralda. Um dos muitos símbolos de poder de um Governante.

Lembrava a rispidez em que seu pai o passou para seu dedo. O metal tão frio, como se estivesse guardado e não no corpo vivente de Auremio.

Lembrava da faixa de pele mais branca que o resto do dedo no lugar onde costumava ficar o anel.

O acessório era singelo, várias pequenas esmeraldas encravadas no metal prateado criando uma unidade poderosa, uma fonte de poder. O substituto no dedo do patriarca era grosseiro e grotesco, com uma única pedra gigante e retangular.

Com certeza, chamava muito mais atenção do que o que Athlin usava.

Às vezes, o menino achava que era apenas isso. Uma birra ridícula com seu próprio filho sobre quem chamava mais atenção.

Enquanto continuar permitindo que seu pai participe das reuniões, fale por você, ninguém nunca te levará a sério nem considerará o que tem a dizer.

Athlin respirou fundo.

Você tomou o poder das mãos dele, aja de acordo.

Aja de acordo.

O transporte, uma espécie de carruagem, decorada com símbolos animalescos, parou com um solavanco na frente da Mansão.

Com um grunhido baixo, Auremio se ergueu para sair para o exterior.

—Você não vem, garoto?— o homem perguntou quando Athlin não fez mais que respirar fundo em seu assento.

—Tenho umas coisas para resolver.— nem ao menos se dignou a olhar para o pai que agora tinha uma sobrancelha arqueada em curiosidade.

—Posso saber onde ou o quê?

Então, Athlin se virou para encará-lo. Tentou colocar em seus olhos toda a repulsa com a qual seu progenitor regularmente olhava para ele. Não se importava se sua tentativa estava ou não sendo patética.

Copiou também o sorriso de canto, autoconfiante, que vira várias vezes Theodor lançar aos outros Governantes.

—Não, não pode.

E com apenas um gesto de mão dele a porta da carruagem se fechou e o cocheiro os colocou em movimento novamente:

—Para onde, Senhor?

—Para o Galpão.

 


Conall tinha um braço em volta do pescoço de um dos guerreiros da ordem Ônix.

O suor escorria por sua testa, mas não tinha sido um dos confrontos mais desafiadores que ele já enfrentara desde que Theodor começara a treiná-lo.

O Governante apenas o observava com uma sobrancelha arqueada.

Conall apertou mais um pouco.

O guerreiro deu dois tapinhas no braço de Conall e o Escolhido afrouxou o aperto e se levantou estendendo uma mão para ajudar o oponente.

Um garoto um pouco mais novo que Conall que aparentemente começara a desenvolver músculos há pouco de tempo.

Dando um aperto de mão amigável, o guerreiro pediu ao Governante Ônix permissão para se retirar.

—É impressão minha ou esses treinos estão ficando mais fáceis?—O Escolhido perguntou quando voltou a ficar sozinho com Theodor.

—Talvez estejam, mas sem dúvidas estão ficando sem graça. O que é um bom sinal. Você tem talento para luta, Conall. —O Governante lhe estendeu um odre.

O rapaz deu um sorriso de lado, as lembranças passando em sua mente.

Entre goles, Conall contou a história:

—Na minha aldeia frequentemente existiam ameaças de ataque de ursos, panteras e outros animais enormes. Isso não acontecia em todo o vilarejo Nix, parecia que a nossa aldeia era a preferida. Talvez a mais próspera. Eles gostavam de se aventurar assustando e matando nossa pequena população nas noite da lua sombria. Chamavam-nas de Noites de Tormenta. Criaram um grupo de homens para afugentarem ou abaterem as bestas noturnas. Os meninos só eram considerados crescidos quando fossem levados pela primeira vez para uma Noite de Tormenta. Lógico que era mais pelo show do que pelo amadurecimento dos meninos de fato. Mas, na primeira vez que eu fui, consegui render duas panteras. Eu tinha treze anos. Acho que os aldeões ficaram mais assustados comigo do que com as bestas.

Theodor tinha um olhar levemente surpreso e bastante interessado no rosto.

—E você as matou?

—Não. Os aldeões queriam, obviamente, mas eu disse que deveríamos levá-las de volta para a floresta e se alguém tentasse feri-las, eu libertaria a fúria delas sobre os responsáveis. Ninguém ousou contrariar, eu poderia ser um garoto de treze anos, mas eu tinha rendido duas panteras, eles não iriam me questionar apesar de eu não fazer ideia de como "liberaria a fúria delas sobre eles".

O Governante Ônix gargalhou, Conall o seguiu.

Tinha de admitir que o garoto tinha potencial. Poderia realmente ir longe naquela competição.

—Ninguém sabia,— Conall continuou— Mas às vezes eu entrava na floresta sozinho, até mesmo sem os meus irmãos. E em uma dessas vezes tive de enfrentar um urso. Foi doloroso, complicado e no final eu acabei fugindo, mas não considerei uma derrota. Não queria matá-lo, de qualquer forma. Queria me fortalecer. Queria aprender com eles. Ser um filho da terra como eles. Talvez algo me dissesse que eu precisaria disso no futuro.

Theodor deu um sorriso de canto.

—Talvez. —o deorum se levantou. Sua mente fazia e refazia os cálculos de sua teoria. Talvez eu esteja certo, afinal.— Talvez eu devesse trazer um urso das montanhas para o nosso próximo treino. —seu tom era puramente irônico e Conall riu. —Algum problema se o próximo confronto for físico novamente?

—Você pergunta como se eu fosse um gênio da estratégia. Não tem problema algum. Aliás deve significar alguma coisa um deorum do seu naipe não arriscar um confronto físico comigo, um mero mortal.

Os olhos do Senhor dos Ares brilharam com o desafio.

—Não sabia que você estava tão ansioso para perder uma luta.

—Muita conversa e pouca ação.

Theodor estava pronto para dar uma resposta quando um dos criados apareceu anunciando:

—Hayes, Herdeira da Ordem Jade, já o espera em seus aposentos, Senhor.

—Estou a caminho, obrigado por avisar.— o criado fechou a porta, sumindo novamente.

—Negócios importantes para tratar?—Conall cutucou o braço do deorum.

Nunca em mil anos teria imaginado uma coisa daquelas. Conversar com um deorum como se fosse um igual, entretanto, Theodor nunca o repreendeu, tampouco o tratou como um inferior. O Escolhido de Nix até pensava que às vezes o Governante o superestimava demais.

—Importantíssimos, como pode imaginar. —Theodor piscou um olho. —Receio que seu convite para a própria derrota terá que ficar para outra hora.

E com isso o homem caminhou até a porta fazendo uma reverência exagerada.

—Não fique tão decepcionado, as férias do meu irmão estão acabando, logo você terá alguém para ficar desferindo socos pela casa.

 


Corinna caminhava pelo Galpão depois que Laeni a deixara sozinha sem muitas respostas conclusivas.

A Examinadora não queria deixar mostrar, mas era perceptível que o que tinha acontecido na Arena — e depois fora dela — poderia se tornar um problema caso Corinna não se controlasse.

A menina, no entanto, não parecia se preocupar muito com aquilo. O que quer que tivesse ocorrido no corredor parecia ter sugado ou quebrado qualquer coisa anormal dentro dela.

Não sentia mais o rugir do sangue nos ouvidos, nem uma pressão pedindo para ser liberta. Sentia-se igual a antes daquelas coisas estranhas acontecerem.

Não, na verdade, não.

Sentia-se vazia como nunca se sentira antes.

Seu corpo parou em frente a da entrada do local, logo ao lado da porta de madeira.

Inclinou a cabeça, apoiando-a contra a superfície fria. Respirou fundo, forçando a testa até o ponto de sentir dor.

O que aconteceria quando ela encontrasse Nyota novamente? Com certeza, a garota viria com força total. Provavelmente já contaram a ela o que Corinna planejara fazer naqueles segundos em que a caçadora hesitara.

Planejara matar Nyota, por mais que doesse admitir. A única coisa que ela poderia fazer naquele momento era ser honesta consigo mesma. E planejara matar Nyota, ainda que por um ou dois segundos.

O que isso a tornava?

Com certeza, não muito melhor do que Ranthal e companhia.

Afastou a cabeça e se pôs a apoiar as mãos na parede.

Fez desenhos incoerentes com os dedos até que eles afundaram num pequeno buraco. A outra mão ainda corria livre um pouco mais acima até que afundou da mesma maneira.

Era certo que as paredes do Galpão eram cobertas de ranhuras e rachaduras superficiais, mas aqueles buracos, de certa forma, eram perfeitos demais e transmitiam um calor que...

Corinna deu um e depois outro passo para trás com a testa franzida.

Avistou os buracos ao mesmo tempo e inclinou a cabeça tentando entendê-los.

Outros dois eram visíveis um pouco mais abaixo.

Deslizou uma mão de um até outro, sentindo o calor de cada um aquecer sua mão.

Um flash atravessou sua mente.

Duas mãos envoltas em fumaças seguravam uma parede prestes a ruir, ou melhor —Corinna analisou—, seguravam ruínas tentando transformá-las novamente em uma parede.

Seus olhos alternavam entre a lucidez e o desmaio e um toque carinhoso passava em seus cabelos.

"Mas que droga..." A pessoa que tentava consertar a parede dizia enquanto alternava as mãos na parte de cima e um pouco mais embaixo.

"Pelo menos, foi aqui. Não seria nada agradável se isso tivesse acontecido lá na Arena." essa era Laeni, Corinna conseguia reconhecer.

A outra pessoa não respondeu por um instante, ainda concentrada no trabalho.

"Pode ser coincidência. Uma raridade. Um acaso." A pessoa parecia dizer mais para si mesmo do que para Laeni.

Apesar de estar visivelmente perto de Corinna, a voz da pessoa parecia a muitos metros de distância.

"Ou pode não ser." Laeni comentou prática e firme.

A pessoa deu um passo para trás observando a parede que agora parecia intocada novamente —ou pelo menos o mais intocada que uma parede do Galpão poderia ser — exceto, pelos buracos onde o indivíduo tinha colocado suas mãos envoltas em névoa.

"Um estrago admirável." resmungou e se virou na direção de Corinna. A Escolhida não conseguia ver sua forma, seu rosto ou suas roupas, apenas um borrão que agora tinha sua atenção nela. "Preciso ir...Na verdade, nunca estive aqui."

Ouviu Laeni estalar a língua e resmungar algo.

"Como quiser."

Corinna voltou a si ofegante e analisou a parede novamente. Uma circunferência quase imperceptível tocava todos os buracos.

Solte.

Libere.

A menina arregalou os olhos e colocou uma mão sobre a boca enquanto a compreensão lhe atingia..

Não teria feito...Quer dizer, era impossível... não era

Talvez se fosse do outro lado da parede poderia ter uma outra pista.

Não ficaria fora por muito tempo e não sairia de perto da porta do Galpão, se alguém a interceptasse teria, ao menos, uma desculpa de que não planejava ir longe.

Isso se alguém lhe oferecesse uma pergunta e não uma faca no pescoço.

Tocou a maçaneta da porta, pronta para virá-la, ao mesmo tempo que soaram duas batidas e a porta se abriu revelando o Governante Esmeralda.

Ele a olhava com a mesma expressão surpresa que a garota achava que tinha no rosto.

—Planejava ir a algum lugar?— Athlin disse enquanto dava um passo para dentro do Galpão. Corinna não tinha conseguido definir se o tom dele era velado em ameaça ou só curiosidade.

—Não, eu... só ia dar uma olhada no corredor.

—Está precisando de alguma coisa?

Corinna negou com a cabeça.

—E-eu só...eu só... Tinha ouvido um barulho estranho lá fora... não planejava ir longe. — A Escolhida se odiou por gaguejar. — Sei que não podemos sair sozinhos.

Athlin apenas a olhou e depois de alguns segundos disse:

—Está bem, não precisa se explicar. De alguma forma, sei que não tentaria fugir.

—Bem, seria tolo de minha parte pensar em algo assim. — Ela retrucou se arrependendo no mesmo instante. Estava soando insolente.

Contudo, ele apenas sorriu para a menina fazendo com que algo estremecesse no peito dela.

—De fato, seria.— Athlin olhou em volta.

Corinna tentou não pensar em como o primeiro foco do seu olhar foi a parede dos buracos.

Não poderia ter sido ele que a ajudara no corredor, poderia? Ele era um Governante. Se soubesse de algo sobre a magia medíocre que Corinna tinha conseguido praticar nas últimas semanas, tinha certeza de que estaria em maus lençóis.

Depois de visualizar o quarto, ele a olhou de cima a baixo.

A menina sentiu seu rosto esquentar. Ela revezava os dias de lavar o conjunto que seu pai lhe dera; Fearis sempre aparecia nos dias de lavagem e lhe entregava uma roupa simples até que as suas secassem, mas Corinna não entrava sob um chuveiro desde a sua "vitória" pela manhã, o que significava que naquele fim de tarde, a menina deveria aparentar no mínimo um estado deplorável.

—Gostaria de dar um passeio nos cômodos superiores?

A jovem quase se engasgou com o convite.

—Posso sair daqui?

Athlin inclinou a cabeça como se começasse a pensar na questão só naquele exato momento. Fios dourados caíram por sua testa e, pela primeira vez desde que ele chegara, Corinna o observou.

O Senhor Esmeralda estava arrumado, mas não tão polido quanto na Cerimônia de Boas-vindas. O cabelo não estava totalmente puxado para trás e parecia que o rapaz já havia passado os dedos entre ele antes de chegar ali. A túnica também tinha os botões do pescoço abertos e Corinna teve a impressão que ele resolvera passar ali e convidá-la para um passeio no último minuto.

O que não era a questão.

A questão era por que ele havia decidido aquilo.

—Creio que sozinha, não, mas comigo...

A menina assentiu.

Claro, ele era um Governante, ninguém questionaria se ele arrastasse uma Escolhida por aí, ainda que ela não fosse sua protegida.

Então fez sentido. Provavelmente ele deveria está ali para convencê-la a aceitá-lo como Simpatizante e se ele havia presenciado a cena no corredor como ela desconfiava...

Athlin viu a pergunta nos olhos dela antes que Corinna pudesse dizer algo.

— Sei que já conversamos sobre a possibilidade de nossa parceria e fui recusado, por ora, mas acho que é coerente que negue sendo que não sabemos nada sobre o outro.— os olhos verdes intensos dele estavam fixos nos da garota. — Não estou com segundas intenções, senhorita, pelo menos não de coagi-la a aceitar a proposta, contudo uma conversa poderia gerar uma confiança mútua e admito que estou esperançoso que depois disso considere de fato o que ofereço.

Por que quer tanto ser meu Simpatizante?, era o que ela queria perguntar.

Está bem, foi o que ela realmente respondeu.

Athlin pareceu satisfeito.

Sentia que uma hora ou outra teria que aceitar uma das propostas. Fearis estava perto de dar a luz e, se o que Marjorie disse era verdade, a criada não poderia continuar nas condições em que era submetida no Galpão.

Não depois de sempre ser prestativa com Corinna.

Confiava em Athlin tanto quanto confiava no Senhor Ônix e, ainda assim, o Governante Esmeralda parecia passar uma sensação de que ela saberia mais onde estaria pisando.

Foi por isso que com uma última e rápida olhada para parede, ela pediu licença apenas para usar o banheiro depois de aceitar o convite.

Athlin apenas assentiu e se sentou em uma das camas desocupadas.

Corinna tentava avaliar o riscos. Se Athlin realmente esteve naquele corredor, se consertara aquela parede. Será que a chantagiaria durante o passeio ou esperaria até que ela aceitasse ser sua protegida

Não, se os rumores sobre os deorum eram próximos à realidade, Corinna sabia que ele teria chantageado assim quando entrou no Galpão. Ou pelo menos, não teria feito o esforço de pedir para que Laeni mentisse.

Talvez ele, de fato, quisesse apenas ajudá-la.

A caçadora observou os olhos fundos no espelho enquanto lavava o rosto.

Os ossos da clavícula estavam começando a ficar bem aparentes no decote fechado da camiseta e seu cabelo estava ressecado e sem brilho quando ela o prendeu no alto da cabeça.

A sensação de vazio ainda estava ali, como se a devorasse por dentro, um pouco mais a cada segundo.

Só como um teste tentou materializar a caneta costumeira.

Nada aconteceu.

Se soubesse que para parar com aquela loucura só precisava aparentemente explodir uma parede, teria o feito antes.

Ela quase riu.

Porém, o som que saira de seus lábios não foi de alívio.

Olhou-se no espelho novamente.

O colar singelo de Kallien ainda pendia em seu pescoço e ela se perguntou o que o rapaz estaria fazendo naquele momento.

Direcionou a mão para o pingente ansiosa para sentir o calor característico da pedra entre seus dedos.

Entretanto, quando eles tocaram o pingente, a pedra estava fria como gelo.

 

❖❖❖




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Agradecimentos:  SwitchBlade que favoritou a história ! Espero que gostem! ♥

Notas Finais:

CAPÍTULO GIGANTE PARA MATAR A SAUDADE!!
CHEGAMOS A QUASE 3K DE LEITURAS, 3K!!! EU NÃO PODIA ESTAR MAIS FELIZ E NÃO PODERIA DEIXAR DE AGRADECER A CADA UM DE VCS QUE ESTÃO LENDO SIGNIFICA O MUNDO PARA MIM! (Até os fantasminhas rs)

perdoem o surto, mas estou bem insana kkkk

como vocês estão? o que acharam do capítulo?deixem seu comentários, opiniões, cartinhas de amor pros personagens faves...

não se esqueçam de votar/favoritar e indicar para os amigos.

vcs têm twitter? me segue lá! sou doida, mas com boas intenções (e lanço uns spoilers/notícias da história por lá tbm — tem uma thread super dedicada a HoS que poderá conter umas informações avançadas rs ;) ) --> @/ whodat_emmz

a playlist da história está em construção, mas já está disponível no link  -->bit.ly/hosplaylist

até mais

xx



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hearts Of Sapphire" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.