Hearts Of Sapphire escrita por Emmy Alden


Capítulo 24
¨t w e n t y - t h r e e¨


Notas iniciais do capítulo

Aqui vi mais um capítulo de HoS ♥ Espero que gostem <,3
Não se esqueçam de comentar e dizer o que estão achando ^^



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Ninguém pareceu notar o quão inquieta ela estivera no seu lugar.

Estava tão aliviada, mas ao mesmo tempo tão aflita que se chegasse a menos de dois metros do Escolhido de Nix, acabaria estapeando-o pela audácia de fingir uma cena daquelas.

Ainda que aquilo tivesse sido um grande fator para a vitória dele, uma vozinha chata disse dentro da cabeça de Mattia. Ainda que você fizesse tanto esforço para mostrar que não se importava.

A menina achava que Conall mataria o oponente. Achava que era a ordem de todos os Escolhidos que fossem a um combate.

Seria bem mais fácil se isso acontecesse já que o ponto estaria garantido e Conall estaria automaticamente na próxima fase.

Se o oponente ainda respirasse no fim do primeiro combate, era obrigado acontecer uma revanche em breve.

Porém aquilo não parecia importar para ninguém ali.

Conall havia vencido a primeira disputa e pelo jeito que ela o vira lutar contra o Escolhido de Selene, o rapaz também venceria a revanche.

—Pronta para irmos?— o Senhor Granada apareceu ao seu lado enquanto Mattia verificava se havia alguma possibilidade de conseguir falar com seu aliado antes de ir embora.

A menina se virou para o deorum. Impressionante como todos os outros.

O homem tinha a pele bem branca e a íris azul dos seus olhos eram um contraste com o aro rubro—mais grosso como os de todos os chefes das Ordem Secundária — ao redor de sua pupila. A marca de a qual ordem pertencia.

O cabelo castanho-claro era cortado curto e era tão brilhante que de certa forma parecia uma moldura iluminada de sua cabeça.

Trevan era o seu nome.

Mattia apenas assentiu com a cabeça e enlaçou o seu braço com o que o deorum oferecia.

Não conseguiu dar mais do que um olhar rápido de despedida para Corinna a poucos metros de distância.

O homem não era de falar muito, mas parecia muito intenso.

Raramente dirigia a palavra a ela e quando o fazia—a menina respirou fundo com o pensamento—parecia despi-la lentamente. E não era de uma maneira boa.

Quem mais interagia com ela na Mansão Granada eram dois irmãos gêmeos, primos de Trevan, Raeanna e Raleigh.

A garota ensinava tudo o que sabia sobre a arte do combate, e o garoto, a da inteligência e etiqueta.

Ambos eram mais amigáveis que Trevan, mais calorosos, apesar de que Mattia estava meio arredia em criar qualquer vínculo com um deles. Não poderia esquecer que eles ainda eram deorum e ela ainda era uma humana.

Apesar das suas últimas mudanças físicas estarem cada vez mais dizendo o contrário disso.

Ela não era única Escolhida sob a proteção de Trevan e da Ordem Granada. Havia uma outra garota do vilarejo Oniro, a qual ela não tinha se dado o trabalho de aprender o nome. Esta passava muito mais tempo com o deorum que agora guiava Mattia pelas arquibancadas de pedra da Arena para buscar a outra Escolhida.

Mattia estava quase certa de que o que eles menos faziam juntos era treinar, embora nem mesmo um brilho de satisfação brilhava nos olhos de ambos.

—Analisou bem o vencedor de hoje?—a menina de Amara quase se sobressaltou com a voz de Trevan tão perto.

Era uma voz assustadora, daquelas que faziam um calafrio ruim percorrer o corpo.

Quando Mattia apenas assentiu com a cabeça, o homem continuou:

—Os Escolhidos do Governante Ônix são geralmente os mais difíceis de serem derrotados, seja por força bruta, seja por astúcia.

Rezava para que fosse verdade, afinal, Conall era o Escolhido dele. E Corinna também parecia ter recebido uma proposta vinda do Senhor Ônix.

Só não entendia por que a menina não tinha aceitado nem a oferta dele, nem do Governante Esmeralda.

Quando Mattia não respondeu nada, um bufar impaciente anunciou que Trevan não tentaria continuar a conversa e logo eles chegaram no local onde a menina loira e baixinha —dos olhos mais claros que ela já tinha visto —estava. A garota olhou para Mattia sem muita expressão no rosto, embora tivesse feito uma tentativa de sorriso, antes de entrelaçar o braço com o deorum.

Em instantes, eles estavam se dirigindo ao exterior do Galpão.

Na primeira vez que a Escolhida de Amara avistara o Setor Superior, depois da sua curta estadia no Galpão, o ar faltou em seus pulmões.

Apesar de quem vivia lá, a paisagem era estonteante.

O céu parecia mais azul, as flores mais elegantes, as gramas mais verdes, as casas mais aconchegantes.

Tudo parecia uma ilusão, ao mesmo tempo que parecia a coisa mais real que ela já vira.

Tudo parecia cumprimentá-la como a uma pessoa que está no seu aguardo há muitos e muitos anos, e agora que finalmente te encontrou, quer fazer de tudo para te agradar.

Exceto as pessoas, é claro.

Alguns deorum não se davam o trabalho de esconder a repulsa que sentiam pelos humanos.

Mattia não sabia se era pelo seu cheiro ou pela sua aparência medíocre comparada àqueles seres exuberantes, mas parecia que bastava apenas um olhar em sua direção para eles reconhecerem o que ela era.

Mesmo com as roupas.

Naquele mesmo dia, a menina descobriu que o Setor Superior era dividido em vários setores, cada um destinado a uma Ordem.

A parte do Setor Superior onde ficava a Mansão Granada, não era tão longe do Galpão e ficava localizada no topo de uma montanha bem alta e rochosa.

Olhá-la era tão impressionante quanto olhar por ela. A varanda do seu quarto era de frente para o resto da cidade e, ao longe, Mattia era capaz de ver as Sedes das outras Ordens espalhadas pela paisagem.

Era um mundo novo passando diante dos seus olhos.

 

O caminho no transporte —uma carroça muito mais elaborada do que as que carregavam produtos em Amara. Uma carruagem, disseram.— foi silencioso, como usualmente.

Mattia só queria chegar na mansão, dirigir-se ao seu quarto e descansar.

Sabia que deveria estar usando esse tempo para entender ou descobrir algo sobre a profecia que Conall mencionara, algo sobre as coisas estranhas que estavam acontecendo.

Algo sobre...ela.

Mas tinha de admitir —para si mesma, pelo menos— o quanto aquela luta a afetara.

O Sacrifício tinha, de fato, começado.

Parecia que a ficha ainda não tinha caído.

E se Conall não tivesse feito aquela cena fingida? O rapaz terminaria como? Se safaria como? Estaria morto naquele momento?

Poderia muito bem ser ela ali sendo sufocada por Buford e a menina sabia muito bem que não teria todo aquele jogo de cintura que seu aliado teve.

Estava brava pelo susto, mas ao menos ele estava vivo.

Quando a porta da carruagem foi aberta, Mattia viu Raeanna com uma feição perturbada do lado de fora.

A deorum ajudou a Escolhida a descer, com nada mais do que um sorriso tenso, e fixou o olhar em Trevan.

—Precisamos conversar.

Raleigh apareceu logo atrás da irmã. Os cabelos castanho-claros de ambos voando quase na mesma direção com o vento da montanha.

—Eu acompanho as Escolhidas até seus aposentos.

Qualquer que fosse a relação entre os primos, ela não era da melhores.

Ou talvez, Trevan fosse o problema, visto que a limitação de conversa não era destinada apenas à Mattia.

Raleigh estendeu o braço para Mattia e então para a outra Escolhida.

Os aposentos das meninas ficavam cada um num corredor oposto, e o deorum resolveu deixar a Escolhida de Amara por último.

Não que o rapaz já tivesse alguma vez demonstrado alguma ameaça a ela, na verdade, ele era bem atencioso com as lições que dava. Porém, ficar sozinha, ainda que por alguns poucos passos, com um deorum, não era bem o ambiente mais confortável.

Raleigh ficou em silêncio durante o curto percurso. Parecia estar envolto em pensamentos. Provavelmente, o que quer que Raeanna agora discutisse com Trevan, o irmão já deveria estar ciente.

O garoto abriu a porta do generoso aposento onde Mattia repousava, a menina se apressando em desvencilhar o seu braço do dele.

—Entregue. —Raleigh disse quando a Escolhida deu o primeiro passo para dentro do quarto.—Nossa aula será após o jantar hoje e creio que Trevan e Raeanne ficarão numa discussão incessante por um tempo. Gostaria de algo específico?

Mattia apenas negou com a cabeça, fazendo menção de fechar a porta.

Que se dane os bons modos, pensou. Sua cabeça estava latejando de dor.

Precisava deitar, precisava descansar.

O moço continuou:

—Tinta de cabelo?

A garota franziu a testa para a pergunta e parou no meio do movimento.

—Tinta de... cabelo?

Raleigh sorriu de orelha a orelha.

—Você fala!— Mattia sentiu as bochechas esquentarem. O deorum limpou a garganta. —A raiz do seu cabelo está aparecendo. Raeanna e eu apostamos se esse vermelho era natural ou não? E, como sempre, eu estava certo.

Mattia apenas o encarava.

Não conseguia imaginar os deorum gastando seus preciosos segundos apostando sobre a cor do cabelo de uma humana insignificante.

—Enfim, temos tintura, se quiser.

—Acho que vou deixá-lo voltar ao tom natural, por ora. Mas agradeço...de verdade.— a menina sentiu a verdade de cada sílaba que saiu da própria boca.

Pareceu ser o suficiente para Raleigh. Ele apenas tocou a testa com dois dedos:

—Saiba que estou...estamos à disposição. Eu e Raeanna.

Eu e Raeanna.

Não "Eu, Raeanna e Trevan."

Eu e Raeanna.

Mattia forçou um pequeno sorriso nos lábios:

—Obrigada.

Raleigh não tinha mentido quando dissera que a conversa entre Trevan e Raeanna não teria fim.

 ❖  

O jantar já estava uma hora atrasado e Mattia estava um pouco impaciente.

Não sabia o que estava acontecendo. Ela era inquieta e até um pouco cabeça-quente, mas, naquele momento, a menina se sentia a ponto de explodir.

A dor de cabeça tinha parado depois do cochilo rápido que tirara depois que chegara à Mansão. Entretanto, tudo nela agora parecia pulsar no limite.

Sentia falta de ter um livro nas mãos.

Talvez fosse isso.

A falta da leitura estava deixando-a louca.

Um dos funcionários—um senhor de costas curvas, incomum para um deorum— que ajeitavam a sala de jantar, passou por Mattia que esperava no corredor.

A menina tocou-lhe levemente no ombro.

O homem a analisou de cima a baixo, como se estivesse decidindo se era digno lhe dar atenção ou não.

—Senhorita Brant. Como posso ajudá-la?— era estranho ouvir seu sobrenome na boca das pessoas.

Em Amara, ninguém se incomodava em reconhecer o sobrenome que a senhora do orfanato lhe dera, porque não significava nada. Se a menina chegasse a ser adotada, ele seria descartado e substituído pelo da família a qual ela seria adicionada.

O que nunca aconteceu.

Então, talvez devesse dar mais valor a ele. Reafirmá-lo um pouco mais.

Mattia Brant. A Escolhida de Amara.

Saindo de pensamentos, Mattia se voltou ao homem:

—Gostaria de saber onde eu poderia arranjar um livro.

O funcionário franziu a testa:

—Um livro?

A garota assentiu com a cabeça:

—Qualquer um que seja, eu só preciso passar o tempo.

O homem ficou alguns segundos em silêncio antes de dizer:

—Tenho que terminar de arrumar a mesa do jantar, mas você pode ir até a biblioteca. É no final deste corredor, na última porta à direita.—ele apontou a direção com sua mão enrugada.

Mattia mordeu o lábio:

—Hm, obrigada.

O senhor já estava a uns bons metros de distância quando a menina agradeceu.

 

Nunca havia dado mais de dois passos sozinha na Mansão Granada.

Sempre estivera acompanhada da camareira, ou dos gêmeos ou de Trevan. Naquele momento, ela se debatia se deveria fazer isso ou não.

A outra Escolhida ainda não tinha saído do quarto então a garota andou, com passos suaves e despreocupados, até a direção que lhe fora informada.

Tinha de agir como aquilo fosse corriqueiro.

Tinha de agir como se ela fizesse aquele caminho sempre.

Só então nenhum funcionário lhe barraria no meio do caminho.

Esperava que eles não reparasse na sua mão inquieta.

Entraria rápido, pegaria qualquer coisa e sairia.

Pôs força para empurrar para baixo as maçanetas em forma de metal derretido. Granada era ordem da lava e dos vulcões, as decorações confirmavam aquilo.

Com um baque surdo, as gigantes portas se abriram revelando uma visão que fez Mattia pensar que poderia morrer dentro daquele cômodo. E não se importaria nem um pouco.

Tinha quase três vezes o tamanho das casas comuns de Amara.

Uma casa. De livros.

Várias estantes independentes formando corredores intermináveis, as paredes que rodeavam o cômodo preenchidas de cima a baixo com exemplares novos e velhos e espalhadas pelo local estavam várias escadas de altura absurda.

Mattia ouviu um estampido e se sobressaltou. Um batida raivosa na mesa.

Tudo bem, pegar um livro e ir embora. Não era uma tarefa tão difícil.

Caminhou até uma das estantes.

Ervas e Curas. Manual Medicinal.

Não.

Virou para a outra.

Mapas e Estratégias. Exércitos Vencedores.

A garota fez uma careta. Ainda bem que o senhor não tinha aceitado vir pegar qualquer livro para ela.

Não demorou muito para achar a estante de ficção. Pegou um dos finos para começar, não sabia qual era o tipo de leitura que os deorum gostavam, então era melhor fazer um teste antes de pegar um dos grossos.

Ao puxar o exemplar desejado, um livreto caiu aos pés da Escolhida de Amara e ela olhou para os lados antes de pegar.

Não tinha muito tempo.

Leu o título.

Magia Iniciante.

Talvez aquilo lhe ajudasse a entender um pouco o que estava acontecendo consigo.

O livreto conseguia ficar escondido entre as páginas do outro livro e foi assim que a menina o deixou.

Enfiando o livro sem jeito dentro do bolso interno da jaqueta vermelha que usava, ela se ajeitou para sair dali.

Ouviu o barulho de vozes vindo da porta no fundo da biblioteca. Mattia não tinha percebido aquela passagem até o momento.

Como se tivessem vida própria, seus pés começaram a se mover naquela direção.

Deveria sair dali. Deveria voltar.

Apenas... não conseguia.

—Vadia! — a voz de Trevan soou do outro lado da porta quase camuflada na parede.

—Como pode ter certeza que ela está viva? Faz quase vinte anos, Trevan.— Raeanna parecia andar pelo cômodo do outro lado, pois sua voz oscilava de um lado para o outro.

—Você conhece as histórias tão bem quanto eu, Raeanna. Acha que aquele tremor do nada foi apenas coincidência? Um acontecimento isolado? Foi previsto! Ela está viva.

Uma pausa.

—E daí se ela estiver viva? Ela não é da nossa Ordem, provavelmente. Não tem nenhuma relação conosco. A Profecia não dizia que ela agiria sozinha e certamente não poderá agir sozinha.

O som da respiração brusca de Trevan pareceu preencher o ambiente.

A Profecia.

Conall havia falado sobre algo do tipo.

O sangue da menina era bombeado em potência máxima.

—Não sabemos se ela não é capaz de agir sozinha. Não sabemos nada sobre o que ela é capaz. Deveríamos ter feito uma limpeza nesses vermes quando tivemos a oportunidade.

—Acha que os outros também sobreviveram?— o tom vacilante de Raeanna era perceptível mesmo para Mattia. Vacilante e talvez...um pouco esperançoso.

A Escolhida teria que juntar as peças do que aquela conversa significava. Logo.

—Não sei, mas tenho certeza que os Governantes já estão cientes da possível ameaça. Se eles estiverem vivos, espero que tenham aproveitado a breve vida miserável deles, porque tenho certeza que caçaremos cada um.

Um, dois, três passos para trás e a menina esbarrou contra uma estante derrubando alguns livros.

A porta discreta se abriu no segundo seguinte.

Trevan estava com os cabelos meio desgrenhados—como se tivesse passado a mão ali diversas vezes— e uma feição dura:

—O que faz aqui?

—E-eu pedi um livro. Mandaram que eu viesse aqui.—os instantes que o Senhor Granada encarou a garota pareceram infinitos. Ele avaliava completamente Mattia a fim de pegar alguma falha.

A Escolhida puxou um pouco da jaqueta mostrando parte do livro que pegara.

O homem apenas estendeu a mão para a garota que estava apoiada tentando se equilibrar sem derrubar mais nada da estante.

Sua mão era grande, firme e morna, entretanto era surpreendentemente macia. Mattia, com a ajuda, se recompôs. Os olhos de Trevan ainda vasculhavam a garota à procura de algum deslize.

—Estaremos na sala de jantar em segundos.—foi Raeanna que disse do lugar de onde observava a cena constrangedora se desenrolar.

Era a deixa que a Escolhida precisava.

Soltou a mão do Senhor Granada, virou-se— rezando para qualquer divindade que o homem não tivesse notado seu pulso acelerado ou o suor ali— e caminhou em direção à porta sem olhar para trás, sentindo o peso do que ouvira— e daquele pequeno livreto escondido —se acumular por todo o seu ser.

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Notas finais do capítulo

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