Hearts Of Sapphire escrita por Emmy Alden


Capítulo 23
¨t w e n t y - t w o¨


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai mais um capítulo de Hearts Of Sapphire!!
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PART THREE:

THE WANTED ONES

OS PROCURADOS

☬  

 

As ranhuras irregulares na parede não tinham nada de irregular.

Corinna não conseguiu dormir naquela noite.

Deveria estar se aproximando metade da madrugada enquanto a menina andava colada às paredes próximas à sua cama.

Muitas ranhuras formavam palavras escritas com desmazelo e desespero.

Viva.

Annahita.

Não posso.

Annahita.

Não deveria.

Annahita.

A menina se sentou em frente a um dos Annahita's. O que seria aquilo? Um nome de alguma divindade? Uma oração? O nome de alguma Escolhida dos Sacrifícios passados?

Corinna desenhou o contorno de cada letra com o dedo. Se fosse a última opção, por quais horrores aquela pessoa deveria ter passado para ter de reafirmar seu nome diversas vezes? Como se não quisesse que fosse esquecido.

Como se não quisesse esquecê-lo.

Annahita.

Pensou no ferro que Mattia havia usado para cortá-la mais cedo. Em segundos, um idêntico aqueceu a palma de sua mão.

E ela escreveu na parede, no lado de cada ranhura antiga e solitária, seu nome.

Corinna.

Viverá.

Corinna.

Viverá.

Corinna.

Vive...

Um estrondo abafado soou, vindo no mundo lá em cima. A menina rolou de volta para sua cama no momento em que vieram checar como os Escolhidos restantes estavam.

Corinna controlou a própria respiração até que fossem embora.

  ❖  

Excelsior inteiro sentiu o tremor.

Do Setor Superior aos Vilarejos Humanos.

Das Altas Montanhas ao Mar Fjord.

Em cada Ordem Primária e Secundária.

De Mors à Gaia.

E por um momento, todo o mundo pareceu cair em silêncio.

Athlin andava pelos cômodos da Mansão Esmeralda sem sono.

Tanta coisa na sua mente. Tanta coisa que o tremor nada mais foi do que uma perturbação despercebida aos seus sentidos.

Seu pai não facilitava as coisas para ele.

Desde o dia que o desafiara publicamente para a Realocação, era assim.

Talvez até antes daquilo.

O velho nunca foi mais de um progenitor que não queria ser ultrapassado.

Ensinou as coisas ao filho, mas não tudo o que sabia. Não as partes importantes. Não o que seria necessário para que Athlin o superasse.

Mesmo assim, o garoto conseguiu.

Às escondidas, buscou tutores que o auxiliaram, treinadores de excelência. Todos agora mortos ou misteriosamente desaparecidos. Sabia que estava no seu destino ser melhor do que seu pai simplesmente porque era uma característica das linhagens dos deorum. Seus descendentes sempre seriam mais fortes e mais poderosos. Assim como os próprios filhos do Governante seriam mais fortes do que ele.

Se o rapaz um dia os tivesse.

Tolamente achou que quando o derrotasse, compraria o passe para a sua autonomia e liberdade.

Na verdade, acabou virando uma marionete com ainda mais cordas controlando-o.

Sozinho.

Sempre esteve sozinho.

Sempre estaria.

Os deorum não tinham afeição, nem mesmo de um pai para com o filho. Ou de um irmão para o outro.

Por outro lado, o ódio era algo bem recorrente e comum.

Uma benção, diziam, Não ter a capacidade de amar ou sentir compaixão.

Nunca tinha se oposto àquilo. Entretanto, agora, soava como uma maldição.

Ver todos aqueles humanos, considerados inferiores a eles, com a capacidade de criar laços não só estratégicos, mas sentimentais, despertava algo dentro dele.

Inveja, talvez.

Nunca compartilharia aqueles pensamentos com ninguém, mas era o suficiente apenas divagar sobre.

Contanto, divagar sobre algo que não fosse a menina dos olhos azuis e língua afiada se tornava a cada vez mais difícil. Ela lhe roubava o sono com uma facilidade invejável.

Despertava uma curiosidade nele que nunca tinha sentido por nada antes. Por nenhuma outra mulher. Por nenhuma outra pessoa.

Não tinha entendido quando seu pai fez o pedido de Simpatizante para uma humana de um dos vilarejos pobres. O senhor não era uma pessoa que gostava de perder e dificilmente alguém de Fortuna chegaria longe na competição.

Entretanto, nunca tinha ficado tão grato por uma ação do pai quando a encontrou naquele corredor escuro que levava ao Galpão.

Não tinha nada de impressionante ou exuberante, mas capturara sua atenção de uma forma que poucas coisas no mundo era capaz.

Podia se tornar uma amiga. Apesar da palavra também ter sido distorcida para sua espécie.

Olhar para aqueles olhos fazia com que o Governante tivesse certeza que poderia sentar com a garota por horas e conversar sobre tudo que o afligia.

Riu consigo mesmo já no corredor de seu aposento.

Um deorum se confidenciando com uma humana.

Impossível.

Porém, não era capaz de negar para si mesmo que se garota permitisse, ele testaria aquilo. Aquela loucura.

Talvez seu pai indiretamente lhe concedera um presente dos Céus, ao guiá-lo para a humana. Só não podia deixar que ele percebesse isso.

O homem tinha o costume de destruir tudo aquilo que o menino pudesse se afeiçoar.

O Sacrifício acontecia em um tipo de Arena específica no mesmo subsolo onde ficava o Galpão.

Todos os Escolhidos eram convocados para assistir os combates. A liberação só era concedida a Escolhidos que tinham participado de um combate há poucas horas ou dias do próximo.

Como aquele era o primeiro confronto do Sacrifício, todos estavam ali.

Sem exceção.

Laeni havia explicado o básico para Corinna.

Todos os desafios eram elaborados pelos deorum e passava pela aprovação dos Governantes.

Os confrontos eram geralmente como uma simulação. Uma ilusão.

Quando esse era o caso, a área de combate na arena era transformada no ambiente em que o deorum responsável por criá-la desejasse: uma floresta, um barco naufragando, um deserto...

Todos eram capaz de ver, mas apenas quem estava no combate podiam participar.

Os desafios físicos não eram contra seu oponente, mas muitas vezes de resistência e sobrevivência.

Apesar disso, a simulação não era capaz de "matar", o golpe final tinha de vim do seu oponente ou não contava como vitória.

Às vezes, porém, poderia ser apenas um combate comum corpo a corpo dentro de um ringue.

E era assim que seria o primeiro confronto. Entre Conall e Buford, um dos Escolhidos do vilarejo Selene.

O último era o dobro da altura e largura do aliado de Corinna. Os músculos parecendo ser esculpidos por anos e anos, apesar do Escolhido não aparentar ser muito mais velho que Conall, ou a própria Corinna.

Cada um estava de um lado do ringue fazendo as últimas observações com seus Simpatizantes antes do combate começar.

O Escolhido de Nix não parecia nervoso, muito menos o seu Simpatizante, Theodor. Do outro lado, Buford já parecia ter a luta como vencida.

Corinna estava ciente da sua impotência.

Se, por um acaso, seu aliado se deixasse vencer, ela seria obrigada a sentar ali e não esboçar nenhuma reação.

Teria de assistir até o final.

Poucos tambores rufaram por dois segundos, e logo veio o grito coletivo dos habitantes do Setor Superior.

Vincit qui se vincit!

O pai de Corinna dissera o que aquilo significava uma vez.

Vence quem se vence.

Silêncio absoluto enquanto os oponentes se dirigiam ao centro.

E então o combate teve seu início autorizado.

Não conseguia tirar os olhos dela.

Desde o momento em que colocará os pés na Arena até o momento em que observava o desenrolar do combate à sua frente.

Aliás, o combate era apenas um acontecimento à parte.

Apesar de toda a estrutura do Escolhido de Selene, o Escolhido de Nix venceria.

Se tinha uma coisa previsível naquele lugar era que Theodor dificilmente seria derrotado nas primeiras etapas.

O Governante Ônix era um homem de estratégia. Ele analisava muito bem cada um antes de demonstrar interesse em um Escolhido. Se ele fez questão de ser o primeiro a desafiar, estava confiante da vitória.

Levando isso em consideração, a curiosidade de Athlin só aumentava ao tentar entender por que ele havia demonstrado interesse numa Escolhida de Fortuna.

Theodor não tinha uma relação muito comum com derrotas nem com a escolha de pessoas de vilarejos baixos.

O que a menina poderia ter para despertar o interesse do Governante Ônix, do pai de Athlin e do próprio Athlin?

Aquilo era o que teria de descobrir em breve.

O Governante da Ordem Esmeralda voltou a atenção para a garota novamente.

Seus cabelos escuros presos numa trança na parte de trás da cabeça, um conjunto de roupas azul e branco combinando. Uma manta envolvendo seus ombros.

Seus olhos acompanhavam atentamente cada movimento do Escolhido de Nix. Conall. Estava bem nítido por quem ela torcia.

Não era incomum os humanos formarem alianças, porém aquilo quase nunca acabava bem.

Ou um era forçado a sacrificar o outro que lhe ajudou durante toda a competição ou o apego era forte demais para suportar ver a derrota de um aliado.

Esperava que Corinna fosse esperta o suficiente para não passar por nenhum dos dois.

Conall sabia o que fazer.

Era menor, mas era mais esperto. Mais ágil.

Toda a composição estrutural de Buford era pesada demais, lenta demais.

O Escolhido de Selene tentou restringir o combate a uma luta direta e sem rodeios, mas Conall sabia melhor.

Desviar-se, fazer com que o oponente se locomovesse e, por consequência, se cansasse, era a melhor opção naquele combate.

Sabia o impacto que poderia ter um golpe de Buford — o estômago de Corinna se revirou quando o seu aliado sofreu alguns deles— então precisava atrasá-lo.

O oponente de Conall já estava ofegante quando o espetáculo começou de fato.

A adrenalina corria pelo corpo de Conall e, em vez do cansaço, ele parecia ficar ainda mais eletrizado.

Era hora de atacar.

O Escolhido de Nix tinha memorizado todos os pontos fracos do seu oponente. Além de todas as informações que Theodor conseguiu reunir para ele.

Conall mirou no lado esquerdo do queixo de Buford e deu seu primeiro golpe com toda a força que podia agrupar.

Sentiu o impacto, mas não sentiu a dor.

Não poderia dizer o mesmo do Escolhido de Selene que soltou um uivo abafado aturdido pelo soco certeiro.

Aproveitando-se da desorientação do outro competidor, Conall golpeou o mesmo ponto do outro lado.

A cada encontro do seu punho contra Buford, o menino parecia ser carregado com uma nova onda de energia.

Do outro lado, a energia de seu oponente parecia minguar drasticamente. Ainda não estava hábil na arte da evasão, então os golpes-respostas de Buford ainda o atingiam de tempos em tempos.

Um filete de sangue escorria pelo nariz de Conall devido a um dos golpes sofridos, mas ele não sentia nada além de uma corrente que o impulsionava a continuar atacando.

Um sussurro o destabilizou.

O Simpatizante do Escolhido de Selene dissera algo incompreensível e aquela distração foi a oportunidade perfeita para que o seu oponente desferisse um soco e então puxasse Conall para uma armadilha em seus braços.

O antebraço de Buford pressionava a garganta do Escolhido de Nix prendendo-o corpo a corpo com ele.

Sufocaria Conall se apertasse mais um pouco. Seu olhar se alinhou com o de Theodor, que tinha uma expressão calma e contida.

Sua garganta queimava sem a disposição normal de ar, combinada com a energia que implorava para ser libertada, apesar do Escolhido não saber como fazê-lo.

O Governante da Ordem Ônix apenas inclinou a cabeça e disse apenas movendo os lábios sem emitir som.

Relaxe e respire.

Franziu a testa com o conselho.

Levou segundos para entender o que o Simpatizante queria dizer.

Então ele o fez.

Naquela ordem.

Nenhum ar passava pelos pulmões de Corinna naquele momento e duvidava que Mattia, sentada ocasionalmente a uma pessoa de distância, se sentia de maneira diferente.

Conall estava indo bem até aquele Simpatizante trapaceiro desconcentrá-lo.

Buford apertou ainda mais a garganta de Conall e era visível que a entrada de ar estava se estreitando.

Resista. Resista.

A menina encarou o Senhor Ônix.

Por que ele não fazia nada? Por que continuava com aquela pose despreocupada e inabalada?

Corinna quase engasgou com a ordem ridícula que ele dera à Conall.

Relaxe e respire.

Era o máximo que ele poderia fazer? Era o máximo que eles poderiam fazer?

Se assim fosse, a moça estava bem sem nenhum deles lhe dando suporte. Não faria diferença de qualquer forma.

Porém, mesmo de longe, o brilho nos olhos de Conall demonstrando compreensão foi visível.

Qualquer que fosse, o aliado de Corinna pareceu entender o recado.

Segundos depois, ele desfaleceu nos braços de Buford.

O queixo da Escolhida de Fortuna quase encostava no chão e o aperto no seu coração foi como uma facada.

O oponente de Conall o soltou no chão como quem joga um saco de areia insignificante.

Não podia acabar assim. Não tão cedo. Não para Conall.

Então, a menina viu o que Buford deveria ter conferido antes de ajeitar a postura e colocar um sorriso precocemente vitorioso no rosto.

Relaxe e respire, Theodor dissera.

Foi o que Conall fez. Relaxou nos braços do Escolhido de Selene, pois sabia que ele era tolo demais para perceber que era impossível a tensão pelo esforço físico no corpo de Conall continuar se ele tivesse desfalecido verdadeiramente.

Alguns Escolhidos já davam gritos de vitória para Buford quando Conall calou todos com tomando uma respiração profunda.

Relaxe e respire.

O Escolhido de Selene não entendeu o que tinha acontecido até suas costas se chocarem contra o chão e Conall, em instantes, aparecer sobre ele.

Um golpe na têmpora, outro no queixo e mais um na barriga fizeram o oponente do aliado de Corinna implorar por ar e contrair o corpo.

Uma das luzes do local iluminaram bem os olhos de Conall causando um efeito de luz como um lapso violeta em seus olhos.

Eles incitavam agressividade, como se pedissem que o Escolhido de Nix terminasse aquele combate de forma definitiva e irrevogável.

Corinna prendeu a respiração. Sabia que provavelmente seria forçada a tirar a vida de alguns de seus concorrentes se quisesse vencer, mais ainda assim...

Conall apenas piscou e respirou fundo.

Relaxe e respire.

O olhar mortífero sumiu.

E com um golpe simples, mas preciso e bem pensado na nuca de Buford, ele fez com que o Escolhido de Selene tivesse uma experiência própria do que era ficar desacordado.

Era assim que Conall—em conjunto com Theodor— reividicava a primeira vitória daquele Sacrifício para si.

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Notas finais do capítulo

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