Hearts Of Sapphire escrita por Emmy Alden


Capítulo 25
¨t w e n t y - f o u r¨


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai mais um capítulo!! Espero que gostem!!



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—Suas técnicas de evasão são péssimas.

A voz de Theodor ecoou na enfermaria. O Governante passou um algodão embebido em álcool e entregou para o Escolhido.

—Sério? Você é tão observador. Isso é algo que ensinam junto com a magia?—Conall pressionou o algodão contra o ferimento no supercílio, fazendo uma careta.

—Apesar da sua ironia infame, sim, somos ensinados a observar desde criança.

O algodão não demorou muito para absorver o sangue que escorria da testa do garoto.

—Não seria mais fácil se você apenas me curasse, cara? Isso aqui está ardendo como o inferno.

Um pequeno sorriso se formou no canto dos lábios de Theo enquanto ele entregava um novo algodão a Conall.

—Seria bem mais fácil. E evitaria que eu tivesse que ouvir a sua falação covarde e cheia de frescura. Porém, você não aprenderia nada com isso.—Conall franziu a testa e o deorum continuou.—É o claro exemplo de males que vêm para o bem. Esses ferimentos podem parecer apenas uma simbolização das falhas que você cometeu nesse combate, mas amanhã, quando começar aquela coceira da cicatrização, eles se tornarão lembretes. Lembretes que você, apesar de tudo,—apesar das falhas—venceu um obstáculo. Que você aprendeu o que estava fazendo de errado e, da próxima vez que for entrar em combate, vai se lembrar dessa ardência de hoje e fará de tudo para que não aconteça de novo.

Conall pressionou os lábios.

—Discurso bonito. Seu pai que fez quando você furou seu dedo numa agulha?—o menino zombou.

Theodor riu.

—Foi ele sim. Mas, em vez de um corte de faca, eu tinha uma adaga enfiada no ombro e um pedaço de carne faltando. Agora, pare de ficar choramingando e termine logo isso.

O Governante deu as costas saindo pela porta.

Conall respirou fundo.

Não era nada fácil controlar a magia e ele estava aprendendo aquilo do jeito mais complicado.

Havia ficado como um louco doente na noite anterior ao combate se cortando e observando o processo de cicatrização.

Como o seu corpo reagia. Como ele sentia quando tudo estava acontecendo.

Precisava achar a válvula para retardar o processo e com muito custo havia conseguido.

Mas ainda requeria muito esforço, principalmente naquele momento em que estava fisicamente esgotado pela luta.

Então, aquelas poucas palavras trocadas com Theodore foram o teste final.

Manter os ferimentos abertos —sangrando—e fazer com que palavras continuassem saindo da sua boca... era como andar num desfiladeiro com uma venda.

Havia conseguido, no entanto.

Dominar a luta e dominar a si mesmo, por ora.

Um dia vencido, afinal de contas.

A canção ecoava no cômodo. Crescendo. Crescendo. Crescendo até o teto.

Thisbe e Clyne observavam Conway tocando o piano, como não fazia há muito tempo.

Ambas não tinham muita afeição uma pela outra, mas tinham igual estima pelo homem que praticamente se fundia ao piano.

Conway sempre teve esse poder. De fazer as pessoas o estimarem apenas com um olhar. Quererem estar ao seu lado sem que ele pedisse.

Era tanto sua benção, como sua maldição.

O Governante Safira fez a decadência com as notas de forma melancólica, mas com um fundo de esperança.

A mesma esperança que ele tentara esmagar durante as últimas décadas.

—Acha que pode ser verdade?—foi para Clyne que o homem se dirigiu ainda olhando as teclas brancas do instrumento.

—Talvez.— foi a única resposta que a mulher deu ao amigo.

Tinha suas dúvidas, suas desconfianças, porém, ao mesmo tempo que não poderia tirar aquele ínfimo pedaço de esperança do Governante, também não deveria alimentá-lo.

Conway tinha ido fundo demais na sua última reclusão. Clyne duvidava que conseguiria tirá-lo de lá se acontecesse outra vez.

—Temos que nos preparar, se for verdade.—o homem disse finalmente se virando para encarar as deorum.

—Já devíamos ter começado, mas preferiu não confiar na minha palavra.—o sotaque carregado da mulher dava o ar de rigidez que combinava com o seu rosto.

Era características da linhagem da Ordem Bronze. Ela havia Governado ao lado de Conway, Clyne e os outros durante alguns anos.

Não havia uma diferença de idade muito grande entre os três, mas Thisbe era velha de aparência.

Sempre fora do estilo "mate antes e pergunte depois", isso levara anos da sua juventude física, assim como fizera com Raina.

Apesar da Governante da Ordem Prata ser muito mais cruel.

Os cabelos dourados e cacheados estavam salpicados de mechas pratas e o canto dos seus olhos tinham linhas de expressão severas, mas ninguém era capaz de dizer que a mulher havia envelhecido de maneira ruim.

Alguns traços da beleza de antes ainda espreitava sob sua pele.

—Sabe que confio na sua palavra.—Conway olhou de Thisbe até Clyne.—Na de vocês duas. Caso contrário, não estariam aqui. Entretanto, quero que entenda que eu não poderia sair do meu comportamento de costume do nada.

—Conway tem razão. Isso não põe somente a vida dele em perigo, mas a da criança também.—Clyne acrescentou.

—Criança que não é mais uma criança.—Thisbe andou de um lado para o outro. —Não somos os únicos que procuramos por ela. Um humano que uma hora ou outra terá a magia despertada dentro de si. Sabemos como é difícil conter o poder quando somos pequenos; uma pessoa que teve isso reprimido dentro de si por quase vinte anos conseguiria? Talvez estejamos desatentos.

Conway apertou uma nota aleatória no piano e Clyne passou o indicador pelos lábios, pensativa.

—Quais foram os argumentos de Raina, Rexta e o pai de Athlin mesmo para esse Sacrifício fora de época?

—As ameaças que o Continente Sombrio pode trazer para nós. A criação de exército humano que seja predisposto à Conversão.— a voz do Senhor Safira era monótona.

—Conversão essa que seria capaz de matar um de nós se fôssemos submetidos a isso. Por causa da sobrecarga da magia.—Thisbe parou de andar virando de olhos arregalados para a Senhora dos Bosques, compreendendo o raciocínio.

—O diagnóstico da Conversão poderia muito bem dar positivo para alguém que já tem magia, porque, vendo por esse lado, o indivíduo suporta a magia. O exame não mede se a pessoa possui, mas se ela pode ter.

Foi a vez de Conway arregalar os olhos:

—E então, se minha criança fosse uma Escolhida, viesse para cá...

—Tomasse as pequenas doses que estão sendo oferecidas de maneira camuflada...—a Matriarca Bronze continuou.

—Ela poderia entrar em colapso e nós nunca desconfiaríamos porque poderia ser explicado como uma baixa taxa para a Conversão.

O Governante Safira respirou fundo:

—No momento que dissemos que não faríamos parte disso, entregamos as cartas nas mãos deles. Todos os resultados de exames foram para eles. Todos os Escolhidos foram selecionados por eles.

—Precisamos voltar para o jogo.—Clyne disse.—Mas ainda temos o problema que há muitos jovens dessa faixa etária em Excelsior, sem ser os vinte Escolhidos por Rexta e seu pessoal. Há também a possibilidade de que ela não esteja aqui.

Thisbe negou com a cabeça:

—A criança já está aqui. Ela passou pela fronteira.

Não esperaram nem dois dias para cortarem a água quente.

Corinna acordou com as luzes automáticas sendo ligadas.

—Café da manhã.—uma voz ríspida cantarolou ao passar na cama dos Escolhidos restantes naquele Galpão e lançar no chão a bandeja. Com pão e água.

Um recado claro:

Se vocês não despertaram interesse em nós, não merecem a nossa atenção.

Ainda que teoricamente Corinna tivesse recusado as ofertas.

Puxando a bandeja para seu colo, a menina se ajeitou na cama.

O pão era duro, mas nada com que a Escolhida não já estivesse acostumada em casa.

Foi devorado em um instante.

O copo de água esfriou a mão dela quando levou o objeto até próximo dos lábios e então o afastou antes de beber.

O deorum que trouxe a refeição já tinha se retirado e o único som que pairava no local era dos goles de água e a mordida crocante no pão.

Corinna se levantou, ainda com o copo na mão, e caminhou em direção ao banheiro.

Escolheu a cabine mais escondida e jogou o conteúdo do copo fora. Abriu o chuveiro e esperou que ele enchesse o recipiente para então tomar goles rápidos, mas satisfatórios.

A água estava congelante, entretanto Corinna obrigou-se a se despir.

Com um pouco de coragem deixou que água a despertasse verdadeiramente e limpasse seu raciocínio.

Não sabia quanto tempo ficaria ali naquele Galpão. O Sacrifício não tinha uma data de término definida.

Precisava escolher seu próximo passo, traçar um plano...Mas ali, ela não tinha seus aliados. Estava sozinha.

Só ela e aquela água que corria pelo seu corpo incessantemente.

Corinna não sabia dizer quantos minutos tinha ficado embaixo do chuveiro.

Duas mortes.

Ela tinha presenciado duas mortes até agora.

Os dois Escolhidos que tinham passado os últimos dias no Galpão junto com a Escolhida de Fortuna.

Não tinha trocado uma palavra com eles. Não sabia seus nomes, ninguém tinha se incomodado em responder quando ela perguntou.

Ambos eram do vilarejo Gaia. Uma garota com no máximo dezesseis anos e um garoto com dezoito.

Nenhum dos dois chegavam à altura dos oponentes. Nenhum dos dois teve quem chorasse ou olhasse por eles na hora da morte.

Corinna rezou silenciosamente quando a menina foi asfixiada sem piedade com um pedaço de tecido. Rezou silenciosamente quando a lâmina cortou do umbigo até o tórax do menino.

Que eles encontrassem alívio ao passarem no Portão da Morte. Que eles encontrassem paz quando ao deitarem no leito dos Céus.

Porque a justiça... essa Corinna traria com as próprias mãos nem que aquilo levasse o seu último fôlego.

O Galpão era todo dela agora. Não que fosse um lugar do qual alguém pudesse se orgulhar de ter só para si.

Às vezes, Laeni aparecia para um jogo de cartas que a Escolhida sempre perdia, Fearis vinha trançar seu cabelo e cochichar novidades sobre sua gravidez ou até mesmo Marjorie vinha tentar convencê-la a aceitar a oferta do Governante da Ordem Esmeralda.

Porém, tudo isso era uma parte insignificante das longas horas que se passavam todo dia. Era como uma prisão.

Corinna fazia a segunda série dos exercícios—que ela vira Kallien praticando quando eles ainda estavam em Fortuna — no momento em que ouviu a porta sendo aberta.

A menina parou o movimento no meio, seu abdômen doendo pela posição até o momento em que ela levantou:

—Quem está aí?

—Eu.

A menina revirou os olhos reconhecendo a voz. Corinna passou a manta no suor que escorria em sua testa enquanto os passos se aproximavam.

Theodor fungou duas vezes.

—Isso aqui está deprimente.

A garota lançou um olhar incrédulo para um ponto vazio na parede antes de encará-lo.

—O senhor deveria procurar lugares mais requintados para visitar.

Uma risada baixa.

—Só vim pegar algo de Conall.— a Escolhida o observou caminhar examinando as camas até parar na que tinha pertencido ao aliado. O rapaz se abaixou rapidamente e pegou uma minúscula bolsa de couro que nem mesmo Corinna tinha percebido que estava ali.

Theo franziu a testa para algo próximo aos pés da menina.

—Colecionando copos?— de fato havia uma fileira dos copos de metal que os deorum responsáveis por trazer os alimentos deixavam.

A garota deu de ombros.

—Ninguém se incomodou em pedir para eu devolvê-los.

—Justo.—o Governante da Ordem Ônix se virou para ir embora, mas então parou.—Sabe que está muito perto de você ser desafiada, não sabe?

Corinna sabia. Sabia tão bem quanto sabia a cor de seus olhos e de seu cabelo. Sabia cada vez que era chamada para assistir um dos combates. Cada vez que se sentava naquela arquibancada e assistia.

Sabia que muito em breve ela seria o show, não mais a espectadora.

Theodor a encarava novamente. Não precisava que ela respondesse, então continuou:

—Então... por quê?

A Escolhida levantou o olhar para encontrar o do deorum. Os pontos dourados em sua íris, mais abundantes do que o usual.

—Por que o quê?

—Por que prefere fazer isso sozinha?

Corinna inclinou a cabeça e deu um passo na direção do rapaz.

—Isso fere tanto o seu orgulho?

O Senhor Ônix soltou um riso e fez um gesto displicente com a mão.

—De maneira alguma. Sério. Eu até entendo você não me escolher como seu Simpatizante, mas Athlin também fez uma oferta, por que não aceitar?

—Por que aceitar?—a menina retrucou rápido.

—Viu o que aconteceu com seus companheiros de...—Theo gesticulou para o cômodo.—...cela. Viu com que rapidez eles caíram.

Corinna ergueu o nariz. Só um pouquinho.

—Desculpa a presunção, mas o resto de otimismo que há em mim me faz pensar que talvez eu não caía tão fácil como eles.

Theodor deu de ombros e também se aproximou um passo.

—Talvez. Contudo, perceba que os dois foram desafiados um atrás do outro. Por que acha que estão demorando para desafiar você?— pela primeira vez, Corinna divagou sobre o assunto. —Por que estão

deixando você aqui embaixo com o mínimo de socialização e alimento? Você pode não cair tão facilmente hoje, senhorita Lestat, mas e daqui a três dias, uma, duas semanas? Os exercícios te darão resistência, porém sem uma refeição decente, você não terá sustentação.

Ele está certo, a mente da garota dizia, O desgraçado está certo.

Como se lesse a compreensão dentro da Escolhida, Theodor ousou sorrir.

—Por que você se importaria?

—Não gosto de ver potencial desperdiçado.—ele ajeitou uma das mangas de sua camisa. —Porém, agora, os fatores não estão muito ao seu favor.

Corinna respirou fundo pronta para andar de volta para sua cama.

—Eles nunca estiveram ao meu favor, de qualquer forma. Mas eu ainda estou aqui, não é?

A garota podia jurar que a voz do deorum estava mais suave quando ele disse:

—Suponho que sim. Então...boa sorte.

A Escolhida não ouviu os passos de Theodor, entretanto, quando olhou para trás, ele já tinha desaparecido.

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Notas finais do capítulo

HEY JÁ CONFERIRAM O CAPÍTULO "MAPAS" ADICIONADO LÁ NO INÍCIO DA HISTÓRIA? se quiserem dar uma olhadinha da disposição das Ordens e dos Vilarejos, está lá ♥

como vocês estão? o que acharam do capítulo?

deixem seu comentários, opiniões etc...

não se esqueçam de votar/favoritar e indicar para os amigos.

a playlist da história está em construção, mas já está disponível no link : bit.ly/hosplaylist

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