Never Say Never escrita por Drix


Capítulo 43
Love The Way You Lie




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POV Elena

Achei que trazendo Joe pra jantar, Stefan ficaria contente, mas pela despedida meio seca, percebi que não. Ele permaneceu calado durante todo o jantar, balbuciando respostas espaçadas quando Katherine puxava assunto.

Depois, sentamos pra conversar, e ele apenas olhava, quieto, enquanto Joe contava várias histórias da infância dos dois juntos. Pensei que essas lembranças boas o fariam esquecer um pouco a morte do pai, porém, acho que ainda é cedo pra isso. Ele concordava com a cabeça, com um sorriso fraco e distante.

Tentei puxar papo quando Joe foi embora, mas, ele virou as costas me deixando aqui sozinha. Parece que dei um tiro no pé. Queria que ele se sentisse confortável, entre amigos, mas, pelo visto, só consegui afastar ele mais um pouquinho.

Me sinto triste por ele. A culpa que carrega é pesada e estar distante dos amigos agora não vai ser a melhor coisa. Talvez, eu converse com Damon sobre isso. De repente, a amizade deles, o amor que tem um pelo outro consiga tirar Stefan desse estado meio catatônico. Se bem que, Damon parece meio atordoado também, melhor continuar sozinha, mesmo.

POV Katherine

Ainda tô absorvendo tudo que Damon contou no jantar. Por que diabos o pai deles não contou tudo afinal? Eu juro, vou levar uma vida inteira pra entender os motivos desse homem.

A tal carta, foi um imenso pedido de desculpas e explicações. Ele poderia ter simplesmente chamado os filhos pra uma conversa franca e resolvido tudo. O tempo que perdeu escrevendo as duas serviria pra isso. Tanto arrependimento, tanta coisa não dita, tanta mágoa guardada. Não consigo compreender essas coisas.

Meu bebê tão tristinho, tão choroso no meu colo, me contando essas coisas e eu só posso consolar. Queria poder dizer que tudo vai ficar bem, mas, não vai. Essa sensação de tempo perdido vai ficar pra sempre. E agora, tudo vai ficar completamente do avesso com ele tomando conta de tudo.

Bom, pelo menos ele definiu que Stefan fica com Damon. Eu não quero nem imaginar o que seria desse menino dentro daquela casa de loucos. Ainda mais agora que terminou com a Rebekah. Que inferno na vida dele. Aliás...

— Baby, você não achou Stefan calado demais no jantar? Ele parece tão tristinho...

— Acho que ele ainda não absorveu tudo, nem eu, na verdade. Tá tudo muito estranho, muito confuso.

— Eu acho que ele deveria ficar mais uns dias aqui com a gente. Não acho que é o melhor momento pra ele ficar sozinho. - digo preocupada.

— Hoje ele já estava querendo ir pra casa. - ele responde. - De manhã a gente conversa com ele e vê o que ele acha. Agora vamos dormir, amanhã tenho pilhas de documentos pra estudar sobre o funcionamento dessas empresas. Até o final da semana precisa estar em ordem.

Assinto, desligo a luz, e nos ajeitamos pra descansar. Quando achei que tudo estava entrando no eixo, a vida mostra que nada é fácil.

POV Stefan

O dia amanheceu fresco. Olho lá fora e o céu está num azul brilhante de outono. Jogo uma água no rosto, começo a me arrumar e ouço vozes fora do quarto. Dou uma enroladinha pra sair, olho o celular, leio algumas mensagens de domingo, dou uma espiada nas redes sociais e sinto meu estômago roncando. É hora de ir. Dou bom dia e sou recebido calorosamente. É estranho ter uma família de novo.

— Dormiu bem, querido? - Kath pergunta, esticando uma xícara de café fresco.

— Uhum – respondo dando um gole no café, tentando esconder a real resposta. A noite foi uma merda. Fiquei remoendo tudo que aconteceu nos últimos dias e me convencendo que preciso esquecer o que sinto por Elena.

— Você vai ficar por aqui, essa semana, não é?! - Ela pergunta, praticamente certa que a resposta vai ser positiva. Mas eu não quero. Quero voltar pra minha casa.

— Não, não pensei nisso. Minhas coisas estão todas em casa... - digo, sendo interrompido.

— Você pode pegar algumas coisas.

— Pra dormir no sofá? - respondo, sendo rude, mas, não foi intencional. Percebo quando ela me olha assustada. - Desculpe, é que...

— Não, você tem razão. Nós não temos quarto de hóspedes. - ela responde de um jeito seco e me sinto mal. - Mas podemos reformar o quarto e você vem morar aqui, pra não ficar sozinho lá.

Me assusto com a ideia. Não, não mesmo. Eu estou muito acostumado a ficar sozinho. Meu apartamento enorme, espaçoso, bem localizado. Nossa, como estou sendo esnobe. Ainda bem que não verbalizei.

— Kath, hmmm... - Damon resolve dizer algo. - Deixa ele decidir o que ele quer. Se quiser ficar, será bem vindo, senão, tudo bem, também.

Eu encho a boca com cereal pra me dar tempo de decidir o que responder. Eu não quero vir pra cá, eu não quero ter que ver Elena todos os dias, 24h por dia. Já basta ter que vê-la no colégio, depois da aula no abrigo. Chega, tá bom.

— Hum... Minhas coisas estão todas no apartamento, e eu não vou estar sozinho, tem John, Anna e George lá comigo, sempre. - decido a resposta. Ela não se convence muito e olha pro meu irmão pedindo reforço. Acho graça. - Eu vou ficar bem, prometo. - sorrio e ela concorda.

— Muito bem, anda logo, vocês vão se atrasar! - ela diz, olhando pra mim e Elena, tirando as coisas da nossa frente.

Me dou conta que vou pra escola com ela e não sei nem o que dizer. Não quero entrar em nenhum assunto que vá me aborrecer. Na verdade, não quero entrar em nenhum assunto, apenas não quero estar do lado dela, pensando que não posso beijá-la de novo. Isso parece um castigo.

Descemos, os quatro, e vamos juntos até o metrô. Não falo muito, Kath e Elena vão conversando sobre uma exposição e Damon olhando o jornal enquanto caminha. Assim que nos separamos, me sinto constrangido, mas, não puxo assunto.

— Eu soube que você tá aprendendo a dirigir. - ela diz, sorrindo. Olho de lado, meu coração dispara ao olhar pra ela. Que merda, eu não vou superar isso nunca.

— É, George tem me ensinado. - respondo, sem me estender.

— Papai estava me ensinando antes do acidente. Damon quer que eu volte às aulas, mas, me sinto mal com a ideia. - ela abaixa a cabeça e percebo sua dor. Sinto um impulso em abraçá-la, mas, evito. Deixo o assunto morrer de novo.

— Sentiram sua falta ontem, no abrigo. - ela tenta de novo. Sorrio e respondo.

— Eu preciso ir hoje, senão perco minha vaga.

— Eu avisei que seu pai... Bom, eu disse que você não podia aparecer. - ela para e me olha, de um jeito preocupado.

— Tudo bem, obrigado. - estamos a alguns passos da escola e eu não tenho assunto, ela não tenta de novo.

Entramos e seguimos pro ginásio das piscinas. Troco de roupa rápido, me aqueço correndo e me jogo na água depressa, antes dela aparecer. Tem sido assim há dias, talvez eu devesse escolher outro horário pra nadar. Vou pensar nisso.

O dia segue normal, durante as aulas, até a hora do almoço. Quando vou guardar minhas coisas no armário, uma das amigas da Rebekah aparece me chamando e me abraçando, oferecendo condolências. Assim que ela se afasta, outra aparece, me agarrando e sussurrando no meu ouvido que sente muito.

Eu me desvencilho dela, chamando Lexi pra conversar, e mais uma menina me para, segurando meu braço e se pendurando no meu pescoço. Olho confuso toda essa atenção. Elena guarda as coisas dela no armário, observando o movimento delas.

Lexi se aproxima enxotando outras duas de perto, que acenam pra mim, com cara de pena, e um sorriso safado.

— O que tá acontecendo? - pergunto.

— O capitão do time está solteiro. A notícia deve ter espalhado. - ela responde.

— Hum... Você contou alguma coisa? - questiono pra entender como elas souberam.

— Eu não, mas, no último jogo você e Rebekah não se olharam, elas devem ter visto.

Puxo ela pra um canto, longe dos armários. - Preciso te contar uma coisa.

— Fala.

— Aqui não, vamos pro jardim?

— Eu preciso comer, Stefan. Pelo menos pegar algo e a gente vai, pode ser?

Assinto. Vamos pro refeitório e mais duas ou três meninas vêm me abraçar e me confortar pela morte do meu pai. Nenhum abraço foi ingênuo, todas me alisaram, se esfregaram ou sussurraram alguma safadeza no meu ouvido. Eu não sei o que passa na cabeça delas, mas, isso é bem louco. É como se todas tivessem uma necessidade de me confortar. É bem estranho.

Sento na grama com Lexi e conto o episódio Caroline. Esperando a reprovação.

— Mas... - ela me olha confusa – e Elena, você não tava apaixonado?

— Estou, mas... - pauso, tentando concluir meus pensamentos - Me dei conta que ela só tava me usando pra atingir Rebekah.

— Ela não fez isso, Stef, de onde você tirou essa ideia?

— Bom, ela agora vive com o Joe pendurado no pescoço dela, e... esquece, eu não quero falar disso. Caroline, quero falar dela.

— Por quê?

— Ora, porque eu acabei de te contar, depois do funeral do meu pai... Você tava me ouvindo?

— Sim, e o que tem? De acordo com vários estudos muita gente usa sexo pra esquecer dos problemas, você não é especial por isso. - ela me responde como se me agulhasse com arrogância.

— Hum... Acho que vou ligar pra ela de novo.

— Vai contar pra ela que você é pelo menos uns 3 anos mais novo que ela?

— É claro que não, ela não precisa saber disso. Não corta minha onda.

— Então, por que você tá me contando?

— Porque você é minha amiga, ué. E eu precisava dividir isso com alguém.

— Você podia conversar isso com o Joe.

— Não, ele não! - por motivos óbvios, eu não quero falar isso pra ele.

Ela faz uma careta e me fala sobre pessoas que superam o luto usando sexo. Eu me lembro do livro, “O Estrangeiro”, onde o protagonista foi condenado por transar no dia seguinte da morte da mãe. Ela continua dizendo que é normal agir assim, apesar de condenável pela sociedade, já que sexo é uma forma de buscar se sentir vivo perante a morte e divaga sobre o assunto.

Na verdade, foi bem assim que me senti. Vivo. E estar com a Caroline me fez esquecer várias coisas que tem me chateado. No fundo, eu gosto de conversar com Lexi justamente por toda essa vibe de psicóloga que ela tem. Ela me entende melhor que eu, e, muitas vezes parece muito mais velha, cheia de conselhos, e isso me acalma.

— Quando a morte de alguém querido nos esmaga, pode ser a melhor forma de consolação e resignação.– ela diz, com tanta sabedoria que me sinto melhor.

O peso na consciência diminuiu, mas a dor da perda não passou ainda. A lembrança da discussão, do meu pai caindo, do hospital. Isso tudo é tão nítido na minha mente que o ar me falta. Pra completar, a imagem de Joe e Elena insiste em voltar sem permissão me deixando melancólico.

POV Elena

As coisas estão bem estranhas, não sei como me aproximar de Stefan. Tentei duas vezes e o assunto não desenvolveu, acabei desistindo. Não sei se ainda está chateado comigo ou triste pela perda do pai. Não fala nada nas aulas, as brincadeiras cessaram, e me sinto à deriva tentando alcançá-lo sem sucesso.

Ele parece tão distante de tudo, alheio ao redor. Não brinca mais durante as aulas, e talvez isso seja normal, já que tem pouco mais de dois dias. Eu queria que ele conversasse, dissesse algo. Queria saber se ele ainda está se culpando pelo que aconteceu, mas, ele se mantém num mundo a parte, distante de mim, e isso é bastante desagradável.

Pra completar, notei a aproximação de várias garotas hoje, e isso me incomodou muito. Todas elas agarrando ele, como se fosse um pedaço de salame exposto. Que falta de sensibilidade se oferecer assim, justo agora que ele está de luto.

Observei de longe e o vi chamando Lexi pra conversar no almoço e apesar de ir pro refeitório sozinha, achei bom ele querer conversar com alguém. Mandei mensagem pro Joe nos encontrar no abrigo, quem sabe ele se sente mais à vontade na presença do melhor amigo.

POV Stefan

Recebi mais alguns abraços femininos acalorados durante o dia, na hora do treino, na saída. As meninas da torcida quase me esmagaram num abraço coletivo, e algumas outras meninas de outras atividades também vieram me cumprimentar. Eu deveria ficar contente com o sucesso repentino, mas, tô incomodado mesmo. A cada aproximação é o retorno da lembrança do meu pai caído no chão. E isso não me faz nada bem.

Corro pro abrigo depois da aula, ajudo nas tarefas pra sair logo e não ver Elena desfilando com Joe. Porém, não dá muito certo. Ele chega mais cedo e percebo a intimidade dos dois, enquanto arrumamos as coisas. Joe se aproxima pra ajudar e a cada piada que ele faz e Elena ri, eu sinto uma rachadura abrindo no meu coração. Eu realmente preciso esquecer o que sinto por ela, porque, pelo visto, ela nunca sentiu nada por mim.

Termino tudo logo e me despeço dos dois, saindo o mais rápido possível, sem olhar pra trás. George veio me buscar e já estamos no caminho de casa, pra minha aula de direção. Aviso meu irmão que vou pra casa hoje, ele não retruca.

O tempo passa rápido até. Chego em casa, tomo um banho e percebo que ainda está cedo. Meu pai estaria lendo o jornal, aguardando Anna terminar o jantar, e meu peito aperta. Olho pro escritório apagado e me sinto igual. Vazio e sem vida. Decido me distrair. Pego o celular e mando mensagem pra Caroline. Ela responde logo em seguida, me perguntando como estou.

Trocamos meia duzia de palavras, ela diz pra eu ir lá, aproveitar o banho relaxante que ela tá preparando. Olho a hora, mas, que se dane, não tem ninguém aqui que eu precise dar satisfação. Não tenho intenção de dormir lá, venho pra casa dormir porque amanhã tem aula, e aviso a ela, que não se incomoda. Ótimo! Peço pra George me levar.

No caminho, penso como isso parece divertido. Sexo casual, como nos filmes. Sorrio da minha ideia, me sinto tão adulto.

— Ela é linda e divertida. - digo pra ele, como se tivesse me justificando. Ele sorri.

— Imagino que seja, senhor.

— Não me chama de senhor, eu sou mais novo que você! O quê, uns 5 anos?

— Pelos menos 10, sen... Stefan. - olho assustado, volto pra realidade, não tenho nem 17 ainda.

— Sério? Achei que fosse menos. Pois então, mais estranho ainda. - digo, rindo. Chegamos rápido. Pela hora, sem trânsito. Ele pergunta se quero que espere, e fico em dúvida. - Não, melhor não. Vai pra casa, eu pego um táxi na volta. - e confiro se estou com a carteira dessa vez.

Ele acena com a cabeça e antes que eu feche a porta, ele me chama.

— Senho... Stefan. Eu me sinto na obrigação de perguntar, me desculpe a intromissão, mas, você está usando preservativo? - eu sorrio sem graça e confirmo que sim. Acho que as pessoas me veem como alguma espécie de idiota deslumbrado, Lexi perguntou a mesma coisa, de novo.

Subo de escada, pra não correr o risco de encontrar meu irmão ou Katherine chegando fora do horário. Caroline me aguarda, vestida, ou melhor, praticamente despida, no mesmo hobby de seda, transparente, com um sorriso largo e uma taça de vinho.

Dessa vez eu não enrolo nem perco tempo. Entro, segurando-a pela cintura e a beijando. Meu objetivo nessa visita é claro, e ela parece ciente e satisfeita com isso. Eu venho aqui atrás de sexo, e, ambas as partes de acordo, é isso que acontece.

* * *

Durante a semana, repeti essa visita mais duas vezes. Quinta e sexta, depois de esbarrar com Joe e Elena contentes, na saída do abrigo. Eu tento fugir de vê-los juntos, mas, parece que eles fazem questão que eu veja. Consegui desviar na quarta, e na quinta, lá estava ele, chegando mais cedo, vindo falar comigo, querendo saber como eu estou.

Estou mal, cara! Sou apaixonado pela garota que você tá namorando e não suporto ver vocês dois juntos. É o que quero responder, mas, não posso. Só queria não ter que lidar com isso agora. Eu nem consigo viver o luto direito. Um monte de gente me lembrando a toda hora, e junto, essa dor de ter sido enganado pela garota que eu gosto, tudo isso é martirizante.

Ela parece feliz com ele e isso tá me consumindo de um jeito que não sei lidar. Por outro lado, Caroline tem sido uma deliciosa distração das coisas que estão me perturbando no momento. Basta ela abrir a porta que minha mente muda o foco.

Contudo, é difícil esquecer alguém que está presente o tempo inteiro. Passamos praticamente a metade de um dia juntos, a semana toda. É torturante. É como se eu tentasse respirar ar puro dentro de uma redoma de vidro. Eu olho pro lado e lá está ela, sendo incrível e me lembrando o tempo todo que não posso tê-la.

Hoje, depois do jogo, Andy veio nos chamar pra uma festa que o irmão está dando. Confirmo minha presença, preciso ver gente diferente. Fora que, minha primeira festa sem estar namorando. Nunca vivi essa experiência, afinal. Na realidade, estou solteiro, mas, totalmente apaixonado por alguém que não posso chamar de minha. E isso está me dilacerando. Mesmo me sentindo assim, perdido, talvez seja bom, pareceu uma boa ideia pra relaxar a cabeça.




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