Never Say Never escrita por Drix


Capítulo 4
Keep Holding




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POV Katherine

Após duas taças me sinto menos estressada e mais confiante pra ter essa conversa séria com minha irmã. Coloco a lasanha pra esquentar e verifico se ela já saiu do banho.

Entro no quarto e vejo que continua a mesma coisa. As prateleiras cheias de livros, a estante bagunçada com as lições de casa, e os bichinhos de pelúcia embaixo da janela. A cama desarrumada, ainda de ontem. Não tivemos tempo de nada essa manhã.

Ela sai do banheiro secando o cabelo e me olha com um sorriso fraco. Retribuo.

— Lena, querida, precisamos conversar sobre o que o advogado falou.

— Precisa ser agora? Eu só quero dormir. Tô tão cansada de chorar. - meu coração sangra com essa afirmação.

— Sim, eu marquei com ele amanhã cedo, e antes disso, preciso te contar o que ele me disse... bom, mais ou menos.

Ela me olha confusa, se senta na cama, me sento de frente pra ela. Explico sobre tutela e o que possivelmente ele vai falar.

— Então, como eu sou mais velha, terei que cuidar de você nesse último ano. Mas, eu não posso voltar pra cá, não agora. - respiro fundo. Ela pousa a mão na minha perna e me responde tão segura que até me assusto.

— Eu vou com você pra NYC. Não tem nada que me prenda aqui! Essa casa, essa cidade toda, são lembranças de que nossos pais não estão mais conosco. Lá, eu tenho você! Será difícil encontrar um colégio nesse último ano?

Jeez! Quando foi que minha irmãzinha cresceu e eu não notei? Tão madura que me desestruturou. Olho pra ela até sem saber o que dizer.

— Bom, acredito que não. Mas, amor, seus amigos todos estão aqui, você não sente que está tomando uma decisão, tão importante, rápido demais?

— Kath, eu tô me preparando pra ir pra faculdade. A separação vai vir. Além do mais, minha única amiga de verdade é a Bonnie, as outras pessoas são apenas conhecidas. Eu não sou como você, sociável e agradável. Eu prefiro meus livros a pessoas.

Eu sorrio e a abraço. Foi mais fácil do que eu imaginei. Nem precisava ter bebido pra isso.

— Então, está decidido. Amanhã, depois que o advogado vier, nós decidimos o que fazer com os imóveis e os bens, e em seguida eu começo a buscar um colégio pra você estudar perto de casa. Termina de se arrumar, e vamos jantar? Não quero que você durma sem comer, a lasanha está no forno.

Ela concorda com a cabeça e desço. Preciso contar pra Damon essa conversa. Eu estava tão tensa.

— No Upper East Side não tem tantos colégios, baby. - ele me responde, convicto. - Se ela não for aceita por perto, vai precisar sair da redondeza.

— Mas eu não vou mesmo deixar minha irmã, criada no interior, andando NYC sozinha. Sem nenhuma chance disso acontecer!

— Kath, honey, você está sendo protetora demais. Tem uma estação de metrô do lado do nosso prédio, ela vai saber se virar. Além do mais temos uns 3 meses pras aulas recomeçarem.

— Eu quero ela perto de casa, ela é uma criança, Damon. Além disso, quero que ela entre num preparatório pra Ivy! Ela vai ser aceita, e mais, eu tenho certeza que o nome Gilbert ainda abre algumas portas.

— Eu não vou discutir, porque essa briga tá ganha. Se é assim com sua irmã, fico imaginando com nossos filhos.

— É a primeira vez que você fala isso. - Sorrio, emocionada. É claro que seria uma consequência, já que ele me pediu em casamento, mas, nunca conversamos sobre esses planos antes, vivemos focados na carreira, que não passa mesmo na nossa cabeça agora.

— Bom, um dia teremos, certo? Nunca falamos de nossos, mas já conversamos sobre essa vontade. - ele me abraça, e me sinto tão acolhida. Um dia também terei minha família de comercial de margarina. A lágrima escorre sem culpa. - Hey, não chora. Vai passar. - Ele afaga meu cabelo, me aconchegando no peito dele.

Elena desce após alguns minutos e paramos pra jantar, tentamos falar sobre as opções dos colégios, e ela parece aceitar tudo muito automaticamente. Deixo pra lá. Assim como eu, não está com cabeça pra isso agora. Ficamos em silêncio o restante do jantar. Ela me ajuda a tirar a louça e vai se deitar.

Sento com Damon no sofá, ainda está cedo. Ele liga a TV zapeando algum programa.

— Será que.. não deixa. - começo e desisto.

— Fala, baby.

— Eu pensei, em de repente, quando voltarmos, chamarmos seu irmão pra uma visita. Eles são da mesma idade, ele conhece tudo por lá, é um garoto tão incrível, seria bom pra ela.

— Meu pai não vai gostar nada disso, você sabe. Ele acha que sou má influência. Você lembra que da última vez que nos falamos, Giuseppe pegou e colocou seguranças na cola de Stefan.

— Por que ele faz isso, Damon? Que relação mais doentia. - eu realmente não entendo.

— Bom... Acho que agora mais que nunca, ele acha que vou influenciar Stefan. Ele sempre disse que sou um idealista, como minha mãe. No último ano de colégio, deve ter uma guarda armada seguindo ele pra todos os cantos.

— Ele tem razão. Você é um idealista! E é isso que eu mais amo em você. - me aproximo e dou-lhe um beijo na bochecha.

— Mas, eu posso tentar. Ele não precisa ir em casa, mas, um encontro no Central Park, sem querer. - ele diz, piscando e rindo. - Faz tempo que não vejo meu caçula. Tô mesmo com saudade.

Encosto a cabeça do seu ombro e é a última coisa que me lembro.

Acordo no meu antigo quarto, sozinha. O dia está claro, e pisco algumas vezes tentando me ambientar. Meu coração bate mais forte com a possibilidade de ter sido tudo um pesadelo. Me belisco e percebo que não.

A porta abre e Damon entra, sorrindo.

— Bom dia, vim te acordar. Daqui a pouco o advogado chega. - Ele me dá um beijo na testa, e está com cheiro de bacon. Respondo o bom dia e vou até o banheiro.

Desço e estão os dois, ele e Elena, conversando na mesa da cozinha. Ela parece melhor do que quando foi dormir. Vou até ela e a abraço.

— Estávamos te aguardando. Damon fez panquecas, ovos e bacon. - Ela sorri, bebericando uma xícara de café.

Quero perguntar como se sente, só que eu sei como se sente. Está tentando seguir a vida, mas, é claro, estamos destruídas.

— Como eu fui pra cama? - questiono curiosa, não me lembro de ter subido.

— Eu te levei, você apagou no sofá. - ele responde, me servindo umas panquecas. Pego o garfo no automático e começo a comer.

A campainha toca, ainda estou de pijama. Nem lembro de ter trocado de roupa, obviamente, foi ele que fez isso também. Dou uma última garfada e subo correndo pra me vestir, enquanto ele vai até a porta.

Desço bem rápido, afinal, eu marquei o horário e odeio não ser pontual. Damon está conversando com o advogado sobre coisas jurídicas quando eu chego.

— Bom dia, sr. Callahan. - estico a mão pra ele, que se levanta pra me cumprimentar.

— Bom dia, senhorita Gilbert. Por acaso temos uma mesa, onde eu possa apoiar os documentos? E, é bom que a menina esteja presente, vamos fazer a leitura do testamento.

Me sinto congelar. É claro que eu sabia, mas, essas palavras caem sobre mim como uma tortura.

— Vou chamar, ela está na cozinha. - Damon fala, passando a mão no meu ombro.

Aponto a mesa de jantar e peço que ele se sente, Elena chega e peço que se sente ao meu lado. Damon se posiciona atrás de mim, em pé, com as mãos no meu ombro, e a leitura começa.

Esse é um momento que eu não queria que chegasse nunca. Eu queria meus pais vivos pra sempre.

Após ele informar os desejos dos meus pais, todos os bens deixados e as questões burocráticas a serem resolvidas, como a clínica e o ateliê da mamãe, começa a falar da tutela de Elena. Estranhamente papai pensou em tudo.

— Seu pai deixou duas opções. Como maior de idade, você pode ser tutora legal da sua irmã, até ela completar 18 anos. Porém, isso é uma escolha sua. Ele deixou a opção em aberto. Sua mãe tem uma prima em Boston, e ela é a uma opção.

— Não, nem pensar! Minha irmã fica comigo! - nem espero que termine, euhein, não há outra opção e fim. Ele continua mesmo assim, como se não tivesse me escutado.

— E, a segunda opção, seu tio John, irmão do seu pai.

— Doutor Callahan, acho que vou repetir, caso o senhor não tenha ouvido. - digo sorrindo – Não existe OUTRA opção. Elena fica comigo. Já conversamos sobre isso. Já sei até onde ela vai estudar.

— Muito bem, isso é mais um tópico. Para o caso de você querer a tutela, seus pais deixaram um fundo especial para os estudos da sua irmã em NYC. Além do da faculdade, obviamente. Caso houvesse alguma situação como essa, em que ela precisasse mudar de colégio no meio do período letivo. Apenas colégios particulares aceitam transferências.

— Ah é?! Eu não sabia disso. - Olho pra Elena e Damon, surpresa.

— Naturalmente, um dia a senhorita saberia, quando tivesse seus próprios filhos. - ele me responde gentil.

— Todas essas recomendações, é como se eles soubessem. - Elena diz, pensativa. Eu concordo. Tudo isso está me dando medo. Peço que o advogado continue. Quero terminar logo isso. Tudo nessa casa me lembra a perda, e vejo que Elena sente o mesmo.

Concluindo, assinamos e ele vai dar entrada em todas as coisas. Damon faz uma revisão, e diz que está tudo certo. Não somos milionários, mas papai e mamãe acumularam alguns bens durante a vida. A casa do lago, essa casa... Teremos uma situação confortável, talvez, pro resto da vida, se soubermos administrar. 

O advogado vai embora e Elena me pergunta.

— O que faremos com essa casa?

— Eu não sei, não quero vender, o que você acha?

— Acho que podemos fechar e quando estivermos mais calmas, decidimos.

— Certo. - Concordo. Quando minha irmã ficou tão sensata? Quanto tempo se passou desde que eu fui embora? Ela amadureceu tanto e eu nem percebi. Nossas conversas são sempre coisas bobas, meninos, escola, a revista. De repente, ela é essa pessoa mais segura e decidida que eu. Apesar de tudo, me sinto orgulhosa. Meus pais fizeram mesmo um bom trabalho.

— Kath... Sobre o colégio... Você disse que decidiu, eu posso ver? É estranho pra mim, mudar assim. Afinal, estudei a vida toda lá. - ela diz, pesarosa.

— Claro, docinho. Vem cá. - Pego sua mão e vamos pro seu quarto, quero mostrar tudo. Abro o site e começo a falar. - Eu pensei em duas opções. O Hunter e o Dalton que tem o ranking mais alto. Ambos são preparatórios pra Ivy League, e o ensino é de excelência. Você vai precisar fazer uma prova de adequação, mas com sua média, isso vai ser moleza. - falo empolgada. Ela passa o dedo no mouse olhando. - Como o advogado agora falou que colégios públicos não aceitam transferências, sobrou esse, o Dalton. É praticamente do lado de casa, e as instalações são incríveis. A biblioteca é maravilhosa e tem uma equipe de natação. Você vai poder continuar praticando.

Dou uma pausa, deixando que ela absorva toda a informação e continuo. Abro o mapa, pra mostrar.

— O apartamento do Damon é aqui. E aqui pertinho é o colégio. - aponto no mapa. Ele, parado na porta do quarto, me corrige.

— Nosso apartamento. - Sorrio pra ele e reforço.

— Nosso apartamento. Tem bastante espaço, e você vai poder ficar bem à vontade. Vai ter um quarto só pra você e tem até uma varanda. - conto animada. Os planos era que ela fosse mesmo morar comigo, daqui um ano. Columbia é muito perto, e ela teria toda liberdade na nossa casa.

— Parece bom. - ela responde e sorri tímida. - Quando vamos?

— Eu... - olho pra Damon, não compramos passagem de volta. - Quando você quiser! - respondo.

— Acho que precisamos nos apressar, preciso saber o que tem que fazer pra passar nessa prova, nunca fiz isso antes.

— Lena, querida, você vai ter tempo pra pensar nisso. - Digo preocupada. Percebo que ela está se distraindo do luto.

— Não quero ficar mais aqui, Kath. Tudo me lembra eles. Eu quero ir embora. Quero recomeçar, longe daqui. Eles não vão voltar, e aqui só tem lembranças de como fomos felizes. Eu tô triste, muito triste, e eu não quero ficar triste pra sempre.

A envolvo num abraço, e afago seus cabelos. Queria poder tirar essa dor do peito dela, mas, não sei nem como tirar a minha.


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