Never Say Never escrita por Drix


Capítulo 3
Just Breathe


Notas iniciais do capítulo

calma, gente, ainda temos uns capítulos densos pela frente, mas eu juro que tudo é importante! ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/735220/chapter/3

POV Elena

No momento que Kath chegou no hospital, senti meu corpo relaxar. Ela estava aqui, tudo ia ficar bem, eu tinha esperança. Senti sua voz vacilar quando me perguntou se tinham dito algo.

Fiquei feliz que Damon tenha vindo também. Eles se amam tanto, é tão bonito. Quero um dia encontrar um amor assim. Ele é tão gentil com ela, papai adora ele. Ele me abraça como um irmão mais velho, e eu o vejo assim mesmo.

Kath estava pálida, e ainda assim se preocupando comigo. Nos sentamos e Damon resolveu levar as coisas deles pra casa e falou de alugar um carro. Lembrei que fui com a Bonnie e o carro da mamãe estava na garagem. E entreguei as chaves de casa pra ele.

O tempo passou e um médico apareceu com notícias. Eu tentei me concentrar nos termos técnicos, afinal, quero fazer medicina, mas, minha cabeça não permitiu, só sabia que o quadro não era nada bom. Senti minhas mãos gelarem.

Mais algumas horas se passaram, Damon voltou com almoço, saiu de novo, e nada de notícias. Percebi Kath nervosa. Ela começou a puxar assunto pra me distrair. Aceitei. Fazia um tempo que não conversávamos por causa da sua promoção e seu noivado, que queria mesmo contar as coisas pra ela.

Ela me perguntou de Tommy, então, comecei a contar que ele deu um ataque quando eu disse que ia visitá-la em New York, que achei melhor terminar logo antes de aparecer nas manchetes dos jornais. “Namorado ciumento ataca namorada”. Ele já vinha dando uns sinais estranhos, reclamando da minha roupa, dos meus amigos da sala, até com a Bonnie ele criou caso. Dei um basta. Contei das faculdades também. Tenho planos de ser aceita em Columbia, ficarei perto dela e poderemos nos ver mais vezes. Ela também ficou feliz, eu sei que ela queria que eu passasse pra lá também.

Percebi seus olhos acompanhando outra coisa. Olhei em volta e parecia um carnaval. Várias pessoas andando apressadas. Senti meu coração querer sair de dentro do peito. Aquela angústia que senti de manhã voltou com força. Katherine levantou e começou a perguntar o que estava havendo. Ninguém respondeu, todos passavam direto. Ela agarrou uma enfermeira, que chamou os seguranças. Me levantei pra ajudar minha irmã, só podiam estar loucos em segurar ela assim. Se o Damon estivesse junto, ia rolar um processo em cima do hospital, certamente.

Ela me olhou assustada e se acalmou. Mas eu não estava aborrecida com ela, e disse. Rimos da situação. Damon retornou e fez uma piadinha. Foi um momento descontraído que durou muito pouco.

O médico se aproximou de novo e senti minha respiração parar. Foram os minutos mais excruciantes da minha vida até agora. Não ouvi nada além de zumbidos. Parecia que o chão estava tremendo embaixo de mim e segurei a mão da minha irmã. Damon a amparou, ainda bem. Bonnie me segurou do outro lado.

Kath me abraçou, e choramos muito.

Estamos aqui, agora, no meio do funeral. Esse é o momento mais excruciante da minha vida. O momento que não vou ver mais meus pais. Que preciso dar adeus.

O reverendo diz coisas bonitas. A cidade toda está presente. Minha irmã está ao meu lado, segurando minha mão. Damon, do lado dela, a apoia. Todos nos cumprimentam. Me sinto anestesiada.

Chorei tanto essas últimas 24horas que acho que sequei. Katherine está com um óculos escuro imenso, escondendo o rosto quase todo, mas posso ver seu rosto ainda molhado por baixo. Talvez, ela se culpe por estar longe, eu não sei. Ela disse umas coisas que me preocuparam. Que deveria estar aqui, que precisa estar mais presente.

Não podíamos fazer nada afinal. Ninguém pode prever esses acidentes. É por isso que tem esse nome.

Sairemos daqui pro velório. Pra mim, a parte pior. Quando as pessoas começam a dizer coisas boas, colecionar lembranças. Meus pais eram as melhores pessoas que eu conheço, sem dúvidas, o dia vai ser longo com tantas memórias.

Todos começam a ir embora, ficamos eu e Kath olhando pros caixões sendo guardados. Ela ainda segura minha mão, forte. Damon a solta, ela passa o braço pelo meu ombro.

— Somos só nós agora. - Eu passo a mão pela sua cintura e fico muda. Não sei o que dizer. Éramos a melhor família.

Mamãe sempre tão atenciosa e carinhosa conosco, nos ensinou tanta coisa. Papai sempre tão gentil e prestativo, estava sempre presente. Nos fomos abençoadas em nascer nesta família. Não temos avós e a única pessoa mais próxima é irmão de papai, Tio John, que vive como nômade, viajando pelo mundo. A última notícia que tivemos, ele estava na Tailândia. Não temos sequer um telefone pra falar com ele. Somos mesmo só nós duas agora. E isso parece triste. Mas, pelo menos ainda temos uma a outra, e nossos amigos.

Seguimos pra casa do prefeito que, por conta de papai ser um “representante ilustre” da cidade, ofereceu sua casa pro memorial. Não caberia tanta gente na nossa casa mesmo, e isso é bom. Poderemos apenas ir embora, quando quisermos.

Damon organizou tudo com o prefeito, não tínhamos cabeça pra essa parte técnica. Agradeço aos céus por ele ter vindo. Sem dúvida, minha irmã estaria muito mais arrasada longe dele. É uma ótima pessoa. Não poderia ser diferente, Katherine é a pessoa mais generosa e amável que eu conheço. Só poderia se cercar de pessoas como ela.

Chegamos na mansão Lockwood e quase toda cidade já está aqui. Bonnie me aguarda na porta conversando com Vicki, que me olha com pena. Odeio essa sensação. Vejo alguém sair de dentro da casa em nossa direção. É Mason, irmão do prefeito e ex da minha irmã. Aperto os lábios, olhando pra ela.

Mason cumprimenta Damon e me deixa confusa. Eles se conhecem? Ele abraça Kath bem apertado, e sinto ela fraquejar. Foi o primeiro amor dela, eu era menina, e até cheguei a me apaixonar por esse sorriso torto dele. Eu dizia que ele era meu namorado. Que boba. Eles terminaram quando foram pra faculdade. Eu achava que ficariam juntos pra sempre.

Ele a solta, e se vira pra mim. Sem uma palavra, também me abraça. Achei gentil. Eu gostava muito dele, nunca mais nos vimos depois que terminaram, ele foi pra Califórnia, nem sei porque está aqui agora. Alguém vem se aproximando e ele apresenta, é a namorada, linda, parece modelo. Ainda estou confusa com ele falando com Damon primeiro.

Eles dizem algo sobre processos e então entendi, Damon é seu advogado. Que mundo pequeno. Eles se afastam e continuamos o caminho até a sala.

As pessoas nos cumprimentam e parecemos robôs.

— Eu só quero que isso acabe logo. - Katherine suspira. Eu concordo. - Mais meia hora e a gente vai embora daqui. Preciso de paz. - ela me olha buscando apoio. - Certo?! - afirmo sacudindo a cabeça.

— Eu não queria nem ter vindo pra começo de conversa. - Deixo o pensamento escapar e vejo ela rindo. Me sinto aliviada por não ser repreendida. Mamãe fazia parte dessa sociedade cheia de eventos, Katherine odeia isso, apesar de precisar pro trabalho dela, eu era a esperança do legado. Mas odeio tanto quanto.

Permanecemos juntas, recebendo os cumprimentos. Vez por outra Bonnie e Damon aparecem com algo pra comer e beber, praticamente nos enfiando goela abaixo. Se não fossem os dois, não estaríamos comendo nada. A meia hora se transformou em uma, duas, até que Katherine deu um basta.

— Chega tá bom. Não aguento mais sacudir a cabeça e agradecer. Vamos embora. Todo mundo já teve seu momento, e quem não teve, azar. - ela fala impaciente, porém sorrindo e no tom mais baixo possível, pra não chocar a sociedade. Minha irmã é uma atriz. - Vem, vamos pelos fundos, assim não precisamos dar satisfações.

Sorrio e acompanho. Ela fala com Damon, que segue pra porta da frente pra pegar o carro, e eu informo a Bonnie por mensagem, ela me dá um tchauzinho de longe. Sigo com Katherine pra cozinha. Ela pega uma lasanha dando sopa e sai pela porta, como se nada tivesse acontecendo. Ela pisca e diz – Jantar - Quase morro de rir, mas me controlo.

Entramos no carro tão correndo que quase tropeçamos. Não queríamos ser vistas. Estamos cansadas. Ela suspira depois que coloca o cinto.

— Que isso, Baby? - Damon pergunta quando vê a travessa no colo dela.

— Roubei pro jantar. Tava sobrando. - Ela sorri, arteira. Ele dá uma gargalhada.

— Meu Deus, ainda bem que você namora um advogado, sua ladra! - Ele diz.

— Namoro não, sou noiva. - Ela mostra a aliança com a enorme safira brilhante. - Não tem devolução!

Ele ri e dá um beijo nos lábios dela. Meu coração se aquece assistindo essa cena. No mesmo momento, lembro de mamãe e papai e uma nuvem negra me sobrevoa. Eu nunca mais vou vê-los de novo. Olho pra fora do carro e tento controlar as lágrimas.

Katherine vira o braço e passa a mão no meu joelho.

— Eu sei. - Ela diz e eu entendo. Vai ser difícil sem eles. Mas, precisamos ser fortes, a vida lá fora não para pra gente chorar.

POV Katherine

As palavras do reverendo foram lindas. As lembranças da minha infância inundaram meus pensamentos. Eu fui muito feliz. Eles me farão muita falta. Olho pra Elena, parece atônita. Envolvo-a no meu abraço. Quero que saiba que sempre estarei por perto. Sempre foi minha bonequinha, mimadinha, e sempre será.

Precisamos ir pro funeral, mas, não tenho vontade. Sinto que mamãe me mataria se pudesse, só de pensar nisso. Posso ouvir suas palavras, “minha filha, os eventos sociais são importantes pra fazer contatos, é assim que se cria uma boa rede de conhecimento”. É uma verdade, eu trouxe pra minha vida. Mas, não quer dizer que eu goste disso.

Eu e Elena observamos ainda os caixões descerem, sem falar nada. Eu não sei o que dizer, possivelmente ela também não. As memórias felizes continuam permeando minha mente. Minha família sempre pareceu um comercial de margarina. Só percebei que isso era raro quando conheci Damon. Seu pai é truculento e brigão, e o mantém distante do próprio irmão por capricho. Ele perdeu a mãe quando era adolescente ainda, e o caçula era que dava forças a ele. Ele sente muita falta do Stefan, e eu queria muito poder fazer algo.

Pelo menos na minha família ele foi bem acolhido, desde o primeiro ação de graças. Papai adorou ele, e mamãe só comentava sobre esses lindos olhos azuis. Eu não sei o que faria se ele não estivesse comigo agora. Meu alicerce nesse momento bizarro.

Fico feliz que ele conheceu um pouquinho do amor dos Gilbert. Foram apenas 3 anos, mas ele pode sentir como é ser amado e respeitado. E espero que ele ensine igual pros nossos filhos. Com o pai que ele tem, poderia ser um canalha, mas, é totalmente o contrário. Um homem gentil, amoroso, respeitador. Aliás, até hoje nem entendo como ele me notou no meio de todas aquelas modelos de revista em cima dele.

Chegamos na mansão e vejo Mason vindo na minha direção. Fico contente que ainda somos amigos. Meu coração palpitava feliz quando nos víamos. A maturidade é uma coisa interessante, hoje, estamos aqui. Ele me pediu ajuda pra encontrar um advogado pra namorada e eis que Damon estava disponível.

Ele me abraça apertado e sinto um frio na espinha. As memórias do tempo de escola explodem na minha mente, sinto as pernas tremerem. Eu vou sentir muita saudade dos meus pais. Ele abraça Elena, que parece um passarinho perdido nos braços enormes dele. Me lembro que ela dizia que ele era seu namorado. Era tão fofo.

Seguimos pra sala de estar e as pessoas começam a vir falar conosco. Seguro a mão de Elena.

Não quero ficar muito tempo e falo pra ela que aceita e mostra que não está mesmo a fim de ficar. Acho graça. Mamãe chamaria nossa atenção por isso, certamente.

Damon vai e volta com água e comida. E me empurra umas coisas muito estranhas pra comer. Acabo aceitando, porque não comi quase nada desde aquele almoço que ele levou no hospital.

As horas se arrastam pra uma eternidade, não para de chegar gente. Que inferno. Respiro fundo e resolvo ir pra casa, chega. Quero esticar minhas pernas no sofá, tirar essa roupa, tomar um vinho. Colocar meu pijama e deitar na cama da minha mãe, sentir seu cheiro, chorar de saudade.

Olho pra Elena e arrasto ela comigo. Vamos pela cozinha, e vejo muitas travessas de comida. Avisto uma lasanha e decido o jantar.

Corremos pro carro pra ninguém nos ver. Damon já estava esperando nos fundos. Ele se assusta com minha aquisição. Faço uma brincadeira que ele responde. Eu olho pra ele, contente. É o homem que quero passar a vida toda, sim. Ele me beija, como papai fazia com mamãe, quando éramos menores. Percebo minha irmã controlando o choro.

Passo a mão na perna dela pra confortá-la. Estou em frangalhos, imagino ela. Mas isso vai passar. Uma hora a dor diminui, e seguiremos em frente.

Chegando em casa, recebo a ligação do advogado do papai. Ele fala um monte de termos técnicos, que eu não entendo nada. Estamos entrando, então, peço que venha em casa, assim, Damon pode me ajudar. Não estou com cabeça pra pensar nisso agora.

Elena sobe, dizendo que vai tomar banho, e permaneço tentando entender o que o homem tá falando. Desisto e apenas marco o horário da visita pro dia seguinte.

— Ele quer falar sobre a tutela. - digo, desligando o telefone, percebendo a cara de duvida de Damon.

— Hum, mas isso é óbvio, não? Ela vai pra New York com a gente. - ele responde, sem eu nem mesmo saber do que se trata.

— Do que você tá falando, baby? Ela quem? O que é tutela?

— É a responsabilidade jurídica sobre um menor de idade. Ele deve estar falando de Elena.

Eu olho um pouco confusa, eu não pensei nisso, eu sequer cogitei a ideia dela ficar sozinha, mas, não pensei em levá-la comigo. A vida dela é aqui, tem os amigos, o colégio que ela ainda não terminou. Entretanto, eu não posso ficar também, nem ele. Temos uma vida lá, compromissos de trabalho. Minha chefe liberou uns dias, não um ano inteiro. Minha cabeça roda.

Largo a lasanha no aparador e passo as mãos nos olhos tentando limpar minha mente. Ele nota, e me apoia, me conduzindo pro sofá.

— Você vai precisar conversar isso com ela. Não podemos ficar.

— Eu sei. Só que a vida dela é aqui. Eu não sei o que fazer... Senhor! É tanta coisa! - esfrego os olhos de novo, e enfio o rosto entre as mãos. Ele se abaixa na minha frente. Coloca as mãos no meu joelho e fala baixinho.

— Temos espaço sobrando em casa, os melhores colégios por perto, e ela é uma menina incrível. Logo fará amizade. Fica tranquila que vai dar tudo certo.

Eu sorrio pra ele, tentando ser tão otimista assim. Não consigo ver como tirar uma adolescente do seu habitat, logo após a morte dos pais, pode ser certo.

— Preciso beber! - Levanto de impulso. - Meu pai deve ter algum vinho caro esperando pra ser apreciado. Não posso pensar em nada disso estando sóbria.

Ele sorri e me acompanha até a cozinha. Deixo a travessa de lasanha na bancada, e procuro alguma garrafa de rótulo chique. Mostro pra ele, que entende muito mais que eu.

— Sim, esse é ótimo. Deixa que eu abro.

Fico olhando ele abrir a garrafa e pensando na sorte que foi precisar de um café naquele dia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Never Say Never" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.