Sangue nas Areias do Foguete escrita por Pierre Ro


Capítulo 6
"Qual o seu problema?"


Notas iniciais do capítulo

E aí! Como vão? Esse capítulo está preparando as coisas para o grande mistério que acontecerá daqui a poucos capítulos.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/735156/chapter/6

— Qual o seu problema? – Perguntava a moça, trincando os dentes, raivosa com a presença daquele indivíduo na sua frente – Estou de férias e você está me perseguindo! Se continuar assim, chamo a polícia! – Ameaçou, franzindo o cenho, visivelmente incomodada – E meu nome é Alice! Inclusive, todos me chamavam de Alice na faculdade. Não sei de onde você tirou essa ideia!

— Eu sei que seu nome é Alice. Hoje... – falou, em um tom provocador – Mesmo com todas as mudanças na aparência, reconheceria a senhorita em qualquer lugar. Mas, e há onze anos? – Perguntou, e o corpo da mulher gelou. Ela tremia. Não sabia o que estava acontecendo. Conhecia Marlon, mas não daquele jeito.

— Você não sabe o que aconteceu há onze anos! – esbravejou, com amargura.

— Será? Você não resiste a uma pequena pesquisa na internet de alguém que tenha um conhecimento um pouco mais avançado de redes e cibernética. Tenho ideia do que aconteceu no seu passado. Vi que mudou de nome. Vi que ficou internada em Brasília. Mas não faço ideia do que pretende fazer aqui. Agora.

            Ela se calou, e ficou pensativa. Aflita. Preocupada com as palavras daquele homem. Não queria que seus planos falhassem por causa dele.

— Como descobriu assim? Por que cisma comigo?

— Porque sempre fui apaixonado por você, Alice! – Declarou-se, e ajoelhou-se, para ficar perto dela. Aproveitando para fitar o belo corpo da moça – Mesmo você não me dando a mínima!

            A moça fechou os olhos e suspirou, tentando manter a calma. Ainda processava aquelas informações.

— Marlon... – começou, em um tom de voz meloso – Por favor, não faça isso. Mesmo dizendo tudo isso, você não faz ideia do que passei.

— Não quero ser seu inimigo, Alice. Quero te ajudar! Olha, eu saí da minha casa por causa da minha curiosidade em você!

            Ela virou o rosto. Tentando buscar o que dizer para ele no horizonte. Depois de um tempo em silêncio, voltou seu olhar para ele. Séria.

— Você é uma pessoa boa – afirmou – mas precisa entender que, nem sempre, as coisas são do jeito que queremos. Principalmente na nossa vida amorosa. O que aconteceu. Essa paixão não é recíproca.

            Aquelas palavras duras doeram no coração de Marlon. Queria chorar naquele momento, mas se recompôs.

— O que preciso fazer para te conquistar? – Perguntou, insistente. Ela pôs a mão na cabeça e revirou os olhos. Resolveu, então, mudar de estratégia.

— Quer ser meu aliado? Então não fique aqui. Você pode colocar todos os meus planos aqui a perder, pois não os entende. Ainda.

— Posso te ajudar! – Informou ele, animado. Já não restava mais paciência para Alice naquele momento, mas precisava ser delicada, para não o fazer contar toda a verdade aos outros. Ele já estava sendo muito deselegante.

— Olha... Está bem – falou, fazendo o rapaz sorrir e brilhar os olhos – Me dê seu número que te direi com detalhes o que você pode fazer.

            Marlon não perdeu tempo. Rapidamente, sacou um papel e caneta do seu bolso e escreveu rapidamente.

            Enquanto fazia isso, Alice olhou o mar e notou que Vinícius e Taís vinham até a areia, na direção dela. Precisava disfarçar aquilo.

— Tome – disse, entregando o papel, que foi pego e guardado em uma bolsa.

— Certo. Agora, é importante que ninguém te conheça. Portanto, vá embora. Depois eu falo contigo.

            Ele assentiu e, rapidamente, virou-se e voltou para o seu caminho.

— Quem era, Alice? – Questionou, Vinícius, arqueando as sobrancelhas, após chegar na barraca. Ele já estava totalmente molhado, vestindo apenas uma bermuda colorida.

— Um pervertido – respondeu, rindo – queria o meu telefone a qualquer custo!

— E você deu? – Perguntou Taís, abismada.

— Dei um número qualquer. Foi muito insistente e deselegante. Tipos assim não me conquistam! – Falou, dando de ombros.

            Ficaram um tempo em silêncio. Vinícius ficou intrigado com a aparição daquele homem. Não gostou nada do fato, mas não se pronunciou a respeito.

— Ah... – disse Alice – Vou me molhar agora. Fiquem aqui tomando conta das coisas. Ok?

— Ok – responderam os dois juntos, e Alice se levantou de sua cadeira e caminhou como se estivesse em uma passarela até aquele mar de águas cristalinas.

            Ninguém falou mais nada sobre o ocorrido. Não demorou mais de duas horas para todos saírem da praia e voltarem para a casa. Estavam exaustos. Miguel e Alice fizeram sanduíches para todo mundo e esse foi o alimento daquela noite.

            À meia noite, os jovens já estavam dormindo. Com exceção de Alice.

            A moça de cabelos escuros e curtos estava na varanda daquela casa escultural, sentada em uma cadeira de madeira. Vestia apenas uma camisola branca. Visualizava aquela paisagem encantadora e ouvia com prazer o barulho das ondas.

— Excelente! – Exclamou, sozinha, quebrando o silêncio que lá estava.

            Concentrava-se bastante nos seus pensamentos.

— O que é excelente, Luana? – Falou uma voz masculina conhecida e, naquele momento, temida por Alice, que se virou rapidamente.

            Christian vestia uma calça de moletom e uma camisa branca naquele momento. Seu semblante era furioso, enquanto olhava para ela.

— Luana? – Fingiu-se de desentendida.

— Não seja sonsa! Achou mesmo que eu não te reconheceria? – Perguntou, forçando o punho.

            Ela respirou fundo. Precisava encarar aquele problema. De forma que não a prejudicasse depois. Mas era boa nisso.

— Por favor... Não fique assim – pediu, olhando no fundo dos olhos dele – Imagino como deve estar se sentindo. Mas, acalme-se que eu te explico.

            Ele bufou e fez como sugerido. Sentou-se e esperou ela falar.

— Sei que menti minha identidade. Meu nome completo é Alice Ferreira Dantas. – começou, causando espanto no rapaz.

— Mentirosa! E não foi só isso. Também mentiu onde morava! E ainda pegou meu celular!

— Faltei com a verdade na parte de onde eu morava sim. Não é fácil ser mulher hoje em dia, sabe... Apesar de ter achado você incrivelmente atraente, não tinha confiança. Já aconteceu de um cara me perseguir por cada lugar que eu passava. Não era interessante para mim outro ficar sabendo. Entende? Por precaução, inventei outro nome e outro lar. Estávamos bêbados ainda quando chegamos no seu apartamento. Pedi seu celular para fazer o que realmente disse que faria. Porém, esqueci dele na minha bolsa. Perdoe-me, mas quando excedo na bebida, esqueço dessas coisas. Mas não se preocupe, garanto que não mexi nele. Depois disso, tivemos uma noite maravilhosa que você também gostou. Porém, ligaram-me e tive mesmo que voltar.

                Ele ouvia tudo atentamente. No final, assentiu. Pareceu acreditar na história de Alice.

— E onde está meu celular?

— Infelizmente, eu o deixei no Rio. Quando voltar, prometo que te devolverei. Também não sabia onde te encontrar. Muito menos que estaria aqui. Está descarregado. Desde aquele dia nem o usei.

— Está certo então! Bom que nos acertamos! – falou ele, e sorriu.

            Ela também sorriu, aliviada. “Otário!” Pensou.

— Não quer ir dormir lá no meu quarto? Estou meio sozinho lá... – Perguntou ele, com olhar malicioso.

            Ela riu, desconsertada

— Seria incrível... – começou ela – Mas hoje não. Estou me sentindo mal. Dor de cabeça. Na barriga...

— Mas nem se eu te fazer um carinho lá naquela sua região... – disse ele, aproximando-se dela e beijando seu pescoço. Ela suava frio. Não queria aquilo.

            De repente, ela o parou, segurando seu braço.

— Faça na sua. Tá bem? – Respondeu-lhe, meio grossa.

— Está certo. Deixa pra próxima... – respondeu, irritado com aquilo. – Tenha uma boa noite, gostosa! – disse, virou-se e voltou para seu quarto.

— O mesmo para você! – Exclamou ela, enquanto ele caminhava. Revirou os olhos e fez expressão de nojo quando Christian saiu. No fim, respirou aliviada novamente. Conseguiu contornar toda a situação.

            Não aguentou ficar mais tanto tempo por lá com todas aquelas angústias. Voltou para seu quarto. Como sempre, era a última a se deitar. Suspirou. Delicadamente, tirou de seus olhos suas lentes de contato. Sua íris verde era algo que ela admirava muito. Porém, ela precisava esconder. Pegou sua máscara de dormir e a colocou no rosto.

            Após ficar alguns minutos pensando sobre sua vida, adormeceu.

            Acordou às seis e quinze da manhã no dia seguinte, antes de todos, como de costume. Rapidamente, recolocou suas lentes. Surpreendeu-se com uma mensagem do seu aplicativo KnowNow.

“Bijuu4: Bom dia, dorminhoca! Como vai? Haha”

            Ela riu da mensagem de sua “amiga virtual”. Observou ao seu redor e percebeu que as meninas dormiam ainda. Portanto, poderia digitar sem se incomodar.

“Allieda: Bom dia! Eu vou bem. E você?”

            Escreveu e ficou pensando sobre o que aconteceu no dia anterior e seus próximos passos para seus planos. De repente, recebeu mais uma mensagem.

Bijuu4: Vou bem sim, mas diga: quando a gente vai se ver? Cheguei ontem aqui na Região dos Lagos, perto de você, e ainda nem nos vimos!

Allieda: Hum... Quais são seus planos para hoje?

Bijuu4: O pessoal aqui ainda não sabe, mas vamos para Rio das Ostras. E você?

Allieda: Que horas vocês vão?

Bijuu4: Daqui a pouco, na verdade, só vamos acordar o pessoal e ir.

Allieda: Então a gente se vê hoje mesmo.

Bijuu4: Ah, sério? Estou louca para isso!

Allieda: Também estou animada. Acho que você vai se surpreender...

Bijuu4: Nossa! Então já vou chamar o pessoal!

Allieda: Hahaha vai lá então!

Bijuu4: Ok, tchau!

Allieda: Beijos.

            Alice encerrou a conversa e voltou a se concentrar em seus planos. Fechou os olhos e respirou de novo. Torcia para tudo dar certo, mesmo com tanto risco.

            De repente, ouviu a batida na porta de seu quarto. Em seguida, a voz de Beatriz chamando todos para acordar.

— Vamos, meninas! Acordem! – Disse ela, atrás da porta – Teremos um dia cheio de diversão hoje! Iremos para a praia da Costa Azul, em Rio das Ostras!

            Alice fingiu estar acordando naquele momento. Pegou seu biquíni preto e uma saída de praia amarela. Foi ao banheiro se trocar e escovar os dentes. Depois, saiu de lá, pôs seu óculos de sol e já estava preparada para conduzir os estudantes ao local desejado.

†††

3 horas depois

            Eram dez horas e trinta minutos da manhã quando chegaram na praia da Costa Azul, em Rio das Ostras. Estacionaram em uma rua perto e foram caminhando pelo litoral. Enquanto isso, admiravam a paisagem em sua frente.

            A areia era diferente de Cabo Frio. Era mais escura e a água também. Porém, igualmente limpa.

            Notava-se, também, bastante investimento em Turismo da Prefeitura, com esculturas, ornamentações e atrações interessantes. Sendo a principal, a famosa Praça da Baleia. Uma praça que tem, em seu centro, a estátua de uma baleia jubarte em tamanho real.

            Beatriz olhava a praça atentamente. Seu coração batia forte demais. Era a primeira vez que encontraria uma amiga virtual assim. Principalmente quando essa “amiga” é tão íntima. Também se preocupava em alguém vê-la fazendo isso. E era lá que seria esse encontro.

            “Às 13 horas ela estará lá, como foi dito” pensou a jovem e tentou demostrar interesse em outra coisa, para disfarçar.

            Rapidamente, escolheram um ponto na areia para colocarem suas coisas. A maior parte dos jovens resolveram nadar ou caminhar pela praia. Beatriz, no entanto, preferiu ficar a maior parte do tempo em sua cadeira, aflita para chegar a hora.

            Finalmente, chegou o momento e ela se dirigiu à praça.

            Com passos largos e trêmulos, percorreu o caminho, determinada. Vestia uma saída de praia tipo vestido, de cor branca. Em sua cabeça, pousava um chapéu de praia bem belo e usava óculos escuros amarronzados. Seus cabelos loiros voavam enquanto caminhava. Com a mão esquerda, segurava firmemente seu celular. Enquanto isso, a direita mexia descontroladamente como forma de não parecer nervosa.

            Às 12:50, ela já estava lá. A temperatura estava alta. Cerca de quarenta graus Celsius. Beatriz se sentou em um banco que ficava na sombra, enquanto esperava o tempo passar, checando as mensagens no seu aplicativo.

“Bijuu4: Onde você está?

Allieda: São 12:56 ainda. Em 4 minutos, dá para fazer dois filhos.

Bijuu4: Ai... Você é pontual até nisso? Haha

Allieda: Relaxa, gata. A gente vai se ver... Estou mais perto do que imagina.

Bijuu4: Ok, estou te esperando...”

            Os últimos minutos pareceram ser os mais demorados da vida da filha do governador. Passaram dois, três, quatro minutos... E finalmente o ponteiro pequeno do relógio de Beatriz chegou no número um. Impaciente, digitou:

“Bijuu4: Não é assim tão pontual. Já são 13 horas”

            Porém, quase que imediatamente veio a outra mensagem:

“Allieda: Olha de novo!”

            Ao ler o texto, ficou mais nervosa ainda. Virou-se para todos os lados, mas não encontrou ninguém que parecesse ser a “Allieda”. E então, antes de ser “13:01”, Alice Ferreira entrou na praça, caminhando graciosamente.

            Beatriz olhou para aquilo e estranhou. Pensou “O que ela está fazendo aqui justo nesse momento?”. Tentou, então, se esconder. Não queria ser vista por ninguém conhecido.

Mas não deu certo. A linda mulher de cabelos curtos vestindo uma saída de praia amarela andou até a menina, que a evitava a todo custo, até a mesma se aproximar demais, sendo impossível para Beatriz disfarçar a sua presença. Mesmo assim, fez-se de desentendida. No fundo, queria logo o desaparecimento de Alice, apesar de achá-la bastante atraente.

— Olá, Bijuu4! – Ela disse, em um tom de voz doce, mas ao mesmo tempo, assustador para Beatriz, que arqueou as sobrancelhas e arregalou os olhos. Seu coração gelou e ficou sem palavras.

— Quê? – Falou, depois de gaguejar um pouco. Não conseguia acreditar naquilo. A ficha, então, tinha caído. – O que significa isso?

— Sou eu, a Allieda! – Explicou, sorrindo – O que achou da surpresa?

            Sentiu-se enganada. Invadida. Não se agradou nem um pouco com aquilo. Olhava para Alice e sentia apenas ódio. Ódio por tudo o que foi dito. Ela a usara. Naquele momento, arrependeu-se amargamente de ter iniciado a conversa com a irmã de Vinícius. “Como ela pode ter fingido tudo até agora?” Pensou.

            Beatriz cerrou os olhos. Sentia vontade de agredi-la naquele momento. Porém, não podia fazê-lo. Se não, todos saberiam a verdade sobre suas conversas com a tal “Allieda” e isso não podia acontecer.

— Surpresa? Eu não estou acreditando que você foi capaz de me usar dessa forma! Fui feita de trouxa! Por que não me disse antes? Como pode? – Indagou-a, fazendo Alice se preocupar.

— Achei que fosse gostar de saber que eu sou, na verdade, uma amiga sua. Não fique assim! – Tentou acalmá-la, e se aproximou mais para abraça-la.

— Não encoste em mim! – Gritou, dando um tapa de leve na mão dela – Não estou nem um pouco feliz com isso. Você me fez de idiota! Faz o seguinte: não fala mais comigo! Finge que nunca me conheceu! – Esbravejou e, sem paciência, andou raivosa para a praia novamente.

            Alice bufou. Não esperava por uma reação tão negativa de Beatriz. Sentou-se no mesmo banco e cruzou as pernas. Diversas pessoas observavam a cena, curiosas. Alice corou, envergonhada. Aos poucos, ela foi deixando de ser o foco das atenções e o povo voltou aos seus afazeres. A psicóloga passou a mão nos cabelos, aflita.

— Droga! Garota escandalosa... – Sussurrou, para si mesma – Pelo menos, ela não vai contar nada. Isso não deve ameaçar o meu plano. Mas é bom que ela se torne mais amigável...

            Ela respirou fundo. Em menos de vinte e quatro horas, seu plano correu risco por três vezes. Todavia, conseguiu contornar cada problema. Mas ainda ficava preocupada. Até quando teria essa mesma sorte?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então?
O que acharam? Quais são suas expectativas? Alice continuará enganando assim? Ou será que seus planos vão ruir?
PS: Eu ia mandar a imagem dessa última cena (já fui nessa praça da Baleia, é bem legal :v), mas não tô conseguindo enviar de jeito nenhum!
Até a próxima! o/