Sangue nas Areias do Foguete escrita por Pierre Ro


Capítulo 7
"Baladinha top!"


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, desculpem a demora. Estive ocupado nesse final de semana. Tenho tentado postar dia sim, dia não. Apesar de eu já ter tudo pronto, quis fazer uma revisão maior nesse capítulo e acrescentar alguns detalhes.

E sim. O título do capítulo é "Baladinha top". Quem vocês suspeitam que soltaria essa "frase"? Hahaha

Sem mais delongas, Boa leitura!



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            Depois de um dia agradável – pelo menos, para a maioria – em Rio das Ostras, os alunos do Colégio decidiram não sair para lugares mais distantes no terceiro dia de comemoração. Em vez disso, preferiram curtir a Praia do Foguete, em Cabo Frio, mesmo. Aliás, era um lugar incrível para se divertir. As águas azuis e cristalinas deixavam tudo como um paraíso. A brisa causava ondas médias, capazes de proporcionar um pouco de adrenalina quando entravam na água.

Naquele dia, o mar estava mais calmo que usualmente. Bem cedo, eles pegaram seu material para a praia, como cadeiras, guarda-sol, uma bolsa com celulares, protetor solar e raquetes de frescobol.

            Rodrigo e Emily Drummond foram os únicos que se isolaram em sua imensa casa e não foram para a praia. A única vez que aproveitaram aquela viagem mesmo foi quando visitaram a Praia da Costa Azul.

“Ainda bem que ele não veio” pensava a aluna Micaela, que ficou traumatizada e extremamente constrangida quando, no dia anterior, o governador observava as meninas com malícia. Mesmo com a mulher dele por perto. E não era a jovem a única que se incomodava com isso. Tal opinião se agravou quando o homem foi visto encarando, da mesma forma, uma garotinha que passava por perto, que não devia ter mais que nove anos.

— Pedófilo imundo! – comentava ela, para as amigas Taís Pontes e Débora Matos, enquanto lembravam do ocorrido, deitadas na canga de praia.

— Eu já tinha ódio desse homem. – dizia a loira – Agora, tenho ódio e nojo!

— Safado! Capaz de só ele pensar que iremos votar nele! Desgraçado! – Foi a vez de Taís dar sua opinião.

— Tipos assim me dá tanta raiva que eu seria capaz de matar! – falou, franzindo as sobrancelhas e fazendo um gesto de estrangulamento com as mãos.

— Confesso que eu também! – Débora admitiu – Chicoteava sem pena ele e sua família, pois sabem disso, portanto, são cúmplices e culpados.

— A gente fala da Beatriz, mas vejam – argumentou a mais gorda – Isabela, Sabrina e Calista possuem parentes que também estão envolvidos com política e não duvido nada que são corruptos.

— Bem lembrado. Meu Deus! Quanta pilantragem! – Exclamava Micaela, perplexa – Não me surpreenderia se me dissessem que elas entraram para o COFAC sem prestar devidamente o concurso. Mesmo se fizesse, deviam ter ignorado suas provas e as aprovado!

            A conversa sobre o assunto terminou ali. Quanto mais se envolviam com isso, mas se indignavam, e não queriam se estressar lá.

            Quase que imediatamente, Alice, que corria na praia, foi se juntar a elas, em sua própria canga.

— Olá, meninas! – Ela as cumprimentou.

— Oi, Alice! – Débora falou, e logo se lembrou de algo sobre ela – Alice! Sem ser muito invasiva, posso te perguntar uma coisa?

            A jovem ficou apreensiva. Cerrou as sobrancelhas e engoliu a seco.

— Pode. O que é?

— Como fez sua faculdade de Psicologia? – Perguntou Micaela, com um sorriso no rosto, e ela respirou aliviada.

 – Ah, sim – falou, desconsertada. Não imaginava que tipo de pergunta seria – Bem, fiz na UFMG, por quê?

— Vinícius tinha contado um pouco, há um mês atrás, mas como foi isso? Você ficou em coma, né?

— Ah, sim. Quando eu tinha oito anos, meus pais me deixaram em Angra dos Reis com uma prima minha que eu amava. Lá, eu fiz uma “coleguinha” na rua, sabe? E quando eu digo na rua, é porque ela vivia na rua mesmo. Certo dia, essa minha prima me levou para um teatro e, em última hora, eu convidei essa colega para me acompanhar. Ela era tão pobre, tadinha... Ofereci a ela minha pulseira, meias... Acabou que houve um incêndio e, com isso, confundiram ela comigo. Ela morreu. Eu fiquei gravemente ferida devido a um pilar que caiu na minha cabeça. Ficamos um tempo como desaparecidas. Acharam-nos, mas eu fiquei como a “menina de rua” e ela como “Alice”. Estive em coma por dois anos e perdi a memória. A doutora que me atendeu se apaixonou por mim e me adotou. Levou-me para Minas Gerais. Depois que saí do coma, continuei meus estudos. A única coisa que me lembrava foi do nome “Alice”, até seis meses atrás, quando fiz uma pesquisa e descobri tudo. Também vi a oportunidade de trabalhar aqui, e não a perdi!

— Nossa! Parece coisa de filme! – Débora, a mais animada das três, exclamou – Eu te admiro muito!

— Obrigada! – Ela agradeceu.

— Vinícius também parece gostar muito de você. Ele sempre foi filho único – Micaela comentou, observando o garoto que se banhava no mar.

— Também gosto bastante dele – Ela disse. “Queria que não precisasse conhecer a dura realidade” pensou, em seguida.

            Alice assentiu. Admirou-se e tentou não pensar nisso mais. Usou o tempo para usar sua câmera digital semiprofissional e registrar aqueles momentos. Naquele período, podia descansar à vontade. Sem se preocupar com seus planos. Ninguém a incomodou.

            Ela chegou a falar com Marlon Fletwood, mas mentiu para ele, dizendo que estava visitando a cidade de Araruama. Portanto, ele não apareceu para a incomodar. Christian e Beatriz Drummond pareceram guardar seus segredos com ela em segurança. Fingiram que nada tinha acontecido entre eles. Afinal, não era interessante para o rapaz que saibam sobre a invasão na casa de idosos indefesos. Muito menos que saibam sobre a homossexualidade da moça. Seria um escândalo para seu pai, político ultraconservador.

            Enquanto tomava seu banho de sol, pensava meticulosamente nas ações que tomaria no final daquela viagem nas férias. Só precisava esperar pela oportunidade certa.

            A água estava calma, de forma que poderiam se banhar e conversar uns com os outros sem problemas. Vinícius fazia isso, enquanto fitava sua irmã e suas colegas de classe na areia. Não saía de sua mente a cena do outro dia em que recebeu um beijo dela.

— É tão diferente a sensação de ter uma irmã agora – ele disse para Hugo, seu melhor amigo. – Eu que sempre fui sozinho desde bem pequeno. Está sendo ótimo. Ela é bonita, inteligente, carismática... Amiga, também. Não foi difícil amá-la. E sinto que ela também me ama. Como um irmão mesmo, sabe? Mesmo após tanto tempo longe, ela age como uma irmã mais velha que me quer bem. E quer me proteger, de certa forma.

— Acho que todo mundo gosta dela – O jovem comentou.

— Mas ela é bem misteriosa também – falou, já se esquecendo que Hugo estava ao seu lado – E guarda segredos. Muitos segredos. Creio que, nessa viagem, ela esteja querendo me dizer alguma coisa. Mas ainda não descobri o que é. Ainda...

            Foi tão agradável aquela experiência que o tempo pareceu passar bem mais rápido na mente daqueles jovens.

            Quando viram, já eram 17 horas e decidiram voltar para a casa, pois a maré já estava alta, não fazia mais tanto sol e precisavam retornar e descansar para o dia seguinte, que planejavam visitar Búzios.

            Ao chegar lá, deram-se de cara com Rodrigo Drummond e sua mulher, com trajes sociais. Susana, que foi a primeira a entrar, acompanhada de Christian, sabiam que eles sairiam naquela noite.

            Ele esperou a maior parte dos jovens entrar, para se pronunciar.

— Atenção a todos aqui! – anunciou, autoritário – Eu e minha esposa iremos sair. Façam alguma comida aí e vão dormir cedo. Amanhã, irão para Búzios e precisam estar descansados. Qualquer coisa, falem com Jorge Rodrigues, meu empregado, que estará repousando em seu cômodo aqui ao lado da casa. Chegaremos apenas amanhã, por volta das oito horas – terminou, e sem dizer mais nada, saiu com Emily.

— Beatriz, – começou Caio, falando para a filha do governador – teu pai é mó chatão, hein!

— Políticos precisam ser assim! Meticulosos! – argumentou ela, irritada com o comentário – Principalmente quem governa um estado inteiro.

— Ah, é mesmo? – Falou ele com ironia.

— Ela tem razão – afirmou Isabela, que, para a maioria dos que estavam ali, não possuía moral alguma para comentar sobre esse assunto, já que seu pai era secretário de um senador.

— Vocês, crianças, vão ficar aqui assistindo desenho animado mesmo – avisava Christian, em tom de deboche, enquanto avançava para guardar suas coisas no quarto – Eu vou curtir em uma festa!

— Como assim, Christian? – Questionava Susana, indignada.

— Não sou de ficar nessa monotonia. Quero sair. Beber e namorar. Sou adulto e não há crime nisso!

— Ah, sério? – Contestou Caio – Por que não convida seus novos parceiros? – Perguntou, animado e esperançoso. Ele parou, pensou um pouco, e riu.

— Por que se aventurar em eventos dos outros se temos capacidade de fazermos a nossa própria festa? Para que todos curtam? – Manifestou-se, Miguel, causando surpresa para os outros, que não esperavam tal atitude dele.

— Ei! Como assim? – Indagou-se, a professora – Fazer uma festa aqui na casa? Rodrigo deixou claro que...

— Eu acho que vai ser show! – Admitiu o rapaz, filho do dono da casa, interrompendo a mulher.

— Mas, Christian... – Contrariou ele.

— Está decidido! Uma baladinha top! – informou, animado, e começou a delegar funções para os outros, na organização da festa. Apontava para as pessoas e dizia o que cada um faria – Vou comprar as bebidas. Caio, veja com Jorge sobre os aparelhos de som. Renan, confio em você na escolha das músicas! E, Miguel... – fez uma pequena pausa, pensou, e, com os olhos brilhando e um sorriso, disse: – Quero fogos de artifício. Muitos fogos de artifício. – As meninas limpam o que restar no final. – Concluiu, enfim, e subiu a escada.

            Sua última fala causou grande indignação com as garotas que lá estavam, mas mal discutiram isso. Uma festa irresponsável seria feita.

“É hoje! Não terei uma chance mais ideal!” pensou Alice, enquanto via tudo desenrolar como queria. “O trouxa está cavando a própria cova!”.

Todos estavam afoitos. Susana não parava de pensar no quanto aquilo era inconsequente. Tentava ligar para Rodrigo, mas ele havia desligado o telefone. Emily também. Jorge não estava se importando, e Beatriz, menos ainda. Bastava a ela se conformar e tentar curtir aquilo.

— Não estou gostando disso também... – dizia Vinícius para sua irmã.

— Ah, irmão... – estimulou ela – Não seja bobo. Divirta-se! Amanhã, Christian receberá sua sentença do pai, apenas.

— Eu não bebo, Alice!

— Ora, e eu também não. Mas não há mal algum em um drink. Ou então, beba só refrigerante mesmo. Qual o problema? Só aproveite, lindo! Tem garotas muito bonitas na sua turma, por que não tenta se aproximar com alguma que não seja a Camila?

— Não sei, irmã... Às vezes, ainda acho que gosto dela.

— Então volta para aquela doida. Seja feliz! Siga seu coração! – Aconselhou, e ele deu uma risada.

— Ainda bem que você voltou, minha irmã! – Confessou ele, e em seguida, os dois se abraçaram, expressando seu amor fraterno.

— Você é uma pessoa incrível. Vou sempre estar contigo! – Ela declarou, olhando nos olhos dele.

            Em outra parte, o grupo de amigas de Beatriz, na ausência dela, também comentavam.

— Hum, será que a filhinha do governador vai mesmo beber? Nunca a vi bêbada. – Dizia Sabrina Findlay, e as três deram uma gargalhada.

— Se ela fosse esperta, não beberia – arriscou a jovem de cabelos cacheados – Se não, sua “sapatanice” vai estar clara para mais gente ainda!

— Pois é. Como somos amigas dela, seremos sutis ao lhe aconselhar em não beber – acrescentou Isabela, e todas concordaram. Apesar de a julgarem e a fazerem motivo de piada, ainda precisavam da amizade da loira.

****

            Caio, com os outros estudantes, organizaram a decoração e o espaço onde seria a festa. Todos estavam animados. Renan já tinha músicas em seu pen drive. Então, não perderam tempo e colocaram sua lista de reprodução, que era repleta de obras de diversos gêneros.

— Chegamos! – Anunciou Christian, acompanhado de Miguel, entrando na casa segurando várias bolsas repletas de bebidas, como cerveja, vinho, vodca e refrigerante.

            A chegada deles causou alvoroço. Houveram gritos e berros.

— Só um momento e já preparo as bebidas – avisou o estagiário – Caio! Aumente esse som! – falou para o rapaz, que rapidamente elevou o volume ao máximo.

            De repente, soou a música “Harlem Shake”.

            Instalaram, também, uma lâmpada que alternava a cor da luz entre branco, amarelo, verde, vermelho e rosa constantemente.

— Nossa! Essa música é ótima! – Disse Alice, empolgada. Virou-se para seu lado e viu Fernando Minene – Vem, moço, vamos dançar! – Puxou o asiático pelo braço e o chamou para a dança, sem dar a ele o direito de resposta.

            Alice era linda. Trajava um vestido curto, preto, com pontas esvoaçante. Executava cada movimento com sincronia e leveza, deixando-a ainda mais sensual. Logo, contrastava demais com o seu par de dança. Fernando era um rapaz tímido. Desengonçado. Não sabia o que fazer naquela situação, que só o deixou mais nervoso. Não gostara nem um pouco da atitude de Alice. Ficou envergonhado.

— Ai, quer saber... – Falou Alice, interrompendo o que fazia no meio da música – Acho que você precisa beber um pouco para dançar, sabe? Vai lá. Estou ficando com sono... – Terminou, e saiu de perto, fazendo sinal de bocejo.

            Aquilo, por outro lado, encorajou os outros formandos a dançarem também. Logo, cada um chamou um par para a música, esqueceram seus problemas, e se entregaram a dançar no ritmo.

            Vinícius se virou para Camila. Ela havia caprichado na maquiagem. Vestia uma blusa branca e uma saia preta. Estava bastante bela. Ele pensou em ir lá, mas mudou de ideia logo assim que Christian chegou primeiro. “Assim está melhor. Eles se merecem” ele imaginou.

            Miguel preparou as bebidas, e praticamente todos pegaram uma. A professora Susana foi uma das que rapidamente perdeu a noção do que fazia. Bebeu alguns drinks que o estagiário conseguiu fazer com o que tinha na casa. Não demorou muito e já dançava insanamente.

            Caio também foi um que exagerou. Enquanto dançava descontroladamente, sem camisa, viu Tomas isolado, com os braços cruzados, no canto da sala. Largou o copo de cerveja que estava segurando e foi chama-lo.

— Vem, Tomas! Só falta você! – Gritou ele.

            O rapaz negro corou de vergonha. Seria extremamente constrangedor para ele. Com a cabeça, fez que não. E manteve uma postura séria. No entanto, nem Caio nem os outros respeitaram tal decisão.

— Ah, Tomas! Você vem sim! – Exclamou Alice que, com a ajuda de Calista e Renan, também puxaram Tomas pelo braço e o levaram para o centro da sala.

— Até eu estou aqui, dançando – Foi Hugo Torres, que se pronunciou, apesar de quase não o notarem. Ele estava com uma regata, sem os óculos, e com uma lata de cerveja na mão – Então você tem que ir!

            Tomas não quis fazer força. Não havia bebido nada além de um copo de refrigerante. Não queria aquilo.

— Eu não quero ficar aqui! – Logo após pronunciar tais palavras, Caio puxou sua bermuda jeans para baixo, deixando aparecer sua cueca amarela.

            Tomas não soube o que falar nem fazer após tanta vergonha. Enquanto todo mundo ria, ele levantou novamente sua roupa íntima.

Virou-se para Caio, que gargalhava de tanto rir. Furioso, ele avançou em cima do rapaz e lhe deu um soco no rosto, que o fez cair no chão. Todos ficaram perplexos e nada faziam. O golpe fez o garoto expelir sangue pela boca.

Então, Tomas fechou os olhos por três segundos e respirou forte. Não queria continuar naquilo. Estava estressado e precisava de algo para se acalmar. Relaxou seus músculos, pegou uma garrafa de vodca e saiu da casa. Rapidamente, todos voltaram ao que estavam fazendo: dançando.

“Ótimo. Todos estão ou distraídos, ou fora de casa ou dormindo tão profundamente de forma que só acordará amanhã. Já posso começar! ” Pensou Alice.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Detestaram?
E essa festa aí, hein?
E o que acharam dos comentários que fizeram Débora, Micaela e Taís? Possui a mesma opinião?
Quais são as suas expectativas? Teorias? Como a vítima vai morrer?
Aaaa nunca faltou tão pouco para, finalmente, ocorrer o assassinato! Dica: Fiquem ligados, principalmente, no próximo capítulo, hein!
Até a próxima!