Sangue nas Areias do Foguete escrita por Pierre Ro


Capítulo 5
"A Região dos Lagos é um lugar maravilhoso!"


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, o título foi colocado como ironia. Mas realmente, eu já fui e é um lugar maravilhoso. Recomendo irem também :v
Nesse capítulo, será introduzido mais um personagem. E algumas pistas sobre certas coisas...



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Trinta e cinco dias atrás

— Olá, turma! – Saudou Beatriz Drummond, ao entrar na sala de aula. Posicionou-se no meio do quadro negro, de frente para seus colegas de classe que a esperavam sentados em suas respectivas cadeiras – Então, acho que já passou da hora de resolvermos o que faremos para comemorar a nossa formatura, certo?

            Todos concordaram.

— Pois bem, até o momento, não temos nada programado. Mas, como já me sugeriram, pedi ao meu pai e afirmo a vocês que, sim, posso conceder a minha casa de praia em Cabo Frio. O que acham da proposta?

— Bem, tendo em vista a nossa situação, acho que seria bom se a gente aceitasse – opinou Débora, que estava sentada na cadeira do meio.

— Exato. A Região dos Lagos é muito maneiro! Não sei como tem gente que é contra– Comentou Caio Bastos.

— Talvez seja porque teríamos que aguentar o dono da casa – Taís resmungou ao lado do garoto, em tom baixo.

— Então, turma. Vocês decidem. Quem quer que realizemos nossa despedida na minha casa, levantem a mão.

            O resultado foi quase unânime. Eles aceitaram tranquilamente a proposta.

— Muito bem, sendo assim, temos que resolver algumas coisas. A quantia em dinheiro que cada um deve dar para a gente se manter lá, por exemplo. E o transporte – Beatriz informava, falando em tom alto e bom som.

— Bem, quanto ao dinheiro, nós temos um pouco guardado com o que arrecadamos com as rifas, acredito que não haverá muito a inteirar – começou Calista, a amiga de Beatriz – e sobre o transporte, podemos alugar algumas vans, o que acham?

— Boa ideia, Calista! – Exclamou Renan, um garoto que só se sentava no fundo – Só temos que ver quem vai dirigir. Afinal, ninguém aqui é motorista.

— Podemos chamar a Susana! – Sugeriu Taís, ao se lembrar de sua professora preferida – Ela é a nossa melhor professora!

— Nem tanto, Taís... – falou Beatriz, pois esta não gostava tanto da mulher, já que foi na matéria dela que reprovou o ano anterior.

— De qualquer forma, ela não sabe dirigir – explicou Sabrina – Mas gostaria de tê-la conosco.

— Bem, minha irmã é a nova psicóloga do colégio – informou Vinícius, ao se lembrar de Alice. – E sabe dirigir. Creio que ela não se importe em fazer isso.

— Aquela moça que saiu ainda há pouco da sala do SOE é a sua irmã e nova psicóloga? – Indagou Caio, virando-se rapidamente para o jovem, surpreso, já que ele se sentiu atraído por ela quando a viu – Aceito a sugestão!

— É mesmo, Víni? – Perguntou Bia, que também gostou da aparência da moça e ficou curiosa com o fato.

— Sim. Eu sei que muitos achavam que eu não tinha irmã. Acontece que, há catorze anos atrás, ela sofreu um acidente e ficou em coma. Como éramos novos no bairro, ninguém a conhecia. Ela ficou internada sem saber suas origens. Há um ano ela voltou ao normal e precisou resolver sua vida sozinha. E agora descobrimos que ela está bem – Mesmo não querendo, mentiu, pois Alice já havia solicitado para não contar a história certa.

— Nossa! Que bom! – Falou ela, dando um sorriso – Não vejo problema em ela nos levar. Mas precisaremos de mais alguém, não?

— Eu posso fazer isso por vocês também! – Disse uma voz ao lado de fora da sala. Os alunos se entreolharam, confusos. Então, Miguel Cordeiro, o estagiário de Biologia, entrou no recinto timidamente. Ele passou a mão em seu topete e esboçou um sorriso amarelo para os estudantes – Desculpe chegar assim de repente, é que passei por aqui e não pude deixar de ouvir a conversa. Só queria dizer que, se precisarem de mim, estou a disposição.

— Aceito! – Disse Sabrina logo e corou depois, ao ver o estagiário que aquela turma tanto admirava. Principalmente as meninas. 

— Acho que todos concordamos – concluiu Camila, rindo.

— Mas temos um motorista lá em casa... – comentou Bia – De qualquer forma, é bom ter mais motoristas do que carros. Para haver um rodízio! – Ela fez uma pausa – Então acho que está tudo decidido. E você, Tomas, o que acha? – Perguntou Beatriz para o garoto negro que ficava sempre emburrado no canto da sala.

— Tanto faz! – respondeu rispidamente, dando de ombros.

— Sendo assim, acho que estamos de acordo. Obrigada pela atenção e até amanhã. Podemos ir!

†††

            Com certa paciência, Alice Ferreira se distraía revendo suas conversas no aplicativo “KnowNow”, enquanto esperava seu irmão sair da reunião. De vez em quando, ria ao ler certas coisas. 

— Olá, senhorita! – Falou uma voz masculina desconhecida por trás. 

            Rapidamente escondeu o celular no bolso, ajeitou seu cabelo e se virou para o indivíduo que a chamava. Deu de frente com um homem da sua idade, cerca de vinte e três anos. Ele tinha pele negra e cabelos crespos encaracolados. Não parecia ser aluno da escola. Vestia um blusão e calça jeans. Tinha boa aparência.

— Perdão, mas eu lhe conheço? – Indagou-o.

— Nunca tivemos muito contato. Mas decidi tomar uma atitude e te conhecer agora – respondeu, deixando Alice indignada com a abordagem.

— Olha, eu não quero ser grossa, mas não tenho interesse em gente que, sem mais nem menos, dá em cima de mim! 

— Creio que houve um engano. Não pretendo ter esse tipo de conversa contigo.

— Então o que quer de mim? Nem te conheço!

— Bem, começo dizendo que sou novo na cidade. Assim como você. E, se você não se lembra, sou Marlon Fletwood. Estudei na mesma faculdade e colégio que você. Você nunca me reparou, eu sei, mas eu sempre te admirei. Queria ter tido essa coragem há cinco anos atrás. Mas um dia eu te vi na biblioteca. Você estava com um problema no computador e eu me ofereci para ajudar. Pesquisava algo sobre cibernética e “Deep Web”, não é mesmo Alice? Ou é Carla?

— Desculpe, mas não. Você deve estar me confundindo com alguém! Não conheço nenhuma Carla – disse, não gostava nada do rumo da conversa.

 – Então é Carol? Bem, sendo assim, prazer de qualquer jeito! – Falou, abrindo um sorriso estendendo a mão para ela apertar, o que não aconteceu. – Aliás, que surpresa te ver sozinha. Eu ainda não vi...

— Olha, tenho que ir embora. Por favor, não me siga! – Finalizou ela, pegando sua bolsa e saindo de lá, indo em direção à sala de seu irmão.

†††

Dias atuais

            O grupo havia acabado de receber as orientações do anfitrião da casa e muitos estavam entusiasmados para começar a se divertir na praia. Afinal, eram duas horas da tarde ainda e o calor chamava-os para isso.

            Dividiram os quartos da seguinte forma:

            Sabrina, Calista, Isabela, Taís e Micaela ficaram no primeiro quarto.

            Débora, Susana, Camila e Alice no segundo.

            Miguel, Caio, Vinícius e Fernando no terceiro.

            Hugo, Tomas e Renan no quarto.

            Já no terceiro andar, Beatriz tinha seu próprio quarto, assim como Christian, Rodrigo e Emily. Jorge dormia em um alojamento separado fora da grande casa.

            No primeiro quarto, estavam todas as que dormiriam lá. Débora, no entanto, acompanhava a sua amiga Micaela lá.

— Eu não sei vocês, mas eu irei tomar um banho naquela água agora! – Avisou Sabrina Findlay, no quarto das meninas e deu uma risada. As outras jovens que estavam perto se animaram com a ideia.

— Ai, amiga – disse Calista –, espera por mim. Só vou botar o meu biquíni.

— Vão vocês. Eu vou ficar por aqui mesmo... Tenho muito o que arrumar – Falou Isabela, e se sentou no chão.

— Por que não? A gente convence o Miguel a ir também! – A garota contou, e uma outra onda de gargalhadas se iniciou – Sabemos que você o acha um gato!

— Todo mundo acha ele um gato, não é, amiga? – Ela respondeu, esboçando um sorriso.

— É, mas você é a mais bonita daqui. Então, ele provavelmente vai escolher você! –Calista argumentou.

— A mais bonita? Logo eu? Na votação de mais bela da turma não era a Beatriz? Por causa de seus cabelos loiros e olhos azuis esverdeados?

— É, mas todos sabemos que ela não ia querer nada com o Miguel porque, bem... Ela não curte isso – Sabrina disse, fazendo uma careta.

— Hum, já que entramos nesse assunto... O que acham do Tomas Fagundes? Ele é gay, hétero ou assexuado? – Perguntava, Isabela, para as duas amigas. Porém, Taís ouviu a conversa e não conseguiu se conter.

— Assexual vocês querem dizer, né? Assexuado só bactérias, protozoários, etc. Por favor... – Corrigiu Taís Pontes, que ouvia a conversa indignada, franzindo o cenho – E ele não é gay.

— Hum... Ficou boladinha, fofa? – Brincou Isabela, em deboche. Taís fechou os olhos e se arrependeu do que disse.

— Boladinha? Ela está mais para uma bola mesmo, né! – Gargalhavam as três.

            Micaela e Débora viam toda a cena com desprezo. Olharam para as três com repreensão e perceberam o quanto aquilo estava fazendo mal para Taís.

— Vamos, Taís! – Disse Débora, levantando-se de biquíni, sem vergonha alguma do seu corpo volumoso, em resistência às três – Ponha sua roupa e vamos para a praia.

— Isso mesmo! – Falou Micaela, fazendo o mesmo. Ela não era gorda. Porém, também não era muito bem vista. Seu cabelo crespo e cheio que a enchia de orgulho e autoestima, era considerado sujo pelas outras.

            A atitude das duas elevou a moral de Taís de tal forma que ela se esqueceu do que foi dito a poucos minutos atrás e se levantou também. Pegou seu maiô na bolsa e foi se trocar para ir à praia. Após isso, elas partiram.

            Alice cruzou o caminho das três e notou seus trajes de banho.

— Hum, vão para a praia agora? – Questionou-as.

— Iremos sim. Chame os outros. Quer ir? – Foi Micaela quem respondeu, com um sorriso estampado na face.

— Claro. Vou fazer isso! – Alice se animou e teve uma boa ideia.

            A moça rapidamente se dirigiu para o quarto dos rapazes, onde sabia que seu irmão estava.

            A porta estava entreaberta, então entrou, mas logo se espantou com Caio nú, trocando de roupa, na sua frente. Arregalou os olhos e fechou a porta de imediato.

— Meu Deus! Você não sabe ir ao banheiro não? – Gritou ela, sentindo um pouco de graça na situação constrangedora.

— Perdão, irmã do Vini! Não foi a intenção! – Disse ele, corado, mas no fundo não se importava com isso. Terminou de vestir sua sunga de praia. – Pronto. Pode entrar.

            Alice respirou fundo e abriu a porta novamente. Dessa vez, não tinha o que se espantar.

— Eu ia chamar vocês para irem à praia. Mas parece que vocês já pensavam em ir, não é mesmo? – O rapaz ficou vermelho de vergonha e verdadeiramente excitado com a presença da moça, mas tentou disfarçar. – Onde estão os outros?

— Eu topo a praia! – Hugo disse atrás da mulher, que logo se virou. Fernando e Vinícius estavam juntos com ele.

— Ah, bom! E você, Vini? – Perguntou ela, de forma doce, para seu irmão que estava sentado no chão.

— Vou sim. Espere-me trocar, apenas...

— Tudo bem. Eu te espero. – Disse e fechou a porta, mas ouvia, lá de dentro, as vozes dos outros meninos, acompanhadas de risadas.

— Caio, olha como você está! – Era a voz de Hugo falando, indignado.

— Que foi, cara? Que posso fazer? Será que ela gostaria de...

— Pervertido! Óbvio que não – Resmungava Vinícius, da situação. Logo abriu a porta, avistando Alice novamente. Ele estava com uma regata leve branca, um short laranja e um chinelo. Além de um óculos escuro.  — Vamos lá?

            Ela concordou, e saiu com o irmão até fora da casa, onde alguns dos visitantes já se encontravam na praia. Caminhavam com passos curtos e demorados na areia em frente ao casarão.

— Eu quero te falar uma coisa... – Avisou ela.

— Ué, diga!

— Você é a pessoa que mais confio nesse lugar. E mais considero. Pode ser que algo inesperado aconteça nesses dias. Peço, então, que não se desespere. Mantenha a calma porque, enquanto eu estiver viva, tudo estará certo. Vou deixa-lo por dentro de todas as informações.

— Que tipo de informações? – Questionou, confuso, enquanto caminhavam.

— Informações sobre mim. Você vai saber o que é. Não agora, mas na hora certa.

— Não estou entendendo bem...

— Não precisa entender agora. Acredite! Só preciso que não esqueça, de forma alguma, disso agora. É muito importante. É a resposta para chegar nas informações. – Ele a olhou sem entender nada. Ela parou de andar, apoiou suas mãos nos ombros do garoto e se aproximou ainda mais, até que seus lábios se tocaram. O beijo durou poucos segundos, até que se afastaram novamente. Ela se virou para a praia novamente. Os dois ficaram um tempo em silêncio. Vinícius ainda estava confuso, mas ela preferiu mudar de assunto – Mas então, fale sobre você, maninho...  O que rola entre você e a Camila?

— Ah, bem... – Ele engoliu a seco, mas percebeu o nervosismo de Alice e não quis perguntar o porquê daquilo – A gente namorou por seis meses. Porém, terminamos, pois, descobrimos que não tínhamos nada a ver um com o outro... Ela é uma pessoa bem egoísta e materialista. E eu sou uma mais simples, sabe?

— Entendo perfeitamente. Também notei isso nas atitudes dela. Garota boba! Fútil!

— A gente é amigo ainda, sabe? Mas ainda me incomodo com isso...

— Sei bem... Já tinha reparado isso, na verdade...

            Eles terminaram a conversa bem na hora que os outros, que iam a frente, fixaram um lugar para ficar na areia.

            Enquanto a maioria foi se banhar, Alice continuou lá, sentada em uma cadeira, sob a sombra fornecida por um guarda-sol.

            Alice respirou fundo. Aproveitou o momento da leve brisa batendo no seu rosto e esvoaçando seus cabelos curtos. O ar fresco a acalmava. Ficou só de biquíni. Esticou as pernas, fechou os olhos e relaxou.

            De repente, sentiu uma presença estranha vindo atrás. Não queria se preocupar com isso e manteve na sua mesma posição.  

— E então, Carol? Aproveitando, é? – A voz a fez espantar e quase pulou da cadeira.  Não era de ninguém que a acompanhou na viagem. Arregalou seus olhos e, com certo medo, virou a cabeça, vendo a face de quem a chamava.

— Marlon? O que você está fazendo aqui?


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram do capítulo? Detestaram? Podem falar o que quiser!
Dei um pouco de espaço para Taís e o "trio da maldade" (na verdade é quarteto, mas no momento uma faltou). Que acharam delas? E sobre o Marlon? O que acharam dele? O que será que ele sabe? Quais seus planos? Quais os planos de Alice? Como assim Carol?
Até o próximo capítulo!