Sangue nas Areias do Foguete escrita por Pierre Ro


Capítulo 2
"Beijos! De Luana"


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente! E aí? Já suspeitam de algo?



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Trinta e oito dias atrás

Era bom estudar no Colégio Federal Afonso Cerqueira, mais conhecido como COFAC. Além de ótimos professores, todos com, no mínimo, mestrado, os alunos contavam com uma biblioteca espaçosa, assistência psicológica, aulas de monitoria, de reforço, atividades extracurriculares, viagens técnicas, entre outras coisas. Mas, o que alguns alunos podem destacar de mais aconchegante é o espaço físico. O paisagista que elaborou tudo aquilo devia receber muitos elogios, pois era simplesmente uma visão linda, agradável.  

Por vezes os estudantes e professores optavam por sair da sala para realizarem as aulas ao ar livre. Ou simplesmente saíam para revisar o conteúdo por lá mesmo.

            Vinícius fazia exatamente isso naquele momento. Embaixo de uma árvore frondosa, sentado em um banco de madeira, o garoto dava mais uma lida no livro de Literatura, ao som dos pássaros que lá habitavam. Afinal, a prova seria no dia seguinte e ele não admitia notas baixas.  

ꟷ Víni, você está entendendo a matéria? ꟷ Perguntou uma voz já conhecida por ele, vindo da sua retaguarda. Levantou a sua cabeça e sorriu, em direção a voz.  

ꟷ Você, Hugo? Achei que já tinha passado em tudo no terceiro bimestre! ꟷ Exclamou o garoto, rindo, para o amigo.  

ꟷ Quase tudo. ꟷ Disse ele, em tom de brincadeira, jogando-se no banco e pegando seu livro na mochila. ꟷ E aí, como vai com a Camila?  

ꟷ Ah, estamos indo, eu acho. Ela está dando aulas na monitoria de informática agora.  

ꟷ Entendi ꟷ disse ele, ajeitando seu óculos grande.   

            Hugo era o estereótipo clássico de um nerd. Óculos grandes, roupas escuras, usuário voraz de jogos virtuais ꟷ pretende até criar os seus próprios, agora que irá concluir o técnico de informática ꟷ muito inteligente, antissocial e possui poucos amigos. Porém, com os últimos anos, ele foi perdendo a timidez com os seus colegas de turma e foi fazendo algumas amizades, um deles foi Vinícius.  

ꟷ E sobre a nossa formatura? Precisamos resolver isso logo! ꟷ Relembrou Hugo para seu amigo, que desistiu de estudar.  

ꟷ Eu sei. A Bia falou que ia conversar com a nossa turma a respeito disso. Provavelmente falará sobre a casa de Cabo Frio dela.  

ꟷ Acha que ela vai ceder a casa do governador para a gente?  

ꟷ Sim. Acho que sim. Somos possíveis eleitores dele, então...  

ꟷ É. Verdade. Você falou certo. “Possíveis” eleitores. Ninguém aqui é maluco de contribuir para um rato daquele se reeleger.

            Eles pararam de falar por alguns minutos. Respiraram o ar puro daquela escola. Admiraram o bonito som dos pássaros e esqueceram das provas do dia seguinte.  

            Do portão do prédio principal, Alice saiu. Nem estava tão bem vestida, mas a sua presença e seu sorriso conseguiu chamar a atenção de todos que estavam perto.   

ꟷ Vinícius! ꟷ Disse Hugo, cutucando o seu amigo e apontando para ela, com o olhar fixo nela e admirando sua beleza. ꟷ Quem é aquela?  

ꟷ Pelo sorriso, está realizada por ter conseguido o emprego de nova psicóloga do colégio! ꟷ Contou ele, sorrindo para a irmã.  

ꟷ Nova psicóloga? Nossa, que deusa! Maravilhosa! Vou querer me consultar todos os dias! ꟷ Exclamou ele, examinando a moça, que estava se aproximando dos dois ꟷ E, nossa! Está vindo pra cá!  

ꟷ É a minha irmã ꟷ Alertou ele, fazendo o amigo imediatamente tirar a atenção dela e se virar para ele, meio assustado

ꟷ Eita! Que doido! Mas, você sempre disse que era filho único!  

ꟷ E eu achei que era, até descobrir que a minha irmã desaparecida há catorze anos atrás, na verdade, está viva e bem.   

ꟷ Nossa! Foi em um daqueles sites de reencontros? ꟷ Indagou ele, e o jovem fez que sim com a cabeça.  

ꟷ Olá! ꟷ Cumprimentou Alice, já perto dos rapazes. ꟷ Estou tão ansiosa. Começo amanhã o trabalho!    

ꟷ Parabéns, Alice! Sabia que era boa! ꟷ Falou Vinícius ꟷ A propósito, esse é meu amigo, Hugo.  

ꟷ Prazer!   

ꟷ O prazer é todo meu! ꟷ Disse ele, e corou um pouco após ter falado.   

            Os irmãos riram.  

ꟷ Então, vocês já vão ir embora? ꟷ Indagou ela.  

ꟷ Eu vou daqui a pouco. Acabei de fazer uma prova e, no final, uma colega nossa, Beatriz, quer falar conosco sobre a viagem de formatura.  

ꟷ Ah, entendi. Quando ela vai falar sobre isso?  

ꟷ Na verdade, acho que já está na hora...  

ꟷ Ótimo. Vou espera-lo, então ꟷ disse, sentando-se ao lado de seu irmão. Mas, ele logo se levantou, junto com Hugo, e foram até a sua sala de aula.  

            Quando estavam bem longe, Alice olhou seu celular, fez um sorriso sorrateiro e disse, baixinho:  

ꟷ Excelente! Continue assim, Bia... Continue assim!   

†††

Quarenta dias atrás

Celular da Beatriz. Na rede social “KnowNow”:

Bijuu4: Olá! Como vai?.

Allieda: Oi querida. Vou bem! E você?

Bijuu4: Vou bem sim.

Allieda: Já cheguei no Rio! o/

Bijuu4: Ai que ótimo! Então finalmente poderemos nos encontrar!

Allieda: Claro! Quero muito isso. Parece que somos íntimas já, não é mesmo??

Bijuu4: Sim! É muito legal conversar com você, contar coisas e tals e saber que ninguém vai descobrir pois é tudo anônimo.

Allieda: Hahaha é verdade. Principalmente depois daquele acordo de não revelarmos os nossos verdadeiros nomes nem fotos.

Bijuu4: Fotos de rosto, né? Porque de outras partes... Hahaha

Allieda: Hahahahaha ai, nossa!

Bijuu4: Nossa, cara! Meu pai me mataria se descobrisse isso! Diria que é imoral. Não que não seja, dependendo do conceito de cada um.

Allieda: É, imagino. Um cara que sonega impostos, desvia dinheiro e ainda agride sua mulher certamente tem muita credibilidade para falar o que é moral ou não é.

Bijuu4: Hahaha verdade. Mas como você sabe disso? Nunca contei que ele desviava dinheiro... Só que já sonegou impostos, pois acha que isso é “legítima defesa”. Mas MUITA gente faz isso.

Allieda: Contou agora, na verdade.

Bijuu4: Bah, não ligo! Sei de coisas sobre você também...

Allieda: KKK’ Claro...

Allieda: Ah, tive uma ideia. Você ainda vai fazer a sua festa de formatura?

Bijuu4: Não sei. O povo da minha turma é todo enrolado...

Allieda: Ah, por que você não leva eles para a sua casa de praia? Aproveita e me leva junto haha’.

Bijuu4: Já me deram essa ideia, mas preciso falar com o meu pai... Ele precisa autorizar. Seria ótimo, na verdade.

Allieda: Fala com ele. Aposto que ele vai entender. Depois, eu posso aparecer lá para você...

Bijuu4: Estou gostando hahaha. Mas provavelmente ele estará lá para encher o nosso saco.

Allieda: Ah, mas a gente poderia dar um jeito...

Bijuu4: Hahaha aham. Curiosa para saber quem é você.

Allieda: Aposto que vai se surpreender. Hehehe.

Bijuu4: O mesmo vale para ti.

Allieda: Ah, você é ótima! Vou ter que sair agora, querida. Até mais!

Bijuu4: Até mais, flor.

 

†††

Trinta e seis dias atrás

Era a última choppada do período. Christian sabia e queria apreciar cada momento que os alunos da sua universidade ofereciam. As músicas estavam em um volume alto, chegando a incomodar quem estava perto das caixas de som.  

Havia muita gente no ambiente. Gente bêbada. Fazendo coisas que provavelmente se arrependeriam mais tarde.  

O rapaz tentou se policiar. Não queria exagerar na bebida. Ficaria mal para ele, o filho do governador, estar em um estado como aquele. Apenas tinha a intenção de começar curtindo o som é terminando na cama com alguma mulher que o próprio se interessasse.  

            No entanto, ele não foi capaz de cumprir com a sua meta. Cristian Drummond excedeu no álcool, ficando em um estado crítico. Não conseguia ter controle em seus atos.  

No meio da festa, encontrou uma jovem que lhe chamou atenção. Ela tinha pele branca bronzeada, cabelos curtos, pretos e lisos. Seus movimentos, sua forma de dançar, eram encantadores. Ele ficou a admirando, até que ela chegou perto e resolveu puxar assunto.  

 Ele também se sentia um rapaz bonito. Gabava-se de seus olhos azuis, herdados do pai. Deixava os cabelos castanhos claros em forma de topete e a barba por fazer.  Sua pele era branca, porém, por frequentar muito as praias, tinha um tom bronzeado.  

— Hum, percebi que estava me observando, não é mesmo? – Indagou ela, sorrindo. Parecia estar um pouco em efeito de álcool também.  

— Mas é claro! Como não admirar uma beldade dessas?  

            Ela gargalhou alto, deixando Cristian um pouco sem jeito.  

— Ah, desculpa! É que você disse "beldade"! Realmente está bem bêbado ou não usa a internet! – Ele não falou nada, apenas estranhou o comentário – Mas deixa para lá! Como você se chama? E qual o seu curso?  

— Christian, e Economia. Sugestão do meu pai. Mas penso em mudar depois. Sei lá, não é muito a minha cara... E você? É nova? Nunca te vi aqui...  

— Ah não, sou uma intrusa mesmo. Vim de longe. E me chamo Luana. – Respondeu, mentindo a última parte. 

— Oh, então... – ele pausou um pouco, pensando no que faria – Quer que eu pague um chopp para você?  

— Hum, eu agradeceria.  

Ele sorriu, pois estava gostando do rumo que as coisas estavam tomando. Ele pagaria um chopp, eles se beijariam e acabaria em sexo.  

Ele pagou a bebida e os dois ficaram conversando por um tempo, até que ele, extremamente atraído pela moça, aproximou-se e deu um beijo intenso e forte nela. Ela nem teve tempo para reagir, mas não falou nada.   

— Quer ir ao meu apartamento que fica aqui perto? – Indagou ele, perto do ouvido dela. Não conseguiu fingir ter gostado do jeito que ele fez aquilo, mas ele não se importou. Ela revirou os olhos, e falou que sim. 

            Os dois caminharam por alguns metros, ele abraçava a cintura da moça. Pela sua expressão, estava se vangloriando por ter conquistado moça com tamanha beleza. 

— Olha ali, é onde eu estou vivendo com uma amiga – falou ela, apontando para uma casa não muito longe do campus. 

            Ele olhou e elogiou a casa, mas não estava se importando com isso.

            Logo eles chegaram ao apartamento. Era ali onde ele ia para dormir quando não sentia vontade de voltar para a casa do pai. Seria um lugar muito desorganizado se não fosse por uma senhora que era paga para, semanalmente, ir manter o lugar limpo e arrumado. 

— Então... De onde você é?  

— Não sou desse estado, na verdade. É uma longa história, mas voltarei para a minha cidade natal amanhã. Quero aproveitar o máximo do Rio até lá. – respondeu ela, sorrindo maliciosamente – Inclusive os cariocas. 

Ambos riram. Seguiram caminhando juntos, com Christian por vezes passando a mão nas nádegas da sua parceira. O seu cheiro, para ela, era insuportável, mas permaneceu quieta e fazendo o jogo dele. Não falaram muito até chegar no apartamento de Christian, que era bem perto da universidade. Aproximadamente uns cinco minutos andando.

Chegando lá, ele fechou a porta e logo a agarrou, beijando todo o seu corpo. Estava bastante bêbado. Nem se importava com o que a parceira estava sentindo. Só pensava em ter a sua própria satisfação. Deitou-a no sofá e ficou por cima, apalpando suas coxas e seios.

            Até o momento que ela parou e se afastou dele. 

— Qual o problema? – Perguntou ele, com um hálito desagradável de álcool.

— Estou com sede. – Ela demorou um pouco para responder. – Tem vinho aqui? – Questionou-lhe, parecendo não se importar com a vontade quase incontrolável do rapaz de levá-la à cama. Ele revirou os olhos e virou de costas para ela, esperando no sofá.

— Pegue na geladeira. E ponha um pouco para mim também.

Ela sorriu, virou-se, e foi até lá. Alice precisava fazer com que ele não se lembre do acontecido de tão dopado que estará. Apanhou a garrafa de vinho e encheu dois copos. Antes de entregar, despejou, sem ele ver, uma boa dose de Benzodiazepina que estava em uma pequena caixa cilíndrica na sua bolsa, substância parecida com o conhecido “Boa noite, Cinderela”, no copo e o entregou para o rapaz, que tomou tudo em poucos goles. 

“Assim, ele não vai nem lembrar da minha cara” Ela pensou.

— Agora podemos começar? 

— Antes eu gostaria de ligar para a minha amiga. Dizer a ela que estou bem. – Ele revirou os olhos novamente, irritado por ter que esperar tanto. – E meu celular está descarregado. 

            Christian entendeu o que ela queria dizer. Pegou seu celular do bolso e o entregou a moça, que agradeceu. Também não ficou parado. Levantou-se, e enquanto “Luana” estava digitando o número, ele a abraçou por trás e ficou beijando seu pescoço sedutoramente.

— Alô? Júlia? – Falava ela, no telefone, – Sim, tudo certo! Estou bem. Volto, sim. Tchau!            

            Finalmente desligou e Christian não pôde resistir de dizer “Ainda bem!”. 

— Pronto, vamos ao que interessa – anunciou ele, puxando-a pela cintura, em direção ao quarto. Dessa vez, ela correspondeu beijando-o também. 

Porém, sem ele perceber, Alice tinha colocado o celular de Christian na sua bolsa. Também, não haveria como ele se lembrar disso, já que estava altamente alcoolizado e o efeito da droga já havia começado.

            Ela o empurrou para a cama e o mandou tirar a roupa, enquanto ela ficava na ponta do colchão. Ele se divertia com o jeito dela e resolveu seguir. Tirou a blusa e a calça, ficando apenas de cueca.

— Muito bem. Agora é a minha vez... – Disse ela, abrindo o zíper de seu vestido e o tirando. Não demorou muito e ficou apenas de calcinha e sutiã. Ele a examinou com malícia. Ajoelhado, aproximou-se e beijou sua barriga, foi subindo e chegou até a boca. 

            Ela se jogou contra ele e ficou por cima. Ele deitado, e ela ajoelhada, entre a barriga do rapaz.

            Os olhos dele já estavam marejados. Sentia sono. A jovem já sabia que estava na hora e sorriu.

— Deixe que eu faço essa parte para você... – Falou, passando a mão pelo corpo musculoso dele, que não a atraía, devido às suas atitudes. 

            De repente, ele fechou os olhos e dormiu profundamente. 

— Bons sonhos, trouxa! – Disse a ele, mesmo estando inconsciente. Gargalhou alto. Havia conseguido o que queria e não precisou chegar a ter relações sexuais com ele.

            Observou o local. Havia um pequeno criado-mudo no quarto e resolveu abrir. 

— Ótimo! Tem o que eu quero! – Exclamou, apanhando um bloco de notas e uma caneta. Sorria como uma criança. Apoiou o bloco sobre o criado-mudo e escreveu uma mensagem para Christian. Em seguida, vestiu novamente seu vestido e seus sapatos. Passou no banheiro e ajeitou o cabelo com as mãos. Piscou para si mesma e foi embora.

            Ao lado de Christian, o bilhete dizia o seguinte:

“Desculpe por ter que sair cedo demais. Precisava ir. A noite foi maravilhosa e você é um fofo. Espero que a gente se encontre outro dia. Beijos!  -Luana”

— Alô? – Dizia ela no seu próprio celular, ao mesmo tempo que caminhava até a casa que disse ser sua – Sim, tudo feito! Não, não precisei ir para a cama com aquele machista imbecil! Mas já tenho o celular dele. Com certeza tem informações valiosas aqui. Tudo bem. Agora, a segunda e a mais difícil parte do plano. Vai dar certo sim, ou não me chamo Alice!


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Notas finais do capítulo

Só pra não confundir a cabeça:
14 anos atrás: Alice e Carol foram sequestradas
11 anos: Alice e Carol executam o plano de fuga
40 dias: Alice volta ao Rio de Janeiro, e acontece a conversa no aplicativo "KnowNow".
35 dias: Alice é, oficialmente, a nova psicóloga.
31 dias: Ocorre o encontro de Christian.
Atualmente: Os jovens se dirigem a Cabo Frio.

E aí? Gostaram? Detestaram? Ficaram confusos? Se sim, então cumpri o objetivo! Hahaha Mas garanto que, no final, tudo vai fazer sentido.
O que acharam dos novos personagens que foram introduzidos? Contem suas expectativas!
Quanto ao título dos capítulos... Optei por colocar a frase que mais destacou ou que mais identifica o capítulo. O que acham dessa ideia?
E sobre a frequência das postagens? Sugestões? Como eu disse, já tenho tudo pronto.
Até a próxima! o/