Na Minha Vida escrita por André Tornado


Capítulo 38
Acreditar sempre


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior:
Os rapazes vão para o estúdio de Brian Epstein e ensaiam uma canção para ser gravada, mas esse ensaio acaba por ser registado e é criada uma primeira demo para apresentar a editoras discográficas. Epstein aceita ser o empresário dos Beatles e John, Paul, George e Ringo estão cheios de confiança num futuro no mundo da música.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/734139/chapter/38

John despediu-se da namorada na porta do pub onde iria encontrar-se com os amigos, para aí esperarem pelas novidades que seriam trazidas pelo seu empresário, Brian Epstein. Paul tinha sugerido uma cafetaria, George concordara a pensar nos bolos que poderia comer com um generoso copo de leite, John cortara a ideia sem qualquer pingo de diplomacia, insultando os dois amigos. Queria estar num bar onde pudessem consumir bebidas alcoólicas, para comemorar as boas notícias ou para afogar as mágoas se fossem más. A lógica era indesmentível e todos concordaram com a escolha dele.

Deu um beijo apressado nos lábios da namorada e mandou-a embora com impaciência. Estava apaixonado por Cynthia, naturalmente se a considerava como a sua namorada, a primeira mulher com quem saía de forma estável no espaço de três anos, mas não a queria por perto naquela hora crucial para a sua carreira musical. Havia coisas que simplesmente não achava pertinente ou normal partilhar com uma mulher. Tinha uma certa noção machista do mundo que ele não via como errada ou acrónica.

Conhecera Cynthia Powell após um concerto no clube Caverna.

Pouco tempo depois de eles terem assinado o contrato com Brian Epstein, estabelecendo-o como o gestor da carreira dos Beatles, este arranjara-lhes uma temporada de concertos nesse clube. Para começar, dissera-lhes. Era um local com má reputação, sujo e esconso, mas eles já o conheciam e o gerente também os conhecia a eles, portanto havia que explorar aquela hipótese para que começassem a ganhar notoriedade e também experiência. Se tocassem tão bem quanto sabiam iriam chamar a atenção das pessoas certas e em breve, assim lhes prometera Epstein, começariam a subir, paulatinamente, a escada do sucesso. Um novo clube, salas de espetáculos, gravação de um disco.

Cynthia Powell pertencia a um mundo diferente do de John. Talvez tivesse sido a curiosidade de explorar um reino proibido que o estimulou na conquista. Quando apareceu no Caverna também se notou logo à distância que ela não pertencia ali, um anjo loiro e belo que não se sentia muito à vontade num local tão decadente. Fora ao Caverna com um grupo de amigas, uma delas já ali tinha estado e até metera conversa com Ringo… A música deles acabou por descontraí-la e, a meio da atuação, John sussurrara a Paul que estava a ver a mulher dos seus sonhos.

A jovem com aspeto de princesa pertencia a uma família da classe alta que vivia numa vivenda de um bairro exclusivo, com jardim e piscina para uso do condomínio, com relvados e garagens privadas, um local deslumbrante e assustador no seu conceito. Lennon fora apresentado aos pais da moça durante um jantar formal e nunca se tinha sentido tão acossado, ao ponto de ter passado a ocasião a resmungar monossílabos sempre que era interpelado pelo pai austero, um Charles Powell que era corretor na bolsa, pela mãe antipática, Lillian Roby, que se distraía a manter uma galeria de arte, e pelos dois irmãos mais velhos, Charles e Anthony, que faziam uma carreira académica brilhante, com resultados no desporto, nomeadamente na vela, igualmente sensacionais.

Quando se viu livre daquela casa e daquela gente, após despedir-se de Cyn, como a tratava, sentiu um alívio maior do que quando tinha saído da prisão…

Mas nem por isso deixou de a ver e de a convidar para sair. Queria-a a ela, não à sua família insolente. Apesar de ser uma menina nascida em berço de ouro, Cynthia foi desde logo muita aberta em questões relacionadas com sexo e quando ele lhe pediu para irem para a cama, não recusou, nem se escandalizou. Dormiam juntos muitas vezes, sem qualquer arrebate de consciência ou de decência. Ela era solícita aos desejos dele, ele aproveitava para descarregar as suas tensões diárias nas brincadeiras entre lençóis que fazia com ela. Uma vez, Paul aconselhou-o:

— Cuidado, Johnny… Quem anda a chuva pode molhar-se.

— O que queres dizer com isso?

— Tu e a Cynthia, Johnny. Conheço-te bastante bem, aposto que não estás a tomar nenhum cuidado. E se ela fôr leviana como tu…

Ele percebeu onde o amigo queria chegar com aquela seriedade destoante. Piscou um olho e disse indiferente:

— Ah… Bebés! Se isso acontecer, Macca, teremos de nos casar… Não te preocupes, saberei assumir as minhas responsabilidades.

Os seus companheiros da banda também refizeram a sua vida amorosa, mais ou menos. George mostrava-se demasiado mulherengo para querer assentar, Ringo restabelecera a sua relação estranha com a ex-mulher Maureen. Um dia ela aparecera no Caverna, bebera uns copos a mais, ele tivera de a levar para a sua casa, passaram a noite juntos e quando ela deixara a cidade, pedira-lhe para que lhe ligasse todas as semanas como costumava fazer antes. Ringo andara confuso durante uns tempos, hesitando se estaria a trair a ex-mulher se aceitasse sair com outras mulheres – e eram algumas que o assediavam no Caverna! John esclareceu-o com algum humor corrosivo e provocações que resultaram numa discussão acesa, depois disso o baterista aceitou que era efetivamente um homem livre.

Quanto a Paul, conhecera uma fotógrafa chamada Linda Eastman num jantar da empresa de contabilidade onde trabalhava de dia, para cumprir as condições do tribunal, aliás todos eles mantinham os seus empregos e só tocavam aos fins-de-semana. Paul e Linda tropeçaram um no outro quando ambos estavam a tentar escapar-se desse encontro social fastidioso, repleto de pessoas desinteressantes. Chocaram de frente no parque de estacionamento por onde fugiam, estatelaram-se no chão, zonzos, pediram desculpas em simultâneo, caíram na gargalhada e combinaram um café juntos como reparação. Ela era mais velha do que ele, a maturidade dela desconcertava-o e Paul sentiu-se imediatamente atraído. Linda gostava de o fotografar quando saíam juntos e escolhiam paisagens bucólicas nos parques da cidade, nas quintas dos arredores como pano de fundo. Ele propôs-lhe que fotografasse a banda e ela tirou as primeiras fotografias aos Beatles, num antigo terreno pejado de comboios desmantelados. John não gostava dela e Ringo dizia a George que eram ciúmes. De Paul? Não, da Linda…

Naquela hora do fim da tarde, o pub começava a encher-se de clientes que saíam dos seus respetivos empregos e vinham tomar uma cerveja antes de seguir para casa. John penteou o cabelo com os dedos, respirou fundo. Reunia em si toda a coragem que possuía, não que estivesse com medo de entrar ali e enfrentar os seus amigos que deviam estar tão nervosos quanto ele, mas porque precisava de ser o mais forte do grupo se aquele não fosse o dia que eles esperavam. Tinham depositado todas as esperanças naquilo e ele sabia que se a resposta fosse negativa, a depressão seria mais negra do que o habitual… E ele não tinha a certeza de que as notícias seriam boas… E ele não tinha a certeza de que teria toda essa fortaleza que precisaria ter…

Empurrou a porta do bar e entrou esbanjando confiança. Não precisou procurar pelos amigos, pois George levantou a sua caneca para assinalar qual era a sua mesa e para aí se dirigiu caminhando com a sobranceria irritante de uma grande estrela de rock ‘n roll. Sentou-se entre Paul e George, de frente para Ringo. As mesas eram redondas, de madeira escura e cheiravam a malte por conta de toda a bebida que se derramara no tampo e se entranhara nas fibras, e quando se acomodou desapertou ligeiramente o nó da gravata. Estalou os dedos e pediu ao empregado do balcão uma caneca para si. Estavam todos a beber cerveja preta.

Uma das primeiras ações de Epstein, enquanto empresário, foi cuidar-lhes da aparência. Disse-lhes que eles não podiam andar vestidos daquela maneira tão descuidada, na primeira reunião formal que tiveram para discutir questões sobre a carreira dos Beatles. Evitava olhar diretamente para John, de facto Epstein falou com todos eles sem se fixar num ou noutro, mas ele sentiu-se atingido pelas palavras contundentes do empresário. Talvez o primeiro encontro, em que ele estava assumidamente fedorento, contribuíra para que um dos primeiros pontos da agenda fosse a forma como se apresentavam… Mas não estava diretamente relacionado, ou talvez Epstein não queria que pensassem assim pois explicou-lhes que ele trabalhara brevemente no teatro e que sabia como uma boa apresentação determinava o sucesso. Eles gostaram especialmente da palavra sucesso e seguiram os conselhos à risca, obedientes, como bons rapazes ávidos de aprender o que ainda não conheciam.

A farpela sugerida foi um fato de duas peças, composto por calça e casaco, complementado com uma gravata discreta de uma cor escura. Paul sentiu-se muito confortável, pois costumava vestir-se assim desde que saíra da escola secundária e arranjara o seu primeiro emprego, na sede de campanha de um político. Ringo aceitou bem porque era vaidoso e gostava de impressionar com a sua presença. George tentou minimizar o impacto no seu aspeto, pois achava que o fazia mais velho, por outro lado gostou que deixassem de o importunar por causa da idade. John foi aquele que mais contestou o traje, mas acabou por aceitá-lo contrariado depois de ter falado com Paul.

Para além da roupa, Epstein também lhes deu conselhos sobre o cabelo, pedindo-lhes que o mantivessem com um corte razoável e com a franja. Gostava da franja. Pediu-lhes ainda que não deixassem crescer bigode, nem barba, que a cara deveria estar sempre devidamente escanhoada, pois eles eram jovens e iriam ser apresentados como o epítome da juventude inquieta, prodigiosa e entusiasmada. Não se podiam esconder atrás de pelos faciais, de máscaras peludas e de outras marcas de inconformismo que podiam ser confundidos com desleixo e desprezo. Mais uma vez, John foi o mais crítico e mais uma vez deixou-se convencer por Paul, que foi bastante veemente também naquela questão.

— Ele sabe o que está a fazer. Nós acreditamos no Brian, Johnny.

— Sim, nós dissemos-lhe isso. Eu lembro-me que afirmámos que acreditávamos nele, Paulie, naquele dia em que nos conhecemos. Mas esta apresentação… Preferia casacos de couro e calças de ganga azuis esfarrapadas, cabelos compridos e um certo desmazelo. Somos estrelas de rock, não meninos que cantam num coro de igreja!

— Talvez seja essa contradição que ele procura na nossa imagem. Cantamos rock, berramos ao microfone, cheios de força e de alegria, mas por outro lado somos rapazes apresentáveis, que podemos sair com qualquer filha de uma boa família. Iremos cativar tanto os miúdos, como os graúdos. Ser agradáveis para todas as gerações.

— Talvez eu não queira agradar a toda a gente.

— Nem precisamos de fazer disso um objetivo prioritário… Basta que sejamos nós próprios dentro destes fatos e tudo sairá bem.

— Não achas que é tudo demasiado…?

— Demasiado quê?

— Demasiado… amaricado!

— Oh… E insistes nisso, Johnny. Não é por que o Brian… Bem, por ele ser como é que vai querer transformar-nos no que ele é. Ou algo semelhante. A lógica não se aplica linearmente. Nós sabemos muito bem quem somos e não vamos mudar só por causa de uma gravata ou de estarmos penteados e limpos.

John remoera a sua opinião e decidira-se a não guardar nenhum remorso, nenhuma opinião. Era sempre pior quando o fazia. A pequena chama transformava-se numa explosão que varria tudo à frente. No dia em que foram os quatro ao alfaiate para experimentarem os seus fatos novos, tendo depois feito uma pequena sessão fotográfica num estúdio, não se contivera. Epstein estava deliciado com os seus quatro rapazes, o produto da sua orientação, a mudança óbvia que os tornava em algo muito mais sedutor. Os seus olhos brilhavam de orgulho e de fascínio. E John, ao passar por ele, entoara de forma melosa:

Hey, you’ve got to hide your love away…

— Isso é uma canção? – perguntara-lhe Epstein, o sorriso a abrir-se e a criar covinhas nos cantos da boca.

— Poderá ser…

Depois disse-lhe o que pensava sobre tudo aquilo, desde o fatinho composto, até ao cabelo milimetricamente penteado, às caras limpas, à imagem impecável de quatro meninos bem-comportados. Brian colocara-lhe as mãos sobre os ombros e dissera-lhe:

— Preciso que tu faças com que tudo seja absolutamente natural.

E com aquele voto de confiança, John Lennon murmurara um sim, compreendendo que se encerrara a controvérsia, em definitivo.

No pub, ao lado dos seus amigos engravatados, ele recebeu a sua caneca e bebeu um gole de cerveja preta. Deixou o líquido arder-lhe pela garganta abaixo. Não se sentiu satisfeito e deu um segundo trago. A ansiedade fazia-o imprevisível. Ele não se sentia muito bem, mas não quis confessar que estava tonto, enjoado e quase a entrar em pânico. Deu um toque no braço de Paul com o cotovelo.

— O que foi?

— Achas que ainda vamos ter de esperar muito?

— Acabaste de chegar, Johnny.

— Eu sei, eu sei…

Bebeu metade da cerveja. Pousou a caneca com um baque e salpicos borrifaram a mesa. Ringo olhou-o de esguelha, com a sua caneca meio bebida na mão. Paul expirou ruidosamente. Ele também estava ansioso, mas não queria ser o elo mais fraco do grupo e demonstrar toda a sua apreensão, que podia contaminar os outros com os seus pensamentos ruins. John tentou sorrir-lhe mas fez-lhe uma careta. Paul franziu uma sobrancelha.

— Esta tudo bem, John?

Voltou-se para o mais novo e semicerrou os olhos.

— Sim, George. Sim, está tudo bem…

— Estás assustado… Nós também – disse Ringo, seco.

— Não estou assust…

— Não vale a pena estares a esconder o que quer que seja, já te conhecemos bastante bem para percebermos quando não estás nos teus dias melhores – cortou Ringo inclinando-se sobre a mesa, mantinha a caneca em suspensão. – Tens medo de que as notícias sejam más. Nós também, amigo.

John apertou os lábios, fungou de raiva. Paul apertou-lhe o braço para que ele se acalmasse. O baterista prosseguiu:

— Sabes? Eu já estive deste lado, já toquei numa banda que não teve futuro nenhum. E não quero repetir a experiência… Sonhei muito em fazer vida na música, gosto de tocar bateria e quando isso me foi roubado, sofri bastante. Conheço esse sofrimento e não quero repeti-lo. Por isso, podes contar comigo para que isto dê certo, de uma vez por todas. Eu estou nisto contigo, John, até ao fim. Com vocês dois também, Paul e George. Pois sei que estão incondicionalmente comigo.

— Agora as coisas vão ser melhores – afirmou George confiante.

Ao fim de algumas canecas, Brian Epstein chegou ao pub. Os quatro rapazes levantaram-se da mesa e aproximaram-se do empresário que regressava de uma reunião com a Decca Records. A primeira tarefa fora cuidar-lhes da aparência, a segunda fora enviar a gravação da canção que eles lhe tinham cantado e tocado para consideração de um produtor discográfico e, convencido do seu valor e do seu talento, Epstein tinha escolhido a maior editora musical do país. A aposta inicial era grande. A reunião com esse produtor tinha sido agendada para aquele dia e combinaram encontrar-se com Epstein no pub para saber os resultados.

As hipóteses eram apenas duas: ou tinham sido contratados ou não tinham sido contratados. Pela palidez de Brian Epstein, Paul percebeu desde logo qual das hipóteses acontecera. Encostou-se a John para ampará-lo ou para refreá-lo, caso a reação fosse mais física do que o esperado. George fez a pergunta que todos temiam verbalizar:

— E então, Brian? O que foi que aconteceu?

No início estabeleceram que se tratassem informalmente e eles usavam os nomes próprios, ou então a alcunha de Eppy, inventada por John, quando o ambiente estava mais descontraído. O que não era o caso, ali, especados no meio do bar.

Epstein sorriu-lhes com tristeza.

— Lamento, rapazes. Mas a Decca Records não está interessada nos Beatles.

John estremeceu e Paul passou-lhe um braço pelas costas. Ringo dobrou o pescoço e todo ele pareceu minguar com a desilusão. George transferiu o peso de uma perna para a outra, a morder os lábios. A gravação era muito boa, a canção era excelente, tocaram de uma forma quase perfeita – eles tinham escutado posteriormente a demo e tinham adorado, nem se tinham reconhecido e brincaram que eles não eram capazes de tocar assim – o que havia para não gostar, o que tinha motivado a recusa, aquela redonda negativa?

Não queriam saber os pormenores.

Regressaram à mesa e tentaram animar-se. Brian anunciou que iria pagar a próxima rodada e eles escolheram bebidas mais fortes – e mais caras. Epstein preferiu rum, eles quiseram whisky com coca-cola.

As piadas não saíam, as frases espirituosas sumiram-se, estavam tão tristonhos que faziam risos falsos e não diziam nada que prestasse. Preferiam beber e lamentar-se, afirmando que era a Decca que ficava a perder sem eles, não eram eles que tinham perdido por ficarem sem a Decca e chavões inventados para a ocasião que se destinavam a levantar-lhes o espírito e a lavar-lhes o ego, mas que não surtiam qualquer efeito prático. A depressão agarrava-se-lhes à pele, dentro daquele bar, como coisa peçonhenta.

Em breve ficaram bêbados. Não experimentaram aquela alegria típica dos ébrios que fugiam do mundo sombrio nas asas aconchegantes do álcool, pelo contrário. Curvaram-se sob o peso daquele desengano, suspiraram por causa da sua pouca sorte, calaram-se em murmúrios chorosos, não queriam regressar aos seus empregos horríveis que foram obrigados a aceitar por causa da liberdade condicional, amaldiçoaram-se e consideraram a desistência como uma alternativa.

No entanto, John detestava a conjugação do verbo desistir.

Ali não acontecia nenhuma epifania transcendente que os fazia crer no porvir. Ali estavam a enfrentar a dura realidade de que não iriam a lado nenhum, que o negócio da música era uma merda, que a sua situação era outra bosta.

E John hasteou a bandeira da glória, da estúpida e vã esperança. Ele era o comandante daquele navio e precisava dos seus marinheiros.

Embriagado, ergueu o seu copo de whisky com coca-cola.

— Para onde vamos, fellas?

Paul, George e Ringo levantaram os olhos para ele. Viram-no como um arauto de promessas douradas, de sonhos cumpridos. Eles deviam acreditar como John acreditava. Responderam a uma só voz:

— Para o topo, Johnny!

John insistiu no traço inequívoco do caminho que iriam trilhar:

— E onde é isso, fellas?

To the toppermost of the poppermost!!

— Certo!

Os copos chocaram-se num brinde efusivo. Os quatro rapazes soltaram uma gargalhada, sacudindo para longe o manto pesado e negro da melancolia. Esqueceram a Decca Records, definitivamente. Riram-se aos soluços, riram-se a chorar, riram-se sem saber por que se riam, riram-se de boca fechada e de boca aberta, riram-se como loucos e fizeram uma festa.

Brian Epstein, queixo assente na mão, na outra tinha o seu copo de rum, olhava-os embevecido, com um sorriso de puro deslumbramento.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Os Beatles não conseguiram o tão ambicionado contrato com uma editora discográfica e ficaram desiludidos. Mas eles devem... acreditar sempre! John encarregou-se de os animar - o diálogo do fim do capítulo é retirado da vida real, pois antes da fama e sempre que eles estavam desanimados, o John motivava-os dessa maneira. Podem conferir neste vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=GzzeaU6p4wI

Pois bem, apresentámos mais algumas mulheres dos Beatles. Como estamos em terreno de universo alternativo, baralhei mais uma vez os acontecimentos. Apareceu a Cynthia como "oficialmente" a primeira namorada estável do John. O Ringo ainda continua com a Maureen e como o George já passou pela Pattie - lembram-se que era com ela que iria casar, mas que foi tudo desmanchado e ele ia fazer uma viagem quando estava no Banco Central - então passou para a fase de mulherengo. Já o Paul, como também já teve a sua Jane, conheceu a Linda.
Quando escrevi o capítulo ainda considerei usar outro nome para a editora discográfica que rejeitou os Beatles, mas depois resolvi manter o nome da editora que efetivamente os rejeitou, em janeiro de 1962, a Decca.
As bebidas que eles estão a beber no fim do capítulo, para afogar a sua mágoa pela rejeição, foram as bebidas que eles beberam depois de terem sabido a notícia de que não iriam ser contratados pela Decca.
E temos os fatos à Beatle e os cabelos novamente cortados à Beatle, sem os bigodes e as barbas desleixadas que ganharam na sua estadia na prisão...

Próximo capítulo:
Vida dura, vida de artista