Na Minha Vida escrita por André Tornado


Capítulo 35
Oito meses depois


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior:
Depois de passarem uma noite em claro, na companhia do saco de dinheiro roubado, John, Paul e George decidem que vão ajudar o Ringo, que não podem ficar em paz consigo próprios se não o fizerem. Só existe uma coisa a fazer e vão entregar-se à polícia.



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Pela escadaria do tribunal de imensos degraus de mármore branco passavam centenas de pessoas diariamente. Advogados, arguidos, testemunhas, oficiais de justiça, funcionários, jornalistas, familiares e amigos de pessoas que precisavam de estar presentes em diversas audiências, até juízes que apreciavam a humildade de entrarem pelo mesmo lugar que todos aqueles que frequentavam aquela digna e magna casa da justiça.

O edifício era sóbrio e a sua fachada imponente, composta por várias colunas de estilo coríntio, tão grossas que era impossível um homem abraçá-las. No centro da escadaria existia uma grande estátua que representava a deusa Témis dos gregos, equipada com a balança na mão esquerda, uma espada na mão direita, de olhos vendados que era comumente associada à personificação da justiça. Segundo o mito era mãe das Horas e das Parcas e sentava-se ao lado do trono de Zeus, seu consorte, para auxiliá-lo nas deliberações dos conselhos divinos.

O movimento àquela hora tardia da manhã era normal, sem grandes aglomerações de gente que aconteciam normalmente quando alguém famoso era presente a julgamento. Nesses dias mais agitados, a comunicação social reunia-se naquelas escadarias para fazer a reportagem do acontecimento, posicionando-se em diversos degraus, as estações de televisão e as suas carrinhas apetrechadas para fazer o direto, os correspondentes dos jornais a tirar apontamentos rápidos sobre o que se ia passando, os transeuntes curiosos a juntarem-se numa mole no passeio a ver se conseguiam vislumbrar a personalidade que estaria a ser julgada, telemóveis prontos para a fotografia que seria partilhada nas redes sociais, talvez uma selfie tendo como pano de fundo o circo mediático que se montava.

Aquele dia, no entanto, era normalíssimo. Pessoas a subir e a descer a escadaria, com mais ou menos pressa, nada a assinalar de extraordinário e não estavam cidadãos curiosos especados no passeio, a postos com os seus telefones portáteis para registar o que quer que fosse, nem a estátua magnífica da deusa era admirada por ser tão trivial naquele plinto, desde que o edifício ali ser erguera que ela lhe guardava solenemente os portões. Por isso os quatro rapazes que desciam pelos degraus não captaram a atenção de ninguém.

A sessão em que o juiz lhes concedera a liberdade condicional fora curta e pacífica. O cumprimento de uma formalidade necessária para que eles abandonassem o estabelecimento prisional onde tinham passados os últimos oito meses, após a sua detenção pela polícia da cidade. Limitaram-se a entrar na sala de audiência, escutar a deliberação do juiz presidente, o advogado que lhes tinha sido atribuído oficiosamente falou por eles, tratou da papelada, assinaturas, o bater do martelo e podiam ir à sua vida.

Então eram apenas quatro rapazes a descer as escadas do tribunal na manhã daquele dia cheio de sol, calados, aliviados e sozinhos, não mereceram a atenção de alguém em particular, e não tinham gente a esperá-los. Continuavam na cidade onde eram forasteiros e nem tinham avisado a família de que aquela audiência que os devolvia à vida em sociedade iria acontecer naquele dia.  

John Lennon levou a mão ao bolso de trás das calças, retirou o maço de tabaco e puxou de um cigarro. Prendeu-o entre os dedos, agitou a mão a pedir lume aos amigos, nunca andava com isqueiro. Richard Starkey usou o seu e acendeu-lhe o cigarro. George Harrison tinha as mãos enfiadas nos bolsos do casaco e contemplava o céu azul. Paul McCartney estava sereno a olhar simplesmente em frente e vinha um pouco mais atrás, pois fora, à saída do tribunal, dar uma palavra ao advogado, os agradecimentos da praxe, as saudações cordiais que se exigiam. Os quatro tinham o visual mudado. Primeiro tinham emagrecido. Segundo, usavam bigode e Harrison tinha até deixado crescer uma barba rala. Terceiro, os cabelos estavam diferentes, de alguns, mais curto, de outros, mais comprido.

A vida da prisão não era fácil, mesmo que a sua estadia tivesse sido num estabelecimento finório, como Harrison antecipara no dia em que se entregaram à polícia para partilharem com o amigo Starkey do seu infortúnio derivado do castigo que se impunha pelo assalto ao Banco Central, embora nenhum deles, nem mesmo o bandido Ringo Starr de seu nome artístico, se considerasse um criminoso no sentido estrito – ou mesmo lato – da palavra. As celas eram ocupadas por condenados que tinham cometido crimes especiais, por oposição aos delitos considerados mais comuns. Corrupção, perjúrio, falsificações várias, ilegalidades na área da alta finança, assaltos sofisticados a bancos e eles ficaram a saber que os consideravam ladrões inteligentes.

Existiam as mordomias anunciadas. Celas limpas e individuais, não havia uma sobrelotação da prisão, tinham refeições atempadas e bem confecionadas, horários para atividades desportivas e de lazer, distribuição de tarefas comunitárias que obrigavam a uma participação na rotina prisional mas sem incluir trabalhos sujos como limpar as latrinas, serões controlados em que podiam assistir a programas de televisão selecionados, possibilidade de participarem em projetos internos desenvolvidos em grupo, como clubes de leitura e peças de teatro, possibilidade de saídas precárias aos fins-de-semana.

Contudo, era uma prisão e viver atrás das grades durante aqueles oito meses tinha deixado algumas mazelas. Os rapazes amadureceram, enrijeceram, moldaram-se às circunstâncias, cada um à sua maneira. Não tinham podido tocar música juntos e esse facto foi um grande desapontamento. McCartney fizera esse requerimento durante a primeira semana de encarceramento, enquanto esperavam pelo julgamento que os iria sentenciar à sua pena. Solicitara que se pudessem encontrar, os quatro, para ensaios, para prepararem atuações musicais que serviriam para entreter os outros camaradas presos em ocasiões festivas, mas o diretor recusara o requerimento alegando que a quadrilha não podia reunir-se por tal encontro constituir um perigo, uma vez que deste modo eles teriam espaço de manobra para retomar as suas maquinações e preparar novos golpes.

Assim, apartados uns dos outros, encontravam-se somente nas áreas comunitárias, durante as refeições e em certos dias no pátio, empenharam-se em distrações que os ajudassem a que o tempo passasse mais depressa, de acordo com o seu carácter e gostos pessoais.

Lennon estudara cinema e até se inscrevera num grupo que estava a preparar uma curta-metragem, um guião fora distribuído e ele decorara um papel que supostamente iria desempenhar nesse filme. McCartney mergulhara mais a fundo na música, descobrindo novos sons que estudava em bandas tradicionais e étnicas. Harrison dedicara-se à filosofia indiana e à meditação, lendo imensos livros sobre mitologia hindu. Starkey jogara às cartas e inventara um novo jogo em que os presos podiam apostar e ganhar tampinhas de plástico, criando fortunas imaginárias que depois seriam entregues para ajudar nalguma campanha de beneficência, no âmbito da reciclagem do plástico.

Numa tarde chuvosa, reuniram-se os quatro com o seu advogado, designado pelo tribunal, pois todos teriam direito a defesa, que lhes explicara brevemente o que iria acontecer. Seriam condenados, obviamente, pelo crime de assalto ao banco, mas como se tinham entregado voluntariamente às autoridades as coisas acabariam por ser mais suaves. Até Starkey iria beneficiar da sua confissão, o advogado insistira que iria sempre tratar do assunto como se de um grupo unido se tratasse. A quadrilha. A pena seria leve, na prática, apesar de ter de se cumprir o código penal na íntegra. A condenação seria sempre entre doze a vinte anos de prisão… Mas eles não iriam cumpri-la totalmente, descansara-os quando os quatro empalideceram assustados. Uns meses na prisão, o advogado pediria imediatamente uma audiência para decidir uma liberdade condicional, mais alguns meses e estariam livres. Eles gostaram da ideia e apoiaram todas as decisões daquele advogado, um jovem ambicioso que almejava chegar longe na sua profissão e queria resolver positivamente todos os casos que ele recolhia para si. Era conhecido, vieram a saber mais tarde, por trabalhar arduamente pois tinha de responder a dezenas de processos em simultâneo.

E fora mesmo assim que acontecera. Oito meses passados e estavam, efetivamente, livres. Havia que cumprir certos requisitos para que continuassem a beneficiar da liberdade condicional, não podia haver deslizes ou regressavam para a prisão onde teriam de cumprir os oito anos da sentença a que tinham sido condenados – o advogado conseguira, triunfante, a pena mínima para o caso mais uma redução derivada do facto da confissão deles – mas o importante é que tinham saído da prisão.

Aqueles momentos iniciais foram algo constrangedores pois nenhum deles resolveu falar. No final da escadaria, com os pés já em cima do passeio, estacaram e ficaram simplesmente ali a contemplar o tráfego, as mulheres jovens que passavam por aquela rua, a apreciar o bonito dia ensolarado, embebido de cheiros, de sons e de cores que eles não tinham tido naqueles últimos tempos. A falta apenas se fez presente naquele instante em que recuperavam os pequenos prazeres quotidianos.

Tudo parecia mais vívido, mais intenso.

Paul respirou fundo, sorrindo. Ringo resolveu acender um cigarro para si utilizando o de John que retirou uma passa especialmente fumarenta. George multiplicava-se em paz e bonomia com os sentidos postos no céu.

Então o mundo encolheu-se. A realidade colheu-os de uma assentada, deixando-os de certo modo conscientes do que significava terem alcançado aquele nível inferior das escadas do tribunal. A sua aventura terminava ali, aquela era a conclusão. Reuniram-se por causa do assalto ao Banco Central, fizeram uma fuga memorável por várias paragens, que incluiu uma ilha deserta, o mar imenso e uma aldeia pitoresca, de regresso à cidade, o ciclo completara-se e ficara impossível prosseguir sem que o assunto ficasse definitivamente encerrado e tal só aconteceria se pagassem o preço devido. A sentença fora cumprida e ali estavam eles, no limite da despedida.

Compreenderam, ao mesmo tempo o que enfrentavam, com o mesmo baque no coração, com o mesmo sobressalto. Paul pediu um cigarro a John, não tinha o seu maço porque queria deixar de fumar. Explicou aquilo com algum nervosismo, sacudindo muito as mãos. John disse-lhe:

— Não vai resultar se estiveres ao pé de mim, que tenho sempre tabaco.

— Tens razão… Vou começar por objetivos mais simples. Reduzir e depois logo se vê, um dia depois do outro. – Inclinou-se, Ringo acendeu-lhe o cigarro com o seu isqueiro. Paul expeliu uma nuvem de fumo, deu um estalo com a língua. – E agora? Bem, podemos ir cada um à nossa vida… Não é assim?

A tranquilidade de George diluiu-se num enorme suspiro. Também acendeu um cigarro, mas ele tinha o seu próprio maço e isqueiro. Olhou para Ringo que estaria a pensar a mesma coisa. Paul tinha sido dolorosamente frontal. E eles não sabiam muito bem, naquela fase, se queriam dizer adeus a todas as possibilidades que podiam conquistar juntos, unidos, como o grupo que tinham sido durante aqueles meses, até na prisão. Ainda que separados, houvera sempre uma conivência indesmentível, um apoio mútuo, a compreensão de que podiam confiar no amparo do parceiro.

John escutava o amigo com um desapego desconcertante.

— Estamos numa nova cidade, vamos recomeçar aqui. Somos obrigados a isso, de qualquer maneira. Não nos podemos ausentar durante um período de três anos. Vocês sabem… Aquelas condições todas da liberdade condicional. – Paul fumava o seu cigarro muito rapidamente, como se tivesse pressa. Era a maneira que tinha de esconder que também não desejava separar-se deles. – Estou a pensar alojar-me num motel, para começar. Procurar casa depois…

— É uma boa ideia – anuiu Ringo ausente, a olhar para a estrada.

— Querem beber um café? – propôs Paul. – Antes de… Acho que vou ligar ao Mike, o meu irmão. Para lhe dizer que já estou cá fora. Ele vai gostar de saber.

— É uma boa ideia – anuiu George, por sua vez, puxando de outro cigarro. Estavam já os quatro a fumar.

— Beber o café ou telefonar para casa?

— As duas coisas, Paul…

— Isto é uma chatice!

A exclamação de John fez os três olharem para ele. Paul sacudiu a cinza do seu cigarro. Ringo assentiu e voltou a anuir.

— Pois é…

— Devíamos ter ficado com o dinheiro roubado – explicou John aborrecido. – Assim poderíamos começar esta nova vida com um pouco mais de desafogo. O dinheiro que nos deram como salário pelos trabalhinhos que tivemos de fazer obrigatoriamente na cadeia é miserável, não vou melhorar em nada a minha situação. Acho que vou continuar a morar num quarto, sem grandes comodidades, a contar os tostões para comer e para o tabaco. Sem dinheiro para comprar uma guitarra!

— Não, John – contestou Paul agastado. – O dinheiro era, precisamente, roubado e desde que ficámos com aquele maldito saco que só nos aconteceram azares.

— Pagámos pelo facto de nos termos apropriado desse dinheiro, Macca. A pena foi cumprida…

— Não foi cumprida, deixaram-nos sair em liberdade condicional. O que significa que nós não podemos…

— E o que interessavam mais esses quatrocentos mil euros para o banco? Eles têm reservas que cobrem essas… falhas do cofre!

— Não podemos cometer um crime semelhante ou regressaremos à prisão e vamos cumprir os restantes oito anos da sentença, sem possibilidade de sairmos antes desse tempo. E por crime semelhante entende-se também gastar o dinheiro roubado. Exibir sinais de riqueza desadequada ao nosso estatuto. Fazer compras avultadas que não caibam no nosso rendimento.

— O que ganhámos com isto tudo, Macca? O que ganhámos por termos andado a fugir pelo país afora, depois de termos aguentado oito meses reclusos?

— Ganhámo-nos uns aos outros, Johnny!

George e Ringo pestanejaram.

— Parece-me que estavas a querer despachar-nos, para reconstruir a tua vida perfeita. Muita coisa para fazer, muita coisa para organizar. James Paul McCartney precisa de limpar o seu cadastro impecável, precisa de ser novamente válido nesta sociedade hipócrita.

Paul percebeu a agitação de John.

— Oh… Não é nada disso. – Voltou-se para os outros dois. – Não vos quero… despachar, obviamente. Vocês não estavam a pensar isso… Pois não? George? Ringo? Vamos beber o tal café.

— Vamos – respondeu George e deu uma cotovelada em Ringo que teve um espasmo e pôs-se a mexer a cabeça como um boneco articulado.

— Podemos continuar… com a música – sugeriu Paul a seguir.

— Música… Sem instrumentos. Não ficámos com as guitarras que estavam no Cadillac, Macca. Só consegui ficar com a harmónica, que me devolveram esta manhã, à saída do tribunal. Como vamos ser músicos… sem instrumentos?

— Esquece o que existia antes. Esquece o dinheiro que não era nosso, esquece as guitarras que eram da antiga banda do Ringo, esquece o Cadillac. – Paul abriu os braços. – Temos uma hipótese de recomeçarmos e de fazermos as coisas bem.

— Tu já fazias as coisas bem.

— Escuta-me, John! Escutem-me todos. Não estamos sozinhos. Estamos os quatro na mesma situação, a recomeçar no mesmo patamar. Depois deste tribunal. – E apontou para a estátua da deusa da justiça que presidia àquele debate. Entre os dedos tinha o cigarro fumegante. – Com um passado atrás de nós, mas com um futuro que pode ser coletivo. Somos amigos, sabemos que nos podemos entender perfeitamente… na música. Sabemos que somos excelentes a tocar juntos, a improvisar, a criar sons. Eu escrevo canções, tu, John, escreves canções. Nós escrevemos canções, juntos. Tu, George, também sabes compor e até o Ringo revelou que sabe fazê-lo. Claro, existem esses pequenos detalhes, como onde iremos arranjar instrumentos, onde iremos ensaiar, onde iremos tocar para ganhar dinheiro sendo artistas. Mas vamos ser inteligentes e vamos começar devagar, para conseguirmos ter o sucesso que merecemos.

— Um discurso impressionante – troçou John. Tinha concordado com ele, mas era demasiado orgulhoso para admiti-lo. Quebrou o contacto visual, acabou o cigarro e atirou a beata para o chão.

— Qual é a tua sugestão? – perguntou George, curioso. – Qual deverá ser o primeiro passo?

— Escolher um nome – respondeu Paul. – E até nem será um verdadeiro primeiro passo, pois já temos nome…

— Que nome? – indagou Ringo.

— Bem… ‘Johnny & The Moondogs’.

— Não vou usar esse nome para a minha banda – indignou-se John arregalando os olhos para acentuar o seu protesto.

Ao apoderar-se da banda, ao afirmar que era a sua banda, significava que John não desdenhava completamente daquela ideia. Paul sentiu-se satisfeito, mas também sabia que convencer o amigo com música não seria improvável. Estava admirado por John ter demorado tanto tempo a concordar com ele. E toda aquela relutância acontecera por pura arrogância desnecessária… George e Ringo iriam segui-los se eles se acertassem. Portanto, eles eram a locomotiva daquele comboio e não iriam descarrilar.

— Por que não? Nós fomos os ‘Johnny & The Moondogs’ quando tocámos naquele clube.

— Primeiro, porque já existe alguém, nesta cidade, que se apresenta dessa maneira… os verdadeiros Johnny e esses cães lunares. Não quero problemas com direitos de autor e tretas que metam tribunais. Já me bastou ter saído de um neste momento, não quero repetir a experiência. Segundo, porque tu é que disseste para esquecermos o passado. Temos bastante mais no futuro.

— Aceito os teus argumentos. Tens alguma sugestão?

— Na prisão não andei apenas a estudar cinema, Macca. Também andei a pensar… em música. E sim, se quiseres saber, também… – Pigarreou inquieto por estar a revelar aquela vulnerabilidade. – Também pensei em retomar o nosso grupo. Então, tive uma visão. Nós, os quatro, somos os… Beatles.

Beetles? Escaravelhos? Insetos… – analisou Paul confuso.

— Ou como o carro – apontou George.

— Que carro? – perguntou o baterista a olhar para os três alternadamente, enquanto seguia a discussão.

— O Beetle! O carocha… O fusca!

— Ah!

— Não são esses beetles. Somos os Beatles, com “a” – esclareceu John.

— Bea-tles… – pronunciou Paul, arrastando as sílabas, saboreando-as, para perceber o seu peso, o seu timbre, a pujança e a autoridade do nome.

— Bem, eu tive um sonho… – explicou John evasivo. – Vi um homem numa tarte flamejante que me apontou um dedo e disse-me: vocês serão Beatles com “a”.

— O que foi que andaste a fumar na prisão? – perguntou Ringo.

— Quando pedi erva, o guarda deu-me um soco nos dentes. Portanto, foi um sonho genuíno. Temos de segui-lo para termos sorte. Gostam? Será um nome que vai pôr as pessoas a pensar em insetos, mas depois verão como se escreve e ficarão a imaginar de onde apareceu o “a” e porquê… Beatles!

— Um sonho na prisão? – conferiu Ringo.

Yeah… As lendas são feitas destas histórias. Vocês sabem… Talvez um dia conte isto a um jornalista curioso.

— Eu gosto! – disse George.

— Eu também! – disse Ringo.

Paul perguntou:

— Os Beatles nascem hoje? Aqui e agora?

John sorriu-lhes.

— Os Beatles somos nós. John, Paul, George e Ringo. A partir deste dia e para sempre.


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Notas finais do capítulo

John, Paul, George e Ringo saíram da prisão mudados, mais introspetivos, mais maduros. A sua paixão pela música não diminuiu e eles decidiram fundar o seu grupo. Os Beatles acabam de nascer!
Oito meses passados e na rua em liberdade condicional, curtidos pela estadia na prisão, gostei de imaginá-los com o visual de Sgt Pepper, bigodes, barbas, cabelos desiguais.

Bem, para aqueles que sabem deste detalhe, esta história foi sendo construída com base num roteiro, linhas orientadoras, que tinha escrito séculos atrás (ages ago!) e segundo esse roteiro... este seria o último capítulo!
É assim, pessoas, queridas leitoras e caros leitores, a história terminava neste ponto com a criação dos Beatles. A aventura que começou com um assalto estava terminada e havia um futuro inteiro pela frente de John, Paul, George e Ringo.

Mas devido a comentários que recebi ao longo da publicação desta história decidi prolongá-la, contando os primeiros dias destes "Beatles", os Beatles desta história. Então, misturei uma série de acontecimentos que fizeram efetivamente parte do início e do desenvolvimento do grupo musical que ficámos a conhecer por The Beatles, que gravou o seu primeiro disco em 1962.
Então, os capítulos que se seguem vão contar a história dos Beatles, baralhando muitos eventos mas seguindo mais ou menos o percurso oficial do grupo musical antes da sua fama mundial.

Conto convosco para seguirmos por esta estrada afora!

Próximo capítulo:
Na loja de música.