Na Minha Vida escrita por André Tornado


Capítulo 36
Na loja de música


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior:
Os rapazes saem da prisão em liberdade condicional depois de terem cumprido uma pena mínima de oito meses. Saem muito mudados. Como já não têm o saco do dinheiro roubado para proteger não sabem muito bem o que fazer a seguir e é então que Paul tem a ideia de retomarem o seu projeto musical e continuarem como uma banda de rock. Todos aceitam e John dá-lhes um nome. Nascem os The Beatles!



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John estava encostado à esquina da Great Charlotte com a Whitechapel. Não se importava com nada do que lhe passava à frente dos olhos, pois estava mergulhado e completamente absorvido nos seus pensamentos que se revolviam numa espiral decadente de desilusões e de amarguras. A nicotina continuava a salvá-lo da desesperança e ele fumava um cigarro lentamente, a absorver cada grama dessa substância entorpecedora.

Esperava pelo amigo Paul McCartney. Tinham combinado um encontro naquele lugar específico para depois irem todos juntos até à loja de música que se situava num grande edifício da Rua Whitechapel. George e Ringo também iriam ali ter, a mensagem confirmava a presença de todos, mas ele não ligara ao desdobramento da conversa que acontecera posteriormente no Whatsapp que todos partilhavam. As novas tecnologias cansavam-no e irritavam-no, o ruído persistente e avassalador das redes sociais enojavam-no e não raras vezes provocara acesas discussões nesse meio, com insultos à mistura, recusando-se a pedir desculpa ou sequer a admitir que estava errado naquela ou noutra matéria. Já tinha sido banido diversas vezes de fóruns e de aplicativos menores. Ele nunca insistia para regressar, mas tinha de se servir da rede e por isso voltava a usá-la contrariado. Era um meio barato através do qual podia contactar os seus amigos mais próximos, nomeadamente Paul, George e Ringo. Por isso era parcimonioso na sua utilização mas não se coibia de dizer abertamente o que pensava sempre que se deparava com um assunto a ser discutido por idiotas.

Semicerrou os olhos a puxar uma passa. Por vezes perguntava-se se valia a pena ser tão contestatário e lutar em revoluções invisíveis, utilizar o sarcasmo para desarmar os seus adversários, erguer uma armadura impenetrável de mau humor para se defender dos ataques traiçoeiros do mundo. Numa avaliação cínica esse feitio intratável não lhe tinha trazido grandes vantagens. Olhou para as suas calças de ganga. Continuavam rasgadas nos joelhos, ele continuava pobre. Mas cheio de sonhos e permitiu-se a esticar os lábios no simulacro de um sorriso.

Por causa da liberdade condicional foram obrigados a recomeçar numa espécie de reintegração na sociedade, cujas regras eles tinham quebrado ao terem roubado um banco. Um pouco desnecessário, ele tinha percebido que o que ele fizera fora errado, era crescidinho o suficiente para distinguir o bem do mal, havia circunstâncias atenuantes, tinha sido um impulso derivado do momento exultante na companhia de outros, mas ele seguiu os conselhos exagerados de um Paul McCartney rabugento com a sua indolência – deviam, e ele fê-lo, seguir as indicações que estavam escritas no documento que lhes tinham entregado no tribunal. Arranjar uma casa, arranjar um emprego após uma consulta com um técnico do Instituto de Emprego.

E ele fê-lo. As suas qualificações não eram muito grandes, realmente nunca apostara numa formação que lhe permitisse ter um trabalho mais ou menos sério, com um salário decente, como acontecia com Paul, e aceitou o que lhe ofereceram, mais pela razão infantil de que George lhe disse que iria trabalhar com ele no mesmo armazém do que pela perspetiva profissional que era nula, no caso. Sentiu-se de certo modo apoiado e confiava que o rapaz mais novo não o deixasse fazer tantas asneiras, como acontecera no seu último trabalho, na tal empresa de logística. Não queria ser despedido tão cedo.

Era um trabalho duro e cansativo. Carregavam caixas o dia inteiro, com as mãos, com a ajuda de uma empilhadora, para estantes e das prateleiras para veículos de transporte, repetiam o procedimento vezes sem conta. Tinham dois colegas que eram os seus supervisores, dele e de George. Um chamava-se Mal Evans e era um bonacheirão simpático, com um abraço potente, como de um urso. Outro chamava-se Neil Aspinall, era muito calmo e reservado, era também atencioso e preocupado com o desempenho dele e daqueles que orientava, pois aguardava uma promoção. Não se podia dizer que tinha feito amizade com Mal e com Neil, tolerava-os durante o intervalo em que fumavam um cigarro. George era mais expansivo do que ele com os novos amigos e ele sabia que naqueles dois meses já tinham saído juntos, idas a um bar, jogar uma partida de bilhar. Não sentia inveja, sentia-se cansado com tudo aquilo.

Em relação a Paul, aparentemente parecia que tinha conseguido um emprego com melhor reputação e mais adequado. Pelo menos o seu rendimento estava próximo daquele que ele conseguia na empresa de advocacia. No entanto o amigo confessara-lhe zangado, quando já tinha bebido uns copos a mais, numa noite em que se tinham encontrado, que detestava trabalhar no escritório de contabilidade. Só fazia biscates e como era um ex-condenado era olhado com desdém e condescendência pelo seu patrão, um homem arrogante chamado Derek Taylor. Os outros contabilistas ignoravam-no atafulhados nos seus papéis, escondidos atrás dos monitores, movimentando os dedos frenéticos sobre as teclas das máquinas calculadoras que vomitavam tiras infindáveis de papel cobertas por números impossíveis.

Portanto, eram uns empregos merdosos mas tinham de aturar aquilo por causa das condições da liberdade condicional. Não era justo, não era sequer motivador para que se recuperassem para a sociedade. Cada vez se sentia mais revoltado e desajustado.

A carreira musical conhecia intervalos demasiado longos. Tinham conseguido alugar umas guitarras, uns bombos, durante uma semana, e um espaço para ensaiarem, uma garagem fétida situada num bairro dos subúrbios, mas foram expulsos ao fim de dois dias por causa de queixas feitas ao representante do condomínio. Os Beatles tentavam presentemente arranjar um lugar para tocar, mesmo sem ensaios, tocar de improviso, ganhar uns cobres, ganhar reputação e serem conhecidos, mas a cena noturna da cidade era dominada por um grupo restrito de empresários muito conservador, que não admitiam qualquer um no seu círculo, muito menos com base em puro talento ou mérito, e eles não se conseguiam lembrar do clube onde tinham tocado, dez meses antes.

Viu Ringo a atravessar a estrada de uma forma tão alheada que saltou de verdadeiro susto quando um táxi travou a fundo à frente das suas pernas e largou uma buzinadela estrondosa de aviso. O baterista levantou as mãos, os anéis que voltara a usar nas mãos rebrilharam, pediu desculpa e correu pelo asfalto debaixo dos insultos do taxista que agitava o braço pela janela aberta. Chegou ao pé dele e pediu-lhe um cigarro. John estendeu-lhe o seu maço.

— Aquele tipo acordou com o pé esquerdo hoje…

E Ringo trabalhava a entregar pizas, a cavalo de uma lambreta, pelas estradas da cidade. Naquele dia estava de folga. Não se queixava muito mas ele sabia que o amigo também odiava aquele emprego que o obrigava a aturar os humores dos clientes, ora porque não tinham encomendado aquela piza, ora porque não tinham desejo de pagar, rindo-se dele quando lhe fechavam a porta na cara. Ringo encolhia os ombros e, sempre otimista, afirmava que era melhor do que nada. Trabalhava de noite, passeava pela cidade, às vezes era recebido por uma mulher parcamente vestida que o convidava para entrar para que lhe pudesse dar a gorjeta… Pequenas aventuras que ele contava sem alegria. Ainda pensava na Maureen que o tinha definitivamente descartado depois de saber que ele tinha cumprido uma pena de prisão.

— Onde está o George? – perguntou.

John respondeu:

— Foi tomar banho, já vem. Sabes que ele tem de fazer o telefonema diário para a mãe, o banho é só uma desculpa.

— E tu… não tomas banho?

— Gosto do meu encanto… natural.

— Precisas de um banho, Lennon!

— Obrigadinho, Starkey.

— De nada… E o Paul? – Perante o silêncio do outro, Ringo concluiu: – Ah, também foi tomar banho… Mas ele trabalha com contabilistas, não sua tanto como tu ou o George, naquele armazém.

— O que queres que te diga… O Paul é asseado.

— Ele não vai faltar, pois não? Foi ele que arranjou este encontro.

— O Paul nunca falha… É um dos seus defeitos, pensava que já tinhas percebido. É certo e fiável como um rochedo. Ele há de chegar. Aliás, precisamos dele, ele é que arranjou esta treta.

— Ele não conhece o tipo, pois não?

— Não. Sabe quem é esse Epstein por causa de um cliente que faz a contabilidade no lugar onde ele trabalha, um tal de James Taylor. Numa conversa sobre música, o Paul falou dos Beatles, o tal Taylor disse-lhe que deveríamos conhecer o Epstein. Uma coisa simples.

Ringo apontou para a fachada vidrada da loja que se conseguia ver da esquina. Era uma montra imensa que exibia instrumentos musicais, livros e diverso material de som, como amplificadores, microfones, aparelhagens de reprodução de música e outros mimos para os melómanos. Tinha um nome pouco apelativo, North End Music Stores, que era abreviado para NEMS, mas segundo o que Paul divulgara no espaço de conversa que eles usavam para se falar com frequência era das lojas de música mais famosas e prósperas da cidade, com ligação aos negócios de entretenimento noturno. Ou seja, o gerente da loja que era amigo de James Taylor, um tal de Brian Epstein, podia-lhes abrir a porta para que começassem, finalmente, a tocar em algum clube.

— Acho que vamos ter sorte. Tenho um pressentimento! – exclamou Ringo animado.

John revirou os olhos e absteve-se de comentar. Não acreditava em nada, naquele estágio dos acontecimentos. Mordeu a língua para se acalmar, o seu azedume estava mais carregado do que o habitual e devia controlar-se. Não queria ser acusado de eliminar as hipóteses da banda. Ele também queria que as coisas dessem certo, pois se conseguissem fazer uma carreira na música, se conseguissem ser os Beatles que ele tinha imaginado, podiam deixar aqueles empregos merdosos e serem felizes. Ao voltar o rosto viu George a acenar no fundo da rua.

—Ah, o meu colega chegou.

— Ei, George! – cumprimentou Ringo verdadeiramente contente e os dois abraçaram-se.

— Ei, Ringo! Estás mais gordo… ou é impressão minha?

— Eu não como as pizas que entrego, se é isso que estás a insinuar.

George torceu o nariz.

— Ei, John… Não foste tomar banho?

— Tenho de ser o elemento diferente do grupo… – respondeu John contrariado.

— O Paul vai ficar chateado contigo.

Ele encolheu os ombros e atirou a beata para o chão com um piparote. Quando McCartney chegou detetou imediatamente o odor forte de John e pregou-lhe um sermão sobre higiene pessoal, sobre decência, sobre a importância e o respeito que as pessoas mereciam, a começar por ele, já que aquele encontro partia de uma combinação sua que tentava fazer alguma coisa em prol de todos, a terminar em Brian Epstein, que impressão podia o homem ficar ao perceber o estado desleixado dele.

— Percebe que estou desesperado! – atirou John.

Paul desistiu de argumentar com John, não queria desenvolver aquela discussão que não teria qualquer solução, pois ou o enchiam de perfume, ou faltavam ao encontro para que ele fosse a casa lavar-se. Então os quatro atravessaram a estrada, com mais cuidado do que o demonstrado por Ringo, e dirigiram-se para a loja de música.

No interior estava a tocar o álbum de uma artista que estava muito em voga naqueles dias. As suas canções passavam na rádio e era convidada habitual de programas de televisão onde cantava ao vivo. O ar condicionado estava ligado e a temperatura ambiente era agradável, sem ser demasiado gelada. A loja era vasta e dividia-se em várias secções perfeitamente ordenadas, com longas fileiras de estantes arrumadas. Havia alguns adolescentes a cirandar pelos escaparates dos compact discs, um casal analisava a oferta de aparelhos de gira-discos, alguns homens dispersos contemplavam os produtos eletrónicos, havia mulheres a escolher livros. Os empregados, vestidos de calças pretas e blusas verdes, com uma chapa pequena a identificá-los pelo primeiro nome, verificavam os clientes com atenção, para se aproximarem e prestarem o apoio necessário.

Um homem jovem destacava-se. Teria trinta e poucos anos, o cabelo escuro penteado com gel, olhos argutos e brilhantes, bem-parecido. Vestia-se com elegância, num fato completo com o casaco assertoado e abotoado, um lenço de seda a envolver-lhe o pescoço. Conversava com um empregado junto a um terminal informático, onde conferiam as listagens oferecidas pelo monitor. O homem movimentava a cabeça, o rapaz apontava com o dedo e a conversa parecia cordata e muito profissional.

— Aquele é o Brian Epstein que procuramos? – perguntou Ringo que o descobriu primeiro.

Os quatro pararam a observar o homem e o rapaz. Paul endireitou-se, engoliu a saliva que tinha na boca. Respirou fundo.

— Sim. O Taylor indicou-me que era alguém distinto. Só pode ser aquele… senhor. Ele é o gerente da NEMS, a maior loja de música da cidade.

— É um mariconço.

Escandalizado, Paul olhou para John. George escondeu o sorriso com uma mão. Ringo abriu os olhos… Não era crível que se pusessem a discutir na loja de Brian Epstein, mas com Lennon e McCartney tudo seria possível. Ou eram os melhores amigos do mundo, ou discutiam como bestas. Preparou-se para intervir se desatassem a falar demasiado alto. Tinham de chamar a atenção do gerente de uma forma mais civilizada…

— John!

— Não vês? Olha só a linguagem corporal dele… É um larilas assumido.

Paul rosnou indignado, depois recuperou o sangue-frio e afirmou, perentório:

— Bem, espero que não te incomodes com esse detalhe, John Lennon. Porque nós vamos precisar de cativar o senhor Brian Epstein para que os Beatles possam, finalmente, começar a mostrar o seu talento a esta cidade e ao mundo.

— Muito bem. Estou contigo, James Paul McCartney.

— O que faremos agora? – perguntou George.

— Talvez dançar e agitar as ancas…

— Chiu, Lennon! – pediu Ringo. Sentia as mãos suadas, estava nervoso. Não queria estragar aquela segunda oportunidade de se tornar num verdadeiro artista. Lembrara-se, de repente, do tal contrato gorado para tocar no casino…

— Também estás contra mim, Richie?

— Acho que ele já nos viu… – observou Paul. Levantou uma mão e fez um aceno, acompanhado de um sorriso polido e um meneio da cabeça.

— O que estás a fazer? – perguntou John.

— A dizer que queremos falar com ele.

— Bastava ir até ali e dizer-lhe isso, pessoalmente. Para quê esses gestos… tão…?

— Tão, quê? O que se passa contigo? O que te está a incomodar?

Antes de John poder justificar-se, Brian Epstein tinha chegado perto dos quatro rapazes. Caminhava com leveza e com a mesma graça que eles já lhe tinham detetado naquela curta análise visual. Era alguém airoso e delicado, tão agradável quanto a sua loja que refletia seguramente a sua personalidade digna. Por um ínfimo segundo, John desejou ter tomado banho.

— Boa tarde, meus senhores. Gostariam de falar comigo?

Num gesto inesperado, John abraçou Paul pelos ombros e puxou-o para si.

— Sim, senhor Epstein, gostaríamos muito de falar contigo sobre interesses que temos em comum, mas antes de passarmos a negociações mais sérias devo avisar-te de que ele é meu e que não podes tocar num fio de cabelo do meu amigo sem o meu claro consentimento – disparou de um fôlego.

Brian Epstein empalideceu, os seus lábios tremeram.

— Perdão?...

— John… O que estás a fazer? – perguntou Paul envergonhado, empurrando o amigo subtilmente, deslizando para longe do braço que lhe pesava sobre os ombros.

— A proteger-te.

— Eu não preciso de proteção.

George aproximou-se e estendeu a mão a Brian, que a apertou num cumprimento firme e caloroso.

— Boa tarde, senhor Epstein. O meu nome é George Harrison. – Indicou o baterista que também apertou a mão ao gerente. – O meu amigo, Richard Starkey, que é mais conhecido por Ringo Starr.

— Ringo Starr – repetiu Brian com um sorriso ténue.

— É um prazer, senhor.

Paul aproveitou a deixa e também estendeu a sua mão.

— Boa tarde. Eu chamo-me Paul McCartney e o meu amigo inconveniente, que não sabe guardar para si os pensamentos estúpidos que lhe inundam o cérebro, que fala demais quando não deve, que não sabe ser decente mas que é alguém genial e único, chama-se John Lennon.

Brian apertou a mãos aos dois e olhou para o último com uma sobrancelha levantada.

— Oh… Inconveniente, genial e único. Atributos muito interessantes, senhor Lennon. E que interesses podemos nós ter em comum?

— Música – respondeu John se hesitar.

— Música – repetiu Brian Epstein.

Paul explicou-lhe com imensa diplomacia, a escolher as palavras num discurso muito bem articulado e expressivo, esperando que os estragos provocados por John não tivessem deturpado a sua visita àquela loja de música. Aproveitou para tecer elogios ao espaço e à gerência, mencionou a referência de James Taylor, passou furtivamente para a existência da sua banda, indicando com uma humildade estudada que eram músicos e que se chamavam Beatles, que Taylor o tinha indicado como a pessoa certa para orientá-los. Orientação era uma palavra boa para usar naquele contexto. Falar em gestão seria demasiado arrojado, pois mencionar diretamente que precisavam de um empresário podia afastar o potencial candidato que tentavam seduzir e convencer.

Houve uma pausa. O rosto de Brian Epstein iluminou-se de reconhecimento, os seus olhos brilharam e mostrou os dentes ao sorrir. A sua postura descontraiu-se

— Ah, sim! Claro! – exclamou. – As vossas caras não me eram totalmente estranhas e estava a tentar recordar-me de onde vos tinha visto anteriormente. Vocês estiveram a tocar no Caverna, há cerca de nove, dez meses? Julgo que foram apresentados como ‘Johnny & The Moondogs’.

A admiração perpassou pelos quatro.

— Viste-nos no clube? – indagou Ringo curioso. – No Caverna? Ah, então é assim que se chama aquela espelunca…

— Viste-nos a tocar? – perguntou George, por sua vez, animado.

— Sim, meus caros. Vi-vos a tocar e gostei bastante – explicou Epstein enfiando as mãos nos bolsos do casaco. – Andei a perguntar por vocês, queria conhecer-vos. Um dia, por causa dessa minha busca pela cidade, veio à loja alguém que se afirmava o Johnny dessa banda, mas que não era a mesma pessoa que eu vi a cantar rock ‘n roll com a pujança do Johnny daquela noite. – Olhou para Lennon. – Ele acabou por confirmar as minhas suspeitas ao contar-me que não tocara no Caverna nessa noite e que o contrato que tinha com o clube terminara pouco depois. Um desentendimento com o gerente. Não me interessava e despedi-me dele.

Paul inspirou profundamente, balançou sobre os calcanhares e disse:

— Bem, senhor Epstein, então parece que estamos em perfeita sintonia. Se andavas à nossa procura, nós também queríamos encontrar-nos contigo.

John avançou:

— E não somos os Moondogs… Somos os The Beatles, com um “a”.


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Notas finais do capítulo

E parece que regressamos ao ponto onde John estava no início desta história... Depois de tantas aventuras, incluindo o assalto a um banco, continua desgraçado e com o dinheiro contado.
No entanto, o rumo parece ser diferente. Ele e os seus amigos, Paul, George e Ringo, vão mesmo apostar na sua carreira musical. Pois os empregos que eles têm, por exigência do tribunal, são bastante deprimentes.
E tivemos a apresentação de Brian Epstein! Ficámos a saber que o Brian esteve no clube onde eles tocaram na noite antes de irem todos para a prisão e que esse clube se chamava Caverna... Todas as informações sobre a loja de música correspondem à verdadeira loja de música gerida por Brian Epstein em Liverpool. A reação de John em relação ao Brian também foi inspirada no que realmente aconteceu, pois John costumava ser bastante cáustico em relação à homossexualidade daquele que viria a ser o manager dos Beatles.
Referências ainda a Mal Evans, a Neil Aspinall e a Derek Taylor.
E começamos a remisturar a história oficial dos Beatles...

Próximo capítulo:
Primeira gravação.