Socorristas escrita por BlueBlack


Capítulo 56
Sangue


Notas iniciais do capítulo

Link do trailer nas notas finais! E com uma curiosidade: a alcunha do Herman xD



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A agitação na fábrica de queijo nunca fora tão grande, nem quando os homens tiveram vinte homens para interrogar a respeito de um antigo ataque.

Os adolescentes usavam todos os meios possíveis para descobrirem onde o Inibidor estava: de pressão psicológica (com o que Andrômeda conseguia ajudar muito) à ameaças e, às vezes, tiros. Ninguém mais chegou ao nível de Hiro de matar um deles, mas sabiam que os homens se tornariam inválidos ao terem menos uma perna, um braço, uma razão para apoiar Garent...

Os minutos se transformaram em horas e aos poucos foi ficando mais fácil para que todos pegassem o ritmo e começassem a tirar informações úteis dos homens. Jorge, Sonya, Harriet e Aris conseguiram convencer os vigias a irem com eles para a prisão no fim da cidade para buscarem os homens presos lá com Cranks, e isso garantia mais tempo àqueles na fábrica. Minho, Gally e Andrômeda eram os mais afortunados porque seus grupos eram os mais propensos a soltar informações, e com a ideia de Nelly de deixar Garent sozinho, longe de todos os seus homens, eles se sentiram ainda menos pressionados pelo líder. Era questão de tempo até que algo acontecesse.

Nelly e Thomas ficaram responsáveis por vigiar Garent enquanto os interrogatórios eram feitos com o restante. Depois de tudo que Perenelle e Gally contaram sobre o líder, todos concordaram em ser perda de tempo tentar conseguir algo dele. Além disso, manter Hilston longe dele e sem informações a seu respeito parecia suficiente para que ele ficasse vulnerável.

A Clareana sentou no chão quando uma onda de tontura a atingiu. Saber que Caçarola estava a salvo no Berg agora e que ninguém saíra prejudicado para isso serviu para que a crise de ansiedade fosse embora. Mas a preocupação não deixava de causar nela o mesmo mal estar de um claustrofóbico num elevador lotado.

Uma pontada em sua mão a lembrou do ferimento no mindinho e ela percebeu que o sangue voltara a despontar. Há muito tempo seu rosto estava pálido, agora o suor voltava com o desespero em achar um segundo pano para cobrir o toco. Thomas percebeu e tratou de se abaixar ao lado dela.

 — Preciso cobrir isso... – ela murmurou para as paredes.

 — Devia ter ido com Caçarola se cuidar. – ele puxou um trapo largado num canto e hesitou. Perenelle pôs a mão por cima da dele e fez uma careta em rejeição àquilo. — Pode aguentar mais um pouco? — perguntou enquanto se levantava para ir procurar nas caixas das estantes ao redor alguma coisa que pudessem usar.

Perenelle não respondeu. Olhou para o garoto num torpor, lembrando-se de como ele agarrara sua mão tantas vezes quando ela precisou. No Penhasco, no Berg após o Deserto, na Clareira... Mas a dificuldade de entendê-lo ainda era imensa e a de perdoar quase não cabia dentro de si. Ela queria, ele merecia... Mas fazer isso não desonraria Newt e toda a importância que ele tinha?

Thomas se abaixou na frente dela com um kit pobre de primeiros socorros, mas que possuía uma gaze decente. Ele enrolou rápido a mão dela, tentando fazer a escassez do material ser o suficiente.

 — Thomas.

Ele ergueu a cabeça em sua direção e sem querer encarou seus olhos, deixando a mão dela sobre o peito e mirada para cima, como uma vez ela contara que devia ser feito. Perenelle continuou em silêncio, sem saber o que dizer. Não era hora de falarem daquilo e Thomas se levantou e se afastou ao perceber isso.

Mike entrou na sala em que Perenelle e Thomas estavam, avisando que tinham conseguido o paradeiro do Inibidor. Garent imediatamente forçou as amarras que o prendiam ao perceber que sabiam mesmo: estava no trem, dando voltas pela cidade.

 — Quem conseguiu descobrir? – a Clareana perguntou.

 — Minho. No alçapão. – Mike ofegava.

 — Fiquem vigiando ele. – apontou o líder.

Ela saiu do aposento e, assim que atravessou a soleira, caiu de encontro à parede pela fraqueza. O sangue começava a fazer falta, principalmente com o ritmo frenético de seu coração agora.

A garota alcançou Minho e o chamou no corredor para conversarem longe dos homens. Quanto menos eles soubessem, melhor.

 — Monte um grupo. Você e os meninos vão até o Inibidor enquanto esperamos aqui e garantimos que ninguém vai atrapalhar vocês. Já sabem como vão tirar ele do trem? – ela disse num atropelo, apoiando-se na parede.

Minho assentiu com a cabeça e, com o olhar que ele a lançou, ela achou melhor não saber o plano.

 — Vamos precisar dos mais fortes para isso. – foi tudo que ele disse. — Vou contar o plano à Mallory por um dos comunicadores. Vocês aqui fiquem com outro para que sejam informados de quando vão poder sair. Precisamos ser rápidos.

Todos foram instruídos do plano na medida certa e Ferb ficou encarregado de ir até a prisão avisar os outros do que acontecia. Assim que Minho, Mike, Thomas, Gally, Dante, Dmitri, Louis e Niels saíram para o subterrâneo, Nelly correu para a sala onde o cadeirante estava para garantir que ele saísse com eles. Ela se surpreendeu, no entanto, ao encontrar lá mais meninas vigiando-os do que deveria haver.

 — Achei que tivessem se separado depois que os meninos saíram. – ela comentou.

 — Aqueles homens na sala principal foram para o alçapão, então ficamos aqui. – Dina respondeu.

 — E quem está vigiando o líder deles?

 — Minho disse que você ia para lá assim que Mike e Thomas saíssem. – outra menina respondeu.

Ela estava certa, Perenelle ia, mas apenas depois que ajudasse a levar o Flanela e o Ensebado, aqueles na sala principal, para o alçapão. Se Mike e Thomas tinham saído da sala de Garent ao mesmo tempo, o homem ficou sozinho lá por pelo menos dez minutos.

Sem avisar, Nelly saiu correndo até lá, mas era tarde. Garent havia sumido. Sozinha, ela subiu e desceu pela fábrica, fazendo a contagem dos homens. Lembrando-se de que Minho dissera que Kenan e Teresa possuíam mais três nos túneis, ela foi até lá checar, pois ninguém o fazia há horas. Desceu por escadas de pedra atrás de uma parede na sala onde Garent ficara e saiu no corredor que levava ao túnel. Perenelle caminhou até encontrar o compartimento com uma mancha de sangue em sua soleira. Não havia ninguém por perto.

“Pense, pense, pense...”.

Os trilhos do trem logo ao seu lado começaram a tremer e as luzes ao longo do túnel piscaram. Era possível ouvir a buzina da locomotiva se aproximando.

Decidida, a Clareana voltou calada e rapidamente para a fábrica e pegou uma arma antes de voltar ao túnel e seguir correndo para onde os meninos estavam esperando o trem passar. Nenhum deles contava com alguém além dos maquinistas no trem. Precisava avisar a falta daqueles homens e de Teresa e Kenan.E quem faria isso mais rápido seria a única que conseguira decorar todo o mapa dos túneis feito por Thomas.

A muito custo devido à fraqueza, ela correu pelos trilhos que pareciam não ter fim, procurando pelo duto na parede que eles haviam usado para entrar. Ela fez uma curva e mais tarde fez outra, quando o barulho do trem preencheu todo o corredor. Seu coração desembestou em seu peito e suas pernas entraram no modo automático, tão rápidas que provavelmente nem eram visíveis. Nenhum duto aparecia, nenhum buraco. E quando os faróis se aproximaram o bastante foi possível ter mais certeza disso.

As forças começavam a minguar e nenhuma luz parecia suficiente para iluminar sua visão. Estava bem atrás dela. Aquilo que lutaram tanto para conseguir, a salvação de Newt. Seu corpo não podia falhar com ela agora. Perenelle puxava e soltava o ar com intensidade para se manter de pé, continuar correndo. Pensou nos Corredores da Clareira, no Labirinto, nos Verdugos... tudo na tentativa de conseguir um incentivo. Não podia ser esmagada por uma coisa daquelas. Nem o CRUEL conseguia ser assim tão sádico.

 — Deite! – um coro de vozes gritou de algum lugar à frente. Gritavam seu nome e para que deitasse. Não podia ser assim tão fácil. Podiam ser os homens que escaparam levando-a a morte. — Deite!

O chão tremia pavorosamente e a buzina do trem quase a deixava surda soando bem ao pé do seu ouvido.

 — Jordan! Deite!

Ela imediatamente se jogou no chão com o corpo esticado, puxando ar e poeira pela boca com o descompasse da respiração. Nada mais era ouvido além dos trilhos batendo e a locomotiva quase roçando em suas costas. Ela fechou os olhos com lágrimas descendo por seu rosto. Num segundo ria, no outro chorava. E em outro percebia que o barulho havia cessado.

Sem o mínimo de raciocínio ainda, Perenelle se levantou com as pernas bambas. Ela respirou fundo e cuspiu no chão a sujeira presa em sua boca. O trem virava numa próxima curva e Thomas ia correndo na direção dela.

 — Você está bem? – perguntou.

Ela soltou o ar num gemido cansado e se apoiou no ombro dele.

 — Teresa, Kenan e os homens de quem estavam cuidando sumiram. – Nelly tossiu e cuspiu outra vez. — Thomas, eles podem estar no trem... com Garent.

 — O trem faz uma parada a alguns metros depois de uma curva. Podemos alcança-lo cortando caminho pelos túneis.

Os dois correram por bastante tempo virando aqui e ali, cheirando podridão por onde passavam e ouvindo ratos guincharem ao serem pisados por acidente nos túneis mais escuros. Perenelle resolveu cantar para tentar ajudar na visão, mas seus sentimentos não colaboravam para isso e faziam pontos negros bloquearem o caminho vez ou outra. Além disso, o gosto de leite estragado a impelia a andar cada vez mais rápido para saírem logo e, consequentemente, bater a testa em curvas das quais esquecia a existência.

 — O mapa que você fez parece cada vez mais errado. – ela resmungou, massageando um ponto dolorido da cabeça.

Thomas não respondeu e Perenelle, começando a sentir a consciência pesar por trata-lo daquela forma, ficou calada.

As paredes ao redor deles começaram a tremer e ela desatou a cantar a música da Transformação mais alto para que pudessem correr. Eles ouviram a buzina do trem se aproximando logo antes de avistarem a linha iluminada pelas luzes-guia. Nelly colocou a cabeça para fora do túnel em que estavam para poder ver. A locomotiva vinha em alta velocidade. Ela passou por eles e os dois esperaram pelos últimos vagões, respirando com força. A Socorrista pulou no quinto último vagão, agarrando-se à escada de ferro e quase prendendo os pés nos trilhos antes de apoiá-los nos degraus. Thomas pulou no último com mais facilidade (e desespero), e os dois subiram para o topo, agarrando-se a onde era possível para que o vento não os levasse. Os dois foram se arrastando por cima dos vagões, até encontrarem uma única porta na lateral de um deles. De onde estavam, era possível ouvir pancadas e gritos vindo do lado de dentro.

Com a ajuda de Nelly, os pés de Thomas alcançaram a beirada do vagão ao lado da porta. Ele segurou com uma das mãos numa alça de ferro, enquanto a outra era tomada pelas de Nelly, e foi deslizando os pés para se aproximar da maçaneta.

 — Pode soltar! – ele gritou.

 — Nem pensar!

Ela não sabia como ele conseguira fazer com que as pontas de seus pés coubessem naquele espaço tão minúsculo, mas sabia que deixa-lo por conta própria era um grande erro. Thomas girou a maçaneta e o vento fez o trabalho de abrir a porta de uma só vez. Assim que pôs a cara para dentro do vagão, Hilston lá de dentro ergueu uma arma em sua direção e disparou logo depois de Thomas se puxar para fora da mira; seu pé escapou do apoio e Nelly o segurou com força suficiente para fazer seu sangue parar por um momento. Ele se recuperou agarrando a alça, mas podia sentir Hilston vindo. A Clareana respirou fundo algumas vezes para reunir mais força e segurar Thomas com apenas uma mão. Ao fazê-lo, seu braço escorregou um pouco no suor. Nelly milagrosamente pôde se equilibrar numa posição meio sentada no vagão enquanto tirava sua arma e tentava ver a porta. Hilston apareceu ali fazendo de Thomas uma mira e ela gritou para chamar sua atenção.

 — Volte para dentro! – Nelly exclamou.

O homem riu olhando para ela. Thomas aproveitou para agarrar o pulso dele e tentar tirar a arma, mas esta foi disparada. O Clareano urrou de dor, mas puxou a pistola para si, voltando-a atrapalhado para a cabeça de Hilston, respirando pesadamente.

 — Volte para dentro. – ele repetiu e Hilston obedeceu, furioso.

Thomas enfiou a arma em sua calça de qualquer jeito e Perenelle deixou que ele entrasse. Ele velou a descida dela, apontando a arma para Hilston e olhando-o de rabo de olho. Assim que os dois puderam entrar, viram que o homem estava sozinho no vagão. Thomas cobriu o ferimento debaixo da axila.

 — Diga onde estão o menino e a menina que mantinham vocês presos. – Nelly mandou, aproximando-se de um Hilston com mãos erguidas. Ela não se lembrava de ele ser tão pálido quanto estava.

 — Acho que você tem coisa mais urgente para lidar. – o homem respondeu e inclinou a cabeça na direção de Thomas, soltando uma boa quantidade de ar pela boca, como se não tivesse fôlego. No momento em que ela se virou para olhar o amigo, Hilston se esquivou pela sanfona que levava ao próximo vagão, batendo sem querer o ombro na parede.

Ela subiu a blusa de Thomas e viu o tiro de raspão ali expelindo o sangue que se derramava pelo abdômen dele.

 — Eu estou bem. – Thomas disse.

Rapidamente, Nelly rasgou um bom pedaço das costas da própria camisa para tampar o ferimento.

 — Pressione com força, ok? – assim que ele balançou a cabeça em resposta, os dois saíram pelos vagões na mesma direção que Hilston. — Então, qual era o plano?

 — Coagir os maquinistas, parar o vagão do Inibidor sob o céu aberto da cidade, trazer o Berg e levá-lo.

 — Mas não contavam com ninguém além dos maquinistas aqui, certo?

 — Ainda estamos em maior número.

 — Garent escapou, Thomas. E com certeza veio para cá com algum plano.

Depois de sete vagões, paramos dentro de uma com caixas e caixotes por todos os lados. Ouvimos uma pancada na parede para o próximo vagão e sacamos as armas imediatamente ao correr para lá. Hilston foi o primeiro que vimos, ajoelhado atrás de Dmitri e com uma faca no pescoço dele como um claro aviso para não fazermos nada. Garent e os homens pelos quais Kenan e Teresa estiveram responsáveis estavam parados apenas observando.

 — Soltem as armas. – Garent mandou.

Devagar, nós nos abaixamos e obedecemos. Todos os meninos estavam ali, no chão, trêmulos e com raiva, exceto Minho, Gally e Mike, que não vi em lugar algum.

 — Ajoelhem. Mãos para trás. Para aquele canto. Para aquele outro.

Garent devia ter torcido bastante para que pudesse dar ordens outra vez após ter sido contido por nós. Fomos espalhados pelo vagão enquanto éramos amarrados e depois os três homens se agruparam no centro.

 — O que estão esperando? Façam de uma vez! – Dante exclamou com uma firmeza insuperável.

 — Não vamos matar vocês. E apesar de isso não ter adiantado da última vez, prefiro deixá-los por fora dos planos...

Garent por pouco não terminou sua fala ao ouvir um gemido de Hilston. Deu para perceber que ele fez de tudo para continuar firme, de pé, mas piscava com força, e de repente suas pernas vacilavam e ele se apoiava pesadamente em Garent. Este o amparou com cuidado e preocupação. Hilston vacilou para o chão, a cabeça apoiada no colo do amado.

 — Hilston! Hilston… Para mim, olhe para mim. – Garent dizia, trazendo o rosto do homem para a sua direção. — Fale, o que aconteceu?

 — Ele… - o outro homem tentou em vez disso. Sua estrutura malhada, o cavanhaque castanho e as sobrancelhas grossas tinham um grande contraste com o estado de alerta e quase medo em que ele estava.

 — Calado! Ele vai me dizer.

Mas Garent já procurava sozinho algum ferimento num Hilston inconsciente. O pescoço, o peito, o abdômen, as pernas, tudo foi checado, mas não havia nada que explicasse aquilo. Ele colocou dois dedos sob o maxilar dele, checando a pulsação, e foi seu próprio coração que acelerou.

 — O que aconteceu? – sua autoridade foi tão expressiva na voz que seu companheiro perdeu a coragem para falar. Todos os homens que formavam o grupo de Garent sabiam que pior do que trair, entregar ou errar com o líder era prejudicar Hilston, e vice-versa.

 — Nós, hum... E-ele... Tivemos uma briga com os moleques antes de você chegar. Pode ter sido isso...

Garent voltou a procurar por qualquer ferimento e Perenelle olhou para os meninos. O trem deu um tremendo solavanco. A maioria deles, desavisada, caiu de cara no chão duro e frio; inclusive as armas confiscadas, cuja caixa se quebrou e despejou uma afortunada faca perto de Dmitri. Ela foi entregue a Louis, que conseguira dar um jeito de se libertar e então libertou os amigos. Assim que ele foi até Thomas e Nelly para fazer o mesmo, ela viu uma ponta de metal confusamente lascada na parede onde ele estivera.

 — Garent, eles vão...

Mas o Cavanhaque não precisava nem dizer. Assim que os Clareanos se dirigiram para a próxima sanfona, Garent se levantou num pulo e agarrou Louis pelo pescoço, prensando-o contra a parede de tal modo que os pés do garoto não encostavam o chão. Todos paralisaram.

 — O que aconteceu? – ele perguntou, não para Louis, que já começava a ficar roxo, mas para os outros.

Perenelle e Thomas se desesperaram, impotentes, pedindo socorro com os olhos para os amigos. Dante se precipitou na direção de Garent, mas o Cavanhaque o imobilizou imediatamente.

 — Fui eu! – Dante exclamou, raivoso. — Acertei ele com tudo nas costelas!

Garent empurrou Louis com tudo para o chão e se abaixou de volta ao lado de Hilston. Mesmo assim, ele não sabia o que fazer, e Perenelle percebeu isso com uma bolha enorme de um dilema se avolumando dentro de si. Depois de tudo que eles fizeram... Seu conhecimento agora parecia uma maldição. As juntas dos dedos de Garent começavam a ficar brancas; ele fazia de tudo para não chorar na frente daquelas crianças e sentir essa vergonha. O peito de Nelly se apertou e não foi um aperto apenas de compaixão.

 — Nos deem o Inibidor e posso tentar ajuda-lo. – foi o que ela conseguiu dizer. Não ia perder essa chance. Thomas olhou para ela, incrédulo com tamanha frieza. Como ela pôde não mencionar Kenan e Teresa?

 — É melhor saírem daqui nos próximos segundos, porque vou matar todos que estiverem ao meu redor daqui a pouco. – Garent devolveu firmemente, encarando o amado.

Perenelle resolveu arriscar alguma gratidão vinda do líder caso conseguisse salvar Hilston. Ela se virou para os Clareanos e disse:

 — Vão ajudar Gally, Minho e Mike, devem estar com os maquinistas. Eu fico aqui.

Eles hesitaram por um momento, mas foram. Dante continuou imobilizado pelo Cavanhaque e lançava olhares mortais para Hilston. Perenelle se abaixou de frente para Garent para subir a blusa de Hilston e descobrir uma mancha roxa bem onde Dante o havia golpeado. Ela pressionou o abdômen dele, sentindo a rigidez.

 — Ele está com hemorragia interna. – declarou. Sabia que podia estar seriamente errada, mas Perenelle tentou se convencer de que não valia a pena se preocupar com ele; tentar a sorte de ajuda-lo e conseguir o Inibidor valia muito mais. Além disso, estava dando mais tempo para os meninos e uma perfeita distração.

 — Como é que sabe? – Garent perguntou quase como uma acusação, fazendo o sangue da garota esquentar de nervosismo.

 — Palidez, suor, pulso rápido e fraco, a mancha e uma contusão como ele diz que aconteceu. É assim que eu sei. Precisamos de solução salina para injetar nele e aumentar o volume de sangue, e se não tiver um hospital disposto a fazer uma cirurgia dentro de dez minutos, ele vai morrer. – Perenelle o encarou ao terminar, tentando demonstrar o quão certa ela estava sobre o que dizia.

Garent cerrou os dentes sem perder a compostura.

 — Os que precisam de cirurgia são levados para o centro da cidade vizinha. Uma hora de viagem até lá. Quase ninguém sobrevive. – ele esclareceu com amargura.

 — Então tragam os médicos até aqui. Mas ele precisa de sangue agora. – Perenelle começou a pressionar a dobra do cotovelo de Hilston como se fosse uma enfermeira prestes a enfiar uma agulha ali.

 — Você não vai fazer uma transfusão de qualquer coisa nele, garota. – Garent afirmou.

 — Consiga um kit de primeiros socorros e posso verificar quem nesse trem tem o sangue compatível com o dele. Enquanto isso, vocês chamam os médicos.

 — Garent... – o Cavanhaque chamou como um aviso claro que dizia “Não confie nela”.

 — É a melhor chance que ele tem. – Perenelle acrescentou.

Os maquinistas estavam desacordados em sua cabine e os Clareanos foram avisados de que o plano deles estava parcialmente suspenso. Todos naquele trem agora corriam pelas vidas de Newt e de Hilston. Gally subiu para a fábrica para avisar o Grupo B do que acontecia e permaneceu por lá para auxiliar as meninas a vigiar os homens; Mike, com a mesma desculpa, foi vasculhar o trem à procura do Inibidor; o Cavanhaque ficou encarregado de chamar os médicos; e o terceiro homem no trem, com o estranho apelido de Tumor, trouxe o kit de emergência.

O chão do vagão estava pontilhado com o sangue de Hilston e sobre ele era pingada uma gota do sangue deles separadamente. Os Clareanos, a maioria a contragosto, também deram o seu, mas Garent precisou afirmar que Hilston não possuía parentes na cidade para convencê-los.

 — Você não deu o seu ainda. – Nelly disse discretamente a Dante, que se isolara de todos enquanto era feito o procedimento.

O garoto balançou a cabeça, encarando Hilston com uma expressão desgostosa.

 — Dante, precisamos fazer isso por Newt.

 — É, na melhor das hipóteses vamos ter a possibilidade de sorte de sermos recompensados por toda a palhaçada que fizeram. – ele retrucou numa voz extremamente baixa, mas carregada de ódio. Era óbvio que aquilo ia além do que todos sentiam.

 — Dante, o que foi?

Ele soltou o ar pela boca. Estava prestes a chorar de raiva. Seu rosto ficava vermelho à medida que seu coração batia mais rápido.

 — Minha mãe e meu padrasto me criaram nesse mundo de mértila. – a voz dele estava quase embargada. – Tínhamos muito dinheiro, então os dois conseguiam sobreviver com a Benção por bastante tempo. Quando eu tinha seis anos, viajamos para uma das cidades saudáveis que restaram por indicação de um grupo de sobreviventes. Disseram que eu poderia até estudar lá. Mas assim que chegamos, a notícia da família rica no pedaço se espalhou de um modo que não devia e fomos atacados em casa. Fiquei preso num armário, mas podia ouvir minha mãe gritando na sala. Eles queriam saber onde estava o nosso dinheiro, mas não estava escondido, na verdade... Meu padrasto entrou com a Benção, que nessa cidade era rara, e foi contido por eles. Tiraram todo o dinheiro de nós. Tiraram a Benção e chamaram o CRUEL ao descobrirem que eu era Imune. Minha mãe não podia passar um minuto sem a Benção. Com a demora para encontrarmos mais, ela já tinha veias de todas as cores no pescoço naquele dia. O tempo que o CRUEL levou para nos achar foi o suficiente para eu assistir a ela se matar. Meu padrasto não conseguiu fazer nada enquanto eu era levado.

Quando Perenelle percebeu, já tinha lágrimas descendo por suas bochechas.

 — Não me lembro de nenhum daqueles caras. Mas sabe o que foi que esse cara disse para mim enquanto lutávamos no outro vagão? – Dante encarou Perenelle com o semblante impassível depois de apontar para Hilston. — Ele disse o nome da minha mãe. E nada cheira pior nesse mundo do que o fedor de queijo que os caras daquele dia tinham.

Perenelle fechou os olhos e abaixou a cabeça, resignada.

Após o tempo de espera do teste, Nelly se abaixou próxima às gotas. Thomas fez o mesmo, logo ao lado dela.

 — Como você está? – ele perguntou, apontando para a mão enfaixada dela.

 — Está meio dormente há um tempo. Mas acho que parou de sangrar. Todo mundo mais perto, pessoal, o tempo acabou.

Minho se aproximou, mas ficou de pé. Depois de Dante, era o mais contra aquela ideia. O plano que tinha sugerido era deixar Hilston morrer, amarrar os homens na linha do trem e procurar o Inibidor.

 — Cada um, toque na sua própria gota e veja se ainda está úmida. Assim. – Nelly esticou o indicador, tocou a ponta com o sangue e a esfregou contra o polegar. — A minha está seca. Não sou compatível.

Garent a imitava no instante em que entendeu. Ele friccionou os dedos, mas deu no mesmo. Aliás, todos deram.

 — Você. Foi o único que não fez o teste. – Garent disse a Dante, que estava de braços cruzados num canto. O homem se levantou com os ombros aprumados e os punhos fechados.

Dante olhou para o resultado de todos.

 — É uma pena. – ele disse.

 — Fure a droga do dedo. – Garent mandou.

 — Isso é carma. Lide com isso.

Garent caminhou até ele a passos pesados e o segurou pelos cabelos, puxando-os para trás ao deferir um soco em seu estômago. Minho se precipitou, mas Thomas interveio imediatamente. Aquilo não se tornaria uma amizade mais tarde, como aconteceu com Jorge, se Minho revidasse. Garent acertou Dante outra vez e abaixou a cabeça dele em direção ao chão para falar ao seu ouvido.

 — Faço você cuspir sangue e muito mais rapidinho.

 — Resolvemos isso. – Thomas disse para Garent, ao lado dele. Após mais alguns segundos, os dois líderes se encararam. Na visão dos Clareanos, Thomas agora parecia maior. Talvez fosse o olhar dele, a postura, o fato de estar tão determinado na frente de um líder capaz como Garent. Mas com certeza porque Garent largou Dante de qualquer jeito e recuou. O homem sabia como esse tipo de coisa funcionava, no fim das contas. O grupo de Dante estava em maior número; Hilston estava à beira da morte; o garoto se sentia à vontade para dizer não; a única possibilidade de convencê-lo do contrário era deixando seus amigos fazê-lo.

Thomas fez sinal para Dante e os dois seguiram para outro vagão.

Com toda a demora para conseguir o Inibidor e dar alguma atualização a Jorge, Harriet, Ferb, Sonya e Aris, o grupo de homens e vigias na prisão saiu de controle. Os quatro conseguiram retardar a fuga deles por um tempo, mas, tendo sido largados lá com Cranks, a raiva acumulada não podia ser vencida. Eles avisaram às meninas na fábrica pelo comunicador do que aconteceu enquanto corriam pelas ruas da cidade, fugindo dos brutamontes. Ao chegarem ao centro da cidade, a visão se tornou ainda mais aterrorizante. Os poucos cidadãos saíam de suas casas armados, e uma massa de homens fortes e grandes preenchia o ar com falatório e sons de engatilho.

Os cinco tomaram um atalho para a fábrica, informando Gally de que o tempo antes de uma guerra estava muito, muito escasso.

— Nós precisamos tentar. – foi a primeira coisa que Thomas disse ao conseguir ficar sozinho com Dante no vagão.

 — Não. Não precisamos. Se fossem mais espertos, Nelly enrolaria aquele cara fingindo alguma cura milagrosa enquanto procurávamos o Inibidor.

 — Ele nunca ia dar essa chance; sabe que o estado do parceiro dele é grave.

 — O parceiro dele não merece nada. Nenhum deles. Eles mataram minha mãe.

 — O CRUEL matou sua mãe. Matou a minha, a da Nelly, a do Louis. Foi o CRUEL que tirou de nós tudo que tínhamos, assim como tirou desse pessoal. Dante, sei que pode não parecer, mas fomos muito poupados até aqui. E agora eles estão com a guarda baixa.

 — Então aproveitamos a chance e matamos eles.

 — Não somos assassinos. Não somos como eles, nem como Herman, nem como o CRUEL. Somos melhores, e estamos fazendo isso por Newt. Ele nunca ia querer que matássemos a sangue frio em nome dele. – Thomas suspirou ao sentir aquela fisgada familiar ao pensar em Newt. — Somos a única família que temos. E não é por aquele cara que você vai dar o seu sangue; é por nós.

Dante respirou fundo, pensando em todas as razões que o fizeram seguir Thomas até ali, e tudo se resumia àquela palavra: família. No fim das contas, era só isso o que ele tinha. E ele podia fazer agora o que não pôde fazer por sua mãe naquele dia. Pensar em Newt deixava a decisão mais fácil, deixava tudo mais fácil; sempre deixou. Dante descobriu isso quando Nelly chegou à Clareira e o Segundo em Comando claramente estava mais feliz do que nunca antes, e, deixando seus próprios sentimentos de lado, Dante ficou feliz por ele.

De volta ao vagão onde todos estavam, ele espetou o próprio dedo com uma agulha, deixou seu sangue pingar no sangue de Hilston, e em pouco tempo descobriu que era, sim, compatível. O único, entre todas as pessoas ali. Dante suspirou, fechou os olhos e pensou em Newt, apenas nele; caso contrário, não seria capaz de fazer aquilo.

Enquanto a cidade inteira se mobilizava para lutar contra os intrusos, estes se preparavam dentro da fábrica com ao armamento disponível.

 — Alguns foram mortos na prisão por causa dos Cranks, mas com os cidadãos que foram avisados, não significou nada. – Sonya informou na sala de reunião dos homens enquanto Gally e três meninas preparavam as armas.

 — Vamos atrasá-los enquanto os outros cuidam do Inibidor. Talvez o líder dele fique comovido e mande os homens dele sossegarem antes que alguém seja morto. – Gally disse.

 — Ou talvez Perenelle não consiga salvar desta vez. – a loira replicou.

 — Temos uma vantagem: a ambulância está vindo. Precisarão cessar fogo quando ela chegar e isso vai causar um monte de dúvidas. Ganhamos tempo, pegamos o Inibidor, chamamos Mallory e damos o fora. É uma pena, não vamos saber se tiveram um final feliz. Vou avisar o Fedelho.

Dizendo isso, Gally saiu da sala pegando seu comunicador e passando as informações para Thomas, que tomou cuidado para que Garent não ouvisse.

Pouco mais de vinte minutos mais tarde, Dante e Hilston tinham cateteres em suas veias e estavam ligados por um tubo. O garoto estava deitado com as pernas para cima para que o sangue pudesse chegar ao coração com mais facilidade. Louis estava logo ao lado dele para acompanhar sua pulsação.

O silêncio no vagão era quase constrangedor para ambas as partes. Todos tentavam prestar atenção em apenas Hilston e Dante para não precisarem se olhar e sentir o que sentiam. O ar estava denso para Garent, como se estivesse lutando por algo já perdido. Muitas vezes se pegou pensando no que faria se perdesse Hilston ali e lágrimas vinham a seus olhos porque se lembrava de Philip e os inúmeros planos que tiveram com ele. E então vinha a vergonha e o estado de alerta por chorar na frente de todos ali e ele precisava engolir tudo aquilo que mais o machucava, uma dor nunca superada ou amenizada. Ele não teria mais pelo que viver se perdesse Hilston depois de perder o próprio filho.

 — O tubo está vazando! – Louis gritou de repente.

Os recursos que possuíam ali não eram novos nem conservados, porque era raro algum daqueles homens ter algum ferimento sério dentro da fábrica, e menos ainda no trem. Garent se aproximou imediatamente e puxou um rolo de fita isolante do bolso para remendar o tubo, e nisso uma fotografia caiu. Dante virou a cabeça e conseguiu ver o garoto Philip, gordinho e de cabelos compridos, com um imenso sorriso no rosto enquanto segurava um queijo grande e redondo nos braços, parado bem em frente à fábrica. A fotografia estava até bem conservada, a não ser por algumas manchas. Dante desviou o olhar, tentando imaginar quem era o menino, ainda que isso não ajudasse em nada ao lembrar do que Hilston fizera com sua família.

A fábrica possuía apenas uma, às vezes duas meninas armadas em cada entrada. Thomas sabia que se os meninos no trem subissem para ajudar, isso poderia deixar Garent em estado de alerta e lembra-lo do Inibidor. Faltavam poucos vagões para Mike vasculhar e até então não houvera nem sinal da máquina.

Uma das janelas da fábrica estourou com o primeiro tiro. Gally espiou a rua de cima do telhado e viu a multidão cercando o local. Eles facilmente poderiam entrar usando a força e isso lhes tiraria qualquer chance de lutar, principalmente se aqueles homens feitos de reféns fossem soltos. Uma mulher disparou contra outra janela; depois um homem tentou acertar Gally... Assim, por trás de barricadas nas frestas das portas, as meninas começaram a atirar contra aquelas pessoas, e Gally foi improvisando alguma defesa com o lixo que havia no telhado.

Muitas armas disparavam ao mesmo tempo, muitas pessoas gritavam, caindo feridas ou mortas, mas aqueles na fábrica ainda estavam bem. Não podiam ter piedade deles agora. Se não conseguiriam o Inibidor, pelo menos morreriam lutando ali.

Dante estava pálido. Seus lábios estavam brancos e ele precisava fazer grande esforço para manter-se acordado. Louis pegou o pulso dele com tranquilidade e preocupação e checou seus batimentos.

 — Você vai ficar bem. – ele deu tapinhas no ombro de Dante, que soltou uma risada tão fraca que quase não foi ouvida.

 — Se eu sobreviver... – Dante suspirou com cansaço, mas tentando prestar atenção nos olhos do garoto. —... vou te ensinar a mentir melhor.

 — E como é que vai fazer isso? – Louis devolveu zombeteiro, com um sorriso no canto dos lábios.

Dante imaginou sua própria mão escorregando pelo chão até a de Louis e de repente sentiu o toque quente envolve-la.

 — Eu... vou... – ele falava em sussurros até parar completamente.

 — Dan?

 Garent se abaixou ao lado de Dante antes que Perenelle pudesse fazê-lo. Ele colocou dois dedos no pescoço dele.

 — Vamos, moloque.

Os batimentos pararam por um instante, mas então voltaram.

 — Quanto tempo ele pode ficar nisso sem morrer? – Minho perguntou.

 — Não muito mais. – Perenelle respondeu e viu o esforço que Garent fez para não olhar para nenhum deles enquanto ia até Hilston.

Mike surgiu na entrada do vagão e chamou por Thomas, seu coração acelerado.

 — Não está aqui. – foi tudo que ele disse.

 — O quê...?

A voz de Thomas falhou. Se o Inibidor não estava no trem, então onde mais? O comunicador em seu bolso chiou e a voz de Gally se fez ouvida.

 — A ambulância chegou. Se apressem.

Thomas foi possuído pela angústia. O tempo tinha acabado.

— Vamos. A ambulância está esperando. – Mike disse ao entrar no vagão ocupado.

Perenelle logo encarou ele e Thomas, procurando qualquer sinal de que tinham encontrado o Inibidor. Um bolo se formou em sua garganta ao perceber a derrota. Era quase inacreditável. Teve vontade de puxar os cateteres imediatamente, mas Hilston e Dante já eram erguidos para que fossem tirados do trem sem interromper a transfusão. Ela se sentia prestes a ter um ataque com tamanha injustiça. Hilston não merecia viver mais do que Newt merecia.

As lágrimas brotaram em seus olhos enquanto ela ficava ali parada, assistindo-os saírem do vagão. Seu dedo deu uma fisgada de dor onde foi amputado.

Thomas colocou a mão firmemente sobre o ombro dela. Ele imaginava o que se passava em sua cabeça: Garent sequer mencionara alguma recompensa.

 — Meu, eu sou tão estúpida... – ela choramingou, odiando a si mesma.

O Clareano resolveu ficar em silêncio e apenas guia-la atrás dos rapazes. Eles saíram do trem, tomaram atalhos pelos túneis e alcançaram uma escada poeirenta que levava à rua.

Enquanto isso, dentro da fábrica, todos esperavam ansiosamente pela chegada de Mallory. Com o peito apertado de medo do que os reféns poderiam fazer sem ninguém para vigia-los, Gally instruiu Aris, Ferb e as meninas para o telhado. Ele e Jorge deram uma última checada em cada uma das salas com os homens, e viu Yhani, o cadeirante e deficiente, olhando para o nada do chão, parecendo completamente alheio ao que acontecia. “Me prometa que vai tentar”, foi o que Perenelle dissera. Ele sentiu raiva.

Hilston e Dante estavam enfim do lado de fora, sendo levados em direção à ambulância sob um sol escaldante. Aqueles que os carregavam precisaram de um tempo para se acostumar com a luz e começarem a ouvir os tiros dos cidadãos. Garent quase explodiu quando um disparo quase os acertou.

 — EI! O que estão fazendo?! Isso agora é Carnaval?! – ele berrou para as pessoas mais próximas, que não entenderam nada. Elas achavam que Garent sabia o que acontecia, ou que se importava.

Enquanto um dos homens dele contava a ele o que acontecia, o comunicador de Thomas fazia barulho outra vez.

 — O pessoal dessa cidade precisa sossegar para conseguirmos sair daqui. Mallory está chegando. – Gally disse. Garent ouviu, mas nada nem ninguém ali lhe interessava além de Hilston. Ele voltou a marchar em direção à ambulância, ignorando tudo e todos completamente.

Algumas pessoas pararam de atirar para observar o que acontecia enquanto os paramédicos atendiam Dante e Hilston. E então, o barulho do Berg preencheu o ar e o fogo cessou completamente. Mallory pousou a nave a uma distância segura. Aqueles no telhado da fábrica por uma escada lateral. Sem pensar duas vezes, Perenelle bateu em Thomas e Niels e puxou o cateter de Dante. Os dois meninos apoiaram o amigo e o levaram para a nave, tendo cobertura da Socorrista e do restante dos Clareanos, que apontavam as próprias armas para qualquer um que decidisse atirar. Mas nenhum dos cidadãos ousava fazer qualquer movimento sem entender o que acontecia. E Garent estava muito ocupado com Hilston para lhes dar alguma ordem. Os adolescentes não tinham conseguido o Inibidor, ele não precisava fazer nada a respeito.

Logo, todos conseguiram entrar no Berg e Mallory alçou voo. A porta de carga se fechou e o único barulho ouvido era o da nave cortando o ar para longe daquele lugar. Ninguém tinha palavras para o que viam.

Gally estava bem atrás de Yhani, encarando Perenelle com dureza. E num canto estava a figura real do Inibidor, acompanhada de uma Teresa e um Kenan orgulhosos.


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Notas finais do capítulo

Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=-TCCmjuBmuQ&feature=youtu.be



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