Socorristas escrita por BlueBlack


Capítulo 5
"Espere só até saber o que aconteceu"


Notas iniciais do capítulo

Heyy!

Demorei mais desta vez, eu sei e me perdoem, mas os dias correram e não quis reler o capítulo de mal jeito.
Muitíssimo obrigada a Connor Hawke, Maia Hope e Bruna Eloise que deixaram comentários lindos no último cap.! *-*

Boa Leitura!



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Minho fora quem me acordara antes do amanhecer no dia seguinte, e mesmo depois de todo o processo de levantar e me arrumar para o treino, ainda sentia meus olhos pesados de sono. Tinha ficado até mais de duas da manhã conversando com ele e os outros Corredores sobre o Labirinto, os Verdugos e tudo o que já tinham feito lá. Ao longo da conversa descobri que eu não possuía quase nada do necessário para ser Corredora. O que precisava-se fazer, o modo como deveria ser feito e ainda completamente sozinha numa área inteira... Teria dito ali mesmo que era perda de tempo me treinar se não estivesse curiosa para saber como o Labirinto era.

 A pior parte da noite sem dúvidas havia sido as corridas que Minho inventara de fazer para adiantar o meu treinamento. Eu já estava morta de cansaço, depois daquilo nem me dera o trabalho de tomar banho antes de dormir. A largada havia sido a partir de uma das Portas até a outra e teríamos que dar duas voltas. Eu imitara o alongamento deles e chegara muito perto de dizer que desistiria ao sentir minhas pernas já reclamando.

 Chuck dera a partida, enquanto a maioria dos Clareanos assistia; nem de longe fora um incentivo, os olhares debochados só serviam para me distrair. No começo, vira-me emparelhada com alguns deles, mas antes mesmo da metade do percurso eu ficara para trás. Eu chegara ao fim da segunda volta apoiando-me na parede e puxando o ar com tanta força que doía. Correr não era tão difícil, e sim acompanhá-los.

  — Se parar agora, nunca vai pegar o jeito. — Minho dissera e eu tomara a garrafa de água da mão dele com violência.

 Houvera mais dois pares de voltas e pude provar a fala dele, mesmo que apenas na penúltima eu conseguira chegar a empatar com um deles.

 Thomas entraria conosco no Labirinto para que depois seguisse para a sua área e nós três ficamos alguns minutos nos alongando em frente à entrada da Porta Oeste. Entre cada movimento era um bocejo que eu soltava, até olhar para o primeiro corredor que se seguia coberto de hera e sentir uma onda de entusiasmo quase impedir-me de respirar.

 Finalmente entramos, com as mochilas cheias nas costas e os pés calçados com os tênis especiais. Ninguém conversou ou fez comentários ao longo da corrida, que os dois lideravam o tempo todo. Thomas fez apenas um sinal de incentivo com a cabeça para mim antes de tomar o caminho para a sua área.

 Minho ensinou-me a cortar a hera enquanto eu corria, lembrou partes da conversa do dia anterior apontando e mostrando, e precisou até me dizer como manter a respiração uniforme quando notou a minha baixa resistência.

  — Acho que não vai querer voltar mais aqui, não é? — ele perguntou com um sorriso debochado quando desmontei no chão ao anúncio da quarta parada. Respondi com um sorriso cínico e breve antes de derramar a água fresca pela minha garganta. — Melhor se recompor, ainda não chegamos na metade do dia.

  — Bom saber. Alguma coisa pelo menos mudou hoje?

  — Nada que já não estivesse registrado. É um porre... Vamos chegar numa parede mais tarde, a última da área, e provavelmente nada de mais vai aparecer até lá.

  — Você é sempre assim tão pessimista? — ergui uma sobrancelha.

  — Experimente andar por esse lugar por dois anos, ver sempre as mesmas coisas e se sentir um inútil por estar deixando alguma coisa passar.

 Balancei a cabeça em reprovação e olhei para o lado oposto.

  — Vocês pensam demais no problema... — murmurei.

  — E o que mais deveríamos fazer?

  — Pensar em solucionar essa droga toda! — repliquei com raiva e o encarei. — Ficam procurando alguma coisa diferente aqui dentro, sempre vendo as mesmas coisas, os padrões de todo mês, não é? Talvez vocês já tenham a resposta, só não estão pensando no caminho certo para vê-la.

  — Você se acha bem esperta, não é? Já viramos noites na Casa dos Mapas, trolha, estudamos as áreas de todo jeito.

  — Ou é isso o que vocês acham.

 Minho revirou os olhos irritado e levantou-se num salto, guardando suas coisas, pondo a mochila nas costas e quase recomeçando a corrida. Agarrei minhas coisas de uma vez e segurei seu braço, forçando-o a se virar para mim.

  — Escuta... Já entendi como é estar aqui, pode ter certeza que me sinto do mesmo jeito que você. — falei com o tom firme. — Mas talvez, se trabalhássemos mais nas possibilidades... Cara, isso é um Labirinto e os Verdugos que não estão atrás de nós agora, com certeza foram para algum lugar. Podem ter atravessado as paredes para um mundo mágico, sei lá... Talvez a saída não seja tão simples como passar por dois muros.

  — Isso ajuda bastante. — ironizou.

 Um som mecânico soou ao nosso lado, no muro, entre os ramos de hera, e pude ver um bicho pequeno movendo-se com patas de cada lado do corpo.

  — Chamamos de besouro mecânico, tem vários deles por esse lugar. — Minho disse logo. — Os malditos Criadores nos vigiam assim... Ou é o que eu imagino.

 Dei um passo na direção do muro e desferi um soco onde o besouro estava, mas acertei apenas a hera. Lembrei-me de Thomas contando que eles nunca se deixavam serem pegos.

  — Deixe de ser idiota e vamos continuar logo. — ele disse já virando-se para continuar. Encarei o animal-máquina subindo e desaparecendo pelo muro antes de seguir o garoto.

 Horas mais tarde, após outros intervalos silenciosos, alcançamos o último muro e começamos a voltar, e há muito tempo eu já tinha decidido realmente que não queria ser Corredora, por mais intrigante que aquele lugar fosse. Não valia a pena atrapalhar o trabalho deles só por curiosidade e entusiasmo.

 Entramos num corredor que acabava em dois caminhos, provavelmente um deles levando à outra área. Segui Minho olhando para seus pés ágeis e rápidos, pensando no que poderia ser uma saída daquele lugar, se não uma passagem entre muros. Os Criadores não nos colocariam ali sem que houvesse uma solução, ainda mais se estavam nos estudando. Deviam esperar que fizéssemos alguma coisa a respeito daquilo tudo, e a suposição de que queriam que matássemos uns aos outros ali até o último sobreviver me assombrou.

 Um brilho prateado vindo do muro à esquerda interrompeu meus pensamentos e minha corrida. Apertei os olhos para tentar enxergar por trás da hera, puxei alguns ramos para o lado e vi uma placa de metal na pedra com dizeres em letra maiúscula.

CATÁSTROFE E RUÍNA UNIVERSAL: EXPERIMENTO LETAL

  — E essa droga, o que é? — perguntei ainda encarando as palavras, desejando riscar todas elas. Olhei para o lado quando a resposta de Minho não veio e percebi o grande erro que eu havia cometido. Ele não percebera que não estava mais sendo seguido e continuou correndo, desaparecendo por alguma das passagens.

 Parei em frente as duas, mas tentar adivinhar para qual seguir era perda de tempo. E ao pensar em tempo, verguei a cabeça para cima para olhar o céu. Pelo relógio de pulso, eu sabia que estávamos perto do fim do dia; perto das Portas se fecharem.  

 “Por qual nós passamos, por qual nós passamos?...”, eu me perguntava fervorosamente, quase entrando em desespero. Minho havia comentado o quão irritante era encontrar aquilo, pois só se via na volta para a Clareira. Tentei me acalmar e não pensar no quão ferrada eu estava. Decidi esperar, pois uma hora ele perceberia que eu não estava mais atrás dele, então encostei-me contra o muro da divisa entre os caminhos.

 Talvez fosse impressão minha pela ansiedade de esperar que Minho voltasse, mas o corredor à minha frente começava a escurecer e nem sinal dele. Ele devia estar com raiva do modo que falei e não se importou em olhar para trás por bastante tempo. Eu precisava ficar ali, era o mais inteligente a se fazer. Já estava mais que convencida disso quando ouvi estalos metálicos e gemidos vindos de algum lugar. Levantei-me com as pernas bambas, afastando-me das entradas e olhando para os três caminhos. Se chegasse a noite e os Verdugos aparecessem, Minho não voltaria; era contra as regras. Com certeza, eu não ficaria parada ali até que meu tempo chegasse ao cúmulo.

 Rezando para os muros que fosse o caminho certo, segui pelo da direita às pressas.

 Corri por bastante tempo; virei em corredores, pela direita, pela esquerda, na direção oposta ao que os sons dos Verdugos vinham... Até perceber o mais importante que me ajudaria a voltar: os ramos de hera que deixamos. Estaquei onde eu estava e olhei para o chão. Não havia nada. E pela terceira vez eu havia caído num beco sem saída. Respirei fundo e soltei o ar com um suspiro sonoro, correndo as unhas pelo cabelo e sentindo meus olhos marejarem. Minha única esperança de sobreviver ali antes que os Verdugos me matassem era encontrar outro Corredor.

 Ponderei sobre o que era melhor, tentar voltar sem errar o caminho e seguir a outra passagem, ou continuar, esperando encontrar alguém. Dei um passo indeciso em cada direção. Repreendi a mim mesma num sussurro e decidi de uma vez continuar pelo primeiro corredor livre que aparecesse.

 Corri com o coração na garganta, ignorando o cansaço, a dor nos músculos e até o medo que crescia dentro de mim, e definitivamente eu estava muito mais rápida do que antes. O céu começava a passar de azul anil. A cada curva eu esperava ver um Verdugo e apertava a faca na minha mão com força. Tinha desistido de carregar a mochila quando percebi que ela me atrasava.

 Entrei num corredor que terminava com um caminho de cada lado. Eu não sabia se tinha entrado muito fundo no Labirinto ou se estava mais próxima da Clareira; não tinha ideia de nada. Torcendo para que um dos caminhos fosse um beco sem saída para eu não precisar decidir, acelerei os passos, prestando atenção para não tropeçar. Eu me aproximava da parede muito mais rápido do que parecia. A hera ao redor era apenas um borrão. O chão quase não era sentido nos meus pés. Decidi virar para a direita. Alcancei o corredor e senti o choque extremamente forte de alguma coisa contra o meu corpo que me derrubou, antes mesmo que eu pudesse virar a esquina. Bati a cabeça na quina de uma rocha no chão e senti uma explosão de dor. A parede à minha frente girou e recuou, e pisquei os olhos para vencer a tontura. Uma dor rotunda apoderou-se da minha cabeça, mas não pude deixar de imaginar o que poderia ter me atingido. Com a imagem de um Verdugo invadindo minha mente, levantei-me num salto e cambaleei para o lado pela zonzeira. Apoiei-me no muro e olhei pelo corredor, as batidas da minha pulsação parecendo que fariam minha cabeça explodir.

 Havia um garoto no chão começando a se levantar. Nenhum sinal de Verdugo. Suspirei com o alívio e pisquei mais vezes para reconhecer quem era.

  — O que está fazendo aqui? — a voz de Thomas encheu meus ouvidos logo antes da minha visão entrar em foco. Suspirei outra vez, quase num gemido, fechando os olhos e apoiando-me no muro para não cair.

  — Diga que sabe como sair daqui. — falei. Seu olhar era preocupado e assustado e, a julgar pela velocidade com que ele estivera correndo, devia estar tão apressado para sair dali quanto eu.  

 Ele assentiu com a cabeça energicamente e engoliu, olhando para o caminho de onde viera.

  — Vamos. — puxou-me pelo braço e recomeçou a correr.

 De repente, um estrondo familiar me ensurdeceu.

 Os muros estavam se fechando.

 Daquela vez consegui emparelhar com um Corredor, mas só até ele parar bruscamente e colocar o braço em frente ao meu peito, forçando-me para trás antes de entrar em outro corredor. Thomas me empurrou e encostou-se ao muro, respirando pelo nariz desesperadamente. Ele colocou o dedo indicador sobre os lábios e depois apontou para o corredor que entraríamos, e nem precisei olhar para saber o que significava. Tampei a boca para não fazer barulho com a respiração e tentei me acalmar. Estávamos ferrados, ficaríamos presos ali dentro em questão de segundos.

 Thomas inclinou-se para o lado devagar e checou o Verdugo no corredor à esquerda, depois olhou para o corredor da direita e voltou, balançando a cabeça em negação. Havia um Verdugo de cada lado. Olhei para trás, reconhecendo que voltar era o melhor a se fazer. Thomas apontou com a cabeça e andamos o mais rápido e cautelosamente possível ao mesmo tempo pelo caminho por aonde viemos. Viramos um corredor diferente do de antes.

 Alguns minutos depois, só o que se ouvia era a nossa respiração e os passos sonoros descuidados que dávamos às vezes. Eu não pensava em mais nada além da possibilidade de encontrar outro deles nas curvas e ficar atenta. Thomas, em vez disso, olhava para os dois lados o tempo todo para certificar-se de que estávamos sozinhos.

 O ruído metálico voltou e com muito mais volume. Não tivemos muito tempo. Olhamos para trás e um Verdugo apareceu no mesmo instante, disparando meu coração.

  — Corra. — ele não precisou falar duas vezes.

 Enquanto o seguia, mais determinada que nunca a acompanha-lo muito de perto e não me distrair com a primeira porcaria que aparecesse, senti um nó na minha garganta. O Verdugo atrás de nós continuava a nos seguir. Eu fazia de tudo para não degradar minhas esperanças com a possibilidade de outros aparecerem pelo caminho.

 Corremos, sem parar, por muito tempo, até mais do que eu acreditava ser possível um ser humano aguentar. O barulho do Verdugo parou de repente. Custamos a parar também. Após o que pareceu serem quilômetros, Thomas diminuiu o passo até parar e tomar fôlego.

  — Precisamos nos esconder. — falei de uma vez e respirei fundo.

 Ele balançou a cabeça em negação, as mãos apoiadas nos joelhos.

  — Não tem onde... Da última vez escalei o muro... e mesmo assim me pegaram.

 Thomas olhou ao redor, para cima, para baixo, e tateou as paredes à procura de alguma coisa. Baixei a cabeça para me acalmar e tentar pensar, e meus olhos pousaram numa parte mais escura do muro cortinada por ramos de hera. Não estava escuro o suficiente para ser uma sombra, a pedra ao redor ainda estava cinza com a pouca claridade.

 Abaixei-me mais próxima do muro e puxei a hera para o lado, deparando-me com um buraco. Deitei no chão para ver melhor; não chegava nem perto de ser grande o suficiente para guardar um Verdugo. Um besouro mecânico saiu correndo do meio das sombras e seguiu pelo corredor.

  — Thomas, aqui.

 Ele aproximou-se rapidamente e olhou.

  — Não cabemos os dois aí. — disse e pôs-se de cócoras, andando e passando a mão pela parede à procura de outro buraco. Fiz o mesmo do outro lado, mas aquele era o único por ali, e sair procurando com as chances de se deparar com mais dos Verdugos era burrice.

 Os gemidos e ruídos voltaram e nos levantamos na hora, olhando pelo corredor. O medo crescia dentro de mim como um plano de fundo para as engrenagens trabalhando na minha mente, mas ainda assim pareciam seguir uma linha de raciocínio inteligente.

  — Damos um jeito, vai, entre. — falei e comecei a empurrá-lo na direção do muro. Thomas abaixou-se e esgueirou-se para dentro do buraco, sumindo completamente.

  - Não dá... – ele resmungou e vi seu braço começar a sair, logo quando um ruído singular soou mais alto e o Verdugo apareceu no fim do corredor. Eu sabia que em algum lugar da minha mente pulsou uma gratidão por ele ter surgido a tempo. O Verdugo silvou e dei uma última olhada em Thomas, que não mostrava nem sinal de estar ali. Então, desatei a correr outra vez.

 Thomas não podia morrer naquele Labirinto, ele era mais útil que eu na Clareira por toda a experiência que possuía. Com uma semana ali, minha única certeza era de que me distrair num labirinto fora a coisa mais estúpida que eu poderia fazer. Além disso, se eu sobrevivesse correndo por todo aquele lugar até o amanhecer, era mais fácil Thomas e os outros Corredores me encontrarem do que eu tentar fazê-lo, após todas as voltas que demos.

 Dobrei diversas esquinas, sempre atenta a algum buraco escuro que pudesse estar escondido pela hera.

 Entrei num corredor extremamente comprido, onde as únicas saídas ficavam na outra extremidade e no meio, a muitos metros de distância. Soltei um suspiro e o Verdugo que me seguia reapareceu atrás de mim. Voltei a correr, focalizando a saída do meio, à direita. Antes de alcançar metade do caminho para lá, um segundo Verdugo rolou para a outra extremidade do corredor e veio na minha direção, seus braços metálicos chiando. Acelerei mais os passos, mas não pareceu fazer diferença.

 Olhei para trás de relance, temendo que eu tropeçasse nos meus próprios pés, e vi o Verdugo muito perto, na minha cola. O outro também vinha a toda velocidade. A melhor solução era óbvia.

 Alternei o olhar entre o Verdugo à minha frente e a entrada. O Verdugo e a entrada. O Verdugo e a entrada. Apurei meus ouvidos para ter certeza de que o outro estava perto o suficiente. Calculei o necessário para que desse certo e forcei minhas pernas a ir mais rápido. Eu arfava, respirava pela boca, sorvendo o ar desesperada, meu peito doendo. A entrada estava mais perto. E o Verdugo também. Estávamos tão rápidos que achei que eu não conseguiria mudar a rota dos meus pés; nem tinha certeza se ainda estava no comando deles. Os Verdugos estavam próximos... Próximos demais.

 Soltei um grito ao ver os ferrões erguendo-se na minha direção e joguei meu corpo para o lado assim que alcancei a entrada. Eu tropecei nos meus pés, mas rapidamente me levantei e me virei para os Verdugos. Estavam engajados um no outro. O ferrão de um havia penetrado o corpo do outro e eles se enroscavam ainda mais enquanto as outras armas lutavam para se libertar.

 Dei as costas a eles e recomecei a correria. Fiz diversas curvas, o número de becos havia aumentado. Eu parava assim que percebia, imaginando o desastre caso ficasse encurralada com um deles.

 Entrei em outro longo corredor e ouvi mais ruídos. Estavam mais altos e mais fortes. Para o meu desespero, um Verdugo começou a descer pela parede ao meu lado. Mais dois apareceram no fim do longo corredor, outro descia pelo muro daquele lado e outro dobrou a esquina pela qual eu acabara de passar. Pensei no que os Clareanos deviam estar falando da Novata que se perdeu no Labirinto e adiantei-me a concordar caso me imaginassem morrendo por uma estupidez. Um estrondo soou, trazendo-me de volta à realidade. Corri ao longo do corredor para longe dos dois Verdugos mais próximos, seus ruídos e gemidos quase sumindo sob o barulho alto. Até que o reconheci e parei onde eu estava. Um muro estava se movendo em algum lugar muito perto de mim.

 Todos os Verdugos estavam a meio caminho de mim e eu me encontrava quase no centro do corredor. O desespero me corroía. Tentei seguir o som para saber de onde ele vinha e dei mais alguns passos, deparando-me com outro corredor, desta vez mais curto. O muro no final dele estava se movendo, bloqueando uma passagem escura. Se não fosse pelo movimento, não saberia que estava ali. Era estranho, mas parecia uma saída.

 Os Verdugos aproximavam-se, então eu corri, fitando a passagem que diminuía cada vez mais. O maldito muro de cem metros estava indo mais rápido do que o normal, não podia ser impressão minha. Meus pés voltaram a sair do meu controle, mas o fim do corredor parecia nunca chegar. Diferente disso, o Verdugo atrás de mim estava tão próximo que achei ter sentido um dos ferrões no meu calcanhar.

 Um metro para que a passagem se fechasse... Meio metro... Ouvi o animal soltar um gemido muito alto e me lancei no espaço escuro. Rolei pelo chão de pedra, tentando manter o máximo de distância dos ferrões. Até que senti o chão simplesmente desaparecer e me forcei a parar. Olhei para o Verdugo e pude vê-lo rolando quase sobre mim. Eu me encolhi, esperando que passasse por cima e caísse no que quer que fosse que estava além do chão. Mas ouvi o silvo das suas armas projetando-se para fora bem acima de mim. Uma delas me cortou e me puxou para o buraco, agarrada à minha calça, e berrei tão alto que minha garganta pareceu rasgar. Minhas mãos se agarraram à borda e meus pés se agitaram para tentar afastar o animal, mas o movimento começou a me fazer escorregar.

 Um grunhido raivoso soou acima de mim e vi um tipo de espada cortar o ar na minha direção. Antes que eu pudesse reagir de qualquer forma, ouvi os gemidos do Verdugo diminuírem e senti-o parar de se debater. Olhei para baixo e o vi caindo, sumindo no breu. Duas mãos cercaram meus antebraços, puxando-me para cima. Arrastei os pés pela parede para tentar subir e usei os cotovelos quando foi possível. Joguei a perna esquerda sobre a borda, uma ardência absurda espalhando-se pelo meu torso enquanto eu me arrastava para longe do buraco.

 Meu ombro tocou em algo e arregalei os olhos de susto; mas era apenas Thomas. Encostei minha testa no ombro dele e fechei os olhos, meu peito ainda ardendo pela respiração irregular. Minhas pernas tremiam, a adrenalina correndo no meu sangue quase me estimulava a levantar e voltar a correr. Uma lágrima escorregou para fora do meu olho, então pisquei algumas vezes para que eles secassem.

  — Você está sangrando. — foi a primeira coisa que ele disse.

 Soltei o ar mais algumas vezes, realmente sentindo alguma coisa errada onde fui cortada. Olhei para além dele e rolei a cabeça para ver o outro lado. Quase não acreditei.

  — Thomas... Thomas... — agarrei a blusa dele e comecei a puxar a manga.

 Um Verdugo chiou e bateu os ferrões ao acabar de passar por uma entrada. O corte na lateral do meu torso ardeu. Pus a mão sobre ele, sem querer tirar os olhos do animal, e senti muito mais sangue do que eu esperava. Pressionei minha blusa sobre o corte com força, mas eu sabia que não era o suficiente para estancar.

 Thomas ergueu seu facão e foi até o Verdugo. Pisquei uma vez, a dor tirando toda a minha concentração do que acontecia. Vi Thomas montado no Verdugo e fiquei indignada. As armas do animal lutaram para tirá-lo dali, mas algumas começaram a cair com os movimentos que ele fazia com o facão. Thomas segurou o cabo com as duas mãos e enterrou a lâmina no corpo do Verdugo, e pude vê-la reluzir. Ergui os olhos para o céu, que começava a clarear; eu nunca teria imaginado que toda aquela fuga tivesse durado tantas horas.

 Estrondos como o anterior soaram e não ouvi nada do que Thomas começou a dizer quando se agachou perto de mim. Ele olhou ao redor, provavelmente procurando alguma coisa para parar o sangramento, e soltou um muxoxo de impaciência.

  — Não se preocupe. — murmurei. “Não se preocupe tanto quanto eu, já basta uma em desespero”, acrescentei mentalmente.

 Deitei meu corpo devagar e percebi que ele ainda estava agitado pela adrenalina.

  — Os Verdugos não vão vir mais. — Thomas disse, agachado ao meu lado. — Vou buscar alguém, não se mova.

 Assenti com a cabeça e o vi sumir das minhas vistas. Encarei o céu acima de mim, incomodada com a vontade de sair correndo, e prendi a respiração algumas vezes até que ficasse estabilizada. Tentei pensar no que eu tinha feito, mas percebi que metade da noite havia sumido da minha mente. Eu só me lembrava do mais importante, dos momentos em que senti mais medo. Desejei não ter no que pensar e esvaziei minha mente enquanto encarava o céu, tentando prestar atenção nas cores que mudavam.

 Não percebi o quão grande era a minha concentração até sentir um movimento ao meu lado, dar falta dos sons dos muros e ouvir uma voz grave me chamar. O rosto sério e franzido de Newt apareceu no lugar do céu.

  — Nelly, ei! — estalares de dedos seguiram-se e levei um tempo para me situar. — Está me ouvindo?

 Agradeci mentalmente que desta vez a pergunta viesse dele e não de Alby e assenti com a cabeça.

  — Me dê o pano, rápido! — ele disse a alguém. Ele ergueu minha regata e cercou toda a minha cintura com algo mais firme, depois ajudando-me a levantar. — Você é mesmo uma grande mértila, sabia?

  — Espere só até saber o que aconteceu. — balancei as sobrancelhas, sentindo meu corpo fraco, apertando o ombro dele com força para me apoiar.

 Thomas estava com uma mão segurando o próprio pulso e havia trazido Newt, Alby e Jeff até ali, e o percurso de volta para a Clareira pareceu muito mais simples (apesar de longo) com o Corredor nos guiando.


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Notas finais do capítulo

Nelly como Corredora eu voto NÃO! u.u Kkkk
O que acharam? Mereço reviews?
Vou fazer o máximo para o próximo sair mais rápido!

Até lá!



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