Socorristas escrita por BlueBlack


Capítulo 27
Abalos


Notas iniciais do capítulo

Heey!

I'm back!
E espero que gostem do cap, ele antecede uma baita treta!

Boa Leitura!



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Se a chuva havia durado a noite inteira, eu não sabia, porque assim como todos que sobreviveram à tempestade, fui dormir pouco depois de nos acomodarmos na entrada escura do prédio abandonado. Newt estava bem, com nada além de dor de cabeça. Com certeza estava melhor do que o garoto que Thomas carregara após ser atingido por um raio; eu podia ouvir seus gemidos de dor. Por mais que quisesse ir ver como estava, não conseguiria com a falta de luz, e eu ficava satisfeita de poder usar isso como desculpa; não estava nem um pouco afim de me mover daquela posição.

 Dormi durante toda a noite, sem sonhos, sem pesadelos, sem lembranças. Apesar da fome, do mal estar da insolação, do cansaço e tudo que daria uma lista de muitos metros e perturbava meu humor, agradecia por pelo menos ter dormido direito. Acordei com meu estômago se contraindo, mas ficava menos depressiva por saber que não precisaria ir buscar comida sozinha.

 Thomas e Newt estavam conversando perto da porta de entrada, encostados à parede enferrujada. O garoto atingido pelo raio era Minho, e estava encolhido em posição fetal aos pés de Thomas, gemendo e resmungando. Esfreguei os olhos e me aproximei deles, já esperando pela pior imagem possível do Corredor. Suas roupas estavam em frangalhos e chamuscadas, e pontos em que se entrevia a pele possuíam bolhas vermelhas lacerantes.

  - Olhe para mim. – pedi e ele resmungou algum xingamento, mas obedecendo. – Como se sente?

  - Não desistiu de fazer esse trabalho de mértila, não é? – ele murmurou, sentando-se com mais gemidos dolorosos. Sorri fracamente com o comentário. Uma das coisas que mais desejei ultimamente era ter alguém além de mim mesma para cuidar. – Poderia muito bem levantar daqui e chutar os traseiros de vocês com o dobro dessa dor.

  - Ótimo. Faça.

 Minho revirou os olhos e ocupou-se em olhar ao redor, o semblante agora inexpressivo.

  - Quantos? – perguntou.

 Sentei-me no chão e me ocupei com os cacos de vidro dali, negando-me a constatar por mim mesma quantos de nós haviam restado.

  - Somos doze agora. – Newt anunciou sombriamente após algum tempo. – Se contarmos a Nelly.

 Eu me lembrava nitidamente de quando ele havia dito que éramos quarenta e dois antes de entrarem no Labirinto. Fomos reduzidos a doze em apenas alguns dias. Ergui minha cabeça para procurar Mike e acabei percebendo muito mais que isso. Ele dormia entre os poucos Clareanos, com o curativo do braço muito bem conservado. Senti falta de muitos rostos. Jeff. Clint. Winston. Teresa. Senti falta de Alby. Olhei ao redor boquiaberta à procura dele, mas tratei de me recompor. Se até Chuck tinha nos deixado...

 Encarei Newt e percebi que ele e Minho discutiam. Thomas estava calado enquanto observava os dois, mas não parecia prestar real atenção. Arrastei-me até ficar ao seu lado e encostei a cabeça na parede.

  - É muito bom ver você. – comentei.

  - Achou que eu não sobreviveria a uma bobagem dessas? Qual é... – a ironia forçada se tornava estranha naquele tom mórbido.

  - Sinto muito, Thomas... Por Chuck e Teresa...

  - Teresa está viva. – ele disse ainda sem me encarar. – Encontramos ela pelo caminho. Foi uma conversa estranha, mas acho que está bem.

  - Vocês vão voltar a se ver. – afirmei.

  - Você se importa? – ergueu uma sobrancelha, mas não parecia ser maldoso com a pergunta.

  - Está na cara que gosta dela. E você não tem muitas opções, não é? – brinquei com um sorriso fraco.

  -... um Líder descobre para aonde ir e o que fazer depois de toda a bagunça. – Minho dizia para Newt.

  - Ninguém precisa da sua genialidade pra saber que precisamos arranjar comida. – repliquei.

  - Que seja. – Newt disse com a expressão tristonha para o Corredor. – Sério, sinto muito. Desculpe mesmo. Eu só...

  - Sinto muito também. – Minho disse com um revirar de olhos, que Newt felizmente não viu por ter voltado a encarar o chão, fosse lá o que fosse o motivo das desculpas.

  - Já viram algo parecido com aquela tempestade? – um garoto se aproximou de nós. Não era um Clareano.

  - Conheço você. – falei involuntariamente, a testa franzida e o sentimento de familiaridade apoderando-se de mim outra vez. Ele era alto, tinha o rosto pontudo e sardento, o cabelo castanho escuro. – Aris, não é?

  - Você precisa começar a dizer o que te aconteceu. – Minho comentou insípido, com o mesmo olhar surpreso dos outros três.

  - Como me conhece? – Aris perguntou desconfiado.

  - Tenho tido umas lembranças bem fortes ultimamente e vi você algumas vezes. Você e uma garota. Alguma coisa me diz que a minha perda de memória está passando. – esclareci.

  - Dois então. – Thomas disse. – Do que mais lembrou?

  - Coisas pessoais de quando conseguiram me levar para o CRUEL. Todos vocês chegaram lá com, tipo, sete anos ou menos. Herman e eu chegamos com onze e só conseguimos fugir quando eu tinha quinze. Um grupo nos resgatou. Os dois anos que vocês passaram no Labirinto, eu fiquei com esse grupo. Não sei quem eles são, mas sei que estão completamente contra o CRUEL.

  - Que ótimo saber que temos aliados. – Minho disse sarcástico.

  - Isso realmente é bom. – retruquei. – Se eu descobrir mais um pouco sobre eles, talvez possamos pedir ajuda.

  - Nossas mentes são controladas, lembra? – Newt disse. Mike havia se levantado e aproximava-se de nós coçando o olho para acordar. – Estamos sendo vigiados. Os Criadores vão fazer de tudo para nos impedir de lutar contra.

  - Eu consegui escapar antes por causa deles. Devíamos tentar.

  - Olha, não sei se você está tão bem informada quanto nós, mas estamos infectados com a doença de mértila desses Cranks. – Minho começou. – Completar a tarefa do CRUEL é a única coisa que vai nos levar à cura.

  - Tem certeza disso? Acho que a última coisa que deveríamos fazer é confiar no que eles dizem. Pensem bem, nada disso não faz sentido. Não fui com vocês na fuga porque eles disseram que eu precisava sair do Experimento. Eu obedeci. Uma mulher tirou todos que ficaram na Clareira dizendo que estávamos livres disso tudo. Fomos para complexo principal para que tivéssemos a nossa memória restaurada. Eu fugi antes que conseguissem, encontrei Gally, e encontrei uma garota muito nova e infectada que já não batia bem da cabeça. Depois encontrei vocês e fiquei presa sozinha num corredor por dez dias, sem comida, sem nada. Um cara-de-rato de repente apareceu como se nada tivesse acontecido e disse que eu participaria das provas do Deserto para que eu recebesse a cura. Mas eu devo ter quase a mesma idade daquela garota e estou muito bem.

  - Mas não significa...

  - Me escute. – interrompi Aris com a mão erguida. – Só estou dizendo que tem alguma coisa errada nessa história. Se somos tão importantes para a cura da raça humana, por que usar testes letais para nos estudar? Qual a necessidade de matar adolescentes? Se eu faço parte do Experimento, por que me tirar das Variáveis a partir da saída do Labirinto até agora?

  - Pode ter sido um teste especial. – Thomas sugeriu.

  - Mas por que eu? Essas minhas habilidades de Socorrista não foram nada úteis enquanto eu fugia. Separaram mais alguém depois que fui arrastada pelos guardas?

  - Teresa. Ela ficou num quarto sozinha e só a encontramos há alguns dias.

  - Ela também ficou isolada por dez dias? Sem comer e sem saída? – indaguei com uma chama de entusiasmo. Enfim aquilo parecia estar tendo um padrão.

  - Dez dias? – Minho repetiu com a testa franzida e se entreolhou com os outros. Olhei para eles e os vi com a mesma expressão de dúvida, e não tive um bom pressentimento.

  - Nelly, só passamos três dias sem comida, e mais três para chegar nesse prédio. – Newt disse brandamente, a ruga novamente fincada entre suas sobrancelhas.

 Olhei para o chão sentindo as engrenagens do meu cérebro soltando fumaça. Eu havia usado uma ponta de metal para gravar numa das camas cada dia sozinha naquele quarto. Haviam sido dez dias. Como eu poderia estar enganada? Como os Criadores podiam criar a ilusão de quatro dias a mais na minha mente? A raiva voltou com tanta força que me senti realmente tonta e desnorteada.

  - Você está com uma cara péssima. – Mike comentou.

  - Precisamos arranjar comida. – Thomas emendou.

  - Comida? – uma voz cínica e diferente ecoou pelo ambiente, sobressaltando a todos nós. Uma linha cinza serpenteou cintilante o ar.

 Olhamos ao redor em busca do dono e um rosto de traços jovens nos observava de cima de uma armação de ferro do terceiro andar do prédio. A visão trazia o cheiro de conserva ao meu nariz.

  - Quem é você? – Minho gritou.

 Para o meu espanto, o homem saltou ao longo dos pavimentos e, pouco depois de atingir o chão, rolou três vezes, saltou e pousou de pé com os braços abertos.

  - Meu nome é Jorge. Sou o Crank que toma conta deste lugar.

O cheiro de conserva não saía enquanto o encarávamos e isso aumentava o meu mau pressentimento. Olhei ao redor, duvidando que ele estivesse sozinho num lugar daquele tamanho, e realmente tive a impressão de ver sombras movendo-se no fundo atrás dele.

  - Por acaso esqueceram-se de como se fala? Ou estão com medo dos Cranks? Têm medo que os atiremos no chão para depois comer os olhos de vocês? Hum, que delícia... Adoro um bom olho quando acaba o rango.

 Ele certamente tinha um sotaque diferente, diferente até do de Newt. Parecia hispânico, e muito bem humorado para um Crank que morava num lugar daquele.

  - Em quantos vocês são? – Newt perguntou com o tom firme. Só então percebi que todos os Clareanos, exceto Minho, estavam em pé, os ombros aprumados à espera de um ataque surpresa.

 O olhar que Jorge cravou em Newt quase me fez estremecer.

  - Quantos? Quantos Cranks? Somos todos Cranks por aqui, hermano. – ele respondeu.

  - Não foi isso o que quis dizer, e você sabe muito bem. – Newt replicou, imperturbável.

 O medo do que poderia suceder o afronto fez eu me lembrar da estaca e de como a queria de volta naquele momento. Não me lembrava de quando a perdera. Jorge se aproximou mais, o sorriso menor agora, mas ainda parecendo se divertir muito com aquilo.

  - Os que estão em desvantagem são os que falam primeiro. Quero saber tudo sobre vocês. De onde vieram, por que estão aqui, e qual, em nome de Deus, é o propósito de vocês. Desembuchem. – ele disse.

 Minho soltou uma risadinha baixa e ameaçadora.

  - Nós é que estamos em desvantagem? – Minho olhou ao redor como se caçoasse do homem, levantando-se. – A menos que aquela tempestade de raios tenha fritado minha retina, diria que somos doze, e você apenas um. Talvez seja você quem tenha que começar a desembuchar.

 Mordi o lábio para não sorrir e o homem perceber, mas de repente me sentia orgulhosa. Por mais perigosa que a provocação tivesse sido.

  - Você não acabou de soltar essas palavras, não é? Por favor, diga-me que não acabou de se dirigir a mim como se eu fosse um cachorro. Tem dez segundos para se desculpar.

 O tom dele fazia uma linha de cor lilás dançar ao redor dele; ele não estava ofendido de verdade.

 Minho se entreolhou com Thomas, e Jorge começou a contar.

  - Um. Dois. Três. Quatro. Cinco.

  - Peça. – Thomas disse em voz alta com o olhar cravado em Minho.

  - Seis. Sete. Oito.

 As sombras no fundo ganharam mais volume e movimento.

  - Nove.

  - Desculpe. – Minho disse, nada convincente.

  - Não acho que tenha sido sincero. – dizendo isso, Jorge acertou um doloroso chute na perna do Corredor. Minho gritou e agarrou-a com o rosto retorcido em dor. Assim que suas mãos baixaram, Jorge recolheu a perna e desferiu o mesmo chute. Puxei Minho para mais longe do homem e ele caiu em posição fetal outra vez.

  - Chega. – murmurei ao homem.

  - Ah! – Jorge soltou uma risada ao me encarar. – Não venha querer brigar comigo.

  - Está querendo provar o que, mértila? Não precisa pagar uma de machão para cima da gente.

 Seus olhos me mediram de cima a baixo e, antes que um de nós pudesse dizer mais alguma coisa, a mão de Minho surgiu do nada e acertou com força o queixo de Jorge. O Crank tombou e se espatifou no chão, e logo Minho partia para cima dele com uma série de golpes e xingamentos, comprimindo a pernas do homem para imobilizá-lo. Aquilo piorava a cada segundo.

  - Minho! Pare! – Thomas gritou.

 A movimentação das sombras ganhou som e vi várias pessoas nos observando lá de cima. Cordas agora pendiam dos rombos dos pavimentos. Recuei alguns passos para poder ter uma visão completa de onde eles cairiam e apertei a mão de Newt com força quando a encontrei. Thomas atirou-se por cima de Minho e cercou seu peito com brutalidade para afastá-lo do Crank.

  - Tem mais deles lá em cima, você precisa se controlar! Vão matar todos nós! – gritou para o asiático.

 Jorge se levantou e limpou um filete de sangue que escorria do canto de sua boca.

  - Espere! Por favor, espere! – Thomas gritou com uma das mãos erguidas para garantir que o Crank não atacasse Minho outra vez.

 Os outros Cranks começaram a repetir o salto de Jorge, alguns usavam as cordas para descer. Formaram um pelotão atrás do líder, homens e mulheres, muitos adolescente, magros e de aparência frágil.

  - Por favor, me dê um minuto. – Thomas continuou e odiei a submissão em seu tom. – Não vai trazer vantagem nenhuma para vocês... machucar a gente.

  - Garanto que vai, sim, hermano. – Jorge disse com uma cuspida de sangue do chão.

 Com uma ligeira inclinação de cabeça, Jorge fez todos os Cranks atrás dele sacarem facas, facões enferrujados, cacos de vidro manchados de sangue... Uma garota de treze anos segurava uma pá lascada.

  - Já estou cansada de gente nova, sabia? – murmurei a Newt, sem desviar o olhar da multidão ameaçadora perante nós.

  - Escute. – Thomas recomeçou conciliador. – Tem uma coisa sobre nós. Não somos meros trolhos que apareceram por acaso na sua porta. Somos valiosos. Vivos, não mortos.

 A raiva no rosto de Jorge abrandou-se muito ligeiramente, talvez até com curiosidade agora.

  - O que é um trolho? – perguntou.

 Soltei uma risada involuntária e quase cobri a boca para me conter. Newt aumentou o aperto. Uma massa de cabeças voltou-se para mim. Pude notar uma garota rodar uma arma com um caco de vidro de ponta afiada na mão.

  - Eu e você. Dez minutos. Sozinhos. É tudo que peço. Leve quantas armas precisar. – Thomas disse ao Crank.

 Os segundos seguintes transcorreram como uma eternidade completamente silenciosa.

  - Dez minutos. – Jorge concordou por fim. – O resto de vocês permanece aqui, de olho nesses capetas. Se eu der a ordem, que o massacre comece. – ele acenou com uma das mãos para um corredor escuro. – Dez minutos.

 Thomas balançou a cabeça em concordância e Jorge permaneceu no lugar, provavelmente esperando que ele fosse na frente.

  - Thomas. – chamei num tom de advertência. Não gostava nada daquilo.

  - Tem algo a dizer? – Jorge perguntou cinicamente; devia estar torcendo para que eu o irritasse e ele tivesse um motivo para tirar a chance de Thomas.

 Fiquei calada e o Clareano se adiantou na direção do corredor indicado. Com mais uma última olhada para mim, Jorge o seguiu. Soltei um suspiro quando os dois sumiram no breu distante.

  - Mértila. – sussurrei e me larguei contra a parede. Minho largou-se sentado no chão, as pernas esticadas e uma forte careta de dor. – Por acaso ele é o nosso embaixador de relações exteriores agora? – ironizei raivosa.

  - Deixe quieto. – Newt disse. – É melhor que tenha sido Thomas a esse cabeção aqui.

  - Eles não têm por que nos matar, de qualquer jeito. – Aris disse esperançoso.

  - Não tinham, até o nosso Líder postiço resolver dar uma de espertinho. – retruquei com os olhos fincados em Minho.

  - Por acaso você está marcada como “Pé no saco”? – o Corredor devolveu.

  - Mértila pra você, Minho. – falei impaciente e me levantei para sair dali.

 Os Clareanos tinham se sentado contra a parede, de frente para o grupo armado de Cranks. Era ótimo estar com eles de novo, mas a conversa antes de Jorge aparecer estava me incomodando de verdade. Sofrer ilusões de ótica era uma coisa, mas não saber quantos dias haviam se passado era demais. E o meu estranho fenômeno parecia não ser o suficiente para lidar com isso.

 Sentei no chão encostada a uma pilastra, de modo que o grupo de Cranks e Clareanos ficasse fora da minha visão e eu tivesse apenas uma parede desgastada para encarar. Ficar sozinha não me fez sentir melhor. De repente eu percebi que a última coisa que eu queria era voltar à solidão de antes.

 Felizmente, Newt aproximou-se por trás da pilastra e sentou ao meu lado, exatamente como o vi fazer tantas vezes. Entrelaçando meus dedos nos seus e puxando minha mão até ficar por cima de seu joelho, ele encostou mais seu corpo ao meu. Apoiei minha cabeça em seu ombro e acariciei sua mão com os dedos. Meus olhos marejaram ao pensar na Clareira. Eu sabia que em algum lugar dentro de mim ardia o desejo de voltar para lá, para a rotina de sempre. Pelo menos não morria tanta gente em tão pouco tempo.  

  - Lembra do dia em que vocês encontraram um Verdugo morto no Labirinto? E aconteceu aquela coisa estranha comigo? – indaguei com a voz embargada.

  - Lembro.

  - Acho que aquilo atiçou minhas lembranças... Ou a minha “eu” antes da perda de memória. Tudo o que eu vejo, toco, escuto, como e sinto tem uma característica especial...

 Parei e tentei organizar tudo na minha cabeça da melhor forma possível.

  - Cada lugar da Clareira me fazia sentir uma temperatura diferente, que mais ninguém sentia. Sempre que escuto a voz dos Clareanos eu vejo a cor marrom. Sempre que escuto sua voz é a cor amarela. Quando sinto alguma coisa ruim, vem um gosto ruim na minha boca... ou um cheiro. Tagarela sempre estava cercado por uma cor meio azul e verde...

 O nó na minha garganta ficou mais apertado, mas tratei de engoli-lo. Lágrimas pingaram dos meus olhos.

  - Posso medir o tamanho exato de qualquer coisa. Posso descobrir se o que está na minha frente é real ou mais uma brincadeira dos Criadores. Minha memória de curto prazo melhorou muito. Consigo ver as coisas mesmo quando está completamente escuro, literalmente. Teria ficado maluca bem rápido com o tempo que passei sozinha naquele prédio, se não fosse por isso.

 Funguei uma vez e remexi minha cabeça em seu ombro, ainda fitando o nada.

  - Eu queria ter ido com vocês.

  - Eu sei. – ele disse.

  - Mas eles disseram que eu era prejudicial, que essa minha condição de misturar os sentidos ia acabar matando todos nós. Não sei bem como pude acreditar neles depois de tudo que fizeram... Mas eu estava com medo e não quis arriscar vocês...

 Mais lágrimas desceram, grossas e quentes, e um soluço escapou da minha garganta. Newt passou seu braço pelas minhas costas e me trouxe para mais perto com a mão no meu braço, apertando-o.

  - Uma mulher nos tirou da Clareira pela Caixa. Eu não queria dar uma de rebelde até que fosse totalmente necessário. Tínhamos a opção de ir embora com ou sem as memórias restauradas. Os guardas que nos guiariam para a saída eram grandes demais, então fingi que queria minha memória de volta. Depois eu fugi. Fui procurar vocês, porque sabia que estavam muito perto dali. Então, eu descobri que sabia fazer umas coisas que acho que eu não deveria saber. Encontrei Gally... E até agora não sei como pude deixa-lo lá. Ele pediu, mas...

  - Nelly...

  - A cada segundo de cada dia eu me arrependia de alguma coisa, Newt... Depois que me separaram de vocês, achei que tinha sido deixada ali para morrer. Eu juro, queria ter contado a você sobre essa minha condição, mas as coisas estavam estranhas demais, e Herman piorou tudo, Teresa chegou e ficamos com ainda menos tempo...

 Arfei algumas vezes e voltei a apoiar minha cabeça na pilastra, as mãos sobre o rosto e o cotovelo apoiado nos joelhos. Meu queixo tremia. Eu não sabia se aquilo estava fazendo algum sentido para ele. Só queria contar tudo antes que mais alguma coisa acontecesse.

 Limpei meu rosto das lágrimas de qualquer jeito e encarei o teto.

  - A maior razão para eu não ter desistido de tudo era você... Não me importava mais a mértila da minha identidade ou do meu passado. A única coisa que conseguia me deixar bem era pensar em você, sempre que eu tinha tempo para pensar no quão ferrada eu estava.

 Respirei fundo e pisquei, engolindo o nó mais uma vez e tornando a minha voz mais firme.

  - E eu fiquei com tanto medo... tantas vezes... Já tinha vacilado com Gally milhares de vezes, de várias formas... Não suportava imaginar perder você antes de falar a verdade ou tomar uma atitude que prestasse.

  - Nelly. – ele colocou a mão sobre a minha bochecha e virou meu rosto para que o encarasse. – Você fez muito mais do que qualquer um de nós tinha imaginado.

 Seus cílios estavam molhados e seu olhar muito sério e consistente, a típica ruga entre as sobrancelhas, que há muito não me irritava mais, de volta à expressão atenta.

  - Mas Gally ainda está com o CRUEL... – comecei.

  - Gally não está pior que nós.

 Balancei a cabeça em negação e mirei os olhos para baixo.

  - Ele pode ter feito tudo o que fez, Newt, mas sei que ele prefere ficar com a gente em vez deles...

  - Então por que ele escolheu não vir?

  - Ele perdeu a cabeça. Ele matou Chuck sob o controle do CRUEL... E eu o conheço, Newt. Conversamos sobre isso uma vez. Nós nos conhecíamos muito bem e sinto que isso não mudou depois da perda de memória.

  - Isso não faz sentido...

  - Sei que não faz. Mas há uma razão para todos os Clareanos me lembrarem a cor marrom e só ele não... Eu sei, sei que isso não faz muita diferença para você, mas essas coisas têm me ajudado muito.

 Newt continuou me encarando com firmeza, como se ponderasse aquilo ser verdade ou não.

  - Acredito em você. – disse por fim. – Mas não pode se culpar pelo que aconteceu com ele. Ou a decisão partiu dele, ou do CRUEL, e talvez, se você tivesse demorado mais tempo lá, nunca teríamos encontrado você.

 Linhas, manchas e espirais amarelas oscilavam ao nosso redor enquanto ele falava. Por alguma razão, aquilo estava sendo o suficiente para camuflar o meu mal estar.

 Encostei a cabeça na pilastra ainda virada para ele e fechei os olhos, tentando acalmar os batimentos frenéticos do meu coração. Abri os olhos e Newt tinha se voltado para frente, sua mão ainda segurando a minha.

  - Lamento por Alby. – falei sinceramente.

 Ele assentiu com a cabeça e engoliu em seco.

  - Estávamos no Labirinto e uns Verdugos estavam bloqueando a passagem. Ainda achávamos que precisariam só de um trolho para nos deixar em paz. Alby pulou no meio deles. – Newt balançou a cabeça levemente para os lados, flexionando os lábios para baixo. – Não funcionou. – disse amargamente.

 Desviei o olhar para o chão com a tristeza que se abateu sobre ele.

  - Pode dizer o que quiser, foi uma atitude de líder. – acrescentou.

 Assenti com a cabeça e tornei a fita-lo.

  - Foi sim. – concordei. – Quer contar o que aconteceu nos últimos dias?

 Arrependi-me da pergunta no instante em que a finalizei. Eu precisei desabafar porque estava me sentindo sufocada, mas Newt nunca pareceu ter essa necessidade.

  - Os três primeiros dias foram uma mértila, todo mundo gemendo e se lamentando, sem estrutura nenhuma, nenhum plano. Me dava nos nervos. – ele disse e soltei uma risada sem querer, pois percebi o quanto esse lado dele me fizera falta.

  - Você precisava da ordem, não é? – indaguei zombeteira.

  - É claro. – retrucou contendo um sorriso no canto dos lábios.

  - Bom, os mértilas dos Criadores marcaram a pessoa errada como Líder, pode ter certeza.

  - Eu passo... Minho com certeza tem mais jeito com isso.

  - Está mais do que provado que não, mas... – deixei a frase no ar e dei de ombros. Não me atraía muito que Newt fosse o líder desta vez, de qualquer jeito. Parecia que esses eram os mais propensos a se machucarem. – Qual a sua, afinal?

 Ele ergueu a mão e puxou o cachecol para baixo com a gola da camisa, revelando letras negras marcadas na pele.

Propriedade: CRUEL. Grupo A, Indivíduo A5. O Grude.

 Mordi o lábio tentando decidir o que “grude” significava para os Criadores. Newt sempre apartava qualquer briga ou desentendimento na Clareira. Também fora o segundo em comando. E com certeza era o mais conciliador e paciente entre todos nós.

  - É, você com certeza é um grude. – concluí sarcasticamente e rimos brevemente. Tornei a apoiar minha cabeça na pilastra, observando o castanho dos olhos dele ficar mais claro com os raios de sol que entravam pelos buracos nas paredes. Newt levou sua mão até a alça da minha regata e a afastou para ver a minha tatuagem. Seus dedos delinearam as palavras com delicadeza, desceram um pouco pelo meu peito e então voltaram. Meu baixo ventre se contraiu com minha imaginação correndo solta. Ele me encarou e inclinou-se sobre mim para selar nossos lábios com um beijo terno. Subi minha mão pelo seu pescoço até o rosto, entregando-me mais ao beijo e sentindo sua outra mão acariciar minha cintura. Deus, eu tinha mesmo conseguido ele de volta...

 Três pancadas altas soaram acima de nós contra a pilastra e nos afastamos para ver o que era.

  - Ninguém escondido, podem ir se juntar aos outros. – uma garota um pouco mais velha disse. Era a mesma que tinha reagido com a minha risada antes e a arma comprida ainda estava segura em sua mão. Ela tinha o cabelo bem curto e, apesar da minha incredulidade, parecia estar falando bem sério.

 Olhei para os grupos atrás de nós e nada havia mudado. Thomas e Jorge ainda não tinham voltado.

  - Pra quê? – indaguei indiferente.

  - Não faça perguntas, apenas vão logo. – ela replicou, movimentando a arma significativamente.

 Eu revirei os olhos e me voltei para Newt, retomando o beijo como se nada tivesse acontecido. Senti a ponta do caco de vidro da arma dela pressionar meu queixo e o dele para cima. Newt parou de me beijar e afastou seu rosto devagar, então nos levantamos e eu já era a única que a ponta afiada tocava.

  - Qual o seu problema? – perguntei displicente e calma, como se fosse uma psicóloga gentil de frente para seu paciente.

  - No momento? Forasteiros metidos a besta. – ela respondeu e usou um pouco mais de força na arma, fazendo minha pele arder e eu sentir um filete de sangue escorrer.

  - Aí, relaxa. – Newt disse, dando um passo à frente e erguendo a mão na direção dela, conciliador. – Não estamos fazendo nada de errado.

  - Seu amigo lá vai acabar não sendo o único a sofrer consequências desagradáveis. – ela disse, meneando a cabeça.

 Soltei uma risada fraca pela boca e desviei o olhar. Eu já tinha conhecido as pessoas que sabiam bem do conceito de “consequência desagradável”. E que diabos ela queria dizer sobre Minho?

 Desviei meu queixo da mira do caco e puxei a arma com as minhas mãos. A garota puxou de volta e empurrei a ponta arredondada contra a maçã de seu rosto; ela grunhiu e largou o cabo, cambaleante com as mãos sobre o local.

  - E eu sou a metida a besta? – indaguei descrente.

 Newt tomou a arma das minhas mãos, os olhos arregalados para o grupo de Cranks que nos encarava e caminhava até nós. Senti gosto de abacaxi outra vez.

  - O que pensa que está fazendo? – um garoto bem mais velho que nós exclamou, as juntas dos dedos brancas ao redor de um bastão. Ele vinha decidido com o olhar cravado em Newt. Imediatamente percebi o que parecia. – Quer sentir uma coisinha pior que um raio?

 Forcei uma risada alta e coloquei meu braço na frente de Newt para afastá-lo do rapaz.

  - Boa sorte com isso. – ironizei.

 Pude ver que os Clareanos haviam se movimentado para o que acontecia.

  - Vá chamar o Jorge, diga que não precisam de acordo nenhum. – a garota disse a um dos Cranks, uma das mãos ainda sobre o machucado no rosto.

  - Não precisamos de nada que saia da cabeça de malucos como vocês. – repliquei encarando cada um deles.

  - Acha que é diferente de nós em alguma coisa? – ela indagou com a voz aguda, arrancando o bastão do rapaz e aproximando-se de nós.

  - Não era eu que estava vivendo num ninho de ratos desse.

  - Nelly, já chega. – Newt se pôs entre nós e esticou o braço para me empurrar para trás. A garota ergueu o bastão para acertá-lo.

  - Muito bem, todo mundo, escutem! – a voz de Jorge explodiu pelo ambiente.

 Os Cranks voltaram-se para o líder, com exceção da garota, o bastão parado no ar. Newt largou a arma comprida no chão e tratei de puxá-lo para longe dela e do grupo. A atenção de todos parecia ter se desviado completamente do ocorrido.

  - Tem certeza que não foi atingida por um raio? – Newt indagou a mim enquanto eu tirava o filete de sangue que descia pelo meu pescoço.

  - Estou mesmo cansada de gente.

 Jorge começou a explicar o tal plano que seguiríamos dali em diante. Ele e uma tal de Brenda nos levariam para comer em algum lugar, enquanto os Cranks iam para uma tal Torre encontrar com eles dali uma hora. E ainda comentou sobre cortar um dedo de cada mão de Minho. Antes que eu pudesse me apavorar, encontrei o olhar inexpressivo de Thomas para o que Jorge dizia, então tive a esperança de que as coisas não fossem o que pareciam.

 Um dos Cranks do grupo questionou por que apenas ele e Brenda iriam conosco, mas o líder tratou de desconversar com uma desculpa irônica. Enfim, o grupo armado saiu pelo corredor escuro em que Thomas havia entrado antes e foi tragado pelo breu. Descobri que a garota que iria conosco era a mesma que eu acertara.

  - Vamos indo. Precisamos chegar ao esconderijo e acabar com essas caras de zumbis famintos de vocês. – Jorge disse.

  - Acha que estou pulando de alegria por esperar que cortem meus dedos, seus malucos? – Minho reclamou perante a ofensa.

  - Cale a boca pelo menos uma vez. – Thomas bradou com um olhar significativo para o asiático. – Vamos comer, não me importo com o que vai acontecer com suas belas mãos depois.

 De repente, a garota postou-se à frente de Thomas com o rosto a apenas alguns centímetros do dele.

  - É você o líder? – ela perguntou interessada.

  - Não... É ele. – apontou Minho.

  - Bem, então é uma idiotice. Sei que estou prestes a ficar louca, mas teria escolhido você. É quem mais tem tipo de líder.

 Eu gemi como se tivesse ânsia de vômito e apoiei minha testa no ombro de Newt dramaticamente.

  - Meu Deus, ela está flertando com ele na nossa frente. – resmunguei.

  - Hum, obrigado. – Thomas respondeu desconcertado. – Eu, ahn...teria escolhido você também, em vez do Jorge ali.

 Revirei os olhos e deixei meu cotovelo apoiado onde estava minha testa. Brenda se inclinou para frente e beijou a bochecha de Thomas.

  - Você é uma gracinha. Espero mesmo que a gente não precise matar você. – ela disse.

  - Muito bem. – Jorge disse, já indicando as portas pelas quais deveríamos passar. – Chega desse namoro. Brenda, temos uma porção de coisas para conversar no esconderijo. Vamos indo, andem logo.

 A garota não se moveu, muito menos tirou os olhos de Thomas.

  - Gosto de você. – ela disse e sorriu, tocando o canto da boca com a língua.

  - Deus, eu vou vomitar... – falei e pus a mão sobre a barriga, inclinando-me para o chão e fazendo um barulho falsamente exagerado com a boca.

  - Vamos indo! – Brenda gritou.

 Newt cercou meu braço com sua mão e me puxou para que eu me erguesse e começasse a andar, rindo baixinho com o sorriso infantil de sempre.

 Nós todos saímos do prédio velho e demos a volta em direção aos fundos. Assim que senti o primeiro raio de sol bater na minha pele outra vez, esgueirei-me para a pequena sombra do teto do prédio, colada à parede enquanto andava, como se minha vida dependesse disso. Era provável que, algumas horas atrás, realmente dependesse. Consegui ver Newt se aproximar para me imitar, mesmo com alguns pontos coloridos dançando na minha visão, e sem nada a ver com os meus sentidos misturados. Toda aquela luz e ar quente ao meu redor pareciam me sufocar, o que era muito pior com o tempo que passei sem comer e exposta ao sol. Precisei me apoiar com mais urgência na parede quando me senti realmente tonta. Minha respiração já estava pesada quando Newt pegou meu braço e o passou ao redor de seu pescoço, segurando minha cintura para me forçar a continuar andando. Enfim senti dolorosamente o quanto minha pele estava ressecada.

 Nos fundos do prédio havia uma cobertura destruída e degraus que desciam para o que deveria ser algum tipo de sistema de trens subterrâneo. Minha vontade de perguntar quanto ainda faltava foi imensa.

 Descemos a escada e nos deparamos com dois corredores. Um era iluminado por uma fraca luz amarelada e terminava num rombo escuro na parede. O outro estava tão escuro que não dava para ver o que continha. Thomas e Brenda estavam mais na frente e ela sumiu dentro do rombo na parede. Os Clareanos começaram a se sentar ao longo do corredor claro, à espera da comida.

 Foi servido feijão e linguiça enlatados para todo mundo e ninguém ousou falar depois de começar a comer. Meu enjoo aumentou com o cheiro daquilo, por isso não tive dificuldade em comer devagar e evitar vomitar tudo em seguida. Ainda assim, meu estômago roncava por mais a cada vez que eu engolia. E aquilo era um verdadeiro banquete depois do Crank ter me roubado tudo o que tive o custo de tirar do prédio do CRUEL.

 Terminei de raspar a lata e deixei-a de lado, apoiando minha cabeça na parede. Estiquei meus braços em frente ao corpo, mas não tive coragem de tocá-los. A pele estava escamada e com marcas vermelhas que, com mais um tempo debaixo do sol, com certeza se tornariam feridas críticas. Decidi parar de admirar o estrago ao ouvir um burburinho no fim do corredor. Thomas e Brenda conversavam curiosamente daquele lado, o joelho dela posicionado de forma que tocava o tornozelo dele. Ela se remexeu e o contato aumentou. “Nada parecida com a Crank que queria me bater há alguns minutos”, pensei com um revirar de olhos. Cheguei a refletir se a minha implicância com as garotas que chegavam perto de Thomas era algo além de apenas implicância, mas não precisei duvidar por muito tempo. Tanto Teresa quanto Brenda agiam como se fossem amigas de longa data dele. Eu não conseguia evitar o ciúme depois de pouco mais de dois meses na Clareira.

  - Já reparou como ele sempre atrai essas garotas? – perguntei ainda observando os dois e então olhei para Newt, que tinha uma sobrancelha arqueada. – As estúpidas garotas. – corrigi com o sorriso reprimido.

  - Ele é estranho, elas são estranhas... – ele deu de ombros, terminando o conteúdo de sua lata. – Mas tem um bom coração.

  - Você é um cordeirinho, nem sei como confiamos tão fácil nesses dois malucos.

  - Fome. – disse simplesmente. – E, bem... – Newt pigarreou e desviou o olhar por um momento. – você parecia... sabe...

  - Uma Crank? – sugeri em meio a uma risada.

  - Não era o que eu ia dizer.

  - É, eu sei, você é gentil demais pra isso.

 Olhei para a parede a nossa frente com os olhos perdidos, pensando se valia a pena ou não comentar o que tinha me acontecido nos últimos dias. Talvez nem a tal cura prometida eu recebesse. Por que os Criadores me ajudariam depois de tudo o que fiz?

 Eu ainda estava olhando para o nada quando senti a mão de Newt segurar a minha de novo. Se pelo menos eu conseguisse ficar ao lado dele até não ter a menor chance de sobreviver... Morrer por causa dos Criadores era a última coisa que eu aceitaria.

 Jorge passou correndo por nós ao longo do corredor até Brenda, parou e disse algo perto do ouvido dela. No minuto seguinte, um estrondo alto soou do que havia acima de nós e instintivamente eu me levantei. Num mesmo segundo, o preto escureceu totalmente meus pensamentos; um gosto de metal tomou conta da minha boca e senti algo perto de nós tremer, não saberia dizer se o chão ou o teto. Agarrei Newt pela camisa e avancei na direção da saída mais próxima: o corredor escuro. O teto perto de onde estávamos desabou e os pés de Newt tropeçaram nos meus enquanto nos afastávamos. Cambaleei algumas vezes até conseguir me apoiar na parede direito e retomar o equilíbrio. A poeira me fazia tossir e por um tempo tudo o que ouvimos foi o cimento se partindo e o metal se retorcendo, caindo bem na nossa frente e bloqueando nossa visão da luz de onde todos estavam.

 Estávamos completamente cercados pelo breu do corredor, mas não era preciso muito para saber que ficamos presos. 


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Notas finais do capítulo

Nos próximos capítulos teremos visões bem diferentes do transcorrer do tempo no Deserto, e novidades aparecerão u.u
Espero que tenham gostado ♥

Bjss!



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