Socorristas escrita por BlueBlack


Capítulo 26
Terríveis finalmentes


Notas iniciais do capítulo

Heey!

Sei que demorei mais, me desculpem, faltou inspiração para postar :/

Boa Leitura!



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Imagine minha surpresa ao constatar o meu nível de loucura quando o alarme da Caixa que anunciava mais um trolho soou terrivelmente.

 Sentei e tampei os ouvidos com as mãos, olhando ao redor para descobrir da onde aquilo vinha. Não havia alto-falante algum dentro do quarto e mesmo assim o barulho me ensurdecia completamente. Tagarela não estava mais ali.

 Levantei-me num salto e corri para o banheiro, jogando a água fria no meu rosto diversas vezes. Apoiei-me na pia com a respiração pesada, minha cabeça recomeçando a doer por todo aquele barulho. “É claro que ele não está aqui...”, pensei. “Você está bem... Você está bem...”. Fechei os olhos e tentei me acalmar. Não era a primeira vez que eu dizia para mim mesma que não estava maluca.

 Não fazia a menor ideia se o alarme era apenas coisa da minha mente ou não, então segurei fracamente a estaca de madeira e saí do quarto. Devia ser meio da tarde, e o corredor ainda era completamente escuro. Mais alguns segundos depois, o alarme parou. Olhei através da janela da porta do refeitório e nada ali mudara. Virei-me para o corredor do outro lado, à direita, e cerrei os olhos em desconfiança; uma luz branca vinha de lá. Talvez aquilo fosse uma forma de chamar a minha atenção para sair do quarto. Mas eu estava fraca demais para lutar contra mais um daqueles guardas, pior ainda com a falta de luminosidade.

 Apertei a estaca com mais força e caminhei até lá com cautela. Prendi a respiração pouco antes de olhar para o corredor. Meu coração saltou por um segundo quando realmente vi alguém ali. Um homem estava sentado atrás de uma escrivaninha, a parede lustrosa logo atrás dele. Seus pés estavam esticados sobre a mesa, ao lado de uma lamparina, as mãos seguravam um livro, que ele lia atentamente. Depois de dez dias sem comer, sem companhia e sem uma faísca de esperança, só o que eu podia concluir era que era uma cena estranha.

 Olhei ao redor enquanto me aproximava e o analisava com mais atenção. Ele tinha o cabelo escuro, mas as laterais repletas de fios brancos e a barba por fazer. Vestia uma blusa clara de gola alta, uma jaqueta de couro por cima, calça jeans e coturnos. Era ridículo, na verdade, considerando o quão velho ele devia ser. O som alto de motor ressoou e todo o lugar foi tomado por uma luz branca, como se alguém tivesse acionado um gerador. Cobri meus olhos e cambaleei para trás, sentindo-os doerem.

 Pisquei algumas vezes e, ainda com os olhos cerrados e lacrimejantes, encarei melhor o homem. Era o mesmo que tinha me dado a senha para entrar no refeitório.

  — O que é isso agora? – indaguei, continuando a me aproximar. Ele não mudou de posição nem me olhou. Eu estava prestes a falar mais alto, quando bati de frente com algo invisível a três metros dele. Massageando o nariz, dei alguns passos para trás e estiquei a mão, e toquei no que parecia uma parede de vidro morna, mas totalmente transparente, sem brilho nem reflexo alguns. Eu não diria que aquilo era real, até sentir cheiro de abacaxi e torcer o nariz em repulsa. Estiquei as duas mãos e apalpei-a energicamente, de cima a baixo, dos dois lados. Tornei a encarar o homem, que permanecia impassível, e bati no vidro. — Ei! Pra que precisa disso?!

 Minha respiração começava a acelerar embaçando o vidro. Ele não ergueu o olhar.

  — Aí! Eu estou falando com você! Que droga vocês vão inventar agora?!

 Continuei socando e chutando o vidro com uma força que repentinamente me consumiu. A raiva voltara. Estava cansada daquelas palhaçadas, eu não aguentava mais. Fosse o que fosse desta vez, não me interessava.

  — Seu trolho, qual o seu problema?! – gritei esmurrando a parede, meu corpo começando a doer. As lágrimas tomaram meus olhos. Eu só queria ver os Clareanos. Independente do que os Criadores estivessem planejando, queria passar por tudo com eles. Depois de tanto tempo fingindo para mim mesma que estava bem, deixei os soluços e os lamentos tomarem o lugar, enquanto eu tentava encontrar alguma força para quebrar o vidro com minhas próprias mãos; agarrar o pescoço do homem e fazer seu rosto ficar como o de Herman da última vez.

 Apoiei minha testa na parede invisível com os olhos fechados, meus punhos escorregando após os socos.

  — Newt... – sussurrei entre um gemido. Ele nunca me fizera tanta falta. Sua companhia silenciosa; seu corpo junto do meu; a aura de líder que o cercava. Solucei mais algumas vezes e respirei fundo, embora isso não funcionasse mais para me acalmar.

 Continuei de olhos fechados enquanto as lágrimas quentes desenhavam seu caminho pelas minhas bochechas e meu corpo tremia. Talvez eu tivesse menos de um mês até morrer, e não seria de fome.

 Virei de costas para o vidro e sentei no chão, o olhar desolado para o nada. Não sabia mais o que pensar.

 Descansei minha cabeça na parede e pude ver uma pilha de coisas num canto ao meu lado. De alguma forma eu conseguira não nota-la, mas agora me fazia engolir em seco. Pacotes, frutas e embalagens estavam simplesmente amontoados ali. Olhei para o homem mais uma vez e fui até a pilha, tirando uma maçã avermelhada e rodando-a na mão com o olhar atento.

  — Está envenenada? – perguntei a ele erguendo a fruta.

  — Você tem vinte e sete minutos. – foi a resposta dele ao mesmo tempo em que virava a página do livro.

 Alternei o olhar entre a pilha, o homem e o outro corredor, esperando ver alguma coisa mais estranha ou que explicasse o significado daquilo. Era uma última refeição antes de ser executada?

 Ajoelhei-me no chão e afastei a comida, procurando alguma coisa lá no meio que se parecesse com uma bomba. Por visão periférica, tive certeza que ele me observava de sua escrivaninha, talvez temendo que eu encontrasse algo. Mas só havia mais comida. Mesmo que não fosse uma armadilha, eu não poderia comer tudo aquilo de uma vez após dez dias com apenas água no estômago.

 Parei com as mãos sobre os joelhos e encarei a maçã. Não faria diferença estar envenenada ou não se eles queriam me matar. E eu ainda estava com fome.

 Abocanhei a fruta com vontade e uma explosão de sabor e sumo espantou toda a minha angústia. Sem nem mesmo acabar de mastigar dei outra mordida e a cada vez eu comia mais rápido, mesmo sabendo que não devia. Não sobrou nada da maçã na minha mão e eu já agarrava uma laranja descascada da pilha. Eu sabia que estava parecendo um animal, o suco pingando no chão (ainda que eu tentasse não deixar escapar nada); os gemidos de satisfação que fugiam da minha garganta; minha pressa em agarrar mais coisas. A fome parecia crescer a cada mordida.

 Na sexta fruta, consegui parar e me largar contra a parede, sentindo meu estômago embrulhado de enjoo. Respirei fundo algumas vezes, desconfortável com a presença do homem logo ao meu lado, observando-me. Rolei os olhos na direção dele e vi que estava em pé com uma pasta de cor parda por baixo do braço, parecendo esperar eu me recompor. Mesmo incomodada com o mal estar, levantei e parei de frente para ele.

 — Suponho que já deva ter entendido que muitas coisas que aconteceram tiveram o único propósito de julgar e analisar a reação de todos vocês. – ele começou. – Essas situações apresentadas a vocês são chamadas de Variáveis, e cada uma delas foi meticulosamente elaborada. É imprescindível que saiba o seguinte: esses experimentos pelos quais estão passando acontecem por um motivo muito importante. Continue a reagir bem às Variáveis, Perenelle; lute para sobreviver, e será recompensada com o reconhecimento de ter desempenhado um papel importante na tentativa de salvar a raça humana. Assim como os outros Indivíduos, é claro.

 Cruzei os braços com a expressão dura e os músculos tensos, descrente ao que estava ouvindo. Depois de me fazer passar por tudo aquilo durante dez dias, sem contar os meses agonizantes na Clareira, era com aquele discurso que ele aparecia?

 O homem fez uma longa pausa e seus lábios se repuxaram num sorriso breve ao observar a minha posição.

  — O CRUEL existe com um propósito: salvar o mundo da catástrofe total. Você aqui é parte essencial do que planejamos fazer.

  — Por que quiseram então me tirar do Experimento? – perguntei antes que continuasse seu ridículo monólogo.

  — Possuímos recursos jamais concedidos a nenhum outro...

  — Ei! – gritei de repente, socando o vidro entre nós dois e apontando o dedo para ele. — Somos dois seres humanos aqui, é melhor falar comigo como gente de verdade. Tenho diversas perguntas para fazer e o mínimo que me devem são respostas.

 Ele suspirou calmamente, sem mudar de postura.

  — Só o que preciso fazer é o que me mandaram fazer. – disse.

  — Eu vou dar meia volta... – comecei, aproximando-me mais com a raiva saindo pelos meus poros. Minha pele estava suada. — e simplesmente fingir que não tem nenhum cara-de-rato atrás de uma parede de proteção querendo me dar lição de moral sobre os Criadores e as mértilas que são capazes de fazer com pessoas. E que se dane o motivo pelo qual acham que ainda sirvo de alguma coisa.

 A pasta escorregou até sua mão. Ele a pegou e a segurou em frente ao corpo. O cinismo estava congelado em seu semblante.

  — Achávamos que quisesse ver seus amigos.

  — E que droga isso tem a ver? Não preciso saber nada sobre vocês, não vai mudar a minha opinião.

  — Estamos na busca pela cura da catástrofe que assolou mais da metade da humanidade. Pare de pensar em si mesma ou nos seus amigos por alguns minutos e você entenderá que tudo o que fizemos foi necessário. A fuga do Labirinto fazia parte dos Experimentos. A batalha dos Indivíduos contra os Verdugos também. Ainda o assassinato do garoto Chuck, bem como o suposto resgate e a viagem de ônibus. Tudo aquilo foi parte dos Experimentos.

  — Mas fiquei fora de todos eles, não é? – indaguei adotando o mesmo sorriso cínico, a sobrancelha arqueada. — Desestruturei os planos do CRUEL?

  — O que importa é que o artigo de que necessitamos ainda está perigosamente em falta. Portanto, tivemos que aumentar nossas apostas, e este é o momento da Segunda Fase.

“Ainda não acabou... É claro que não acabou...”.

  — Sei que pode parecer que estamos testando a capacidade de sobrevivência de vocês. Se considerado de modo superficial, o Experimento Labirinto pode ser erroneamente classificado dessa maneira. Mas eu asseguro... não se trata apenas de sobrevivência e de vontade de viver. Essa é apenas uma parte. O panorama dessa situação é algo que todos vocês só entenderão no final. Clarões solares devastaram muitas regiões da Terra e uma doença chamada Fulgor tem aniquilado os povos. Os governos de todos os países que sobreviveram somaram esforços para criar o CRUEL e resolver os problemas deste mundo.

 Meus olhos e dentes cerraram-se com o tom de voz dele. O homem falava como se nem fizesse parte desse mundo do qual descrevia tanta desgraça.

  — Todos vocês constituem uma parte importante dessa luta. E terão todo o incentivo para trabalhar conosco porque, é triste dizer, cada um de vocês já contraiu o vírus.

 A partir daí, duas informações pesaram com tanta força na minha mente que eu mal conseguia interpretar a profundidade do significado de cada uma. E com toda aquela informação, não conseguia me abalar de verdade com nenhuma delas.

  — Mas o Fulgor demora um tempo para se desenvolver e manifestar os sintomas, então, ao fim desses Experimentos, a cura será a recompensa... e vocês jamais conhecerão pessoalmente os efeitos debilitantes. – ele acrescentou.

  — Que sorte a de vocês, não é? – falei sarcasticamente. — Justo os seus Indivíduos têm tempo suficiente para colaborar com essas atrocidades, contando com a cura na linha de chegada. – ele abriu a boca para continuar, mas não deixei. — Quanto tempo até os sintomas se manifestarem? Minha mãe devia ter quarenta anos quando já parecia um animal, mas encontrei uma garota de apenas vinte que já não estava muito sã.

 Ele não possuía mais o sorriso cínico, apenas me encarava seriamente. Mal podia acreditar que achavam que eu fosse tão estúpida para acreditar numa mentira daquelas...

  — Então? – incentivei com as sobrancelhas arqueadas, dando um passo a frente. — E quanto aos outros? Apenas eu estou aqui e ouvi muito a palavra “vocês”. Eles estão vivos, não estão? E vão participar da Segunda Fase também. Por que me separaram deles?

 O homem meneou a cabeça com os olhos fixos em mim.

  — Você está num Experimento. Tudo é uma Variável.

 Assim que terminou de falar, abriu a pasta em suas mãos e tirou uma folha de dentro dela, correndo o olhar por ela antes de me fitar de novo. Não fazia sentido que aquela Variável fosse aplicada apenas a mim, a menos que tivessem separado outros também. Contudo, as paredes não pareciam grossas, então alguém deveria ter ouvido meus gritos de algum lugar, ou eu os deles...

  — Segunda Fase: Experimentos no Deserto. – ele prosseguiu e pisquei algumas vezes para voltar a prestar atenção. — Essa fase começa para você esta noite, às oito horas em ponto, quando essa parede atrás de mim for um Transportal que você deverá atravessar em dois minutos antes que se feche. A essa altura, sua participação na Fase terá começado. As regras são simples. Siga para a cidade e depois por mais cento e vinte e seis quilômetros, você encontrará o Refúgio Seguro e receberá a cura do vírus.

  — Me assusta pensar o que vocês consideram seguro. – comentei, tentando evitar pensar no que eu faria com aquelas instruções.

  — Lembre-se: você contraiu o Fulgor. Nós os contaminamos com a doença para lhes dar um incentivo, caso não tenham um. E chegar ao Refúgio significa receber a cura.  

 Baixei a cabeça e encarei o chão por um tempo, trincando os dentes com extrema força.

  — Eu não tenho escolha, não é? – tornei a fita-lo. — Posso não acreditar em nada disso, mas o que acontece se eu me recusar a sair daqui?

  — Será executada imediatamente do modo mais desagradável possível. – disse com simplicidade, como se ditasse os pratos de um menu.

 Comprimi os lábios e assenti com a cabeça devagar, desviando o olhar para as paredes distraidamente. A pergunta de se os Clareanos também estariam do lado de fora ficou presa na minha garganta. Ele poderia não responder ou dizer que sim. De qualquer forma, eu sairia para ter certeza, porque obviamente não confiaria na sua palavra.

  — Faça a escolha certa.

 Foi a última frase dele e certamente a que mais me revoltou. O Cara-de-Rato me deu as costas e caminhou em direção à parede lustrosa que havia mais a frente. Franzi a testa quando pareceu que ele pretendia atravessá-la. Mas antes que eu pudesse ter certeza, o vidro que nos separava transformou-se em uma névoa esbranquiçada, até se tornar um borrão opaco em questão de segundos e bloquear totalmente a minha visão do homem, da cadeira e da escrivaninha. Abanei a mão em frente ao rosto e então a coisa toda desapareceu e não havia vestígio de nada disso do outro lado. A névoa era de verdade. Mas o homem não me trouxera qualquer sensação hora alguma.

 

 

Passei pelo menos uma hora inteira sentada na cama, refletindo sobre tudo aquilo com as unhas fincadas no colchão. Eu não precisava pensar sobre o que fazer. Se os Clareanos ainda estavam no Experimento, vivos e na mesma situação que eu; se foram manipulados com todas as mesmas palavras, eu não tinha por que não passar pelo Transportal às oito horas. Independente do que fosse acontecer no tal Deserto, preferia arriscar com eles. Minha mãe, meu irmão e o homem que parecia uma figura paterna para mim estavam todos mortos. A única família que me restava era os garotos da Clareira. E eu ainda via muito que fazer a respeito das atrocidades dos Criadores. Se eu tinha a chance de sair do maldito prédio e me mover, não podia desperdiçar.

 Após uma longa hora debaixo da água quente do chuveiro, imaginando tudo o que aconteceria; como eu aprontaria os suprimentos; como encontraria os garotos; como me esquivaria dos planos do CRUEL... Saí com a pele vermelha e as engrenagens do meu cérebro esfumaçando, mas sentindo a chama de determinação no meu peito outra vez.

 Arranquei o lençol de uma das camas para ter onde guardar a comida da pilha deixada no corredor. Eu precisaria fazer um enorme esforço para carregar aquilo, mas era necessário para se passar tanto tempo vagando até o tal Refúgio. Tirei as sacolas plásticas de alguns alimentos e as enchi com água, amarrando-as umas nas outras e depois prendendo ao lençol com um pedaço fino de metal solto que encontrei.

 Abri as portas do guarda-roupa e suspirei. Um a um, tirei cada cabide para tentar encontrar algo que menos me incomodasse nos próximos dias. Se eu saísse mesmo num Deserto, significava que de dia faria um absurdo calor e de noite um absurdo frio. Mas eu não podia pesar a bagagem com aquilo.

 Tirei o lençol mais escuro que havia no quarto para me cobrir com ele sob o sol, mesmo que eu não estivesse certa se adiantaria.

 Duas horas depois, eu estava parada em frente à parede lustrosa do corredor, o sacolão de comida pendendo por cima do meu ombro e por trás das minhas costas e a estaca de madeira na outra mão.

 Às oito em ponto, a parede se transformou numa superfície plana e faiscante de um cinza funesto. Redemoinhos nebulosos fulguravam por ela toda. Parecia instável. Encarei-a por um tempo, tentando fixar na minha mente que seriam os últimos minutos calmos que eu teria e que estava mesmo deixando aquele prédio. Eu passara fome, mas estivera segura de tudo o que havia do lado de fora. Estivera segura dos Cranks. Contudo, precisava encontrar os Clareanos. Seguir o plano no CRUEL precisava valer a pena.

 Deixando de lado as emoções, os pensamentos e o cheiro de ferrugem que de repente se apoderava do meu olfato, prendendo a respiração sem nenhum motivo lógico, avancei em direção ao Transportal. Senti como se uma linha gélida atravessasse meu corpo, envolvendo-me por completo. Encolhi os ombros ligeiramente e então passou, e eu estava em pé sobre um chão duro e com calombos. Estava de noite ainda. Olhei ao redor do lugar para conseguir me situar direito e eu definitivamente estava num deserto. Toda a área era devastada, completamente vazia. Não havia uma floresta, uma estrada ou qualquer ser vivo. Apenas o contorno do que parecia os prédios de uma cidade ao longe. De acordo com as instruções do Cara-de-Rato, era para lá que eu deveria seguir.

 Curiosa, abaixei-me e passei a mão pelo chão. Era pura poeira, seco e sem vida. Eu poderia facilmente duvidar que todo o restante do mundo estava exatamente do mesmo jeito. Era horrível demais.

 Apertei mais o lençol no meu corpo quando um vento frio passou e comecei a caminhar em direção à cidade. Eu sabia que as coisas não seriam nada fáceis.

 Não levou muito tempo até que o fardo de comida começasse a pesar demais nos meus ombros, por mais que eu tentasse encontrar uma posição que me prejudicasse menos. A estaca permanecia segura na minha outra mão. Os gritos agonizantes de uma mulher da cidade eram um lembrete permanente de que eu precisava ficar atenta.

 Eu sempre estava olhando ao redor, na esperança de avistar algum garoto que me parecesse familiar. Por isso pude me preparar física e psicologicamente quando uma silhueta negra e magra surgiu à frente, caminhando na minha direção. Não era nenhum deles. Parecia um homem calvo e cansado, mas que claramente me encarava com atenção. Respirei fundo e fitei o chão na expectativa de passar por ele fingindo que não considerava a situação estranha.

 A cada passo mais perto dele meu corpo esquentava mais e tornava-se mais difícil não olhar para ele, pois eu sabia que seus olhos estavam bem fixos em mim.

  — Boa noite... – ele murmurou roucamente ao passar do meu lado, torcendo o pescoço na minha direção.

  — Boa noite. – respondi brevemente e com a voz aguda. Dois passos para mais longe dele e enfim me senti aliviada, mesmo com o aumento repentino da força do vento. Encolhi-me sob os lençóis e apertei o nó do fardo de comida com mais força na minha mão, temendo que o homem ainda fizesse alguma coisa.

 Uma mão ossuda prendeu-se ao meu ombro livre e unhas que pareciam garras fincaram-se na minha pele. Virei-me com a estaca erguida e acertei a cabeça do homem com toda a força que eu podia reunir; ela pendeu duramente para o lado, mas logo as duas mãos empurraram-me, uma delas agarrando o fardo e puxando-o. Cravei meus dedos no pano e briguei com o homem por ele, ao mesmo tempo em que tentava desferir algum golpe útil com a estaca. Mas por mais certeiro que fossem os murros em seu rosto, ele não recuava. Provavelmente estava muito tomado pelo Fulgor para sentir alguma dor.

 Dando um berro animalesco, ele puxou o fardo com as duas mãos e bateu seu ombro contra o meu peito dolorosamente. Acabei cambaleando alguns passos para trás. Investi contra ele, a estaca novamente erguida. O Crank largou o fardo no chão de qualquer jeito para revidar e as sacolas de água estouraram no chão. Atordoada por um momento com isso, ele conseguiu vantagem para me acertar na lateral da cabeça. Caí de joelhos com a explosão de dor e os braços erguidos para me defender de algum outro ataque. Olhei para cima para acertar-lhe a estaca de algum jeito, mas tive um relance de algo comprido descer na minha direção, e então fui tomada pelo escuro.

 

Acordei puxando um bocado de terra e poeira pela boca e depois tossindo vigorosamente para soltar aquilo. Por alguns segundos me lembrei de quando acordei na Caixa; com o corpo doendo e sem querer raciocinar. Era a mesma coisa desta vez, mas eu precisava continuar focada. Apoiei-me nos joelhos e mãos com meu peito e minha garganta ardendo, e minha pele gritando com os raios do sol que a feriam. Eu já estava um pouco vermelha. E provavelmente não estava no meio do dia. Olhei ao redor aterrorizada. O homem, meu fardo, a água, o lençol que me cobrira... não havia o mínimo sinal disso. Eu levaria ainda pelo menos até a noite do dia seguinte para chegar à cidade.

 Ainda tossindo e engolindo muita saliva, recomecei a caminhar. Eu não tinha escolha, de qualquer jeito.

 O tempo se arrastava enquanto eu torcia para que a noite chegasse logo. Por mais que eu suasse, sentia meu corpo inteiro em chamas e era agonizante o sentimento de extrema desidratação; meus lábios ásperos e com peles soltas pontudas, que eu não ousava arrancar mesmo que levasse os dentes até elas involuntariamente. Sem contar a fraqueza que me tomava andando sem parar. Eu não tinha muito tempo até desmaiar pela insolação, então ao menos precisava alcançar a cidade e chamar a atenção de alguém minimamente saudável do Fulgor. Ou quem sabe encontrar os próprios Clareanos.

 A noite caiu e me permiti parar em pé, respirar fundo, tossir e pensar se valia a pena passar por aquilo sob as instruções do Cara-de-Rato. Dois minutos depois eu continuei, um passo mais forçado que o outro para frente. Mas pelo menos em movimento. Não estava fazendo aquilo por nada além dos Clareanos, então não havia discussão sobre prosseguir. Não me arrisquei deitar para dormir e acabar perdendo mais tempo, pois não havia estímulo algum ao redor para me fazer acordar. E com certeza eu não tinha a menor vontade de ser acordada pelos dentes de um Crank no meu pescoço.

 O dia começou a nascer. Meu maior inimigo do momento subiu cinicamente pelo horizonte acompanhado das cores rosa, azul e laranja no céu, revelando uma paisagem linda, totalmente o oposto do que estava sendo a minha vida. Eu ri com o pensamento de que os Criadores podiam ter inventado aquela cena para amenizar o que estavam fazendo conosco. Imediatamente senti meus lábios racharem e liberarem sangue ao se esticarem com o sorriso. Com os olhos marejados, não sei se pela forte luz ou por puro lamento, continuei encarando o chão enquanto avançava.

 Horas mais tarde, minha cabeça estava quente, doía e pulsava. Eu ignorava a tontura, pois não seria ela que me faria desabar no chão.

  — Você ainda está melhor que eu, ham? – comentei com Tagarela num chiado quase sem som, parada no meio do caminho outra vez. — Não se esqueça de me avisar caso veja ou sinta o cheiro de algum dos garotos.

 Tagarela ergueu sua cabeça até que pudesse esfrega-la na minha mão, na tentativa de me fazer acaricia-lo. Eu até que queria. Ele estava sendo o único a me fazer pensar em algo bom. Oscilei meu peso sobre os pés e encarei o caminho que ainda restava para chegar à cidade. Meus olhos ficaram mais úmidos e meu rosto todo quente. De repente pude reparar no quanto a minha respiração estava lenta e pesada. Minha visão se turvou e embaçou. Só pude xingar mentalmente quando a última gota das minhas forças se foi, e então fui coberta pela inconsciência.

 Vi Tagarela correndo pelos Jardins enquanto eu entrava na Cozinha após o almoço. Por alguma razão, eu não sentia estar na Clareira, ainda que fosse esse o espaço ao meu redor.

  — Quem lavou a louça? Ah, obrigada, Caçarola. Ele está com fome, não vai parar de chorar bebendo essa receita do Gally. – falei a Mike, que estava sentado a uma das mesas com o mesmo bebê do outro sonho no colo.

 A Cozinha estava movimentada. Vários garotos zanzavam por ela organizando alguma comemoração. E estava diferente também. As paredes eram coloridas de cores berrantes; as mesas estranhamente forradas com panos estampados; sem contar que cada Clareano vestia um ridículo avental, inclusive eu, e ainda com um estetoscópio ao redor do pescoço.

  — Como você está? – perguntei a um garoto doente sentado no chão. Pus um termômetro em sua boca contra a vontade dele e pouco depois o tirei. — Continue tomando o chá.

  — E você, como está? – Thomas perguntou aproximando-se por trás de mim.

  — Bem. Você sabe. – respondi com o máximo de sinceridade possível.

  — Sei que você queria passar longos meses dentro da Caixa depois do que aconteceu.

  — E você não?

  — Claro, era nosso líder.

 Franzi a testa para seu modo de falar.

  — É, ele era só um líder para nós. – repliquei sarcasticamente.

  — Nelly...

  — Como vai Teresa?

 Ele soltou um suspiro e baixou a cabeça. Fiz que passaria por ele, mas minha cintura foi rodeada por seu braço. De repente percebi que não era mais Thomas.

  — Eu disse que estaria com você. – a voz de Newt soou ao meu ouvido, serena como sempre. Meu coração amoleceu.

 Era até reconfortante que fosse o meu último sonho antes de morrer. Comecei a ouvir meu nome ser chamado, distante, com o mesmo tom sereno. Esperei para descobrir o que viria, sem fazer a menor força para acordar.

 Senti uma linha grossa de água invadir meus lábios e respirei fundo com a calma que tomava conta de mim, mas então percebi que estava me afogando e tossi desesperadamente, debatendo-me com o pânico à flor da pele, mesmo que não fizesse sentido eu me afogar num deserto.

  — Acalme-se. – alguém disse e apertou minha mão.

 Tossi mais algumas vezes e retomei o fôlego, devolvendo o aperto sem ter ideia se me restava alguma força. Abri os olhos contra a forte luz do sol. Ainda que minha visão estivesse embaçada, a figura acima de mim era inconfundível. Não tomei nenhuma conclusão antes de ter certeza que não estava mais maluca que nunca.

  — É a primeira vez que sorrio em dias. – Newt disse entre uma risada, iluminando meu peito com uma luz amarela tão forte que poderia me sufocar de felicidade, embora eu não me permitisse sorrir.

 Pisquei mais algumas vezes e o observei melhor. Sua pele estava vermelha e suada, com certeza menos mal tratada que a minha, mas o sorriso sobrepunha-se a tudo isso. Dobrei meu braço para cima fracamente até que meus dedos pudessem encostar nele.

  — Está usando um cachecol? – indaguei com a voz rouca, tocando o tecido fino que cercava seu pescoço.

  — Acho que você deveria estar usando um também. – ele replicou risonho e balançando as sobrancelhas. Notei seus olhos percorrerem por todo o meu rosto, provavelmente analisando o estrago do sol. — Vem.

 Newt cercou minha cintura com o braço, trazendo-me uma enxurrada de lembranças de quantas vezes ele havia feito aquilo. Forcei minhas pernas para me pôr de pé, mas tê-lo perto assim outra vez parecia ter me trazido de volta todas as forças de que eu precisava.

 Assim que me equilibrei, um grupo consideravelmente grande entrou em foco na minha visão. Thomas estava mais na frente com Minho. Caçarola. Um ou dois Construtores. Provavelmente somavam vinte ao todo. Dei dois passos vacilantes na direção deles e cambaleei. A força do vento não colaborava.

  — Só eu estou tendo um flashback de quando essa trolha chegou na Clareira? – Caçarola zombou coçando a cabeça teatralmente. Uma mancha marrom cintilou no ar.

 Soltei uma risada e cerquei o pescoço de Newt num abraço apertado, e agradeci mentalmente ao sentir seus braços retribuírem com ainda mais força. Entrelacei meus dedos em seu cabelo, os fios agora mais ressecados que o normal, e me estreitei ainda mais contra ele.

  — Nunca mais... Nunca mais, Newt... – murmurei fracamente, um nó na minha garganta se formando à medida que a verdade de que ele estava realmente ali se firmava. Não podia mais deixar que me separassem dele.

 Senti sua cabeça se movimentar contra meu pescoço e perdi completamente a noção de há quanto tempo estávamos daquele jeito.

  — Tá bem, tá bem, é ótimo ver que nosso casal preferido voltou... – Minho disse irônico, aproximando-se de nós.  

 Ri outra vez sobre o ombro de Newt e, após apenas mais alguns gloriosos segundos agarrada a ele, soltei-me do abraço e puxei o Corredor para o mesmo.

  — Escuta, tem uma tempestade vindo, trolha. – ele disse, mesmo que sua mão livre do fardo que carregava retribuísse o abraço com tapinhas nas minhas costas.

 Pude ver Mike saindo de trás da multidão, o braço dobrado até a altura do peito, a perna estalando como sempre.

  — Ora, que mértila. – ele disse ao me encarar levemente assustado.

  — Meu Deus, Mike... – murmurei aliviada, ainda que mais surpresa que ele. Não importava o quanto eu havia torcido para que conseguisse lidar com tudo, meus piores pensamentos envolviam o que a perda da mão poderia acarretar.

 O abracei tão forte quanto abraçara Newt e pude senti-lo suspirar sobre o meu pescoço.

  — Queria ter a minha mão boa para socar você. – ele disse e segurou meu ombro com força ao se afastar. — Achávamos que tinha morrido há muito tempo! Tem ideia do mau humor em que aquele trolho ficou?!

  — Acho que ninguém tem ideia de nada, cara. – respondi com uma careta sincera.

  — Bom, eu tenho ideia de que vamos morrer se continuarmos esperando aquela tempestade! Então se pudermos colocar o papo em dia depois...! – Minho exclamou alterado e gesticulando amplamente. O autoritarismo desta vez, diferente do que tinha antes, lembrou-me a tatuagem no meu pescoço.

  — Por acaso marcaram você como o líder dessa mértila? – indaguei com uma sobrancelha arqueada.

 No lugar da resposta, houve um trovão, e o vento se intensificou assombrosamente. Um galho passou voando por nós. Meu corpo totalmente menos descoberto que os deles começou a pinicar com a poeira.

  — Vamos embora! – Minho gritou para que todos nós pudéssemos ouvir e desatou a correr na direção da cidade. A quantidade de perguntas que rondavam minha mente evaporou quando senti Newt agarrar minha mão e me puxar.

 Eu não estava nem um pouco disposta fisicamente para correr, então a ajuda dele foi muito bem vinda. O céu acima de nós estava tomado por nuvens cinzentas. Talvez eles estivessem fugindo da tempestade há algum tempo antes de me encontrarem.

 Eu não estava tão preocupada quanto Minho parecia tentar me deixar, até que o primeiro raio atingiu a terra seca mais à frente e liberou uma explosão de poeira. Depois mais um fez o mesmo, e mais três de uma vez. Demorei a me situar de que em menos de dez minutos estava correndo risco de vida outra vez. E um enorme risco.

 Os Clareanos corriam à direita e à esquerda, abaixando-se, cambaleando e cobrindo as cabeças quando um raio despencava muito próximo. O aperto da mão de Newt ficou mais forte e percebi a diferença da velocidade de nossos passos quando me esforcei de verdade para ir mais rápido em direção à cidade, e ele mancava, mesmo que não parecesse. O imenso barulho ao redor me ensurdecia cada vez mais. Um dos Clareanos foi atingido em cheio e lançado alguns metros para o lado. Senti-me um monstro, quase tão ruim quanto os Criadores eram, a cor negra escurecendo mais tudo ao meu redor, porque não hesitei um segundo sequer para deixar de ajudá-lo. Eu sabia que era não adiantaria, que não havia nada que eu pudesse fazer por ele sem prejudicar a mim e a Newt também. Mas ainda assim foi com um nó na garganta que desviei o olhar e continuei correndo. Gally voltou a minha mente.

 Pude ver Minho e Caçarola correndo mais a frente. Sempre que possível, eu virava o pescoço para procurar Mike ou Thomas, mas sem sucesso. Os clarões dos raios me assustavam e distraiam o suficiente para que eu focasse mais em correr.

 Era possível ver alguns prédios da cidade se desfazerem em tijolos e vidro com os ataques dos raios. Eu já havia sofrido muitas ilusões por causa dos Criadores... E pela primeira vez desejei estar tendo uma agora. Contudo, eu sabia que não era. Linhas pretas e verdes escuro dançavam até onde minha vista alcançava. Eu não via mais Tagarela também. Só o medo e a morte cobrindo o caminho que fazíamos até o prédio mais próximo.

 Um clarão branco caiu bem na nossa frente e lançou uma onda de vibrações no ar, atirando nós dois para trás. A mão de Newt soltou-se da minha e senti meu corpo muito leve enquanto voava e batia no chão. Com a cabeça doendo pavorosamente, levantei-me logo à procura dele, mas Newt já me empurrava para continuarmos. Agora Thomas estava um pouco à frente de nós. Provavelmente éramos os mais atrasados do grupo.

 Os raios caíam por todo lado, levando garotos com eles, que se debatiam no chão, as bocas abertas em gritos mudos. Eu estava surda demais para escutá-los.

 Um deles foi arremessado para trás e caiu de barriga para baixo, quase imóvel. Assim que o alcancei, agarrei sua camisa e o puxei para cima, para mais perto de mim, garantindo que não vacilasse caso não aguentasse mais correr. Newt segurava meu pulso agora e eu quase não sentia aquela mão.

 O nó na minha garganta voltou quando outro clarão explodiu à nossa frente. Era onde Thomas deveria estar correndo. Pude vê-lo indo acudir alguém, mas não reconheci quem. “Só mais um pouco... Aguentem mais um pouco...”. Eu poderia chorar pensando aquilo. Éramos muito menos agora. Vários haviam ficado pelo caminho atravessado. Há minutos eu poderia contar quantos, mas a escuridão ficara mais densa. Faltavam poucos metros para o prédio mais próximo.

 De olho na meta, minhas unhas firmemente cravadas na blusa do garoto e metade da minha atenção voltada para o aperto da mão de Newt, comecei a temer ferozmente que não conseguíssemos. Faltavam cem metros. Diversos raios poderiam cair até lá. Poucos segundos e eu poderia perder Newt. Ou dar bobeira com o garoto que estava tentando salvar. Meus olhos marejaram. Eu odiava tanto aquilo...

 O prédio sumia diversas vezes com a claridade dos raios que caíam à esquerda, à direita e à frente. Eu piscava e tornava a vê-lo, mas com um medo sufocante crescendo cada vez mais. Enfim a porta se tornou completamente visível. Havia um garoto quebrando os cacos de vidro que restavam com o cotovelo e então sumindo na escuridão do lado de dentro. Thomas entrou com o garoto ferido apoiando-se nele. Olhei para Newt uma última vez, garantindo que não entraria sem ele, e um raio lampejou bem ao lado, levando-o de encontro a mim. A dor na minha cabeça piorou mil vezes mais antes mesmo de atingirmos o chão. O raio caíra perto demais... Newt podia ter sido atingido. Eu quase não tinha dúvidas.

 Sentei rapidamente e olhei ao redor atordoada, ciente de que a minha demora para entender o que acontecia provavelmente me mataria. Engatinhei até Newt, largado no chão, imóvel. Não havia tempo para descobrir se estava vivo.

 Com um grunhido, eu agarrava seu braço e cercava meu pescoço com ele, forçando meu corpo para cima e o arrastando. Newt mancava muito mais agora. O garoto que eu segurara gesticulava para que entrássemos. “Agora não... Falta muito pouco...”.

 Cruzei a soleira com minhas costas prestes a explodirem de dor. Avancei mais alguns passos e minhas pernas vacilaram, eu não estava certa do motivo. Deixei Newt deitado e corri minhas mãos por seu peito e seu rosto. Estava tão atordoada que não me lembrava de por onde começar a analisa-lo.

 Suas sobrancelhas se franziram de dor e ele gemeu, levando uma mão à cabeça. Continuei fitando-o até que abrisse os olhos e movesse os lábios, pois eu ainda não conseguia ouvir nada. Ele olhou para mim e só consegui soltar o ar de alívio, arrastando-me pelo chão até ficar encostada a uma pilastra, de olhos fechados. Não queria olhar ao redor e ver quantos de nós haviam sobrado. Não queria descobrir agora se Mike estava vivo e sentir alguma coisa pior. Não queria nem ouvir a chuva que eu sentira na minha pele antes de entrar. Só queria passar longos minutos fingindo que nada daquilo existia. 


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Notas finais do capítulo

Bem, o que acharam?
Fanfic nova na área: https://fanfiction.com.br/historia/745359/The_Defective_Cure/ É sobre uma cura para o Fulgor que o CRUEL tenta através de pessoas defeituosas. É bem diferente e criativa ^^ Também, pudera, estou escrevendo com mais duas colegas. Certeza que vão gostar!

Até o próximo ♥



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