Socorristas escrita por BlueBlack


Capítulo 28
Caminhando com o barulho


Notas iniciais do capítulo

I'm back!
Saudades de postar, ai ai.
Perdoem-me pela demora, estava ajeitando umas coisinhas da história e precisei de um tempinho, e minha internet ainda não era das melhores. Estou atualizando com mais frequência no Social Spirit, a quem se interessar.

Título inspirado na música Walk With The Noise - IAMX, que me lembrou um pouco o capítulo. Espero que gostem!

Boa Leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/733980/chapter/28

— Mértila...

 Tateei a parede úmida ao meu lado e o que havia à frente, ouvindo Newt fazer o mesmo. Segundos depois, ouvimos um segundo estrondo e tudo tremeu, mas nada mais. Pelo que eu calculava, vinha de perto do rombo na parede onde Thomas e Brenda estiveram. “Apenas esteja bem, seu trolho...”, torci mentalmente.

  — Você está bem? – Newt perguntou e uma linha amarela correu pelo chão, junto a uma nota musical um pouco grave. Minha visão melhorou quando pisquei.

  — Estou e você?

  — Só devo ter ralado as costas. Não vai dar pra passar por aqui.

  — É...

 Virei-me na direção do corredor escuro que se seguia e pude ver os borrões que eram as paredes. Não dava para ver tão bem quanto da última vez, por serem mais escuras do que as do prédio do CRUEL, mas já era alguma coisa. Pisquei com a concentração que aquilo estava me tomando; não podia negar que cansava os olhos. Passei a mão pela parede e percebi que era de cimento, ainda mais pelo gosto de algo áspero que me trazia. Parecia haver filetes de água escorrendo. Torcia para que fosse água.

  — Está vendo alguma coisa? – Newt perguntou.

  — Sim. – virei-me para ele, tendo na minha frente o borrão mais estranho que já vi na vida. — Continue falando.

  — Temos que dar um jeito de encontrar os outros. Provavelmente voltaram para a cidade, não tinha como passar pelos escombros.

 Manchas amarelas piscaram demoradamente ao redor dele, mas minha visão ainda não melhorara. Talvez eu estivesse apressada ou fosse impressão minha que aquilo ajudara da última vez.

  — Certo, ótima ideia. Melhor ainda considerando que não temos ideia do que podemos encontrar nesse lugar. – comentei irônica, voltando a olhar para o corredor.

  — Acho que a boa notícia é justamente que temos, sim. Vamos.

 Demos as mãos um ao outro para ter certeza de que não sairíamos às cegas (ou quase) sem o outro e pioraríamos as coisas ficando sozinhos. Esticamos as mãos para as paredes enquanto andávamos na tentativa de encontrar a virada para o próximo corredor. Torcendo para que houvesse um. O acordo de não falar pareceu subentendido; talvez ele dividisse a ideia de que atrair possíveis Cranks era bem mais fácil tagarelando sobre a infelicidade de termos parado ali. Hora ou outra eu me via apertando sua mão com mais força que o necessário, sentindo falta da precária estaca que tanto tinha sido útil.

 Nossos passos ecoavam levemente pelo túnel, junto ao som de cacos de vidro e algo mole e úmido sendo pisados. Meu coração parava por um momento sempre que pisávamos em algo assim, e eu não tinha a menor curiosidade em ver o que era. O ar ficava mais frio à medida que íamos mais fundo e, quando não havia água na parede por um tempo, havia poeira.

  — Espere. – Newt disse de repente e parou de andar. Ouvi sua mão tatear e bater o seu lado. — Tem uma porta aqui.

 Aproximei-me dele e soltei sua mão para buscar a maçaneta onde ela provavelmente estava. Era redonda e desgastada e tive a impressão de que faria um alto barulho ao ser girada. A porta não era diferente.

  — Pode ter lindos Cranks aí. – ele comentou.

  — Ou uma pilha de armas que Jorge e Brenda esconderam. Pense positivo.

 Tomei fôlego para abrir a porta, mas Newt me puxou para o lado e ficou na minha frente, de modo que, o que quer que tivesse do outro lado, não pudesse pular em cima dele. Pareceu contar até três antes de enfim girar a maçaneta. O rangido foi alto e piorou quando a porta foi puxada. Meu coração dava fortes marteladas contra o meu peito. Nada aconteceu. Soltamos o ar de alívio juntos e ficamos de frente para a entrada. Cobri a boca e o nariz para reprimir a vontade de vomitar no mesmo instante que o cheiro mais podre existente me cobriu.

  — Que mértila de fedor é esse? – Newt indagou com a voz abafada.

  — Você não vai querer saber. – foi o que consegui dizer perante aquilo.

 A jugar pelo tamanho das figuras, corpos de crianças estavam amontoados ali, machucados, cobertos de sangue e nas posições mais estranhas possíveis. O quartinho era muito estreito, por isso não cabia mais nada.

  — O que é? – ele perguntou.

  — Acho que esse cheiro já vai te render bons pesadelos. Não tem armas. Vamos.  

 Fechei a porta logo e respirei fundo algumas vezes antes de retomarmos as posições e continuarmos a andar. Minutos depois, entramos num corredor que possuía algumas luzes fracas e amareladas presas às paredes. Pareciam tão fracas que permanecemos com as mãos esticadas, temendo que se apagassem de repente.

  — Por que você faz isso? – Newt disse após um tempo de silêncio.

  — Isso o quê?

  — Esse plong de pegar todo o peso das coisas para si mesma. Não faz sentido.

  — Algum momento desde que você acordou na Caixa fez sentido para você até agora?

  — Melhorou depois que você chegou, mas não é disso que estou falando. – ele disse, mas eu já revirava os olhos com um sorriso bobo no rosto. — Nenhum trolho é tão idiota de pegar os problemas com os Criadores para lidar sozinho.

  — Você pediu ajuda a alguém para escalar o muro e se jogar de lá?

 Newt aumentou o aperto contra a minha mão, mas parecer ter sido involuntário, pois ele logo parou. Estaquei no lugar nesse instante, incrédula comigo mesma.

  — Mértila... Me desculpe. – falei ao encará-lo, e seu semblante não poderia estar mais sombrio. — Me desculpe, Newt...

 Uma vontade imensa de abraça-lo me sufocou, mas por alguma razão continuei parada onde estava, certa de que nunca me perdoaria por dizer uma coisa daquelas. Nunca havia ficado tão nervosa.

  — Não se preocupe. – ele disse com um menear de cabeça.

  — Não, você... fez demais por mim em pouquíssimo tempo e eu sequer conversei com você sobre isso.

  — Não é meu assunto preferido. E, de qualquer forma, não posso reclamar por você ter me beijado logo depois, daquela vez. – disse com um sorriso forçado, desviando brevemente o olhar para o corredor que se seguia.

  — Eu fui tão egoísta... – murmurei com um revirar de olhos, tentando engolir o nó que se formava na minha garganta.

  — Foi a única vez que você pensou no seu problema.

 Seu olhar era tão firme em dizer isso que fui convencida de que realmente acreditava no que dizia. Ainda assim, balancei a cabeça em negação e desviei o olhar. O medo de que tudo que aconteceu estivesse me tornando apática demais me corroeu. Eu realmente havia esquecido que Newt, como todos nós, não era uma rocha perante aquilo tudo.

  — Alby me encontrou. – ele disse, desviando o olhar. — Eu tinha entrado no Labirinto sem falar com ninguém, fiquei um pouco afastado durante o dia. Por um tempo, não teriam imaginado o que se passava pela minha cabeça.

 Com certeza. Newt era a última pessoa que fazia parecer ter tomado uma decisão como aquela alguma vez.

  — Mas convenhamos, não fazia muito tempo que estávamos lá ainda e as coisas pioravam a cada dia. Não foi a melhor experiência ver alguém passar pela Transformação pela primeira vez. A maioria de nós tinha quatorze anos.

 Ele pausou o relato e engoliu em seco, e seus olhos perderam-se no chão.

  — Passei o dia pensando nisso. Não valia muito a pena continuar vivo sem memória e naquele inferno de lugar. Escalei o muro... subi metade dele e parei, não achava que ia conseguir ir mais longe. – Newt pausou outra vez, abriu a boca para dizer algo, mas desistiu. Meu peito se apertou imaginando o que ele queria dizer, principalmente quando relanceou para mim algumas vezes. — Eles estavam vendo com as mértilas dos besouros mecânicos enquanto eu subia, parava, pulava, e percebia o quão burro eu era por não saber nem medir direito uma altura que me mataria.

 Cerrei os dentes com extrema força para impedir meu queixo de tremer.

  — Alby me ajudou a sair dali, meu maldito tornozelo estava mais que ferrado. Conversei com ele sobre aquela droga, mas ainda levou um tempo até que eu parasse de pensar nisso. Todo mundo estava levando a vida com o máximo de ordem possível, a gente precisava entrar na linha. Então eu não tinha outra escolha senão continuar a fazer o maldito papel de segundo em comando.

  — Fez um ótimo trabalho, Newt. – disse com a voz fraca em meio a uma risada nervosa, pondo minha mão sobre sua nuca. — Eu teria sido morta no meu segundo dia, se não fosse por você. E tudo o que fez por mim depois... Sabe-se lá que rumo eu teria tomado sem isso.

 Ele desviou seu olhar para baixo e notei seu maxilar ser forçado.

  — Não sei explicar como me senti quando você disse que não iria atravessar o Labirinto com a gente. Mas foi mesmo uma mértila horrível. – seus olhos estavam mais escuros que o normal e eu sentia quase como se lesse a alma dele. — Pensar que eu não era capaz nem de convencer você a sair daquele maldito lugar, depois de tudo o que Herman tinha feito... Achei que se eu saísse, talvez as coisas melhorassem. Duvidei que você estivesse falando sério e me agarrei à esperança de que ia te ver de novo, por mais utópico que isso parecia ser. Eu precisava sair... Sei que fui muito egoísta...

  — Newt, depois do que aconteceu, é claro que você precisava sair. – afirmei com toda a convicção que eu podia impor. — Nem que eu quisesse de verdade ficar na Clareira teria pedido para você fazer o mesmo. Ter encarado aquilo de frente só prova o quão corajoso você é. E todos nós... já aguentamos coisa demais. – disse com o rosto franzido em indignação. — Ninguém pode dizer que a essa altura somos trolhos covardes, ou fracos, ou qualquer mértila que seja!

 Seus lábios se repuxaram para o lado num sorriso forçado e Newt olhou para o chão outra vez.

  — Se você tivesse ideia...

 Um berro selvagem ecoou pelo caminho que viemos e Newt parou de falar no mesmo instante, nós dois olhamos para o espaço mal iluminado atrás.

  — Temos que ir. – falei e ele tomou minha mão de volta na sua, e desatamos a correr para longe do barulho.

 Minha visão melhorara bastante com as luzes amarelas que nos acompanhavam enquanto avançávamos, o que me ajudava a dobrar nos corredores mais rápido, e que provavelmente nos ajudaria a despistar o Crank. Ele começou a dizer palavras de verdade enquanto nos perseguia, mas eu não dava a mínima atenção. Portas e mais portas continuavam a aparecer, todas iguais à primeira, talvez com o mesmo conteúdo. Quem sabe não tinha sido aquele Crank (ou os prováveis outros que havia) quem havia colocado as crianças lá?

 Mesmo com o número de portas, eu julgava cedo parar e entrar numa delas.

 Newt me puxou para o próximo corredor e avistamos duas passagens para cada lado. Decidir. Era a pior coisa que deveríamos precisar fazer naquele momento. Não paramos de correr um segundo sequer. Pensar no caminho da esquerda me trazia gosto de abacaxi; o outro tornava a decisão uma massa espessamente cinza. Newt xingou baixinho e acabamos decidindo silenciosamente seguir pelo da direita. Mal havíamos entrado e uma figura surgiu de repente.

  — Newt!

 Ele fora atirado no chão e debatia-se contra a Crank por cima dele. Chutei o rosto da mulher com mais força que o pretendido e tive a certeza de ter atingido seu olho quando um filete de sangue escorreu pela bochecha dela. Newt levantou-se imediatamente, foi até um rombo na parede e arrancou um pedaço de metal frágil e enferrujado, e o acertou em cheio na cabeça da mulher. Ela ficou imóvel. Nós já recuávamos para longe quando mais gritos insanos cortaram o ar.

 Recomeçamos a correr e percebi que Newt olhava ao redor com muito mais atenção que antes. Devia estar procurando mais daquelas portas. Quando comecei a reparar, vi que não havia nenhuma. Claro que tínhamos azar o suficiente para escolher o pior caminho.

 Meu desespero aumentava a cada segundo, pois o barulho dos gritos crescia também. Eram muitos. Lembrei cada momento na Clareira em que precisei correr por que minha vida dependia disso. Eu poderia rir de nervoso com como, mesmo num lugar tão diferente, nada mudara. Era para aquilo que tínhamos fugido do Labirinto. Ainda era pior do que Verdugos, porque aquelas coisas não eram nem de longe tão inteligentes quanto seres humanos loucos por carne.

 Continuamos virando, à direita, à esquerda, às vezes longos corredores com nenhuma luz e o latente medo de que mais Cranks surgissem à frente para uma emboscada. “Uma porta... Só uma...”. Os berros que mais lembravam um exército de demônios que acordara para uma caçada enchiam meu olfato com cheiro de abacaxi podre ou o fedor dos corpos daquelas crianças. Por alguns momentos eu até sentia minhas mãos mais escorregadias do que deveriam, como se estivessem cobertas de sangue.

 Uma porta surgiu do lado direito do corredor. Newt correu seu ferrolho e puxou a maçaneta. Algo extremamente forte empurrou a porta do outro lado, e instintivamente nós empurramos de volta.

  — Estou aqui! Estou aqui! Estou aqui! Estou aqui! – o Crank do outro lado falava a cada soco que desferia contra a porta. Mais gritos o acompanhavam do lado de dentro.

 Joguei meu ombro contra a porta e ela enfim fechou. Newt empurrou o ferrolho outra vez. Um dos Cranks já havia nos alcançado naquele corredor. Voltamos a correr, e não tínhamos sequer virado em outro corredor...

  — Cuidado! – Newt gritou. Ele se abaixou e me puxou junto, o braço erguido com o comprido metal que arrancara. Ouvi o que parecia uma lâmina fina bater contra a arma e vi uma faca cair um pouco longe de nós. Eu ri, não sabia ao certo por quê. Talvez estivesse ficando cada vez mais contaminada com o Fulgor.

 Newt me puxou para continuarmos antes que eu pudesse pegar faca. Um homem estava mais à frente, cobrindo uma das duas entradas, o peito subindo e descendo com a respiração pesada. Ele nos atacou e com apenas um golpe tirou o metal enferrujado da mão de Newt. No que pareceu ser em câmera lenta, vi sua boca abrir-se e tentar abocanhar Newt. Meu braço ergueu-se na mesma hora e meu punho desferiu um soco em sua bochecha ossuda. Não adiantou nada. O Crank soltou uma risada maníaca, o rosto ainda virado para o outro lado, as mãos ainda segurando os ombros de Newt contra a parede. Por incrível que parecesse, ele estava muito bem conservado fisicamente para um Crank.

  — Minha filha também era valentona. – ele me encarou com o sorriso mais doentio que eu já tinha visto. — Está morta.

 Newt levou um forte soco no rosto e então uma joelhada na barriga. O homem o empurrou tão forte que ele tropeçou e caiu de qualquer jeito. Fui agarrada pelo pescoço e, mesmo sem haver necessidade, ele usou seu peso para me jogar no chão, as pernas firmes de cada lado do meu corpo. Sua mão começou a pressionar minha garganta e arranhei-o diversas vezes, tentando puxar o ar, mas sem sucesso. Tentei bater minhas pernas e estavam completamente presas. Tentei gritar, mas só saíam grunhidos cortados.

 O Crank bateu minha cabeça contra o chão. Consegui olhar para o outro lado, mesmo com minha visão completamente atordoada e confusa. Os sentidos pareciam me deixar aos poucos. Eu nem ouvia direito. Newt estava longe, ao lado da porta cheia de Cranks. Estava usando o pedaço de metal para lutar contra o Crank que tinha nos alcançado. Como diabos ele tinha ido parar daquele lado tão rápido?

 Ele esticou a mão para o ferrolho e o puxou, e os quatro lunáticos guardados até então dispararam para fora, diretamente até onde eu e o homem estávamos. Que ideia era aquela? Ele não podia estar desistindo daquela merda toda logo agora...

 O Crank me encarava com o semblante raivoso e determinado. Eu estava perdendo as forças para lutar contra ele.

 Depois do que pareceram intermináveis horas que a morte levava para me tomar, ouvi o som de uma pancada e o homem foi subitamente tirado de cima de mim. Não soube o que era, eu estava ocupada demais recobrando o ar para saber. Senti minha mão ser puxada e tive o vislumbre do homem ser atacado pelos quatro lunáticos esfomeados, a outra massa de Cranks que nos perseguia surgindo lá atrás.

 Reconheci o toque de Newt enquanto ele me puxava pelo pulso corredor à dentro. Eu ainda tossia e puxava o ar desesperadamente, mas sem diminuir a marcha. Aquele homem não seria o suficiente para todos eles. Uma das poucas luzes iluminou uma parte do metal na mão de Newt, coberta de sangue. Eu não fazia a menor ideia do que tinha acontecido.

 Viramos à esquerda, depois à direita, saindo num corredor muito mais largo. Os berros dos Cranks voltaram com mais vontade, pareciam ainda mais determinados com a rapidez que nos alcançaram. Outra porta. Eu já tinha conseguido avistar a parede no fim do corredor. Era a porta ou voltar.

 Puxei-a, quase acertando a quina contra mim mesma, entrei, puxei Newt e pude ouvir o eco do barulho dela batendo ao se fechar. Não havia nada além de nós ali dentro. Não caberia mais um dedo ali. Newt e eu estávamos de frente um para o outro, os corpos completamente colados, os peitos subindo e descendo com a respiração. Cobri minha boca para não fazer barulho e coloquei o outro dedo indicador sobre os lábios dele, rindo por qualquer mértila de motivo.

  — Shhh.

 Beijei-o por puro impulso, mas com mais entusiasmo do que eu nunca havia sentido devido à adrenalina. Eu tinha certeza de que ele conseguia sentir meu coração batendo alucinado contra seu peito. Os Cranks passaram correndo do lado de fora, berrando, esbravejando xingamentos. Ri entre o beijo com a insanidade de fazer uma coisa daquelas enquanto zumbis nos caçavam apenas do outro lado da porta. Contudo, Newt pôs sua mão sobre a minha blusa, acariciando minha cintura com uma delicadeza surpreendente. Entrelacei meus dedos em seu cabelo, aprofundando o beijo cada vez mais, imersa no prazer que acabava com o meu medo de minutos atrás.

 Interrompemos o beijo para recuperar o fôlego perdido na corrida, as cabeças encostadas nas paredes de cada lado. Estava muito mais quente do que deveria ali dentro. Ficamos um tempo tentando normalizar a respiração, meu corpo suando e esquentando cada vez mais. Senti o gosto de algum doce muito bom na boca. Estávamos presos. Os Cranks com certeza iriam notar aquela porta e tentar arromba-la.

 Newt e eu nos entreolhamos e olhamos para a maçaneta, como se esperássemos que ela girasse. Devíamos ter pensado igual, pois ele retomou o beijo no mesmo momento em que eu puxei sua nuca de volta. Esquivei minha mão por baixo de sua camisa, arranhando levemente as costas dele e explorando cada parte de seu torso. Newt se pressionou contra mim, descendo suas mãos pela lateral do meu corpo até seus dedos encontrarem timidamente minha bunda. Beijei-o com mais vontade e arranhei seu pescoço. Ele me afastou, ofegante.

  — Você... é maluca.

 Tomei seus lábios outra vez e dei uma mordida em seu lóbulo, afundando meus dedos em seu cabelo e sentindo suas mãos subirem por debaixo da minha blusa, até o sutiã.

  — Nelly, espera.

 Soltei um gemido qualquer de protesto, mas suas mãos já estavam por cima da minha blusa de novo, sua cabeça virada para cima.

  — Uma saída. – ele disse.

 No fundo, no fundo, eu não queria me afastar, mas sabia que continuar aquilo num espaço como aquele não era prudente. Olhei na mesma direção que ele e vi uma maçaneta de ferro no teto, cercada por um contorno quadrangular. Onde quer que saísse, deveria ser um alçapão.

 Newt pulou uma vez e agarrou a maçaneta, puxando-a com tanta violência que ela bateu na parede ao se abrir. O lugar acima de nós tinha o teto cruzado por armações de ferro; isso era tudo o que dava para saber.

  — Você é mais alto, vai. – falei apressada, antes que aquilo virasse discussão, afinal, podia haver Cranks lá em cima da mesma forma que havia ali embaixo.

 Ele alternou o olhar entre eu e a entrada e respirou fundo para pular outra vez. Precisou de duas tentativas até que conseguisse agarrar-se à beirada para puxar a si mesmo. Empurrei seus pés para cima, mas os braços dele davam conta da tarefa.

 Alguém forçou a porta do quartinho. Pude ouvir baixos gemidos dos Cranks no corredor. Empurraram a porta de novo. O ferrolho cilíndrico e pequeno, encaixado num buraco cavado manualmente no batente, não bastaria. Sem esperar pela ajuda de Newt, comecei a pular como uma tremenda idiota para agarrar a borda.

 Pulei mais algumas vezes até conseguir um ritmo bom que me desse impulso. Segurei na parte de cima e bati meus pés para me puxar. A porta cedeu, vários malucos avançaram para me agarrar. Chutei o rosto do mais próximo e forcei meus braços ainda mais, chegando a achar que se quebrariam com tamanho esforço. Fazendo de tudo para subir uma perna por cima da passagem, finalmente eu consegui. Deitei de barriga no chão e estiquei a mão até a maçaneta que pendia de um lado para o outro com a portinha. A unha de um dos Cranks me arranhou, eu segurei a maçaneta e a puxei com um grunhido, correndo o ferrolho para trancar logo em seguida.

 Parei com as mãos esticadas no chão de cimento até sentir meus braços doerem mais, e então sentar para respirar fundo. Tive a sensação estranha de não estar sozinha ali, mas, mesmo que Newt logicamente estivesse também, ergui a cabeça devagar para olhar ao redor.

 Havia pelo menos dez pessoas na minha frente, todas apontando um facão para mim com os semblantes sérios ou raivosos. Levantei-me devagar, começando a me virar para olhar o que havia atrás. Uma ponta afiada pressionou minhas costas e alguém soltou muxoxos de negação para eu continuar como estava.

  — Erga as mãos. – a mulher atrás de mim ordenou. Soltei uma gargalhada involuntária, lancei meu braço para tirar a arma das mãos dela e logo em seguida minha boca foi atingida por um punho, tão forte que caí de cara no chão.

 O metal enferrujado que Newt usara estava bem na minha frente e o gosto de sangue na minha boca se intensificou além do que já tinha. Agarrei a precária arma e cuspi no chão antes de levantar.

  — Onde ele está?! – exclamei para a mulher, que mais parecia um fantasma, correndo os olhos por trás dela na esperança de vê-lo.

 Um homem, com uma cicatriz funda que cortava toda a sua bochecha esquerda, soltou uma risada zombeteira e aproximou-se com mais dois, um de cada lado.

  — Quem? Seu namorado? – indagou.

  — Exatamente! Onde ele está?!

 Ele desviou seu olhar de mim e acenou com a cabeça. Senti uma movimentação vinda de trás e golpeei o ar com o pedaço de metal, um outro homem se esquivou, minha boca foi socada outra vez e de repente eu estava sem nada em mãos, apenas com meu maxilar doendo. Meus braços foram esmagados por quatro mãos gigantes e não moveram um centímetro quando me debati para tentar me soltar.

  — Se fizeram alguma coisa com ele... Eu juro... – comecei com dificuldade, arfando e reprimindo uma careta de dor, sem conseguir desviar meu olhar do chão com a tontura que o golpe trouxera.

  — Nelly.

 Ergui os olhos outra vez quando uma nota musical leve fez meu peito vibrar e uma mancha amarela apareceu. Newt vinha sendo empurrado por um homem de um canto escuro, onde havia caixas de papelão empilhadas. Havia uma faca de lâmina comprida posicionada em seu pescoço, mas o semblante dele continuava duro ao me encarar. Apenas um de seus braços estava preso pela mão do homem, mas com certeza Newt pagaria um alto preço se fizesse algum movimento brusco.

 O lugar era um armazém enorme, os rombos nas paredes cobertos por telas, e antigas armações dos outros andares ameaçando cair com o desgaste. Estava vazio além das pessoas e das caixas de papelão.

  — Vocês são Imunes? – o Cicatriz indagou com uma sobrancelha arqueada.

 Newt e eu nos entreolhamos e olhamos ao redor, como se a explicação estivesse nas armas daquelas pessoas.

  — Deve ser um não. – o homem deu de ombros e fez que ia se virar. — Matem eles lá fora.

  — Espere! – eu me debati quando começaram a me puxar. — Está falando do Fulgor? Há como ser imune ao Fulgor?

 Ele cerrou os olhos na minha direção.

  — Olha, bancar a estúpida só vai atrasar a morte de vocês.

  — Não temos ideia do que está falando. – disse, séria e com a voz firme, ainda que o desespero fizesse meu coração me ensurdecer. — Viemos do Deserto e entramos num túnel para conseguir um atalho que nos livrasse desse sol infernal, mas vimos Cranks e fugimos por essa entrada...

  — Azar de vocês. – meneou a cabeça com um sorriso cínico.

  — Não vão ganhar nada nos matando.

 Ele aproximou-se de mim com um andar duro e lento, seus olhos analisando-me de cima a baixo. Ao parar bem na minha frente, pude sentir o cheiro de mofo que seu corpo emanava. Metal tomava conta da minha boca. Olhei para Newt e o vi engolir em seco enquanto nos observava.

  — Parece estar limpa. – o Cicatriz disse.

  — É, lembro quando disse isso da última vez. – a Mulher Fantasma replicou, carrancuda.

 Ele sorriu o que deveria ser um sorriso terno, se não fosse pelos dentes podres de sua boca, ainda correndo o olhar por mim.

  — Levem-na para os fundos e tirem a roupa dela. – decidiu por fim e meu coração levou alguns segundos para dar o salto de medo que deveria.

  — Não! – Newt gritou. — Não... Esperem. Me escute. Viemos do CRUEL.

 O Cicatriz enfim pareceu ter a atenção despertada e desviou o olhar de mim. A faca ainda ameaçava o pescoço de Newt, mas ele parecia mais interessado em se fazer ser entendido.

  — Estamos sendo controlados por eles agora mesmo. Tentem nos matar... e eles não vão gostar nem um pouco disso. – sua voz tremia ligeiramente.

 O Cicatriz e os homens atrás de mim riram.

  — Ora, isso só prova que sua namorada é uma mentirosa! – o Cicatriz disse bem humorado.

  — Não é. Fomos colocados nesse lugar à força, não temos ideia do que aconteceu antes. Apagaram nossas memórias, deixaram poucas informações. Só o que sabemos é que somos parte dos testes para a cura do Fulgor. Somos especiais... Valiosos.

 Pensei em dizer alguma coisa, mas Newt com certeza estava se saindo melhor.

  — Deixe-me adivinhar: vocês são a esperança para o mundo? – o Cicatriz zombou.

  — Independente disso, o CRUEL precisa de nós vivos. Matem-nos e na mesma hora vai descer um exército até aqui para acabar com todos vocês.

 Era um blefe tão grande que tornava o risco maior ainda. As pessoas daquela cidade com certeza sabiam mais do que nós. Quanto menos falássemos do CRUEL, menos confiança perderíamos.

  — E como isso me impede de aproveitar um pouco a carne fresca da sua namorada? – o Cicatriz indagou. — Façamos assim, então: antes que o temível e horrendo exército do CRUEL chegue, nós fazemos um último aperitivo e você doa uma de suas mãos para o meu amigo aqui. – ele bateu amigavelmente no ombro de outro homem ao seu lado, que tirou um toco de dentro do bolso da jaqueta e acenou. Lembrei-me de Mike com o peito apertado.

 Antes que alguém fizesse alguma coisa, um grito feminino horrendo e longo seguido de choro invadiu o local, assustando a maioria. Decerto, era a última mulher que havia estado na mesma situação que eu.

  — Melhor terminarmos com isso logo. – o homem atrás de Newt disse com a expressão tensa para o Cicatriz; este pareceu abalado com o som e percebi que eu não estava entendendo nada.

 Ouvi passos corridos soarem atrás de mim e uma moça de aparentemente trinta anos estacou de frente para o Cicatriz.

  — Ela está com muita dor, ninguém tem ideia do que fazer! – exclamou desesperada, suas mãos tremendo ao lado do corpo.

  — Será que vocês não prestam para fazer nada?! – ele bradou de volta, cuspindo.

  — Precisamos de um médico! – replicou, irritada. O Cicatriz ergueu a mão no ar e, com apenas um movimento, desferiu um tapa bem audível no rosto dela. A moça caiu deitada no chão.

  — Não esqueça o seu lugar. – ele chiou, apontando o dedo. — E também não esqueça a merda de mundo em que vivemos...

  — Eu sou médica! – soltei, involuntariamente. Eu poderia ter desmoronado no chão com o olhar que ele me lançou, mas fiz de tudo para me manter firme.

  — Aé? Pois essa aqui também disse que era e parece que só queria um desconto. – ele usou o pé para cutucar a moça, que continuava no chão, sem olhar para ninguém.

  — Eu sou. Cheque o meu pescoço, é assim que o CRUEL me chama. Devo ter sido enfermeira deles por um tempo também. – acrescentei com o máximo de franqueza que eu podia reunir. Newt olhava para mim e para ele de olhos arregalados, mesmo que eu ainda pudesse ler um pouco de esperança neles.

 Um dos homens atrás de mim afastou a alça da minha regata para verificar.

  — Reparadora. – ele leu em voz alta.

  — Bom, parece que enfim temos alguma solução. – disse o Cicatriz. Ele me agarrou pelo braço e me empurrou na direção de Newt, que também era empurrado pelo outro. Nossos corpos chocaram-se e eu agarrei sua blusa para mantê-lo perto de mim. — Boa jogada, garota, mas vocês dois ainda vão para o Mosteiro mais tarde.

  — Sem acordo? – indaguei, beirando o desespero. A tal palavra não me agradava.

  — Contanto que ninguém saia morto de lá, posso pensar.

 Ele fez sinal para alguém e começamos a ser empurrados na direção dos fundos do armazém.

  — Quer mandar esses dois para ficar perto deles? – ouvi a Mulher Fantasma indagar ao Cicatriz.

  — Eles são Imunes, idiota. – replicou. — Bela sorte que o CRUEL esteja deixando escapar cada vez mais dessas crianças.

 Senti um assomo de medo com o possível significado daquilo. Thomas e os outros podiam ter ido parar ali também? Entreolhei-me assustada com Newt e, a julgar pela sua expressão, ele parecia ter pensado no mesmo.

 Continuamos a ser empurrados por dois homens na direção de um rombo na parede coberto por uma manta desfiada. Parecia haver apenas uma única fonte de luz lá dentro. Os gritos da mulher não paravam, ficavam angustiantes a cada passo que dávamos para mais perto.

 Enfim ultrapassamos a manta, encontrando um local pequeno e completamente fechado, sem janelas. O ar era pesado e quente e a luz vinha de uma vela sobre uma mesa num canto. Havia cinco pessoas lá dentro, quatro homens e uma mulher, todos em pé com os semblantes tensos.

  — Ah meu Deus... – murmurei.

 Havia duas fileiras de caixas de papelão empilhadas no centro do local, e era possível ouvir uma mulher respirando com dificuldade do centro delas, soltando gemidos de dor. Da onde eu estava, conseguia ver suas pernas dobradas para cima e abertas. Eu me aproximei imediatamente.

  — Você fica aqui. – um dos homens que nos escoltava disse, mantendo Newt perto da manta.

 A mulher era muito jovem, talvez não tivesse nem trinta anos. Estava deitada numa maca enferrujada e de pernas bambas, com apenas uma caixa amassada sob sua cabeça. Seu corpo inteiro suava e tremia.

  — Quem é ela? – um dos homens que já estavam ali perguntou, nada contente. A mulher na maca gritou outra vez.

  — Há quanto tempo ela está assim? – indaguei com meu coração acelerado, puxando uma cadeira para me sentar de frente para as pernas dela.

  — Que diab...

  — Três horas. – a que estava em pé respondeu logo. — Não para de gritar há três horas.

  — Ei, ei, qual o seu nome? – perguntei à moça deitada, pondo a mão em seu joelho.

  — N-Norma.... – disse entre golfadas de ar e o rosto ainda franzido.

 Eu sorri involuntariamente, mas deixei a lembrança de lado.

  — Ótimo... Está tendo contrações longas que vão e vêm em pouco tempo, Norma? – perguntei e ela assentiu com a cabeça energicamente. — Completou os nove meses? Viu algum líquido escuro quando a bolsa estourou?

 Norma vergou a cabeça para trás e tornou a gritar. Olhei para a mulher ao lado como se pedisse ajuda.

  — Não, mas completou todos os meses. – respondeu.

  — Certo. Norma. Norma, preste atenção. Precisa fazer força quando eu mandar, ok? Vai dar tudo certo. Tudo bem... Pronta? Empurre!

 Ela berrou e forçou e percebi que eu mesma começava a suar. Como em apenas alguns minutos tínhamos ido parar naquela situação?

  — Vamos, mais um bocado... Empurre!

 Vi suas mãos agarrarem as bordas da maca com tanta força que me fez temer.

  — Onde está o pai? – perguntei com urgência, ainda concentrada enquanto ela forçava. Norma tornou a chorar e vi seu corpo relaxar por um momento. — Respire, Norma. Um, dois, três, empurre!

 A mulher ao lado correu para pegar uma das mãos dela e começou a murmurar palavras de incentivo entre risadas nervosas, acariciando o cabelo dela. Norma tornou a ficar rígida e continuei dizendo para que empurrasse.

 — E então, ele vai coroar... E a partir daí todo o trabalho será feito sozinho. É preciso que o corpo dele permaneça quente para não perder calor. – minha mãe dizia. Eu estava sentada entre as pernas dela, com um livro aberto no meu colo, enquanto ela apontava para as figuras. Seu cabelo era escuro como o meu, curto até tocar os ombros, e muito menos prejudicado pelo clima.

  — Já fez muito isso, mamãe? – perguntei o tom curioso de uma criança de nove anos.

  — Não tanto quanto eu gostaria. É um momento de desespero e alegria, depende do ponto de vista. Mas é gratificante. O que pode ser mais bonito do que algo assim no mundo de hoje?

  — Talvez se o mundo não estivesse assim... – murmurei, tristonha.

  — Ei, lembra-se do que eu te disse? – ela ergueu meu queixo com o dedo indicador. – Não importa o quão ruim as coisas estejam, sempre pode pensar em mim, e saber que estou com você. Independente do que aconteça, vou estar lá para te ajudar.

  — Mas você não é Imune. – disse fracamente.

 Ela beijou o topo da minha cabeça e abraçou-me contra seu peito.

  — É, eu sei. Mas pelo menos você vai ter isso para me levar por onde for. – ela disse e eu olhei para o livro de Medicina, vendo seus dedos acariciarem a página. — E ainda ajudando os outros. – seus lábios aproximaram-se do meu ouvido e ela sussurrou brincalhona: — E me enchendo de orgulho.

 Minha mãe fez cócegas na minha barriga e eu me debati, às gargalhadas.

  — Certo, certo! Agora, voltando... Se o cordão umbilical complicar as coisas... – ela disse com certo brilho no olhar.

 Voltei à realidade com minha visão embaçada e os gritos angustiantes de Norma. A cabeça do bebê já estava bem visível, mas um detalhe me fez ficar mais alerta.

  — Norma, precisa parar de fazer força. – eu falei imediatamente.

  — Qual o problema? – o homem ao lado indagou.

  — Preciso de uma faca ou uma tesoura.

  — O que... – Norma sussurrou num chiado de terror, os olhos arregalados para mim.

  — Não se preocupe. Apenas não faça mais força. – forcei um sorriso. — Me deem alguma coisa para cortar. – eu enfim encarei o homem seriamente, que se entreolhou com os outros próximos de Newt. — Os riscos são menores se decidirem logo... – murmurei entre dentes.

 Um dos brutamontes perto da manta tirou uma faca de lâmina curta do cinto e me entregou. Com mais cuidado do que havia calculado, aproximei minhas mãos do pescoço do bebê e pressionei o gume contra o cordão umbilical que o envolvia, e o desfiz facilmente. Sem nenhuma máquina que indicasse o andamento do organismo do bebê, não quis arriscar não me preocupar, caso o cordão fosse curto demais.

  — Tudo bem, falta bem pouco. Empurre, Norma. – incentivei com certo ânimo.

 Ela gemeu e grunhiu enquanto forçava apenas mais uma vez e mantive minhas mãos próximas da cabeça do bebê. Logo, o choro dela não era o único a ser ouvido, e enfim tive a pequena criança em minhas mãos. Eu soltei uma risada e senti meus olhos marejarem com o sentimento latente de felicidade que enchia meu peito. Não podia negar ser extraordinário que, depois de tanto tempo precisando dar o máximo de mim, usando a força física e emocional, lutando e acumulando raiva a todo momento, agora eu precisasse apenas de toda a delicadeza possível para segurar o recém-nascido. Sem dúvidas era o momento mais feliz que qualquer um naquela sala presenciou desde o início da catástrofe. Eu me sentia humana de novo.

 Olhei para Newt e o vi sorrindo para a criança, e seus olhos também cintilaram quando se ergueram a mim.

 Enrolaram o bebê num casaco grande e aproximei-me de Norma para entrega-lo aos seus braços.

  — Ah meu Deus! – ela exclamou entre uma risada e olhou para os outros ao redor. — É um menino!

 O sorriso que todos abriram perante o anúncio deixou claro que, com certeza, aquilo deveria ter um significado grande para eles.

  — Obrigada. – Norma sorriu ternamente para mim e só consegui rir de volta.

  — Bom trabalho. – um dos brutamontes disse com o tom ameaçador para mim e apontou em direção à saída. — Agora, vamos. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Loucura esse lugar, viu? Tão insano que lembra alguém que encaixaria direitinho aí ksjddjwejdsd Esperem só até conhecerem o Mosteiro.
Comentem para eu saber o que acharam, sim?

Espero não ter que demorar tanto para o próximo.
Ate lá! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Socorristas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.